Por Sara Luz
Saber atempadamente que se vai receber visitas em casa é facto para nos apressarmos a limpar e a arrumar o que a azáfama do dia-a-dia não nos permite. Desse modo, garantimos não só que as visitas se sintam confortáveis como fiquem bem impressionadas. No setor da saúde passa-se exatamente o mesmo quando o Sr. Ministro da Saúde (MS) decide fazer uma visita aos serviços. Nos serviços de urgência dos hospitais, por exemplo, o número de pessoas internadas no serviço/sala de observação (comummente designado por “SO”) tende surpreendentemente a diminuir dias ou horas antes às visitas com pré-aviso do MS. Não é, portanto, de admirar que use isso a seu favor, dizendo que as “coisas” não são assim tão más como muitos as pintam. O próprio desafio lançado aos deputados de todos os partidos políticos para fazerem visitas “surpresa” aos serviços de urgência reflete exatamente essa sua (falsa) crença. Mas, até que ponto é correto acreditar no que os mais chegados lhe dizem, negando factos dos que estão no terreno lhe dão a conhecer?! A verdade é que se em nossas casas não contamos que as visitas andem a espreitar o “pó debaixo do tapete”, é exatamente isso que se esperaria de um Ministro da Saúde, sobretudo quando as denúncias dos profissionais de saúde, sindicatos, ordens profissionais, são significativas em número e em teor. Esconde-se atrás dos picos de afluência e de quem se faz representar. Quebra promessas. Ameaça os profissionais de saúde na defesa das carreiras e na igualdade das classes. Num país de “pobres e velhos”, insinua egoísmo profissional aos que todos os dias vestem a camisola nas suas organizações… Esperava-se mais, muito mais deste Ministro, especialmente pela formação base que tem. Mas, no final das contas, nem médico, nem político, nem líder, nem grande decisor…
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Por Sara Luz
Terminámos o ano de 2017 com uma espera de atendimento superior a 20 horas no serviço de urgência do Hospital de Faro, existindo inclusive pessoas a quem lhes foi atribuída pulseira laranja a aguardarem 6 horas ou não fossem essas situações consideradas “muito urgentes” de acordo com a Triagem de Manchester. Não bastando o caos, houve ainda espaço para uma tentativa de agressão a um profissional de saúde com uma arma branca. Quanto a tudo isto, o silêncio da Tutela foi ensurdecedor. Uma indiferença política que espelha, uma vez mais, a incapacidade de manifestação e/ou responsabilização do Governo em momentos críticos. Momentos esses que podiam ter sido antecipadamente acautelados dada a previsibilidade deste tipo de acontecimentos em plena época de contingência da gripe. Ainda assim, não o foram. Há quem argumente que a inercia da Tutela se deva aos constrangimentos em torno do défice orçamental, o que é plausível. Mas, no meu entendimento, esse motivo só ganha escala no Algarve porque a ele se junta um fenómeno que se tem vindo a instalar nos últimos anos: um Serviço Nacional de Saúde (SNS) que não é para todos, é só para alguns. Para os mais vulneráveis, socialmente desfavorecidos ou para aqueles que pelas circunstâncias do momento não tiveram outra escolha. São esses, os utentes menos exigentes do SNS, em conjunto com os que optaram por não utilizar os cuidados de saúde do setor público que têm facilitado o ócio governativo nesta matéria, ano após ano. E, note-se que, o problema não está em recorrer aos cuidados de saúde do setor privado à procura de maior conforto, inovação ou comodidade. A questão reside, essencialmente, no facto dos algarvios tomarem essa decisão em virtude da falta de acesso aos cuidados de saúde no setor público. E é precisamente esta condição que, além de ter tornado o Algarve a região do país com maior dependência do setor privado, desvirtua por completo uma conquista irrenunciável na democracia portuguesa – o Serviço Nacional de Saúde. E é exatamente por isso, que o meu desejo para 2018 é que o Estado Português devolva o SNS aos utentes algarvios. Nesta altura do ano é importante relembrar que centenas de idosos são abandonados em casa, lares ou hospitais… Tendo em conta que Portugal apresenta um dos maiores índices de envelhecimento da Europa e é um dos países onde mais idosos são abandonados, para onde caminhamos? |
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