Por Sara Luz
No último ano distinguimo-nos como sendo o 5º melhor país do mundo para se viver e o melhor da Europa. Fomos considerados o 3º país do mundo mais pacífico e o mais amigável para imigrantes. Igualmente notório foi o desempenho português no campeonato europeu de futebol e no festival da canção. O protagonismo e a visibilidade adquiridos, conjuntamente com as medidas adotadas pelos nossos governantes e o espírito de sacrifício dos portugueses, foram contributos importantes para o período de crescimento económico que atravessamos, materializado por um aumento de 2,7% no Produto Interno Bruto em 2017. Infelizmente, nem tudo é motivo de orgulho. Fomos, igualmente, considerados um dos países mais corruptos na União Europeia (UE), um dos cinco países da UE que pior trata os idosos e um país onde a esperança de vida à nascença superior à média europeia não se traduz em anos de vida a mais vividos com qualidade, mas antes com doença e incapacidade. Face a isto, não é de admirar a posição ocupada por Portugal no World Happiness Report (77ª posição), publicado neste mês de março pela Organização das Nações Unidas. Um lugar que denota a fragilidade de Portugal no que toca à felicidade sentida pelos seus cidadãos, comparativamente aos restantes 155 países incluídos na amostra. O lugar a meio da tabela no ranking mundial da felicidade não parece ter enchido as medidas ao Governo português que terá decidido intervir de imediato, começando não mais nem menos pelo setor da saúde. Um setor em que, segundo estudos nacionais publicados recentemente, um em cada cinco enfermeiros está em depressão e dois terços da classe médica apresenta exaustão emocional. Assim, no passado Dia Internacional da Felicidade a Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Leitão Marques, e a Secretária de Estado da Saúde, Rosa Matos Zorrinho, anunciaram, em pleno Portugal eHealth Summit, a publicação dentro em breve de um despacho no âmbito da implementação de medidas promotoras da felicidade e bem-estar por parte das organizações de saúde, com vista ao envolvimento dos profissionais, à melhoria dos ambientes de trabalho, à conciliação da vida pessoal com a vida profissional e à promoção de estilos de vida saudáveis. Na sua intervenção, a Sra. Ministra referiu ainda que a adoção de práticas de gestão sustentáveis na área da felicidade e bem-estar darão lugar à entrega de um prémio no prazo de um ano, mas sem concretizar os critérios de atribuição do mesmo. Ora, no início desta semana o dito despacho é publicado em Diário da República, apresentando o grupo de trabalho responsável pela elaboração de um plano de ação para prossecução dos objetivos referidos. De facto, no mundo contemporâneo a produtividade passou a ser um meio para atingir a felicidade e não um fim em si próprio e, por isso, é de louvar a ideia. Contudo, confesso ter dificuldade em compreender como é que se envolverão profissionais de saúde que estão diariamente em número inferior ao esperado para dar resposta às necessidades reais dos utentes, se sentem injustiçados pelo congelamento das carreiras e pela desigualdade existente entre as próprias classes, sacrificam constantemente o seu tempo de descanso em prol da continuidade dos cuidados e não se identificam com culturas organizacionais rígidas que temem a mudança e nem sequer respeitam valores como o da meritocracia. A mim parece-me que a satisfação destas expetativas será determinante para o sucesso do plano, pois o envolvimento profissional está intimamente ligado com todas as outras condições a que se pretende dar cumprimento. Deste modo, a menos que haja uma concertação entre Ministérios, não vejo como o plano poderá ter futuro e, por isso, ao grupo nomeado, os meus desejos de bom trabalho!
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