O Lugar ao Sul conta hoje com a opinião de mais uma convidada especial. A convite da Sara Luz, hoje, no Lugar ao Sul, escreve Ana Nascimento. É Enfermeira no Centro Hospitalar Universitário do Algarve, EPE, e integra a equipa da Unidade de Hospitalização Domiciliária na Unidade de Faro. Mais apresentações podem ler-se aqui. “Cuidar em Casa” tem-se evidenciado como um modelo de assistência hospitalar com claros ganhos em saúde quer a nível internacional, quer nacional (e aqui saudar o trabalho desenvolvido pelos profissionais de saúde do Hospital Garcia de Orta!). E, portanto, quando em setembro de 2018 foi publicado um Despacho a prever a implementação e dinamização de Unidades de Hospitalização Domiciliária nos estabelecimentos hospitalares do Serviço Nacional de Saúde, enquanto estratégia promotora da modernização e reorganização dos serviços de saúde, não faltou vontade em escrever sobre o assunto. Esse desejo tornou-se ainda mais premente quando o próprio Centro Hospitalar Universitário do Algarve, EPE, assumiu o compromisso em criar uma dessas unidades. A esta altura considerei, porém, ser mais pertinente dar voz a um dos principais rostos envolvidos neste projeto inovador em desenvolvimento na região algarvia, o que justifica o desafio lançado à Ana Nascimento para nos falar sobre o assunto. Boa leitura! A Hospitalização Domiciliária surgiu pela primeira vez em 1947, nos Estados Unidos da América, com a experiência “Home Care”, na sequência da Segunda Guerra Mundial com o intuito de descongestionar os hospitais, assim como, criar um ambiente psicológico mais favorável à pessoa em situação de doença. Na Europa, a primeira unidade surgiu em 1957, no Assistance Publique – Hôpitaux de Paris, em França. Seguiram-se outros países como a Suíça, a Alemanha, o Reino Unido e o Canadá. Em Espanha, este modelo assistencial foi implementado pela primeira vez há 38 anos, no Hospital Universitário de Gregório Marañón.
As unidades de Hospitalização Domiciliária em Espanha e em França fizeram um importante caminho de desenvolvimento e modernização. Segundo a Sociedade Espanhola de Hospitalização Domiciliária, em 2011, Espanha já contava com 101 unidades registadas. Em França, a Federação Nacional de Estabelecimentos de Hospitalização Domiciliária, em 2010, tinha 300 estabelecimentos de hospitalização domiciliária registados. Em Portugal, a experiência dos Enfermeiros na Unidade Funcional de Cuidados Continuados do Hospital Garcia de Orta, desde 1998, foi essencial para que este hospital avançasse com a primeira Unidade de Hospitalização Domiciliária em novembro de 2015. No seguimento desta experiência positiva, foi delineada uma Estratégia Nacional para a Hospitalização Domiciliária, que contempla a sua disponibilização em 25 Hospitais/Centros Hospitalares do país até ao final de 2019, até ao final de maio encontravam-se em funcionamento 16 Unidades. A hospitalização domiciliária, enquanto modelo de prestação de cuidados em casa, afigura-se como uma alternativa ao internamento convencional, uma vez que dá resposta à pessoa, em idade adulta, com situação de doença aguda ou doença crónica agudizada com necessidade de admissão hospitalar para internamento (Despacho n.º 9323-A/2018 de 3 de outubro de 2018 - Modelo de Deliberação de criação e de Regulamento da Unidade de Hospitalização Domiciliária). Podem integrar estas unidades as pessoas que cumpram um conjunto de critérios clínicos, sociais e geográficos (Norma da DGS 020/2018 de 20/12/2018 - Hospitalização Domiciliária em idade adulta) em consonância com a realidade concreta de cada instituição e das necessidades locais da população. Desta forma, este modelo da prestação de cuidados deslocaliza a pessoa das instituições hospitalares para o domicílio, não se sobrepondo a nenhum dos serviços já existentes na comunidade, privilegiando a articulação com os Cuidados de Saúde Primários e a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados para assegurar a continuidade dos cuidados. A hospitalização domiciliária permite envolver o doente e a família/cuidador no plano de cuidados, capacitando-os através do ensino personalizado em função das necessidades e dos recursos individuais. Uma abordagem centrada na pessoa, constituindo uma importante mudança face ao paradigma atual dos cuidados hospitalares, uma transição do cuidar “de” para o cuidar “com”. A evidência científica internacional tem demonstrado que existem vantagens para todas as partes envolvidas, designadamente, a redução do risco de complicações, como quedas, úlceras de pressão, desorientação ou confusão, a diminuição dos reinternamentos hospitalares, a redução da taxa de infeção hospitalar, a redução dos custos de internamento (comparativamente ao internamento convencional) e elevado nível de satisfação do doente e família/cuidador. Apesar de todas as vantagens que este modelo apresenta, importa valorizar o esforço e a capacidade de adaptação, que a implementação e o desenvolvimento destes projetos exigem a todos os profissionais que de alguma forma são implicados no processo. Em particular, o dos profissionais de saúde envolvidos na prestação de cuidados, uma vez que, todo o modelo de prestação de cuidados em internamento hospitalar estava pensado para a pessoa dentro das instalações hospitalares. Precisamos de firmar uma estratégia de médio-longo prazo para os cuidados de saúde em Portugal, em particular, no Serviço Nacional de Saúde, onde as Unidades de Hospitalização Domiciliária podem dar um forte contributo.
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Por Sara Luz Invicta em todo o seu esplendor, foi na cidade do Porto que se realizou no passado fim-de-semana a I Conferência Internacional dos Enfermeiros. De lá, e depois do Bispo do Porto manifestar convictamente o seu apoio à atual luta de Enfermagem, trouxe uma certeza: as vozes dos Enfermeiros Portugueses podem não chegar à Tutela, mas certamente chegam ao céu! Se estas vozes ainda ressoassem o hino da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (mais conhecida por CGTP), talvez tudo fosse diferente. Mas, se há coisa que os enfermeiros hoje têm é orgulho do seu hino! Por entre a cortina de fumo criada pelo Governo e seus apoiantes há, porém, gente que começa a pensar diferente e a querer escutar verdadeiramente os enfermeiros. O jornalista e escritor Rui Costa Pinto é exemplo disso mesmo, tendo demonstrado interesse em publicar 14 testemunhos exclusivos no seu mais recente livro intitulado por “+ Enfermeiros, + Saúde”. Tive o privilégio de estar entre esses enfermeiros que tanto engrandecem a profissão e fi-lo tendo por base o facto de ser enfermeira, jovem, mulher e algarvia. Sem grande elaboração sobre esses pressupostos (ainda que, eventualmente, merecida!) aqui vos deixo o meu testemunho. Boa Leitura! RETRATO DA SAÚDE Quais são os pontos positivos/críticos do SNS? Os pontos positivos do SNS dizem respeito ao acesso universal, geral e tendencialmente gratuito aos cuidados de saúde, assim como à qualidade dos profissionais. Estes aspetos garantem que independentemente das circunstâncias em que uma pessoa nasce, cresce e vive é-lhe salvaguardada a garantia do direito fundamental à proteção da saúde por parte de profissionais altamente qualificados e competentes, o que é determinante para a maximização das oportunidades de vida e prosperidade do indivíduo na sociedade. O problema está em que, volvidos 40 anos desde a sua criação, o SNS não garante um acesso adequado aos cuidados de saúde e a sua sustentabilidade está hoje, mais do que nunca, comprometida. Isto deve-se a anos de desinvestimento no setor, destacando-se: (1) o subfinanciamento crónico; (2) o recurso a um modelo de financiamento orientado para outputs e não para outcomes sem atender, portanto, ao valor acrescentado em saúde; (3) a falta de autonomia na gestão das instituições de saúde; (4) a inadequada integração dos diferentes setores (público, privado e social); (5) a falta de visão e planeamento estratégico em relação aos desafios societais do século XXI no domínio da saúde (e.g., envelhecimento da população e aumento da prevalência de doenças crónicas); (6) a