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E se a Mafalda fosse algarvia?

2/10/2020

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Por Gonçalo Duarte Gomes

Morreu esta semana Quino, genial cartoonista argentino que deixou órfã a sua mais conhecida filha, a inquieta e reivindicativa Mafalda, que desenhou durante cerca de uma década, e que se afirmou como um ícone cultural e político.

Eu não sou do tempo da Mafalda. Ela nasceu quase a meio da década de 60 do século passado, e eu só me juntei a ela no mundo uma arroba de anos depois. E só muito depois disso a conheci. Mas aprendi imenso com ela.

A Mafalda, na inocência aguerrida da sua ficcional meia dúzia de anos de idade, e no fervor arrebatador da afirmação da sua ética humanista e feminista, discutiu as grandes questões do seu tempo, do mundo e da sua Argentina. Guerras e tensões políticas e sociais, degradação ambiental, desumanização da sociedade, hipocrisia, desigualdades, organização e funcionamento do Estado (o facto da sua tartaruga se chamar Burocracia diz muito), corrupção e nacionalismos foram temas fortes, por entre reflexões – ou aflições – em torno de uma democracia conturbada, em cujo horizonte se desenhava a depois concretizada ameaça de uma ditadura. E, claro, o assunto mais fracturante de todos: a sua aversão à sopa!

Ora as questões do meu tempo, que é o nosso tempo agora, são outras: guerras e tensões políticas e sociais, degradação ambiental, desumanização da sociedade, hipocrisia, desigualdades, organização e funcionamento do Estado, corrupção e nacionalismos, por entre as convulsões de democracias que não parecem ter respostas para a emergência de autoritarismos de natureza e espectro político variado e que se precipitam para distopias que embora imaginadas, nunca pareceram concebíveis.

Bem vistas as coisas, a Mafalda não tem tempo nem idade. Tal como a consciência.

Esta semana também, no passado dia 1, o Lugar ao Sul assinalou o 4.º aniversário desde que os seus residentes assentaram arraiais neste espaço sem geografia.

Desde Outubro de 2016 que este espaço virtual é partilhado por pessoas de diferentes formações, profissões, actividades públicas e interesses, que aqui se juntam para em conjunto reflectir sobre o Algarve e o seu futuro. Num espaço livre e plural – que bom é poder não concordar! – e que funciona como tribuna que se abre para vozes que de outra forma dificilmente chegariam à praça pública.

Pensar o Algarve não é fácil. Pensar no Algarve muito menos.

Porque é uma região complexa. Porque é uma região pequena, onde quem diz o que pensa se expõe em circuitos muito curtos e pouco dinâmicos, com fraquíssima taxa de renovação, em que a cultura democrática é, apesar de tudo, incipiente, e onde discordar é antagonizar e não apenas... discordar.

Porque é uma região que, mais do que província, se mantém, em muitos aspectos, inexplicavelmente provinciana, no que isso de menos bom implica, com visões ultrapassadas, e que ultrapassadas se inscrevem nas pessoas e na paisagem. Não por atavismo ou falta de capacidade de se arrancar dessa condição, mas por falta de rasgo para o tentar. Condicionada falta de fé, de acreditar. Para depois se mobilizar e conseguir.
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A antítese da Mafalda, portanto. Porque a Mafalda, com o seu olhar e pensamento crítico sobre o mundo e as pessoas foi, e é, toda uma escola de lutadora cidadania, ingenuamente acutilante, ambiciosamente sonhadora e corajosamente desassombrada.   

Num tempo em que os muros do extremismo, da intolerância e do medo cercam as pessoas, isolando-as, em que a falsa promessa de segurança abafa a liberdade, em que a normalização e a higienização – muitas vezes em nome da diferença – purgam espontaneidade e diversidade, aumentando o desafio de tentar pensar abertamente, gosto de imaginar que, se a Mafalda fosse algarvia... teria gosto em fazer parte do Lugar ao Sul.

​E que aqui ajudaria, não obstante a modéstia deste espaço, a mostrar que o Algarve é capaz de (se) pensar!
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1 Comment
Miguel
3/10/2020 10:19:19

Tal como você, também descobri a Mafalda um bom tempo após o seu nascimento, já ela seria "trintona".

Na idade em que a li, junto com Calvin and hobbes, Peanuts, abria-se um mundo de interrogações e subtilezas intelectuais que nem sempre apanhava devido à idade de então, mas felizmente do meu ponto de vista, cresci como um jovem algarvio entre televisão claro, livros, sequeiro, e laranjal, onde aprendi a sentir e a reflectir, sobre esta região que chamo casa.

O Algarve é a região mais peculiar de Portugal sem duvida, na sua história, na sua delimitação geográfica, orografia, e juntamente com estas caracteristicas, sofre os efeitos que o isolamento, a pobreza e as condições politico-económicas lhe impuseram, de forma peculiar também.

Concordo inteiramente na análise que faz relativamente ao provincianismo da região, na discórdia vista como antagonização, no conformismo e no anti intelectualismo, mas isso é apanágio de todo o país, excepto os grandes centros urbanos, onde também abunda mas não é exclusivo.

Subscrevo a nota sobre a pequenez (física) da região e da dificuldade para que alguém se afirme, participe publicamente de forma alternativa ao status quo, o escrutínio regional pesa bem mais que o nacional, e em dita região pequena, os eventuais dissabores de tal exposição pública são pesados e a balança normalmente vai em certo sentido, não que não haja muita gente com capacidade e vontade de intervir nos mais variados domínios porque as há.

Finalmente, se a Mafalda fosse algarvia, certamente nos teria dado páginas de divertidas e intrigantes questões e verdades, algumas das quais hoje permanecem, se agravaram ou nunca chegaram a concretizar.

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