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escrytos

17/6/2017

1 Comentário

 

O Lugar ao Sul pretende ser um espaço de partilha, de reflexão, de (des)encontros mas, acima de tudo, um lugar de  criação de pensamento a Sul. Por isso, convidámos Ana Isabel Soares, professora da Universidade do Algarve, para escrever sobre o livro  escrytos de Paulo Pires, que reúne crónicas escritas na imprensa regional desde 2013 a 2017.

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Por Ana Isabel Soares

A editora Arranha-Céus, recente contraponto da Abysmo, lança o terceiro volume da coleção Doença Crónica. Escrytos: Crónicas e ensaios sobre cultura contemporânea (2013-2017) reúne ensaios e crónicas que Paulo Pires tem vindo a publicar, desde 2013, em jornais da região. A recolha em livro tem vantagens visíveis. Permite, por exemplo, a imediata continuidade dos ensaios mais longos (que, por imposição de espaço, saíram parcelados nas publicações periódicas) - e só isso bastaria para saudar o acréscimo de clareza à leitura destes textos já de si lúcidos, fluídos e clarividentes. É o estimulante pensamento de um cronista que transparece neste livro: mas de um cronista de espécie singular, pois escreve nas condições de programador cultural, que desde há anos assume no Algarve, e de criador. De 2002 para cá, Paulo Pires tem trabalhado intensamente junto de instituições como o Museu do Traje, em S. Brás de Alportel, o Centro de Estudos Ataíde Oliveira da Universidade do Algarve, a Fundação Manuel Viegas Guerreiro, ou o Município de Silves, e é o atual programador, na área das artes performativas, do Município de Loulé. Esta ligação profunda à programação cultural, quer como agente dinamizador, quer como criador (de música, teatro, ou microficção, para referir apenas algumas das áreas em que já desenvolveu projetos) faz de Paulo Pires uma das mais autorizadas vozes na reflexão sobre as questões que se colocam à ação cultural, nomeadamente numa região fora dos grandes centros de decisão. Mas a autoridade que lhe é reconhecida não lhe remete a voz para um lugar de conforto, para estabilidade nenhuma: em vez disso, a leitura dos textos Escrytos revela um desassossego constante, instigador e frequentemente provocatório - característico, afinal, das desinquietas almas que têm a cultura como razão de ser (pobres almas, que a si mesmas se açoitam com a ironia que Paulo Pires recorda, através do poema de Rui Pires Cabral, que oferece como epígrafe do livro).

São três as secções pelas quais se distribuem as crónicas: “Artes Performativas”, “Bibliotecas, Livros, Leituras” e “Cultura, Programação, Sociedade”. Sendo mais uma das vantagens de estarem assim coligidos os textos, esta arrumação apenas ilude o teor transversal de cada texto. Em todos eles se escreve, afinal, porque se pensou, de uma maneira abrangente, sobre cultura contemporânea. O eixo a partir do qual se pensaram e se escreveram estas crónicas é o Algarve: o que faz a cultura, na época da globalização, num lugar restrito? Como se constrói, num lugar concreto, a atual cultura do global? No fundo, as reflexões de Paulo Pires resultam do lema “Pensar globalmente, agir localmente”. Isto é, o seu interesse não é a mera deambulação conceptual ou filosófica, nem só o intelectual entretém - o que, a ser, teria já o grande valor de um exercício da maior das faculdades humanas; ultrapassado esse deleite, por causa dele e paralelo a ele, a insatisfação da alma procura modos de aplicar o que o pensamento permitiu. É assim que os olhares universais de Gilles Lipovetsky, Paulo Freire ou George Steiner se articulam com o modo como José Afonso, Sophia de Mello Breyner, Amália, ou Miguel Torga (para referir apenas alguns dos “forasteiros”) entenderam e viveram o Algarve, e com as propostas concretas para a região. Exemplo deste raciocínio rizomático, de ligações e de redes que a leitura tece, é a insistência na necessidade de parcerias e de maior aproximação entre os vários municípios algarvios, na tentativa de projetos comuns. No entender de Paulo Pires, essa união fará a grande força cultural do Algarve: a conclusão, a que chega em muitas das crónicas que agora se podem (re)ler, não resulta apenas do seu olhar crítico para o que lhe está quotidianamente próximo: é o licor destilado desse olhar com o alcance maior que reconhece nas leituras de quem, não estando necessariamente familiarizado com a realidade algarvia, faz mister do pensamento sobre o que é humano. 

 Escrever, fixar o vocabulário do pensamento, é uma atitude de resistência ao adormecimento cultural ou à aceitação das sucessivas crises (que sempre vêm). Paulo Pires, escrytor, oferece aqui o seu contributo para contrariar aquilo a que, em “Vocabularies of the economy”, Doreen Massey chamou a “hegemonia do neoliberalismo”, nas pérfidas consequências que impõe às várias formas de manifestação cultural dos povos.

1 Comentário
Brianna S link
13/12/2020 07:11:42

Great rread

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