preconização de um modelo de organização de cuidados de saúde obsoleto que perdurou tempo de mais (hospitalocêntrico); e (7) a desvalorização dos profissionais de saúde. As instituições privadas de Saúde prestam um serviço igual/melhor/pior? Tenho alguma dificuldade em comparar as instituições privadas de saúde e as públicas pelo facto de não estarem em pé de igualdade no que se refere aos constrangimentos relacionados com casos de pessoas com internamento prolongado por situação socioeconómica desfavorável ou por doença complicada com múltiplas comorbilidades, e à responsabilidade com questões de equidade e da saúde pública (e.g., envelhecimento da população, prevalência de doenças crónicas, partos por cesariana) e, portanto, face a condições tão díspares ao fazê-lo poderia cair no erro de comparar o que de momento não é comparável. Considero sim, ser possível retirar algumas aprendizagens do que melhor se faz no setor privado e, se viável, aplicá-las no setor público. O serviço público tem capacidade para acompanhar a remuneração que o sector privado paga aos Enfermeiros? Numa fase inicial, ou seja, para quem é recém-licenciado, o setor público não só tem essa capacidade como a ultrapassa; a certa altura – o setor público – deixa de a ter, pelo facto de existirem no setor privado escalões de progressão salarial e possibilidade de renegociação das condições contratuais. (Importa aqui referir que por circunstâncias que me são alheias esta resposta foi alterada no livro impresso com prejuízo no seu sentido, tendo este facto já sido comunicado ao autor do livro.) ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO HOSPITALAR Qual é a S/ perspectiva sobre a qualidade da Administração e Gestão hospitalar? O diagnóstico em relação à qualidade da Administração e Gestão hospitalar está mais que feito: na maioria dos casos é ineficiente, sendo a falta de autonomia a principal razão apontada pelos diferentes Conselhos de Administração (CA) hospitalares do país. Mas, se de facto uma maior autonomia poderá agilizar processos, como é o caso da contratação e adequação dos recursos aos contextos em específico, a verdade é que isso por si só não irá livrar os CA do que considero ser o maior dos condicionamentos para a melhoria da qualidade da Administração e Gestão hospitalar e que se prende efetivamente com fatores políticos, nomeadamente, as chamadas “nomeações”. Não quero com isto dizer que as pessoas nomeadas para ocupar cargos nos CA dos hospitais portugueses não sejam competentes, pois acredito que a grande maioria o é. Creio é que, de modo intencional ou não, há, por inerência, uma subversão dos interesses institucionais em prol dos políticos. Deste modo, uma das formas de mitigar esta realidade seria, por exemplo, através da apresentação de propostas e projetos a serem sufragados em cada uma das instituições de saúde. Um sistema mais democrático, participativo, transparente e meritocrático, teria ainda a mais-valia de não só colocar o ónus nos eleitos, como também nos eleitores. As listas de espera são o cancro do SNS? As listas de espera são um dos maiores problemas do SNS, uma vez que impossibilitam a satisfação das necessidades em saúde das pessoas em tempo útil ou desejável. Mas não só. A falta de segurança e qualidade que se assiste na prestação de cuidados é talvez ainda mais perniciosa. Assumir o dever de proteger a saúde das pessoas, sem garantir condições de segurança e de qualidade para o efeito é, do ponto de vista moral, mais grave. É, por exemplo, intolerável que por desrespeito às dotações seguras dos cuidados de Enfermagem as instituições de saúde “passem a vida nos mínimos” ou, ainda, que a oferta dos cuidados de saúde nas regiões mais periféricas e no interior do país deixe tanto a desejar. CONDIÇÕES DE TRABALHO As condições proporcionadas para desempenhar a S/ profissão são boas/razoáveis/más? As condições são desfavoráveis. O número de Enfermeiros nos serviços é insuficiente para dar resposta às necessidades em saúde da população, acarretando uma carga de trabalho excessiva para os Enfermeiros no terreno e insegurança na prestação dos cuidados; as progressões na Carreira de Enfermagem estão congeladas há mais de 13 anos e a atual negociação em curso com a Tutela para a revisão da Carreira tem sido fonte de grande desacordo por ficar muito aquém das expectativas dos Enfermeiros; as oportunidades de formação e especialização são praticamente inexistentes, com a agravante de não existir um regime de internato em Enfermagem; o suplemento remuneratório dos Enfermeiros Especialistas aprovado no ano de 2018 é questionável do ponto de vista da sua aplicação, pois em muitas instituições de saúde o reconhecimento é realizado de forma arbitrária; as medidas de conciliação da vida profissional, pessoal e familiar são valorizadas em teoria, mas sem efeitos na prática; a gestão de carreiras é algo inexistente e que, além do potencial de melhoria associado à produtividade, qualidade de vida e bem-estar dos Enfermeiros, poderia contribuir para atenuar os efeitos da penosidade da profissão nos Enfermeiros com idade mais avançada e, logo, favorecer a sustentabilidade do sistema de Segurança Social. EMIGRAÇÃO VERSUS IMIGRAÇÃO Já pensou em emigrar? Porquê? Não só pensei, como já o fiz no passado. Na altura tomei essa decisão por considerar que as ofertas de emprego disponíveis (maioritariamente no setor privado, devido ao congelamento da contratação pública por intervenção da Troika) eram indignas para o exercício da profissão de Enfermagem. A minha forma de protesto foi não aceitar nenhuma dessas propostas e, portanto, acabei por emigrar. Regressei alguns meses mais tarde, após a abertura de um concurso público (o primeiro em muitos anos!) no Centro Hospitalar do Algarve. Como encara o recrutamento de Enfermeiros estrangeiros? Considero que uma política de recrutamento de Enfermeiros estrangeiros poderá fazer sentido quando não existe um número de Enfermeiros adequado às necessidades do país enquanto estratégia temporária e não prática normalizada, como acontece em alguns países da Europa. A existir uma situação dessas é imprescindível tentar compreender se o número de Enfermeiros não está ajustado porque o número de vagas no Ensino Superior não é suficiente para suprir as necessidades ou se o número de candidatos ao Curso de Licenciatura em Enfermagem é inferior ao esperado e, por conseguinte, agir em conformidade para corrigir o(s) problema(s) identificado(s). Quais são os estímulos/entraves à mobilidade profissional? As oportunidades de formação/especialização e progressão na carreira são os maiores estímulos à mobilidade profissional; os maiores entraves referem-se ao amor ao país, às saudades da família e dos amigos, e à necessidade de reconhecimento por parte dos pares no país de origem. FORMAÇÃO E ESPECIALIZAÇÃO Quais são as oportunidades de formação e especialização? Uma das áreas mais penalizadas no setor da saúde em virtude da mais recente crise económica, social e financeira em Portugal foi a área da formação e especialização. As oportunidades foram diminuídas em larga escala e as condições para o fazer tornaram-se bastante precárias. O direito ao gozo das horas de formação contínua previstas na Lei é muitas vezes negado por falta de recursos humanos, as bolsas previstas para os Cursos de Especialização em Enfermagem deixaram de existir, a formação dada pelas instituições tornou-se diminuta e realizada à custa do esforço pessoal dos profissionais, e a formação de cariz obrigatório é frequentada pelos Enfermeiros nos seus dias de descanso. A exceção é a aceitação dos pedidos referentes ao estatuto do trabalhador-estudante, mas ainda assim essa não é uma situação livre de constrangimentos. Concorda que os custos sejam assumidos pelos próprios Enfermeiros? Discordo que uma instituição beneficie da formação e especialização dos seus profissionais sem que lhe seja imputado qualquer custo. Qual o modelo a adoptar? Um modelo em que a formação e especialização sejam encaradas como forma de investimento e não despesa, com critérios de admissibilidade escolhidos tendo por base as necessidades