Por Sara Luz
Terminámos o ano de 2017 com uma espera de atendimento superior a 20 horas no serviço de urgência do Hospital de Faro, existindo inclusive pessoas a quem lhes foi atribuída pulseira laranja a aguardarem 6 horas ou não fossem essas situações consideradas “muito urgentes” de acordo com a Triagem de Manchester. Não bastando o caos, houve ainda espaço para uma tentativa de agressão a um profissional de saúde com uma arma branca. Quanto a tudo isto, o silêncio da Tutela foi ensurdecedor. Uma indiferença política que espelha, uma vez mais, a incapacidade de manifestação e/ou responsabilização do Governo em momentos críticos. Momentos esses que podiam ter sido antecipadamente acautelados dada a previsibilidade deste tipo de acontecimentos em plena época de contingência da gripe. Ainda assim, não o foram. Há quem argumente que a inercia da Tutela se deva aos constrangimentos em torno do défice orçamental, o que é plausível. Mas, no meu entendimento, esse motivo só ganha escala no Algarve porque a ele se junta um fenómeno que se tem vindo a instalar nos últimos anos: um Serviço Nacional de Saúde (SNS) que não é para todos, é só para alguns. Para os mais vulneráveis, socialmente desfavorecidos ou para aqueles que pelas circunstâncias do momento não tiveram outra escolha. São esses, os utentes menos exigentes do SNS, em conjunto com os que optaram por não utilizar os cuidados de saúde do setor público que têm facilitado o ócio governativo nesta matéria, ano após ano. E, note-se que, o problema não está em recorrer aos cuidados de saúde do setor privado à procura de maior conforto, inovação ou comodidade. A questão reside, essencialmente, no facto dos algarvios tomarem essa decisão em virtude da falta de acesso aos cuidados de saúde no setor público. E é precisamente esta condição que, além de ter tornado o Algarve a região do país com maior dependência do setor privado, desvirtua por completo uma conquista irrenunciável na democracia portuguesa – o Serviço Nacional de Saúde. E é exatamente por isso, que o meu desejo para 2018 é que o Estado Português devolva o SNS aos utentes algarvios.
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