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Bem-vindo

Com Champions e com bolos, se criam paisagens de tolos

19/6/2020

1 Comment

 
Por Gonçalo Duarte Gomes

Foram esta semana publicados pelo Instituto Nacional de Estatística os dados referentes ao Uso e Ocupação do Solo de 2018 para o Algarve (aqui). Esta informação permite não apenas um instantâneo de 2018, mas também perceber a evolução das paisagens desde 2015, oferecendo uma visão sobre tendências, padrões e magnitude de alteração.

Em termos de distribuição da ocupação do solo por classes, eis o retrato da região, em 2018:

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Fonte: INE
​Em termos de evolução relativamente a 2015, a situação conta-se mais ou menos desta forma:
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Fonte: INE
À redução das áreas de matos, de pastagens e de superfícies agro-florestais corresponde um aumento dos territórios artificializados, da área agrícola e da área florestal.
​
É interessante perceber entre que classes de uso do solo se deram as trocas de perdas e ganhos, o que é sistematizado neste gráfico algo confuso: 
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Fonte: INE
O ordenamento da paisagem é o processo partilhado através do qual inscrevemos no território políticas, sejam elas ambientais, sociais ou económicas, espacializando ideias, materializando modelos de organização, distribuindo o acesso aos recursos e às oportunidades de desenvolvimento que representam e salvaguardando as estruturas que são fundamentais ao equilíbrio biofísico e à salubridade ambiental que serve de base a tudo.

Dessa forma, espelhamo-nos enquanto sociedade, enquanto povo, enquanto cultura. E construímos a nossa preparação e resiliência para dar resposta às necessidades presentes e aos desafios do futuro.

Pois bem, se quisermos relacionar este retrato agora apresentado da região do Algarve com o seu desenvolvimento, podemos tentar o exercício de comparar, para igual período, o Índice Sintético de Desenvolvimento Regional (ISDR) ao nível das NUTS III – o de 2018, foi anteriormente analisado aqui. Entre 2015 e 2018, o ISDR do Algarve evoluiu assim:
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Fonte: INE
Verifica-se então que, à evolução do padrão de uso do solo corresponde uma degradação do ISDR do Algarve que, adicionalmente, cava, ano após ano, a divergência em relação à média nacional. O ISDR é um índice compósito, que inclui índices parciais. Um desses índices parciais, o da qualidade ambiental, relaciona-se estreitamente com o uso do solo. Analisada a evolução desse indicador, temos que:
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Fonte: INE
O Algarve repete a tendência de degradação entre 2015 e 2018, sendo que se torna muito acentuada a divergência em relação à média nacional, quando em 2015, pouco separava a região desse valor. Em 2018, como sabemos, o Algarve alcançou mesmo a (des)honrosa condição de ser a pior região portuguesa em qualidade ambiental, à luz destes índices, babujando na Liga dos Últimos.

Ou seja, estatisticamente, da evolução do mosaico paisagístico da região não estão a resultar ganhos evidentes para o colectivo.

A estatística tem sempre um valor relativo. No caso do uso do solo, talvez até mais do que no do ISDR, porque sabemos áreas e percentagens, mas estes dados não estão desagregados o suficiente ou traduzidos espacialmente, para que possamos perceber matrizes, fragmentos (formas, tamanhos, organização, inter-relações) e fluxos, num diagnóstico mais coerente da estrutura e do seu funcionamento. Portanto, mais do que factores de orgulho ou penitência, estes dados devem servir como avisos à navegação e indicadores para aferição da evolução da gestão da região.

Mais ainda quando, no retrato do INE, poderemos até questionar as classes de uso do solo definidas, assim como as metodologias e conceitos. Por exemplo, no contexto de paisagens alta e ancestralmente humanizadas como são as do nosso País, e do Algarve em particular, há pouco que não caiba nesta categoria. O INE considera-os como a “superfície de território destinada a atividades de intervenção humana que inclui áreas de tecido edificado, industriais, e comerciais, de serviços e turismo, jardins, equipamentos e infraestruturas, redes rodoviária e ferroviária”. Dentro disto, ficamos sem saber, por exemplo, o que corresponde a edificação e o que corresponde a infra-estruturas viárias/rodoviárias, o que seria importante.

Mas sabemos que estamos a converter áreas matriciais da paisagem algarvia, como matos e superfícies agro-florestais (onde, pela definição da ficha técnica, se inclui o pomar de sequeiro), em áreas agrícolas e florestais. Se tais princípios se podem afigurar como conceptualmente positivos, pois necessitamos de maior diversificação económica na região, a coisa piora quando cruzamos com outras informações de que dispomos.