identificadas no contexto, bem como a garantia de responsabilidade e retribuição mútua (i.e., candidatos e instituição). RELAÇÃO PROFISSIONAL Como caracteriza as relações entre os Enfermeiros e os Médicos? A relação profissional entre Enfermeiros e Médicos é complexa. O sentimento de superioridade por parte dos Médicos em relação aos Enfermeiros, devido a aspetos históricos relacionados com a própria evolução profissional e género predominante em cada uma das profissões, sempre foi geradora de grande tensão e conflito. No entanto, a afirmação da Enfermagem enquanto profissão autónoma e disciplina científica no passado recente em muito tem contribuído para amenizar as relações, o que já é visível junto das gerações mais novas. Acredito que o caminho seja no sentido da união e cooperação, com vista a tornar o setor da saúde mais forte e as reivindicações profissionais mais atendíveis. LIGAÇÃO COM OS UTENTES Como caracteriza as relações entre os Enfermeiros/doentes e familiares? As relações entre os Enfermeiros e os utentes e os seus familiares é, por razões óbvias, de grande proximidade. Basta pensar que, no caso dos hospitais, os Enfermeiros prestam cuidados com as pessoas 24 sobre 24 horas por dia. Ou seja, estão lá sempre! No contexto comunitário, os Enfermeiros são quem as acompanha continuamente ao longo do ciclo de vida e, portanto, as relações estabelecidas são igualmente (se não mais até!), de grande confiança e proximidade. CARREIRA Qual foi a história positiva mais marcante da S/ carreira profissional? Ainda estou à espera que aconteça…Talvez no dia em que souber que tenho uma carreira profissional, pois é algo que nunca soube o que foi ter. Está ao alcance de todos compreender que exercer uma profissão sem objetivos é o mesmo que viver sem rumo ou viajar sem destino, daí que considere que exercer a profissão com uma carreira descongelada e revista poderá ser um dos maiores marcos da minha carreira profissional. No terreno, e porque não me faz sentido responder a esta questão sem essa referência, não seleciono uma história positiva marcante em particular, mas antes todas as situações de recuperação inesperadas que acontecem na Unidade de Cuidados Intensivos onde trabalho. A vida é um verdadeiro mistério e a capacidade do ser humano reagir a eventos traumáticos é algo verdadeiramente impressionante e inexplicável. E a mais negativa? Quando terminei a Licenciatura em Enfermagem e percebi o “estado das coisas” da profissão. Por analogia à resposta anterior, no contexto da prática, presenciar a morte de um jovem de 17 anos vítima de acidente de viação enquanto a sua mãe o abraçava e lhe dizia que ele não estava sozinho. Gravei esse momento e revivo-o muitas vezes na minha prática de Enfermagem. A aceitação da morte de um ente querido é por si só um processo doloroso, mas ter que o fazer indo contra a ordem natural da vida é, sem dúvida, a maior brutalidade que se assiste na realidade dos cuidados de saúde. Ser Enfermeira é também sentir o sofrimento de quem cuidamos e, ao contrário do que se possa pensar, o avançar da idade e a experiência não me têm ajudado a lidar mais facilmente com essas situações. Alguma vez ponderou abandonar a carreira de Enfermeiros? Dado o desgaste físico, psicológico e emocional a que os Enfermeiros estão sujeitos diariamente na prática, como não ponderar?! Se a isso lhe juntarmos condições de trabalho desfavoráveis e desvalorização profissional, como não sentir vontade em abandonar uma profissão em que a desmotivação é uma constante?! De facto, até o amor à camisola tem limites! Mas, apesar do sentimento de derrota se instalar nalguns momentos, a paixão pelo que faço e a vontade de ver e fazer parte da mudança é ainda predominante e, como tal, não estou a ponderar abandonar a carreira de Enfermagem tão cedo. No entanto, se um dia isso deixar de fazer sentido, restar-me-á tão e somente seguir outro caminho à margem da Enfermagem. ORDEM E SINDICATOS Como avalia a intervenção da Ordem dos Enfermeiros? Em bom rigor, responder a esta questão sem fazer uma declaração de interesses prévia não seria do ponto de vista ético aceitável, uma vez que apoio o atual projeto da Ordem dos Enfermeiros (OE), enquanto Vogal Suplente do Conselho Fiscal Regional da Secção Regional do Sul da OE. Com isto referir que, apesar da posição mencionada, responderei à questão sem sentir que a mesma condicione o meu pensamento crítico e liberdade de expressão. Assim sendo, a intervenção da OE, e concentrando-me no atual mandato por razões que se prendem com o meu conhecimento e tempo de experiência profissional, pode ser, a meu ver, resumida em torno de três grandes eixos: (1) proximidade; (2) visibilidade; e (3) dignificação e valorização da profissão. Tornar a OE mais próxima dos Enfermeiros tem sido uma das suas maiores bandeiras de onde, inclusive, advém o lema “Ninguém está sozinho”. Esse processo tem sido realizado de forma a conhecer a realidade vivida pelos Enfermeiros nos diferentes contextos da prática, dando-lhes voz para exprimirem as dificuldades sentidas, apoio na gestão de conflitos e ferramentas para uma tomada de decisão eficaz. A estratégia de comunicação adotada tem sido inovadora e moderna, centrada na mudança da imagem da própria OE e da representação social da profissão. Desburocratizar processos, criar/alterar regulamentos/normas/orientações e promover o envolvimento de Enfermeiros em grupos de trabalho nacionais/internacionais e na formulação de políticas de saúde têm sido algumas das apostas para uma maior dignificação e valorização da profissão, estratégia esta em linha com as práticas internacionais na área da Enfermagem. Ressalvar, por último, que a busca de consensos nem sempre é fácil dado o pluralismo de opinião dos quase 74 mil membros da OE. Deste modo, há ainda um grande caminho a percorrer, contudo, a perceção que tenho é que a abertura, disponibilidade, participação e envolvimento dos Enfermeiros é à data de hoje maior do que há uns anos atrás e, portanto, considero que está dado o pontapé de saída para a mudança que há tanto os Enfermeiros demonstram ter vontade em ver. E dos Sindicatos dos Enfermeiros? Tenho dúvidas se as posições tomadas por parte dos Sindicatos vão ao encontro das necessidades dos Enfermeiros ou de interesses próprios. A perceção que tenho é que há uma grande falta de consenso, mas visto não ser associada de nenhum Sindicato poderei, eventualmente, não estar a ser justa. O que mudou para melhor/pior? Para melhor, o incremento do número de Especialidades em Enfermagem, o desenvolvimento de Competências Acrescidas, a criação do Balcão Único, a alteração da Norma para o Cálculo das Dotações Seguras dos Cuidados de Enfermagem e o envolvimento e participação mais ativa dos Enfermeiros no desenvolvimento e valorização da profissão; para pior, a imagem das Organizações Sindicais por parte dos Enfermeiros, e a opinião de uma franja da sociedade civil em relação às formas de luta dos Enfermeiros nas suas reivindicações e que, estrategicamente, foi influenciada pelo atual Governo e seus apoiantes. VIDA FAMILIAR Há vida além da profissão de Enfermeiros? A vida além da profissão de Enfermeira existe, embora para quem trabalhe por turnos esteja sempre condicionada pela possibilidade de não sair a horas, instabilidade de ter que seguir turno e ausência frequente em eventos familiares e/ou sociais aos fins-de-semana e nos dias festivos ou de celebração. Há, porém, a outra face da moeda no que se refere à flexibilidade em gerir o horário, se existir para o efeito recetividade dos Enfermeiros a desempenhar funções nos cargos de chefia/supervisão/direção. Qual é a da carga horária para cumprir os deveres profissionais? Atualmente as 35 horas semanais em trabalho efetivo, mas há sempre espaço para umas tantas horas a mais em trabalho extraordinário. Quais são os custos da dedicação profissional? Para quem trabalha por turnos, a dedicação profissional na área de Enfermagem acarreta uma vida com horários desregulados e uma luta constante em tentar conciliar a vida profissional com a pessoal e familiar. Além disso, desgaste físico, psicológico e emocional considerável. Além do salário existe alguma outra compensação/promoção? O salário é a única compensação e não existem quaisquer promoções. (Declaro participação voluntária no presente questionário, sem acesso a contrapartidas financeiras nem outras de qualquer tipo pela colaboração. Mais informo que autorizo a utilização da informação que consta no questionário em regime não confidencial apenas para a finalidade do presente livro, estando a mesma sujeita à necessidade de pedido de autorização prévio no caso de pretensão em utilizá-la para outro fim.) Por Sara Luz
