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Economia pós-covid19?

24/3/2020

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Por Luís Coelho
Escrevo este texto às 23h e 23m do dia 23/03/2020. O nosso País está em Estado de Emergência por conta de uma pandemia que ameaça a nossa forma de viver. É hora de salvar vidas. O foco só pode estar aí. No entanto, parece-me importante tentar vislumbrar o que pode ser o mundo pós-covid19.
Este é um exercício muito difícil. Decidi pois organizar o meu pensamento em torno de três cenários hipotéticos. A saber:

Cenário A: estamos no final de Maio de 2020 e a pandemia está controlada. Em Portugal e no mundo. As pessoas festejam efusivamente. Abraçamo-nos. Dormimos na rua, juntinhos e em harmonia. Estranhos beijam-se. O planeta lamenta. A economia respira e o preço do petróleo começa a subir vertiginosamente anunciando a retoma.

Cenário B: estamos no final de Maio de 2021. A pandemia continua descontrolada. São várias as áreas do globo que registam muitos novos casos diariamente. Os mortos acumulam-se. Há uma enorme tensão social por todo o lado. A vida ainda não retomou o seu normal; estamos muito longe disso. De facto, o Estado de Emergência é renovado recorrentemente. O convívio social está proibido. Neste autêntico poço sem fim tentamos fazer o melhor que podemos e sabemos mas a situação não tem um fim à vista. O desemprego aumenta. O desespero instala-se. A sociedade desagrega-se.

Cenário C: estamos em Janeiro de 2021. Passámos seis meses muitos duros. A pandemia em Portugal está controlada mas o custo foi elevado. O custo ainda é elevado. Todos fazem testes diários para detectar infecção por Covid19. Os mais velhos não contactam com os mais novos. Todos os passos ficam registados num sistema que monitoriza os nossos movimentos constantemente (onde fomos, quando fomos, com quem estivemos, etc). As fronteiras estão fechadas e quem entra tem de fazer o teste ao Covid19 sendo obrigado a um período de quarentena em unidades especializadas. A economia vai funcionando. As pessoas estão conformadas. Mas estão tristes e desanimadas.  

Infelizmente, não me parece que o cenário A) seja minimamente realista. De facto, na ausência de uma vacina e/ou uma medicação eficaz para o combate à covid19 será virtualmente impossível recuperar a normalidade da nossa vida daqui a três meses. Esta pandemia constitui aquilo que os economistas chamam de choque simétrico que afecta simultaneamente o lado da oferta e da procura a nível global. Em Português que se entenda: a covid19 está a forçar o fecho de TODAS as economias desenvolvidas ao MESMO tempo (a China e outros países asiáticos mais pequenos levam uma ligeira vantagem neste domínio). Este facto quilha brutalmente a capacidade do mundo para produzir bens e serviços ao mesmo tempo que reduz a procura dramaticamente (primeiro porque as pessoas estão em casa; logo depois porque vai faltar dinheiro por conta do desemprego, redução de salários e outras situações análogas). Assim, mesmo que existisse uma vacina ou equivalente seria necessário uma coordenação internacional quase sem precedentes para que a normalidade regressasse no muito curto-prazo. Coordenação e, claro, um plano de acção esclarecido nas suas várias facetas (social, política e económica) e que fosse implementado com vontade por todos (Estados e cidadãos).

O cenário B) é o da catástrofe total. De facto, não é possível que a economia fique quase totalmente parada por muito tempo. A razão é simples: mesmo economias poderosas como a Alemã ou as voluntaristas como a Espanhola e a Italiana não aguentam medidas de estímulo por parte dos governos (ou da Europa) que perdurem eternamente no tempo: não há dinheiro nem capacidade de endividamento estatal para tal. Caso o vírus force o tipo de economia que está implícita no cenário B) (nomeadamente em face da incapacidade de o erradicar de forma permanente – por exemplo por conta de mutações sucessivas que tornam medicamentos e vacinas pre-existentes ineficazes) seremos confrontados com um amargo paradigma. Deixar morrer um conjunto significativo de compatriotas de forma a criar imunidade de grupo para os que sobrevivem ou permitir a morte agonizante da economia e lidar com as consequências sociais e de ordem pública que daí podem advir. Impensável, portanto.

O cenário C) é o que se me afigura como sendo o mais provável estando já a materializar-se na China. Parte do pressuposto que o surto inicial é controlado com um custo razoável (de vidas humanas E económico) e que em seguida nos mobilizamos para evitar que existam novos surtos inviabilizadores da vida em sociedade. O cenário C) admite que não existe ainda vacina e/ou medicamento para a covid19 mas que uma solução destas ficará disponível com certeza no curto-prazo. Este cenário obriga a que se vivam liberdades e direitos de forma diferente já que os mesmo não poderão ser aproveitados em pleno. Também não garante uma economia robusta; é mais de sobrevivência. Por exemplo, tudo o que tem a ver com as relações com o estrangeiro estaria condicionado pelo receio da reintrodução do virus no País. Ajuntamentos de pessoas seriam, provavelmente, desaconselhados. A própria confiança que é necessária para construir relações interpessoais deixaria muito a desejar nestes dias cinzentos.

​Qual é a conclusão? Infelizmente, não me parece que o surto de covid19 se vá resolver rapidamente. Tal provoca uma tensão entre o valor da vida e a necessidade de haver uma economia a funcionar. A escolha não é fácil. Nunca o será. Assim, para já, a prioridade deve ser conter o surto. Dar todas as condições para que o SNS se consiga aguentar e responder de forma eficiente e eficaz a este enorme desafio. Todos já conhecemos a expressão “achatar a curva”. É isso mesmo. Se tivermos sucesso ganhamos tempo. Este é o activo mais precioso do nosso País neste momento. De facto, é o tempo que vai permitir aos cientistas trabalhar a questão da vacina e do medicamento contra a covid19, única solução verdadeiramente estrutural para o que estamos a enfrentar. É também o tempo que permite pensar no que fazer no momento seguinte ao primeiro surto. Haja capacidade e clarividência de quem de direito para o fazer. Haja vontade de todos nós para materializar as opções que teremos, seguramente, de tomar.
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