Por Sara Luz
Portugal tem superado as expetativas nos mais variados rankings internacionais. Para o bem ou para o mal, este discreto país a sul da Europa parece querer deixar de fazer história com lugares a meio da tabela e começar a valer-se da teoria do “tudo ou nada”. A mais recente prova disso é o facto de ter superado a super-potência russa no consumo excessivo de álcool em 2016, com um consumo nacional per capita puro de álcool a partir dos 15 anos de 12,3 l contra 11,7 l na Rússia (a saber, ambos acima da média europeia com 9,8 l). É claro que resumir esta discussão à perspetiva quantitativa é um tanto ou quanto redutora, pois para além dos portugueses privilegiarem em grande medida as bebidas fermentadas às mais destiladas (com claro apreço pelo vinho e cerveja em detrimento da vodka), o consumo excessivo de álcool ocorre maioritariamente em ambientes sociais ao contrário do que parece acontecer nos países do leste. Ainda assim, e graças a Portugal, a Organização Mundial de Saúde (OMS) parece ter feito uma notável descoberta: é que o consumo excessivo de álcool não só se verifica em países mais frios e com menos raios solares (diversos estudos científicos tem testado e comprovado esta associação), mas também nos mais quentes. Afinal, esteja frio ou calor há sempre motivo para beber! Esta conclusão fez, naturalmente, com que a OMS recomendasse a Portugal adotar medidas dissuasoras ao consumo excessivo de álcool, entre elas o aumento da taxação e o estabelecimento de preços mínimos para as bebidas alcoólicas, o que atendendo à política fiscal levada a cabo pelo atual Governo pode dizer-se que essas recomendações são “ouro sobre azul” para justificar uma futura maior taxação sobre os produtos em questão e, por conseguinte, aumentar a receita fiscal. O Algarve pela sua singularidade climatérica e turística face às demais regiões do país poderá dar cartas neste assunto e contribuir uma vez mais para encher os cofres do Estado. Pena é que na hora da retribuição, em melhorar as condições de vida dos algarvios em matérias como a da segurança, acessibilidade e saúde, os sinais sejam sempre tão tímidos! Nesta matéria, valha-nos então o combate às repercussões individuais e sociais associadas ao consumo de álcool em excesso na região (e.g., acidentes rodoviários, comportamentos sexuais de risco, consumo concomitante de outras substâncias, comportamentos violentos, problemas de saúde, entre outros) e à prevenção de padrões de consumo de álcool regulares que por se perpetuarem ao longo da vida são os mais problemáticos.
1 Comment
Miguel
30/1/2019 18:37:37
Seria interessante aprofundar a relação entre o consumo de álcool e outras variáveis; como por exemplo, se o consumo nos países "quentes" não estará relacionado com condições sócio-económicas normalmente desfavoráveis em relação ao resto do mundo "alcoólico" exceptuando o leste europeu, ou com propaganda e fomento privado e/ou estatal como aconteceu e acontece em PT onde o Vinho tem enorme peso nas exportações.
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