Sala cheia, oradores de renome e audiência expectante, foi como se apresentou o Auditório Verde da Faculdade de Economia da Universidade do Algarve no passado dia 09 de abril, onde se discutiu a importância da Saúde na Economia do Algarve no âmbito das comemorações dos 40 anos do Serviço Nacional de Saúde. As formalidades introdutórias a cumprir num evento deste género não se fizeram demorar e rapidamente foi dada voz a António Correia de Campos, que iniciou a conferência com uma apresentação genérica sobre a importância das políticas sociais no combate às desigualdades, enfatizando aspetos relacionados com a pobreza, emprego, qualificações e indicadores de saúde. Concluiu a sua intervenção com uma afirmação sobejamente conhecida e inquestionável: muito se fez nos últimos 40 anos, mas muito mais há a fazer! Posto isto, ocuparam-se os lugares sentados no palco pela moderadora e participantes convidados. De um lado, profissionais de saúde – Ana Paula Gonçalves, Paulo Morgado e Rui Lourenço; do outro, economistas – Rui Nunes e Luís Coelho. No começo, a trivial troca de impressões sobre a construção do Hospital Central do Algarve (HCA) e a comparação entre os setores de saúde público e privado na região, o que me levou a pensar na altura se esta não seria mais uma conferência em que os participantes se limitam a discutir o “sexo dos anjos”. Não que o investimento do HCA não faça falta à região, porque faz; não que a dependência dos Algarvios aos hospitais privados não seja preocupante, porque é; mas, continuar a insistir na ideia de que o investimento no HCA é o aspeto central para a resolução dos problemas em matéria de saúde na região do Algarve continua a parecer-me imprudente, especialmente quando profissionais de saúde tomam essa posição. A discussão evoluiu e, a certa altura, um dos participantes fez menção àquilo que considero ser o ponto fulcral da temática em discussão: a estratégia regional na área da saúde que não temos, que tanta falta nos faz e que, por inerência, pouco ou nada nos traz! Referiu-se, ainda, à falta de movimento e até de alguma autocensura nos últimos anos por parte de líderes dos setores social, económico e da saúde, dizendo que centrar a discussão na construção do novo hospital é por si só redutor, pois os serviços de saúde têm um peso de apenas 13% sobre os determinantes da saúde, determinantes estes sim que deveriam estar no topo das preocupações dos líderes Algarvios. Do lado dos economistas, salientou-se que a Economia deve servir as pessoas e não verificar-se o oposto. Contudo, a boa gestão do défice e da dívida pública faz com que os Governos sejam chamados a fazer escolhas e, por não haver dinheiro, optou-se então por sacrificar o investimento público. Ora, como salientado, numa mesa em que há pouco dinheiro quem o recebe é quem tem uma estratégia bem definida e o Algarve neste campo, infelizmente, defende-se muito mal. Para concluir, não se pode dizer que tenha existido um verdadeiro debate de ideias. Houve antes uma partilha de opiniões sobre o que cada um dos participantes pensa a respeito do assunto e, por isso, pareceu-me, que faltou essa construção. De facto, soube a pouco, mas ainda assim não deixa ser uma excelente iniciativa e, por isso, o meu agradecimento à organização! Por Sara Luz
O tempo é de tal forma efémero e o cansaço excessivo que o resultado do artigo de hoje só poderia ser pouco digno de se ler. Ainda assim, e porque a temática e os oradores merecem o destaque, partilho o evento “A importância da Saúde na Economia do Algarve”, a ter lugar na Faculdade de Economia da Universidade do Algarve, no dia 09 de abril. É certamente um evento merecedor de presença e tema de futura reflexão neste Lugar ao Sul. Por Sara Luz
Quando o tema da equidade de género está em cima da mesa há quem insista no argumento que não existe misoginia em Portugal, mas o certo é que os factos o desmentem de forma inequívoca. Segundo o mais recente relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), as mulheres ganham em média menos 22,1% do que os homens apesar de mais escolarizadas, apresentam condições contratuais mais precárias e têm maior probabilidade de ficarem no desemprego. Os cargos de direção e políticos são maioritariamente ocupados por homens e é, igualmente, curioso que nas áreas onde a força de trabalho é na sua maioria constituída por mulheres, como no caso da saúde, que os cargos de liderança sejam também eles predominantemente ocupados por homens. Realçar, ainda, que as mulheres são quem mais sofre com assédio laboral e sexual, e com violência doméstica que, fatidicamente, continua a vitimizar um sem número de mulheres em Portugal – entre 2004 e 2018 registaram-se mais de 500 femicídios e este primeiro trimestre de 2019 que, embora ainda não tenha terminado, já conta com 12 vítimas mortais. Compreende-se, portanto, que os factos tornam a crença – de que a misoginia não existe em Portugal – frágil e inconsistente. O problema é que por detrás da mesma existe uma falácia lógica que continua a ter impacto na liberdade das mulheres, expressa na desigualdade de oportunidades e participação na vida económica, científica e política. Ou seja, há uma significativa franja da sociedade portuguesa que considera que os comportamentos misóginos fazem parte do passado e crer o contrário não é mais do que uma elaboração irrealista ou proveniente de um discurso feminista que tem como fim a luta dos direitos das mulheres por via da misandria; ao fim ao cabo, em Portugal o acesso à educação é igualitário entre géneros, os casos de mutilação genital feminina e violência física e sexual feminina estão ambos previstos no código penal e as mulheres podem conduzir, votar, casar, utilizar contraceção e recorrer aos serviços de saúde com base em escolhas livres…Ora, assim, “como pensar de forma diferente?”. Pois é precisamente esta narrativa social que asfixia, silencia, desvaloriza e normaliza uma realidade que, infelizmente, teima a persistir em Portugal. A opressão patriarcal mantém-se e constitui, a meu ver, um manifesto obstáculo às medidas que visem promover a igualdade e equidade de género. Veja-se, por exemplo, o caso da mais controversa das medidas: a nova Lei da Paridade e Representação Equilibrada. Há quem parta do pressuposto que a Lei da Paridade não faz sentido porque as desigualdades não existem, sugerindo que a falta de representatividade feminina nos cargos políticos se deve ao desinteresse pela política, ou a haver são residuais e mutáveis ao longo do tempo (“mão invisível na cultura”). Há também outros que se referem ao facto da mesma não garantir que a escolha seja baseada no mérito ou, ainda, que atenta às desigualdades que, sim, devem persistir (referindo-me em concreto, neste último caso, a uma opinião publicada recentemente n’Observador) (pode ler-se aqui). E quanto a isto cabe-me dizer que se não fossem 209 os anos necessários para a mulher deixar de ser encarada como a principal cuidadora familiar, segundo o relatório da OIT; a inexistência ou o escasso número de medidas que visam a conciliação da vida profissional, pessoal e familiar, sobretudo, para as mulheres condicionadas pela maternidade; ou as escolhas poderem, e deverem sim, privilegiar o princípio da meritocracia; (e, quanto ao argumento da defesa da misoginia publicado n’Observador, opto realmente por me abster!); até eu me sujeitava a acreditar nisso. Termino parafraseando Simone de Beauvoir, em “O segundo sexo”, as mulheres, herdeiras de um passado pesado, devem, em conjunto com os homens, almejar e forçar um novo futuro; futuro esse em que as mulheres estão devidamente representadas nas áreas da ciência, política e economia, em conciliação com a vida pessoal e familiar e sem que isso acarrete a supremacia de qualquer um dos géneros. Esta é a convicção do que acredito ser vital em matéria de género para a coesão social e para o progresso do país. Por Sara Luz
