Lugar ao Sul
  • Sobre nós
  • Autores
  • Convidados
  • Personalidade do Ano a Sul
    • Personalidade de 2017
  • Contactos
  • Sobre nós
  • Autores
  • Convidados
  • Personalidade do Ano a Sul
    • Personalidade de 2017
  • Contactos

Bem-vindo

Faro, cidade-fermento?

12/1/2018

6 Comments

 
Por Gonçalo Duarte Gomes

O geógrafo francês Maurice Le Lannou teorizou um dia que “as cidades são o fermento das regiões”.

Esta felicíssima metáfora condensa, numa única frase, o papel crucial que as cidades desempenham na vida e desenvolvimento da paisagem.

E o Algarve?

Tem nas suas cidades, principalmente na sua capital, o fermento de que precisa para crescer?

Imagem
Ouvia na RUA FM, na Quarta-feira passada, o Luís Vicente comentar, no âmbito da apresentação das propostas do Teatro Lethes para 2018, algumas ideias relativas à preparação da candidatura de Faro a Capital Europeia da Cultura 2027.

Dessas, duas em particular chamaram-me a atenção.

Em primeiro lugar, a cidade de Faro não como fim em si mesmo, enquanto Capital Europeia da Cultura, mas antes como âncora de toda uma rede de eventos culturais, que origine uma abrangência regional dos proveitos da candidatura. No fundo, o replicar da filosofia que em 2005 presidiu à dinamização de Faro, então enquanto Capital Nacional da Cultura, e que tantos e profícuos frutos deu, materializando o papel da capital como ponto focal de concentração e distribuição.

Uma segunda ideia prende-se com a necessidade de promover um investimento no próprio espaço urbano da cidade, dignificando-o e elevando-o qualitativamente a tal patamar de exigência, extravasando os estritos limites dos palcos e equipamentos/espaços culturais onde os espectáculos se possam vir a realizar.

Com este segundo pensamento, veio-me imediatamente à cabeça Aldo Rossi, a sua obra “A Arquitectura da Cidade” e a sua teoria da cidade como palco. Neste caso, a cidade como palco para palcos.

Estas reflexões combinadas transportaram-me para uma análise do que falta cumprir a Faro, e a Faro na sua relação com o Algarve. Da necessidade da capital ser palco digno, enquanto urbe autónoma mas também para a região, e da região ser palco para a sua capital.

Principalmente numa lógica de sistemática compreensão das vantagens de uma verdadeira coesão regional, muito para lá da conveniente circunstância de grandes eventos agregadores, normalmente associados a dinheiros e benesses.

Este Lugar ao Sul nasceu do desejo de discutir o Algarve e o seu potencial, do sentir a falta daquilo que João Guerreiro resumiu, há pouco tempo, como um “projecto de região”.

Qualquer projecção do futuro do Algarve não pode alhear-se da reflexão e discussão do papel que a capital pode e/ou deve desempenhar, principalmente numa região de grandes idiossincrasias e complementaridades geográficas, cujo total não se obtém pela mera soma das partes.

A Faro, esmagada pelo peso de uma capitalidade que é hoje mais herança do que mérito, tem faltado um certo rasgo de ambição e génio que marca o carácter de uma capital, talvez por força de um processo de evolução das suas elites pensantes que não conseguiu aliviar o lastro daquela indolente degradação das aristocracias caídas, algo perdidas entre tempos.

Não que a capital se deva cumprir necessariamente dentro dos seus limites materiais, mas precisamente dentro dos limites em que as cidades contemporâneas devem ser entendidas – os limites da sua influência enquanto entidade intelectual e espiritual e fenómeno cultural, mais do que ocorrência física. Ou seja, não necessariamente pelo que é capaz de fazer, mas principalmente pela capacidade de inspirar e ajudar outros a fazer, sendo parte activa e fundamental desse processo, mais recurso do que objecto.

E Faro tem, aproveitando a linguagem de palco, que ser uma espécie de contra-regra de todo o Algarve.

É neste aspecto que sou franca e abertamente crítico relativamente à cidade de Faro: a atitude anímica, oscilando entre um trocista desalento e um enfado blasé, que frequentemente adopta perante quase tudo, seja o que se faz ou o que se não faz, e o soberbo ostracismo a que se vota face ao que se passa no resto da região, alienando o seu papel e responsabilidade enquanto capital.

Principalmente porque o que mais choca em Faro é o hiato, muitas vezes voluntariamente cavado por belicosa indefinição e indecisão, entre o que é e o que podia ser, adiando sistematicamente o seu fantástico potencial e funcionando, aí sim, como retrato capital e medida do que tem falhado no próprio Algarve.

