Por Gonçalo Duarte Gomes É dito que os emigrantes sentem a Pátria de outra forma, a proximidade emocional ampliada pela distância física. O escrito de hoje, lavrado em migrante itinerância pela capital do Reino, é ínfima amostra. Ora, pensando o e no Algarve em Lisboa, a pergunta que se impõe é obviamente: e reabrir a casa do Algarve em Lisboa? Quando em 2015 veio a público a notícia do encerramento da Casa do Algarve em Lisboa, numa altura em que aquela instituição contava com 85 anos de actividade, não houve, salvo a indignação pública de Carlos Albino, grande contestação.
Não havendo quaisquer novas desde então, e não sendo possível encontrar qualquer informação acerca do tema, é forçoso assumir que o seu desaparecimento se concretizou. Essa morte, ou entrada em coma profundo, foi mesmo envolta em alguma amargura, com a sua última Direcção a denunciar um abandono generalizado e os municípios algarvios, que entretanto abandonaram o pagamento das respectivas quotas, a não vislumbrarem objectivo ou propósito meritório na sua continuidade. Não posso, por desconhecimento, comentar a qualidade ou pertinência da actividade desenvolvida no passado pela Casa do Algarve em Lisboa. Não posso igualmente, por idênticas razões, comentar a decisão dos municípios algarvios de cessarem o financiamento da Casa. A questão que coloco é relativamente ao presente e ao futuro. Faz ou não sentido ter uma instituição regional e regionalista, que divulgue e defenda os valores do Algarve, sediada na capital do País? Sabendo que, bem ou mal, Lisboa é o principal (para não dizer mesmo o único) centro de decisão nacional, há ou não interesse em possuir uma ferramenta de lobbying algarvio no seu coração? Quando tanto se fala do ostracismo a que o centralismo vota o Algarve, não será o menosprezo desta instituição representativa um contributo directo, voluntário e deliberado para a omissão do Algarve? Em vez de se andar sempre a pedir que o centralismo gere regionalismo, porque não levar o regionalismo ao centralismo? A esta reflexão de presente e futuro não pode, obviamente ser alheio o passado. Por isso importará também perceber o que se passou, e passa, para que os algarvios radicados em Lisboa e arredores (residentes, trabalhadores, estudantes, os eleitos ao Parlamento pela região!) não sintam falta de uma casa sua, que permita a manutenção de ligações umbilicais com a região. Dar-se-á o caso de já nada haver para representar? Será o Algarve, cada vez mais plástico e prostituído, irreconhecível aos seus patrícios? Ou será o reconhecimento e a identificação precisamente o que importa evitar? Serão as raízes algarvias um lastro estigmatizado que importa aliviar, cortando-as como ervas daninhas, de preferência à moda de uma poda camarária? É certo que o Algarve não se ajuda a si próprio, e revela uma baixa auto-estima e incapacidade e falta de vontade para se fazer representar ou ouvir. Veja-se o recente baptismo do auditório municipal de Lagoa, em homenagem a Carlos do Carmo. Sem qualquer desprimor para o enorme artista, que de resto muito aprecio, mas não se encontrariam artistas algarvios merecedores de tal destaque? Como estamos, aquela que poderia ser uma lança algarvia, não em África mas na capital, está romba, sem ponta. É, em boa verdade, uma colher. Sem capacidade de penetração, é mais um instrumento – neste caso por omissão – que serve para placidamente comermos a sopa que nos vão dando. Reabrir com projecto e compromisso a Casa do Algarve em Lisboa seria um sinal de proactividade e vitalidade da região, e uma demonstração in loco para quem tantas dúvidas tem, de que a relação Lisboa-Algarve pode ser algo mais do que festas plastificadas e ensaiadas poses espontâneas numa qualquer praia, para publicitar a recauchutagem de vetustas nalgas e peles diversas, desafiando a gravidade com o patrocínio de uma qualquer clínica, na carcaça de uma qualquer pseudo-celebridade... P.S. – o “nosso” João Fernandes está de parabéns pela sua escolha para encabeçar uma lista concorrente à liderança da Região de Turismo do Algarve. Por vezes discordando dele em alguns temas, é uma pessoa que, pelo pensamento estruturado, pela experiência e pela postura, gosto sempre de ouvir e ler e com quem acho sempre enriquecedor o diálogo. Se for eleito, parece-me que turismo e região ficam a ganhar. Chocou-me por isso ver noticiado o seu nome em redutora associação a um partido. O sequestro e instrumentalização das instituições pelos partidos tem sido, e é, a ruína do País e o principal entrave ao seu projecto e à sua gestão. Neste caso, pior ainda, por incorrer no risco de ensombrar uma escolha meritória.
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