Portugal tem superado as expetativas nos mais variados rankings internacionais. Para o bem ou para o mal, este discreto país a sul da Europa parece querer deixar de fazer história com lugares a meio da tabela e começar a valer-se da teoria do “tudo ou nada”. A mais recente prova disso é o facto de ter superado a super-potência russa no consumo excessivo de álcool em 2016, com um consumo nacional per capita puro de álcool a partir dos 15 anos de 12,3 l contra 11,7 l na Rússia (a saber, ambos acima da média europeia com 9,8 l). É claro que resumir esta discussão à perspetiva quantitativa é um tanto ou quanto redutora, pois para além dos portugueses privilegiarem em grande medida as bebidas fermentadas às mais destiladas (com claro apreço pelo vinho e cerveja em detrimento da vodka), o consumo excessivo de álcool ocorre maioritariamente em ambientes sociais ao contrário do que parece acontecer nos países do leste. Ainda assim, e graças a Portugal, a Organização Mundial de Saúde (OMS) parece ter feito uma notável descoberta: é que o consumo excessivo de álcool não só se verifica em países mais frios e com menos raios solares (diversos estudos científicos tem testado e comprovado esta associação), mas também nos mais quentes. Afinal, esteja frio ou calor há sempre motivo para beber! Esta conclusão fez, naturalmente, com que a OMS recomendasse a Portugal adotar medidas dissuasoras ao consumo excessivo de álcool, entre elas o aumento da taxação e o estabelecimento de preços mínimos para as bebidas alcoólicas, o que atendendo à política fiscal levada a cabo pelo atual Governo pode dizer-se que essas recomendações são “ouro sobre azul” para justificar uma futura maior taxação sobre os produtos em questão e, por conseguinte, aumentar a receita fiscal. O Algarve pela sua singularidade climatérica e turística face às demais regiões do país poderá dar cartas neste assunto e contribuir uma vez mais para encher os cofres do Estado. Pena é que na hora da retribuição, em melhorar as condições de vida dos algarvios em matérias como a da segurança, acessibilidade e saúde, os sinais sejam sempre tão tímidos! Nesta matéria, valha-nos então o combate às repercussões individuais e sociais associadas ao consumo de álcool em excesso na região (e.g., acidentes rodoviários, comportamentos sexuais de risco, consumo concomitante de outras substâncias, comportamentos violentos, problemas de saúde, entre outros) e à prevenção de padrões de consumo de álcool regulares que por se perpetuarem ao longo da vida são os mais problemáticos. Por Sara Luz
Volvidos 100 anos após a maior pandemia mundial de gripe da história – a gripe espanhola –, sabe-se que as pandemias matam cada vez menos. Isto deve-se, evidentemente, à melhoria das condições de vida, assim como às medidas adotadas para a prevenção da gripe. Em Portugal, devido ao sobejamente conhecido risco de epidemia de gripe na época de inverno, ativam-se anualmente Planos de Contingência pelos Departamentos de Saúde Pública das diferentes Administrações Regionais de Saúde do país entre os meses de novembro e março, que visam a abertura de camas suplementares a nível hospitalar, o alargamento dos horários de atendimento nos cuidados de saúde primários e o reforço das equipas; promovem-se campanhas de vacinação contra a gripe a partir dos meses de outubro (em meados de novembro de 2018 mais de 850 mil portugueses já se encontravam vacinados – https://www.publico.pt/2018/11/22/sociedade/noticia/850-mil-pessoas-ja-vacinaram-virus-gripe-pagarem-1852120); e, implementam-se iniciativas para a melhoria dos níveis de literacia em saúde, como sejam materiais didáticos de divulgação (e.g., http://biblioteca.min-saude.pt/livro/inverno#page/1; https://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/gripe/materiais-de-divulgacao.aspx; https://www.youtube.com/watch?v=iCsG3pgrjrM). A par disso, incentiva-se a utilização da Linha de Saúde 24 e criam-se novas Unidades de Saúde Familiar, com o respetivo aumento da cobertura de utentes com médico de família. Teoricamente um bom esforço para a prevenção da gripe e combate à mortalidade pela mesma, mas que na prática deixa muito a desejar. Ora, se se implementam medidas como as acima referidas, no sentido de se aumentar a capacidade de resposta dos serviços de saúde e capacitar os cidadãos para acederem e compreenderem a informação sobre a doença em questão, melhor gerirem a sua saúde e navegarem adequadamente nos serviços de saúde, como explicar que durante o período de atividade gripal (algo que acontece todos os anos!) as notícias na comunicação social sejam invariavelmente sobre o caos vivido nos serviços de urgência (SUs) hospitalares?! Relembremos, pois, o caso devidamente ilustrado do Algarve em janeiro de 2018 (https://www.publico.pt/2018/01/07/sociedade/noticia/enfermeiros-denunciam-caos-nas-urgencias-e-risco-para-doentes-1798436); e, já este ano, a sobrelotação dos hospitais pertencentes ao distrito de Setúbal (https://tvi24.iol.pt/sociedade/hospital-do-barreiro/urgencias-no-barreiro-estao-sobrelotadas-com-o-dobro-dos-doentes?fbclid=IwAR2VHA3YK660GoWeqhKXdsLsqpvM40U1iDSMGEdqK2hUklJ_wk936yiR33c). Acontecimentos como os ocorridos nestas “margens mais a Sul” costumam ser justificados pelas entidades competentes (ano após ano!) da seguinte forma: que em condições de exceção (neste caso, a gripe) é expectável que os serviços de saúde possam apresentar dificuldade de resposta ou, como já foi referido pela Direção-Geral da Saúde (DGS) já no início deste ano, que “os recursos hospitalares para responder ao pico da gripe são suficientes e só deixam de o ser quando os doentes se dirigem às urgências para o tratamento de casos que podem ser resolvidos em casa” (https://expresso.sapo.pt/sociedade/2019-01-04-DGS-pede-responsabilidade-a-populacao-com-as-idas-aos-hospitais-por-causa-da-gripe#gs.RMKlfeMW). Aceitar estas justificações sem refletir sobre aspetos, tais como, as medidas adicionais anualmente implementadas para dar resposta ao incremento da procura aos serviços de saúde por síndrome gripal, a realidade do Serviço Nacional de Saúde em períodos não sazonais, tempos de espera aumentados nos SUs previamente a atingir-se o pico da gripe (período esse em que é previsível um maior afluxo de pessoas aos SUs e que em 2019, por exemplo, a DGS prevê que aconteça apenas no início da próxima semana) ou, ainda, sobre o facto de que apenas 3 em cada 10 portugueses com gripe recorrem aos serviços de saúde (estudo recente realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge sobre o comportamento de procura de cuidados de saúde pelos portugueses em situação de gripe - http://repositorio.insa.pt/bitstream/10400.18/5670/1/Boletim_Epidemiologico_Observacoes_N23_2018_artigo3.pdf) é, a meu ver, insuficiente. Ao esmiuçar os aspetos referidos é possível depreender que o argumento não é nada mais, nada menos que falacioso. Ou seja, há uma tentativa em justificar o mau funcionamento dos SUs através da (falsa) ideia de que a procura é desmedida e, na maior parte dos casos, inadequada – as chamadas “falsas urgências” – (pois essa é uma situação conhecida que acomete os SUs em qualquer altura do ano, logo, um facto dificilmente questionável), mas o que acontece na prática é que a “gripe” por si só não motiva esse mau funcionamento; o que a “gripe” faz é pôr a descoberto o mau funcionamento pré-existente dos SUs (e, por inerência, do SNS) e sobre isso, claro está, não importa de todo falar! Uma sociedade moderna deve, e bem, responsabilizar os seus cidadãos pelas escolhas individuais relacionadas com a saúde, mas não sem antes responsabilizar os seus decisores pelas decisões tomadas em matéria de saúde! Créditos Fotográficos: Tomás Monteiro Site de opinião Lugar ao Sul distingue pelo segundo ano consecutivo uma personalidade marcante do ano.