Se o Algarve é, de todas as regiões continentais de Portugal, a mais perfeita – por fazer coincidir quase inteiramente as realidades e dinâmicas biofísicas com o desenho administrativo –, não é menos certo que Faro reúne as condições óbvias para ser a sua capital.

Desde logo geograficamente, pela sua posição privilegiada.

Geometricamente, não fosse o ligeiro desvio de latitude para Sul, encontra-se numa posição central na região, mediando Mediterrâneo e Atlântico, mar, planície, barrocal e serra.

Possui ligações funcionais terrestres, marítimas e aéreas, algumas ancestralmente consolidadas, ao País e ao Mundo.

Possui, na sua envolvente, terras e sapais férteis, ainda que não valorize.

Possui uma fenomenal frente de contacto com a incomparável Ria Formosa, não obstante estar de costas voltadas para ela (e não, não é por causa da ferrovia).

Possui história – entre tantas outras coisas, o primeiro livro impresso em Portugal foi em Faro! – e património, mesmo que tantas vezes desprezado.

Administrativamente, concentra algumas das mais importantes valências regionais, e acolhe o (potencial) principal cérebro da região: a Universidade do Algarve.

Ainda assim, sente-se na relação entre região e capital, e vice-versa, mais frete do que lealdade e respeito, mais competição do que cooperação.

Por muito que nos batamos contra os “opressores e detractores” externos da região, que esperança pode o Algarve ter de afirmação, quando nem internamente consegue tocar a reunir, agrupando e conciliando-se na sua capital?

Não em pequena réplica do modelo excessivamente centralista que ao País se critica, mas como prova de que é possível e de que aqui se sabe fazer o melhor que ao País se pede, e de que uma capital, mais do que ditame ou fardo, é inspiração e catalisador.

Até porque bolos sem fermento tendem, regra geral, a crescer pouco.
6 Comments
Jani
12/1/2018 19:35:18

Tantas palavras só para dizer que Faro é uma cidade de merda, coisa que não é noticia. Só faltou mencionar o ódio irracional que Faro tem às arvores, já que as mutilam com sádica satisfação a intervalos regulares... de resto tudo na mesma.

Reply
Gonçalo Duarte Gomes
12/1/2018 23:00:16

Jani, obrigado pelo comentário.
No entanto, e embora reconheça inúmeras falhas na cidade de Faro - por exemplo, a falta de elementos naturais referida, que não apenas árvores, é realmente dramática - não partilho de uma postura tão extremada.
As cidades são aquilo que os seus habitantes dela fizerem, seja por acção ou omissão, desde logo através da exigência que têm para com os seus decisores, mas também daquilo com que contribuem (ou não) para a vida comum. No caso de uma capital regional, podemos aplicar este mesmo conceito ao que os restantes concelhos exigirem da sua cidade representativa, e também ao que estão dispostos a fazer para a melhorar.
Por isso me parece mais eficaz e consistente falar de um momento menos bom, mas de olhos postos no potencial para melhorar. Porque uma cidade de Faro dinâmica, com qualidade e urbanidade, representará uma mais-valia não apenas local, mas que interessa a todo o Algarve.
Já vai sendo tempo de pensar a região e a sua capital numa perspectiva de relação e não separação. De outra forma será difícil organizar uma voz comum no Algarve, que se consiga projectar junto do resto do País.

Reply
Jani
13/1/2018 00:19:31

Ainda assim que verborreia só para dizer "caramba mulher nem tanto ao mar nem tanta a terra"... e "a culpa e tua porque nao plantas nenhuma árvore nem exiges que se plante"... Falar como arauto ja fala mas nem tudo na vida sao slogans e frases feitas. Gente que fala assim já la esta sentada e nao fizeram grande coisa.

Desde quando uma árvore se desqualificou em "Elemento natural"?

A seguir vai dizer que uma sanita é um "Receptáculo de Débito Orgânico"

Reply
Gonçalo Duarte Gomes
13/1/2018 08:20:48

Jani, essa última definição é fantástica!
Só não percebo é se é lá que acha que pertencem estas ideias, porque apesar de mais directa, não deixa perceber se acha que Faro e o Algarve são casos perdidos ou se é possível fazermos algo diferente...

Reply
Jani
13/1/2018 11:31:07

Finalmente uma pergunta que vale a pena fazer!

Eu nasci em Faro e vivi em Faro durante quase 30 anos. As mudancas que vi fazer nem sempre foram boas. Que existe muito potential para se tornar uma cidade funcional e mais agradavel de se viver sem ser só para turista ver, existe.

