Por Luís Coelho. No passado dia 12/01/2018, António Costa esteve em Faro para questionar o nosso Conselho Regional sobre as prioridades do Algarve para o período entre 2020 e 2030. Esta súbita preocupação para com a Região nasce da necessidade que o governo tem em preparar um difícil dossier: a negociação com Bruxelas sobre o próximo quadro comunitário de apoio. Pelo que é dado a conhecer pela comunicação social, os presentes elencaram um conjunto de questões que passam, essencialmente, pelos temas da mobilidade, das infraestruturas e da qualificação do pessoal, nomeadamente aquele que está afecto ao sector do turismo. Falou-se, também, da necessidade de valorizar os produtos do mar, as produções endógenas da região, assim como o seu artesanato e restantes traços culturais. Assuntos pacíficos com os quais a maioria dos algarvios seguramente se revê. No entanto, para mim, estes temas ficam aquém do que deveria preocupar a região no longo-prazo. Passo a explicar. Para mim, a questão central para o nosso futuro colectivo prende-se com os efeitos resultantes das alterações climáticas. Quem se interessa pelo tema não pode negar que as condições naturais oferecidas pelo nosso Planeta estão a mudar muito rapidamente. Independente das razões para que tal aconteça, a verdade é que a forma como estamos habituados a viver está neste momento em causa. Dentro deste tema imenso, há pelo menos dois aspectos que deveriam preocupar a região do Algarve. O primeiro, mais imediato, é a falta de água. A este propósito valerá a pena recuperar o que disse o Eng.º Fernando Severino, Director Regional de Agricultura e Pescas do Algarve (DRAP) ao Sul Informação, em Novembro de 2017 “A única coisa que me poderia tranquilizar era se chovesse de forma substancial e normal. Sem ser isso, nada me vai deixar descansado” (ver aqui: http://www.sulinformacao.pt/2017/11/barragens-bem-compostas-deixam-quase-todos-tranquilos-no-algarve-apesar-da-seca/). Ora, parece que a mãe natureza teima em não descansar o Sr. Director da DRAP, pois a chuva parece ser um fenómeno cada vez mais raro cá por estes lados. O segundo tema é mais mediato e prende-se com a elevação do nível médio do mar. Apesar de alguma controvérsia à mistura, uma parte significativa da comunidade científica parece convencida de que o ritmo a que o mar está a subir é dramaticamente superior a tudo o que já experienciámos na vida do Planeta (ver aqui: http://www.pnas.org/content/113/11/E1434). Assim, neste momento, antecipa-se que o mar possa subir entre 50 e 130 cm até 2100 (ver aqui: http://www.pnas.org/content/113/10/2597). Este é um aspecto decisivo para o futuro do Algarve. De facto, como sabemos, nos últimos tempos tem-se assistido a uma litoralização da região que ditou que uma parte significativa da população viva a escassos metros do mar. Experimentem simular o que acontece à nossa faixa costeira com um aumento de 130 cm do nível do mar aqui: http://www.floodmap.net. É simplesmente aterrador para a ria formosa (i.e., Faro e Olhão), Quarteira, Vila Real de Santo António e Portimão, isto para citar apenas os casos mais graves.
A combinação da escassez de água com o aumento do nível médio do mar configura um cenário complicado para o Algarve, pois o mesmo coloca em causa a nossa capacidade para cá viver. Curiosamente (ou não), não vejo estas preocupações vertidas nos discursos de quem pensa a Região. Haverá, eventualmente, uma explicação simples para tal fenómeno. Os ciclos políticos (e de resto, a vida humana), são demasiado efémeros para que as verdadeiras questões estruturais façam parte das cogitações imediatas de quem nos “governa”. É bem mais fácil tratar de uma estrada ou dar uns cursos de formação profissional do que pensar e investir em soluções que só terão impacto real sobre a vida das populações daqui a algumas décadas. Percebo isto e também me parece que será lógico tratar primeiro do emergente, deixando o acessório para depois. Há, no entanto, um problema com esta abordagem. Quando se troca o longo pelo curto-prazo hipotecamos o futuro. De facto, regra geral, as soluções para problemas estruturais requerem estudo, planeamento e execução cuidada. Tudo isto leva tempo. Muito tempo (especialmente no nosso País). Assim, o tempo de agir é hoje. Só desta forma poderemos cultivar uma esperança de que os nossos filhos e netos terão a oportunidade de desfrutar da nossa bela Região tal como nós a conhecemos.
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