Uma personalidade ímpar que em 2018 cimentou a sua posição como um dos grandes músicos da nova geração da cena cultural nacional. Júlio Resende, pianista e compositor Algarvio, teve um ano de 2018 imparável e recebe agora a distinção de “Personalidade do Ano a Sul 2018” atribuída pelo segundo ano consecutivo pelo site de opinião “Lugar ao Sul”. Participou no Festival da Canção como compositor da música que Emmy Curl interpretou e teve a oportunidade de actuar, com Salvador Sobral, para uma audiência de milhões de pessoas em todo o mundo ao lado de um dos seus ídolos, Caetano Veloso, na final do Festival Eurovisão da canção em Lisboa. O palco tem chamado insistentemente por ele. Seja a solo, seja em dueto com Salvador Sobra, seja através do projecto comum de ambos, a banda Alexander Search, foram muitos os concertos que o apresentaram definitivamente ao país em 2018. Ainda em 2018 Júlio Resende volta a editar um novo álbum, "Cinderella Cyborg". O Jornal Público escreve que este “é um nome em que o pianista pretende reflectir não um choque, mas um encontro entre aquilo que há de mais inocente e poético – na vida e na música –, e o lado mais maquinal e frio associado à tecnologia.” Este seu novo álbum foi nomeado como melhor álbum português de 2018 pela plataforma Altamont e ficou ainda considerado entre os melhores discos pela equipa do Observador (jornal on-line). Os últimos anos tem sido intensos para Júlio Resende. Em 2007 grava o seu primeiro álbum – “Da Alma” - através de prestigiada editora de Jazz, Clean Feed, tornando-se o mais jovem músico português a editar um disco para esta editora, enquanto líder. Segue-se, em 2009, “Assim Falava Jazzatustra”, álbum que viria a ser considerado um dos melhores discos do ano pela crítica especializada. Em 2011 surge “You Taste Like a Song”, um disco em Trio, com a participação de grandes músicos tendi sido classificado com 5***** Estrelas pela Revista TimeOut. Em Outubro de 2013 lança Amália por Júlio Resende. O seu primeiro disco a solo, onde revisita algumas canções do repertório de Amália Rodrigues, iluminado pela memória e pela Voz da Diva, num dueto (im)possível no tema “Medo”. Este trabalho mereceu a melhor atenção por parte da crítica nacional e internacional. Da prestigiada Clássica francesa onde recebeu CHOC DISC***** à célebre Monocle, o consenso foi claro: este é um disco que marca e “está ao nível do que de melhor se faz pelo vasto Mundo”. Seguem-se “Fado & Further” e “Amália por Júlio Resende”. Pelo caminho ainda cria “Poesia Homónima” com o psiquiatra Júlio Machado Vaz onde apresentam poemas de Eugénio de Andrade e Gonçalo M. Tavares. De relevância assinalável é igualmente o cuidado que tem na escolha das vozes que acompanha ao piano, onde se destacam, a titulo de exemplo, para além de Salvador Sobral, Elisa Rodrigues e Sílvia Perez Cruz, com quem também já gravou. Mas Júlio Resende não se esgota na música. Assina uma coluna de opinião na Revista Visão onde aborda temas tão diversos. O também licenciado em Filosofia é pois alguém que reflete regularmente sobre si e sobre os outros. Quando questionado recentemente pela revista Blitz sobre a forma como a Filosofia o acompanha, afirmou que o “obriga a pensar em conceitos interessantes. E a trabalhá-los bem. E tento trazer essas reflexões para o mundo musical, ainda que a música seja outra coisa, que vem depois da reflexão. A reflexão faz-se para trás, a vida faz-se para a frente, como se costuma dizer em Filosofia. E a música também.” Júlio Resende é um profissional inspirador e os autores do site Lugar ao Sul entenderam distingui-lo, depois de em 2017 ter sido distinguido O Prof. Dr. João Guerreiro, ex-reitor da Universidade do Algarve, que foi o presidente da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias dos incêndios de 2017. Em 2018, Júlio Resende conseguiu impor a sua marca num pais que ainda vive profundamente centralizado. Além disso entendemos que a sua forma de olhar o mundo vai ao encontro do que temos vindo a defender no Lugar ao Sul: necessitamos de mais e melhor opinião. Sobre essa ideia, Júlio Resende, tem uma frase lapidar: “As pessoas que digam coisas! Mas tentem pensá-las antes de dizer, já não seria mau.” A data e local da cerimónia pública de atribuição desta distinção será anunciada em breve. Por Sara Luz Bem a propósito da Conferência da ONU sobre alterações climáticas realizada na Polónia no início deste mês, resolvi dar resposta a um desafio lançado por um dos residentes deste Lugar ao Sul, o Gonçalo Duarte Gomes, em sair da minha zona de conforto – a área da saúde – e escrever sobre o ambiente. Abordar um tema que não é minha especialidade e, em simultâneo, controlar a inquietude da mente sobre questões que as alterações climáticas levantam na ótica da saúde pública (e.g., risco aumentado do desenvolvimento de doenças malignas devido à poluição do ar, de mortalidade causado por ondas de calor e inundações, do desenvolvimento de doenças infeciosas transmitidas por vetores pelo aumento da temperatura, do aparecimento de problemas respiratórios em virtude de incêndios florestais) não é tarefa fácil. Ainda assim, e face ao compromisso, decidi seguir a perspetiva da cidadania que, à luz do conhecimento atual, talvez seja mesmo a mais pertinente. Da Cimeira do Clima, António Guterres alertou-nos para o facto de “estarmos em apuros”, que é “difícil exagerar a urgência” e que para muitas populações já se trata de “uma questão de vida ou morte”. O tom foi dramático, mas atendendo ao número e à intensidade de desastres naturais a ocorrerem por todo o mundo (e.g., furacões no Atlântico Norte (2017), cheias no Nepal, Bangladesh e Índia (2017), onda de frio na Europa do Leste e Central (2017), incêndios florestais na Califórnia (2017; 2018), erupção vulcânica no Havai (2018), tempestade de poeiras na Índia (2018), tsunami na Indonésia (2018), furacões no Pacífico (2018)), não é caso para menos. De acordo com o Secretário-Geral da ONU, três anos após a celebração do Acordo de Paris “ainda não estamos a fazer o suficiente” o que, sinceramente, não me surpreende. Conforme escreve Yuval Noah Harari, em Homo Deus, “quando chega o momento de optar entre o crescimento económico e a estabilidade ecológica, os políticos, os CEO e os eleitores quase sempre escolhem o crescimento económico”, o que leva a crer que o resgate do planeta em pleno século XXI está cada vez mais dependente dos comportamentos individuais (e.g., reduzir o consumo de eletricidade no aquecimento e arrefecimento das casas; evitar a utilização do carro; utilizar fontes de energia limpa; diminuir o consumo de carne de vaca e produtos lácteos; reduzir, reutilizar e reciclar) e das iniciativas das autarquias locais. No âmbito do poder local, o Município de Loulé é um dos municípios do país que mais tem apostado na promoção da sustentabilidade ambiental, com uma Estratégia Municipal de Adaptação às Alterações Climáticas onde são consideradas mais de 20 opções de adaptação. No âmbito da mobilidade urbana sustentável, este município algarvio tem em marcha a criação de ciclovias, o rebaixamento dos passeios (mobilidade reduzida) e um sistema de bicicletas partilhadas já com início no próximo ano. Em 2017 adquiriu três viaturas 100% elétricas e um posto de carregamento interno, pretendendo que 25% dos veículos da sua frota sejam elétricos aquando da renovação da mesma; existe também a intenção de tornar os camiões do lixo 100% elétricos e adquirir um autocarro 100% elétrico. Ainda no domínio da eficiência energética, tem vindo a substituir as luminárias tradicionais por LED na cidade de Loulé, com vista a alargar esta medida a grande parte do território municipal. A estratégia de reflorestação passa por continuar a plantar mais árvores e a constituir um grande pulmão verde na cidade de