Agora vai uma distancia enorme, desde essa visão, e da visão até ao que é aprovado e mais umas léguas até ao que é feito.

Será que o Algarve pode recuperar do boom da construção desenfreada que ocorreu nos anos 70? Pior... será que poderia recuperar da ideia que as pessoas teem dele? Mais dificil de mudar que uma ideia não conheço. O cimento pode vir abaixo mas as ideias permanecem.

Faro raramente é pensada com o utilizador em vista. Dá-se mais prioridade a atrair e satizfazer o turista transitorio do que garantir que as nossas velhinhas tenham uma rua com sombra onde andar no verão.

O que se vê de bem feito é um alivio (como a recuperaçao do Liceu obedencendo ao traçado original do edificio, ou o Palacete Belmarço). Mas depois temos coisas incompreensiveis como o arquivo de Faro ou o novo Teatro que cicatrizam a coisa toda, provavelmente durante decadas.

Ja para não falar nas pequenas grandes coisas, como ruas que nunca são lavadas, e acessos, e porque não um sitio onde as pessoas se possam reunir para mais do que gastar dinheiro ou olhar para as socialites barradas a oleo de côco?

O Algarve tornou-se uma ideosincrasia. Se homens como o Sr. conseguem ver o valor que ainda pode ter, e não o preço pelo qual ainda podem cobrar.... talvez...talvez valha a pena.

Nada me daria mais prazer do que ver o Algarve branco de amendoeiras outra vez, para mim pela primeira vez que sou demasiado nova para recordar, e transformado num destino de sonho como são os parques de cerejeiras no Japão, e atraem milhões de todo o mundo.

Embora queira acreditar no melhor vejo que as pessoas teem memoria curta, ficam contentes em comprar um postal com uma foto de cerejeiras de há 50 anos, e contentes de ir para casa. Não existe visão... infelizmente.

Reply
Gonçalo Duarte Gomes
15/1/2018 10:38:39

Jani, concordo integralmente com a sua visão dos muitos e graves problemas com que Faro se debate.
E concordo também que falta uma consciência mais alargada desses mesmos problemas, rompendo o marasmo intelectual e cívico em que vive a maior parte da população.
Acrescento, insistindo, a ideia de que a região também tem que ser mais exigente para com a capital, estando ao mesmo tempo mais disponível para ajudar.
Mas, se conseguirmos motivar uma maior reflexão, e um despertar dessa mesma consciência, talvez consigamos iniciar um percurso de mudança para melhor.
Pode não resultar em nada, mas aí pelo menos saberemos que o estado das coisas resulta de uma opção consciente, e não de uma deriva.
E teremos cumprido com a obrigação de tentar.

Reply



Leave a Reply.

    Visite-nos no
    Imagem

    Categorias

    All
    Anabela Afonso
    Ana Gonçalves
    André Botelheiro
    Andreia Fidalgo
    Bruno Inácio
    Cristiano Cabrita
    Dália Paulo
    Dinis Faísca
    Filomena Sintra
    Gonçalo Duarte Gomes
    Hugo Barros
    Joana Cabrita Martins
    João Fernandes
    Luísa Salazar
    Luís Coelho
    Patrícia De Jesus Palma
    Paulo Patrocínio Reis
    Pedro Pimpatildeo
    Sara Fernandes
    Sara Luz
    Vanessa Nascimento

    Arquivo

    October 2021
    September 2021
    July 2021
    June 2021
    May 2021
    April 2021
    March 2021
    February 2021
    January 2021
    December 2020
    November 2020
    October 2020
    September 2020
    August 2020
    July 2020
    June 2020
    May 2020
    April 2020
    March 2020
    February 2020
    January 2020
    December 2019
    November 2019
    October 2019
    September 2019
    August 2019
    July 2019
    June 2019
    May 2019
    April 2019
    March 2019
    February 2019
    January 2019
    December 2018
    November 2018
    October 2018
    September 2018
    August 2018
    July 2018
    June 2018
    May 2018
    April 2018
    March 2018
    February 2018
    January 2018
    December 2017
    November 2017
    October 2017
    September 2017
    August 2017
    July 2017
    June 2017
    May 2017
    April 2017
    March 2017
    February 2017
    January 2017
    December 2016
    November 2016
    October 2016
    September 2016

    RSS Feed

    Parceiro
    Imagem
    Proudly powered by 
    Epopeia Brands™ |​ 
    Make It Happen
Powered by Create your own unique website with customizable templates.