Por Bruno Inácio Querer colar um eventual fecho da unidade de neonatologia do Hospital de Faro ao actual Governo tem tanto de populista como este governo dizer que a culpa é do governo anterior. E dizer uma coisa ou outra não resolve o problema apenas nos deixa em banho-maria, onde de resto, esta região tem estado nos últimos anos.
Foi noticiado a possibilidade da unidade de urgência de neonatologia do Hospital de Faro encerrar já em Setembro. Segundo esclarecimento da administração do Centro Hospitalar do Algarve isso é fazer “futurologia” e que a acontecer tal se deve a um conjunto de circunstâncias (“profissionais que se encontram de baixa, por motivos de doença, licenças de maternidade e ainda apoio à família”) a que a administração e por conseguinte a tutela são alheias. Certamente isso é verdade. Tal episódio é no entanto contrastante com um discurso que vimos acentuar no último ano, mas que tem sido tónica nos últimos 4, de que Portugal é um caso de sucesso e que a governação da Geringonça (convém lembrar que foi o PS o Bloco de Esquerda e o PCP) é um oásis no deserto europeu. O Algarve sofre, e não é de agora, de um défice de investimento crónico na área da saúde. A administração do centro hospitalar ou da ARS podem ser melhores ou piores mas a questão não está ali, está acima, no governo e na distribuição de verbas pelo SNS. O Algarve não foi prioridade nem tão pouco relevante nesta legislatura. Foi preterido para outras regiões por meras geometrias partidárias e políticas cujo argumento de decisão foi apenas o da manutenção do poder e não o do interesse das populações. Só isso explica que o governo, sem qualquer razão, tenha preterido a construção de um novo hospital no Algarve em relação a outras áreas dos pais quando existia um estudo técnico que indicava o Algarve como prioritário. Vivemos no tempo em que as coisas são o que se diz que são e não o que são realmente. Só isso pode explicar que tenhamos um Primeiro-Ministro que diz o que entende sem que isso tenha qualquer adesão à realidade. Que se passeia pela EN2 a vangloriar do sucesso da governação mas quando o governo é questionado sobre os inúmero casos graves que temos assistido na saúda na região a resposta é inócua ou cinzenta: “há mais 8 milhões para a saúde no Algarve”. É caso para perguntar: onde? Nada realidade nada têm para dizer. A Ministra da Saúde chegou a afirmar, perante as camaras de televisão e sem se rir, que a urgência pediátrica em Portimão foi a determinada altura assegurada por um médico que estando aposentado se teria disponibilizado a ajudar. E ninguém acha isto fora do normal!? Isto leva-nos a uma questão maior: são demasiadas as semelhanças que estamos a viver com o período que antecedeu a última grande crise. Na altura com o PS de José Sócrates no Governo (que é o mesmo de agora, com as mesmas pessoas), o que não faltavam era inaugurações pomposas, anúncios de sucesso orçamental, aumento dos funcionários públicos. O país vivia momentos de grande prosperidade. Quando a crise internacional se instalou foi o que se viu. Ora os sinais são claros: a guerra comercial mundial o desacelerar da Alemanha. Tudo isto pode trazer uma crise. E quando ela chegar a Portugal? Será o que já sabemos. E porque? Porque as pequenas folgas que tivemos nos últimos anos foram utilizadas apenas em políticas que apelam ao consumo e nada de estrutural foi feito para alterar o nosso modelo económico. Mas vamos cantando e rindo com um Governo que navega a grande velocidade para uma maioria absoluta e um Presidente da República que ajuda a montar a festa. Ser enganado uma vez pode ser engano. Duas vezes em tão pouco tempo é porque merecemos. Nota final: como muitas pessoas eu também receio o avanço dos populismos na Europa e em Portugal. Aqueles que pensam que estamos a salvo dessa tormenta não podem estar mais enganados. Perceber a raiz desse problema não é só olhar para a extrema-direita e o discurso populista que cola facilmente na mesa do café. É também perceber que esta forma de estar na política (a que descrevo neste artigo), procurando agradar a tudo e todos e a trabalhar apenas para as eleições, gera cada vez mais descrédito e desencanto no eleitor que se refugia nos extremos por afinal “são todos iguais”.
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