Loulé. Para isso, a autarquia louletana pretende dar continuidade à ampliação do parque municipal. Após concluir o primeiro alargamento da zona verde em redor do skate parque em 2015, está agora previsto para o ano de 2019 um segundo alargamento juntamente com a construção de um campo de treino informal e um campo de basquetebol. Outra medida sustentável adotada refere-se à substituição dos garrafões de água e copos de plástico pelo consumo de água da torneira e copos de papel na Câmara Municipal. O desperdício de água tem sido igualmente merecedor de grande atenção, visto existirem discrepâncias de perda de água significativas no Concelho (e.g., 30% na cidade de Loulé contra 4% na Quinta do Lago), pelo que está em desenvolvimento um plano de intervenção para tornar os processos mais eficientes. Salientar, por último, o projeto piloto na Avenida Sá Carneiro, em Quarteira – Quarteira EcoLab –, onde serão adotadas soluções inovadoras nas áreas da energia, mobilidade, ambiente, edifícios e economia circular. Neste projeto 100% sustentável, que terá lugar entre a “Rotunda do Polvo” e a “Rotunda do Terminal Rodoviário”, estão previstas, a título de exemplo, a construção de ciclovias e passadeiras de mobilidade reduzida, iluminação LED e Wi-Fi em todo o percurso, redução do número de lugares de estacionamento e tarifação dos mesmos, plantação de vegetação autóctone e sensores de rega e luminária. Muitos dirão que o dinamismo louletano em torno da adaptação e mitigação das alterações climáticas se deve ao facto de poder contar com um orçamento de 100 milhões – o mais avultado da região do Algarve. Mas, a verdade é que essa não é per si condição sine qua non para a aposta no desenvolvimento sustentável. Para corroborar esta afirmação, deixo à consideração o vídeo abaixo sobre uma iniciativa autárquica sustentável em San Pedro La Laguna, um pequeno município de um país de terceiro mundo (Guatemala). A todos, desejos de um feliz e sustentável natal! Por Sara Luz
António Gedeão cantava que o sonho é uma constante da vida. O Lugar ao Sul, agora com dois anos, conseguiu algo que pouco acreditávamos ser possível: ter uma vida longa e robusta. É certo que já teve os seus momentos menos participados mas nunca deixou de ter actividade constante e regular. Em dois anos de vida foram produzidas mais de trezentos artigos de opinião sobre os mais variados temas e das mais variadas formas. Tal como outros famosos e espartanos 300, marcam uma resistência. Ao alheamento, ao marasmo opinativo, crítico, reflectivo em torno do Algarve, mostrando que esta região tem pensamento e voz. Valerá o que vale, mas para nós é muito. Não só pelo empenho e carinho emprestado a esta ideia, mas fundamentalmente porque acreditamos que conseguimos criar um fórum de opinião que tem ganho o seu espaço no espaço público regional, conciliando gente de diferentes áreas, formações e ideologias em torno de um princípio comum: o Algarve e o Sul de uma forma geral como espaço de pensamento e debate. E, de forma imodesta, acreditamos, porque o vemos, tem vindo a conseguir contagiar a região, que hoje, mais do que há 2 anos, se olha, pensa e discute com outro vigor. Poderá não ser ainda o desejável, mas todo o caminho se inicia com o primeiro passo. Isto importa porque a continuidade deste projecto, contra a espuma dos dias, se deve mais aos leitores que assiduamente fazem do Lugar ao Sul um site com um volume de visitas invulgar para uma plataforma deste género – fora dos grande centros urbanos e longe dos grandes centros de poder – do que aos autores que o realizam todos os dias. É pois devido um grande agradecimento a todos vós que, pelas mais variadas razões, nos vão acompanhando, que nos lêem, que nos elogiam e nos partilham, mas também aquelas que opinando criticam. São todos vós a fasquia que nos ajuda a elevar o debate. Obrigado. Outro factor que tem contribuído para o sucesso do Lugar ao Sul é a capacidade que tem tido para chamar a si novos protagonistas. Em 2017 uma segunda vaga de “habitantes” assentou arraial neste “Lugar” e duplicou a nossa densidade de opinar. Agora, já com dois anos e uma curta mas importante história, é tempo de dar as boas vindas a uma terceira vaga de novos elementos.
É também tempo de dizer até já a outros, que deixaram de escrever, pelo menos regularmente. Sem a sua disponibilidade e a sua entrega, este projecto que, recorde-se, nada mais é que um acto de cidadania activa sem qualquer propósito comercial, não seria possível. Por isso, ao Pedro Pimpão, à Dália Paulo, ao João Fernandes e à Joana Cabrita Martins, o nosso muito obrigado por terem acedido fazer esta viagem connosco. E, sempre que a queiram continuar, as portas deste vosso Lugar ao Sul estarão sempre abertas para vos receber. Aos novos elementos, damos as boas vindas e dizemos que contamos com eles para continuar a inquietar mentes, agitar águas e criar ideias e novos pensamentos. Entram em cena a Patrícia de Jesus Palma, a Anabela Afonso, a Luísa Salazar, o Paulo Patrocínio Reis, a Vanessa Nascimento, a Ana Gonçalves, o Dinis Faísca e a Sara Fernandes. Conheçam um pouco mais sobre todos, carregando aqui. O restante muito que há a descobrir, conhecerão através dos seus textos. Esta é a nova vida do Lugar ao Sul. O propósito é o de sempre: um sentido a Sul, contribuindo para o debate e crescimento deste território. Por Lugar ao Sul
O Lugar ao Sul completa hoje 2 anos de existência. São 2 anos a tentar contribuir para uma reflexão crítica em torno do Algarve, das suas dinâmicas, dos seus problemas, do seu tremendo potencial, de tudo o que permita a construção do seu futuro, em moldes de maior prosperidade, equilíbrio e, acima de tudo, felicidade para todos os que aqui vivem, trabalham e nos visitam. Este esforço nem sempre é fácil, e nem sempre o conseguimos. Mas não paramos. Nem desistimos. E porque não há 2 sem 3, iniciamos este novo ano preparando novidades que em breve serão partilhadas. Entretanto, boas leituras! Por Sara Luz
Aprecio seriamente que a saúde, educação, justiça e segurança sirvam de pilares ao bem comum em Portugal e, por isso, prezo bastante o facto de viver num Estado Social. Não quero com isto dizer que a existência de instituições do setor privado nas áreas setoriais referidas, como acontece na saúde, me incomode particularmente, mas no que concerne à sua integração com instituições do setor público não posso dizer o mesmo. Dito isto, depreende-se facilmente que a proposta de uma reforma estrutural da saúde assente nesse preceito é de difícil digestão. Uma proposta em que o indivíduo possa escolher entre cuidados de saúde prestados pelo setor público ou privado, com um Estado mais pagador, denota claramente a pretensão de décadas em privatizar o setor da saúde em Portugal e interferir no bem-estar social. Não existe qualquer intenção em melhorar, transformar ou reinventar o Serviço Nacional de Saúde (SNS), mas antes de sentenciá-lo à morte. É verdade que a atual crise existente no SNS não abona a seu favor, mas considerar que a integração dos setores público e privado dão azo a indivíduos todos iguais à partida é uma ilusão que a mim não me convence. As mais-valias das instituições de saúde privadas em Portugal são tão e somente permitir às pessoas que o desejem usufruírem de cuidados de saúde diferenciados, com rapidez e conforto, financeiramente suportados por si. Não se pode é querer que esse legítimo exercício de liberdade de escolha seja feito à custa do Estado (i.e., contribuintes). Faz algum sentido que um setor que não tem preocupações relacionadas com a saúde pública (e.g., impacto do envelhecimento da população e da elevada incidência de doenças crónicas, riscos e/ou complicações associados a partos por cesariana) e que não tem qualquer interesse que o SNS esteja reforçado de capital humano