No caso da agricultura, parte significativa da conversão de novas áreas se destina à instalação de culturas de regadio extensivas e/ou intensivas – por vezes com tremendo impacto, como no caso do Cerro de S. Miguel – sem aparente preocupação ou controlo de um balanço hídrico regional, quando o Algarve é marcado pela incerteza e escassez dos recursos hídricos são factores críticos de limitação.
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Índice PDSI - Maio 2020, identificando seca fraca e moderada na região do Algarve (Fonte: IPMA)
Nas áreas florestais que também aumentam na região, sabemos (graças ao 6.º Inventário Florestal Nacional, disponível aqui), que o Algarve tende para a redução significativa de sobreiro e alfarrobeira, o que suscita a questão relativamente ao que lhes sucede e ao que aportam em termos de modelo territorial, social e económico, ainda para mais em contexto de expansão.
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Fonte: ICNF
Não há qualquer problema inerente à mudança – muito pelo contrário, já que é condição inerente e indispensável à vida, ao contrário da morte, que tudo estagna – mas interessa pensar a forma como se processa e o que traz para o futuro.

Desde que isso realmente interesse.

O que não parece acontecer, bastando ver a seriedade com que estas matérias do ordenamento e do planeamento – até da vida humana – se encaram em Portugal.

No passado 17 de Junho, dia em que assinalaram três anos sobre a deflagração do incêndio de Pedrógão que redundaria na tragédia que ceifou a vida a dezenas de pessoas (e que se repetiria em Outubro desse mesmo fatídico 2017, elevando o número total de vítimas acima da centena), por falhanço absoluto de um modelo territorial e de gestão da paisagem, e que deve envergonhar todos enquanto subsistirem – como subsistem – as suas causas estruturais, qual foi a forma que os principais órgãos de soberania da nação encontraram para assinalar tão necessária reflexão?

Juntando Presidente da República, Presidente da Assembleia da República e Primeiro-Ministro (bem como outras figuras de menor relevo) no Palácio da Ajuda, para anunciar ao País, em mal contida excitação – como garotos que se juntam para ver pornografia em vez de fazerem os trabalhos de casa – que a fase final da Liga dos Campeões Europeus de futebol se disputará em Lisboa.

Eloquente, não?
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(c) Lusa
1 Comment
Miguel
22/6/2020 15:29:29

Um texto de excepcional actualidade e qualidade Gonçalo.
E o facto de relevo na sua dissertação será mesmo, não que tipo de Algarve queremos, mas a longo prazo a própria viabilidade do Algarve enquanto região capaz de suster agregados populacionais iguais ou superiores aos que possui, sem se tornar numa mera colónia no verdadeiro sentido do termo, onde se trabalha (o que se pode) mas sem condições ambientais ou sociais de vida.
Tudo o que possamos dizer sobre usos do território em contraste com os actuais e em curso, está amplamente documentado, estudado e proposto, e assim sendo, sabendo que as alternativas não só seriam ambientalmente como também economicamente sustentáveis, é espantoso o grau de deslumbramento bacoco - bem plasmado no anuncio da champions league - que ainda persiste nas duras cabeças nacionais e que entra em espamos assim que algo de Longo prazo - leia-se fora dos prazos eleitorais - é proposto.
Fenómenos Psico-sociologicos sem duvida que volto a insistir, seriam de enorme interesse aprofundar, porque toldam um normal processo de desenvolvimento, que não só o Algarve mas todo o país necessita.
O professor António Covas descreveu bastante bem no Sul informação uma série de medidas para o interior do Algarve, que a serem postas em prática significariam uma normalização de uso e potencialidades de uma zona que as tem.
Suponha isto: em zona de serra onde três espécies dominam (sobreiro, pinheiro bravo, eucalipto e onde espécies como carvalho cerquinho, freixo são meramente vestigiais) e onde o sobreiro está ameaçado pelas alterações climáticas, porque não diversificar e salvaguardar a paisagem e recursos hidricos com: Azinheira, Alfarrobeira, Cipreste, Pinheiro de Alepo entre outras, criando assim uma paisagem mais diversificada, atractiva para turismo e: extracção madeireira, caça, recolha de frutos silvestres, mel, frutos secos em suma uma intersecção entre o barrocal e pomar de sequeiro e a vertente mais florestal, não digo nada de novo, de facto (perdoe-me a publicidade) basta ler o Portugal em Chamas do João Camargo, infelizmente tão actual, que considero um excelente manual para compreender e intervir nos modelos florestais de hoje e amanhã.
Quais os custos de tais iniciativas comparados com os benefícios (sim leva tempo que chatice) com obras megalómanas, com festas e festarolas, com a inercia, com os incêndios, com o despovoamento, com deixar em certos Concelhos metade do território desaproveitado?

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