O Lugar ao Sul conta hoje com a opinião de um convidado muito especial. Francisco Banha é um dos principais impulsionadores do empreendedorismo moderno em Portugal, tendo tido um papel fundamental na concepção e operacionalização do nosso sistema de Business Angels e de Venture Capital. Mais recentemente, Francisco adoptou como desiderato a nobre tarefa de potenciar o ensino do empreendedorismo no nosso País, algo que realmente o apaixona. Pessoa experiente e de trato fácil, tem uma mente crítica e um olhar muito atento sobre a realidade que nos envolve. É, por isso, "material" de Lugar ao Sul. Luís Coelho Francisco BanhaFrancisco Banha é Presidente do Grupo Gesbanha e Fundador e CEO da Gesventure, GesEntrepreneur, Gesevolution e Geslearning. Foi Presidente do Business Angels Club (2000/2016) e Membro da Direcção da World Business Angels Association (2009/2015). Foi fundador e Presidente da Federação Nacional de Associações de Business Angels no período compreendido entre 2007 e Fevereiro de 2015. Foi também Director da Rede Europeia de Business Angels entre 2007 e Maio de 2014. É licenciado em Organização e Gestão de Empresas, tem um Mestrado em Gestão e um MBA em Business Strategy. Frequenta actualmente o Doutoramento em Ciências Económicas e Empresariais na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve. O Francisco é também docente no ensino Superior, colaborando regularmente com o ISEG e com a Faculdade de Economia da Universidade do Algarve. Empreender ao Sul…Uma questão de cidadania! A dedicação à defesa de causas e a valorização do papel da sociedade civil enquanto agente de promoção da mudança, do progresso e do empreendedorismo sempre mereceu a minha melhor atenção e respeito. Pelo facto da plataforma de opinião “Lugar ao Sul” proporcionar um contributo para o debate público a Sul, através da participação ativa na construção de mais e melhor opinião pública, não poderia deixar de merecer o meu humilde reconhecimento dado que se torna, cada vez mais, importante compreender a realidade presente para assim podermos enfrentar melhor os desafios posteriores que a sociedade nos coloca. Enquanto entusiasta de iniciativas que partilham conhecimentos, veiculam informação e contribuem para a criação de uma teia de relações suscetível de apoiar a resolução de problemas e responder às mudanças de um mundo cada vez mais globalizado e globalizante, só poderia ficar sensibilizado e privilegiado por poder partilhar, nesta Plataforma, o meu conhecimento e experiência, em particular na área do Empreendedorismo. Tenho consciência que, para alguns, o empreendedorismo continua a ser visto, com desconfiança, porque apesar de estar em todo o lado (políticas públicas, discursos de responsáveis de organizações, comunicação social …), não contribui, segundo estes, para apoiar a resolução dos problemas com que a sociedade se debate, não sendo mais que um disfarce que serve, por exemplo, para iludir a chaga do desemprego. Naturalmente que não me revejo nesta visão, pois acredito no empreendedorismo enquanto condição absolutamente necessária para dinamizar a atividade económica de um país e garantir um crescimento inclusivo, equilibrado e sustentável. Este entendimento assenta numa definição ampla, de empreendedorismo, que se centra sobre a criação de valor cultural, social ou económico. Compreende[1], portanto, diferentes tipos de empreendedorismo incluindo o intrapreneurship, empreendedorismo social, empreendedorismo verde e o empreendedorismo digital. Aplica-se a indivíduos e a grupos e remete para a criação de valor no setor privado, no setor público, no terceiro setor e em qualquer híbrido que combine os três primeiros. Desta forma estamos perante uma competência transversal, passível de ser aplicada ao nível do desenvolvimento pessoal, participação ativa na sociedade, (re)entrada no mercado de trabalho como trabalhador por conta própria ou por conta de outrem, desenvolvimento de iniciativas e empreendimentos culturais, sociais e/ou comerciais. Neste contexto o empreendedorismo assume-se com uma prioridade política na União Europeia uma vez que é crucial para a recuperação económica, o crescimento, a criação de emprego, a inclusão, a redução de pobreza e também para a inovação e competitividade. Torna-se, por isso, compreensível que a Europa precise de cidadãos mais empreendedores e que as políticas de educação e formação desempenhem um papel fundamental neste âmbito ao contribuírem para que os jovens possam adquirir os conhecimentos e as competências de que necessitam através do sistema de ensino. Nesse sentido importa redobrar os esforços que permitam alcançar níveis de criatividade e inovação por parte da futura força de trabalho interligando o empreendedorismo e a educação. Promover uma educação empreendedora que permita aos jovens beneficiar de experiências empreendedoras práticas nas aprendizagens escolares realizadas e de um curriculum empreendedor, transversal a todas as disciplinas é algo ambicioso mas perfeitamente possível de implementar. Mesmo sabendo que em termos globais menos de 5% dos jovens, em idade escolar, se encontram envolvidos em programas de educação para o empreendedorismo ao longo de cada ano letivo, o facto é que a disseminação do espirito empreendedor no nosso Sistema Educativo é já uma realidade, junto de vários Agrupamentos de Escolas, Escolas não Agrupadas e Escolas Profissionais. Se por um lado é difícil aceitar a universalização de modelos, só porque há um número considerável de projetos educativos com resultados positivos, por outro importa ter consciência que estudar e tirar um curso superior dificilmente será condição suficiente e necessária para continuar a abrir as portas para um bom emprego e respetiva ascensão social.
Pela experiência vivida e suportado na investigação recentemente desenvolvida, no âmbito da academia, sou defensor de que a educação para o empreendedorismo é uma via privilegiada na formação das nossas crianças e jovens que se virão a revelar cidadãos ativos, socialmente integrados, participativos e, sobretudo, capazes de decidir o seu próprio futuro. Gostaria que este meu apontamento contribuísse para que todos nós, enquanto sociedade civil, nos envolvêssemos mais na conceção, planificação, implementação e avaliação de iniciativas que encorajem abordagens curriculares interdisciplinares, tendo em vista apoiar e ampliar a adoção de metodologias empreendedoras por parte das instituições educativas. Este facto assume particular importância na Região do Algarve, a qual, possuindo um nível residual de implementação destas metodologias, dificilmente conseguirá inverter os mais baixos índices de atitude para empreender – 16% comparado com 57 a 60%[2] noutras Regiões do País. Se assim for estamos perante um verdadeiro exercício de cidadania que implica, por parte de cada indivíduo e daqueles com quem interage, uma tomada de consciência e atuação sobre a importância da aprendizagem empreendedora na sociedade Algarvia através da articulação entre educação, o mercado de trabalho e a comunidade. Vamos Empreender ao Sul? Francisco Banha Doutorando em Ciências Económicas e Empresariais da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve 25.04.2017 [1] Report Entrepreneurship Competence: An Overview of Existing Concepts, Policies and Initiatives. (EC, 2015). [2] Amway - VI Relatório Global de Empreendedorismo (AGER 2016).
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