competente, que realize investimentos em equipamentos, terapêuticas e tecnologias inovadoras ou que cumpra os tempos máximos de resposta garantidos, ande à bengala do Estado? Se o insucesso do SNS é equivalente ao sucesso do setor privado da saúde, porque se continua a chamar de complementar um sistema que se assume como seu concorrente? Com que legitimidade o PSD propõe uma reforma estrutural da saúde de teor supracitado com um elemento do grupo de trabalho ligado ao maior grupo privado de saúde do país? Quem é que “apertou os calos” ao atual Ministro da Saúde quanto à sua intenção em travar a saída dos médicos do setor público da saúde para o setor privado a custo zero (https://sol.sapo.pt/artigo/581649/jovens-medicos-vao-ter-de-pagar-para-trocarem-sns-pelo-privado), para o então agora discurso de liberdades (https://www.rtp.pt/play/p4258/e365563/grande-entrevista; a partir do minuto 35´)? Quando se responsabilizam Governos por permitirem que o SNS se divida em “SNS bom” e “SNS mau”? Quais são as verdadeiras motivações para se continuar a alimentar o setor privado da saúde em Portugal? E, finalmente, para quando propostas de melhoria (ou salvação!) do SNS em que, de uma vez por todas, se separem as águas? Por Sara Luz
Deixa arder monchiqueiro… deixa arder o que levaste uma vida a construir. O teu ganha-pão. O património que um dia sonhaste deixar aos teus filhos. Livra-te das memórias das paredes que ergueste, das árvores que plantaste, da cortiça que retiraste, das colmeias que construíste e do medronho que apanhaste. Deixa arder monchiqueiro… deixa arder o meio rural que vive e depende de ti. Não interessa se és útil e capaz, inibe essa vontade em salvar esse deserto que só existe graças a ti. Não te concentres em quem leva as culpas ou em quem envia desculpas, pois interesses há muitos e como sabes não são controlados por ti. Deixa arder monchiqueiro… deixa arder porque estás num país de gente séria. Nesta hora de desgraça, jamais alguém se aproveitará de ti. Não lamentes não seres Californiano, porque a seu tempo o planeamento e a intervenção chegarão a ti e, quiçá, um dia passarás de exceção a sucesso! Deixa arder monchiqueiro… deixa arder porque ainda que nada te reste, é “absolutamente extraordinário” estares vivo. Agora que sobreviveste encontra um sentido para a vida que… já não existe! O Lugar ao Sul conta hoje com a opinião de mais um convidado especial. A convite da Sara Luz, hoje, no Lugar ao Sul, escreve Sérgio Menezes Pina. É médico no Centro Hospitalar Universitário do Algarve, E.P.E. (CHUA), Responsável Médico da Formação da VMER de Faro e Albufeira do CHUA e Editor da Revista LifeSaving. Múltiplos factores justificam que o Algarve apresente um crescimento sustentado, com um contributo para a riqueza nacional sempre acima da média nos últimos anos, entre os quais, as estratégias inovadoras de projecção e dinamização do turismo regional, com o foco sobretudo na qualidade e na segurança, uma das principais. Por mais idílicas que sejam as praias, não se vende a confiança no território sem garantir um sistema de saúde sólido e competente, com cabal capacidade de resposta.
A infraestrutura de saúde estabelecida está desproporcionada face às reais necessidades de uma população que triplica sazonalmente e cuja carga de trabalho sobre os profissionais é cada vez maior. A exigência sobre médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica e assistentes operacionais é avassaladora e novos especialistas são difíceis de cativar para o Centro Hospitalar Universitário do Algarve, para onde os concursos ficam cronicamente com vagas por preencher. Só a promoção de projectos ousados e inovadores, como a Revista LifeSaving, pode ajudar a mudar esta tendência. A Revista LifeSaving é uma revista científica promovida pela equipa das Viaturas Médicas de Emergência e Reanimação (VMER) de Faro e Albufeira do Centro Hospitalar Universitário do Algarve, com atenção particular sobre o doente crítico no pré-hospitalar. A VMER de Faro e Albufeira em actividade há cerca de 20 anos é constituída por profissionais experientes no contexto extra-hospitalar e cedo definiu a formação contínua e actualização permanente como uma prioridade, de forma a garantir à população do Algarve um serviço de mais elevada competência. A equipa mobilizou-se no sentido de sintetizar a informação dispersa em múltiplas fontes, na elaboração de protocolos de actuação e na produção de artigos sobre temáticas muitas vezes não consensuais na literatura. Os profissionais deparam-se com uma escassez marcante, a nível nacional, de fontes dedicadas exclusivamente a esta área do conhecimento médico. O material produzido foi optimizado de forma a ser utilizado como ferramenta útil nos cenários enfrentados pelas equipas no terreno. Cedo se tornou manifesto que a partilha deste material poderia beneficiar os operacionais de outros centros o que motivou a criação da Newsletter LifeSaving, cuja primeira edição foi lançada a 5 de Agosto de 2016, instalando-se como uma publicação trimestral, globalizante, transversal a todos os profissionais da emergência pré-hospitalar. Foram lançados 4 números da Newsletter entre Agosto de 2016 e Maio de 2017, extraordinariamente recebidos pela crítica nacional, o que se revestiu num aumento exponencial de visualizações e partilhas de número para número, vindo a colmatar uma falha há muito sentida no panorama científico português. Os números lançados sob orientação do Coordenador Médico da VMER e Editor-chefe da Revista LifeSaving, Dr. Bruno Santos, marcaram-se por um aumento constante da qualidade, não só em termos gráficos, mas também na relevância dos artigos publicados, levando o Centro Hospitalar Universitário do Algarve a apostar na sua divulgação e registo da marca. Desde a comemoração do primeiro aniversário da LifeSaving, que coincidiu com o seu estabelecimento como revista científica, em Agosto de 2017, publicaram-se 4 números, o último dos quais em Maio de 2018. O carácter irreverente da Revista LifeSaving é visível, não só pela opção de uma publicação exclusivamente virtual, facilmente acessível e partilhável, mas fundamentalmente por cativar a atenção da comunidade Algarvia, agregando profissionais e população civil numa discussão conjunta sobre medidas de segurança e prevenção. Para tal, rúbricas dedicadas a leigos, eventos trimestrais de apresentação da revista com workshops práticos abertos ao público na FNAC do Fórum Algarve, em Faro, e seminários teórico-práticos como o decorrido na Feira Internacional de Protecção Civil e Socorro - Algarsafe'18, em Portimão, são algumas das notas diferenciadoras de um projecto com cada vez mais reconhecimento público. A capacidade de ser uma publicação técnica na área da medicina de emergência e urgência e, simultaneamente, ser um ponto de convergência da sociedade Algarvia está fortemente embutido no ADN da LifeSaving que se tem assumido como uma estrutura diferenciadora no Centro Hospitalar Universitário do Algarve, espelhando a excelência de uma equipa que é cada vez mais uma referência na emergência a nível nacional. A Revista LifeSaving pode ser acompanhada usando as seguintes plataformas: http://www.chualgarve.min-saude.pt/lifesaving/ https://issuu.com/lifesaving https://www.facebook.com/revistalifesaving/ Por Sara Luz
Quando o “a favor” e o “contra” a legalização da eutanásia se encontram num bar sabemos o que sucede: o primeiro teima que o segundo está errado, e o inverso também acontece. Isto, claro, durante horas de palanfrório. O “a favor” defende a legalização da eutanásia com base no direito à liberdade individual. O “contra”, por sua vez, opõe-se à supremacia do direito à liberdade individual em detrimento do direito à vida, juntando às suas convicções pessoais outras de ordem deontológica e/ou religiosa. No final, sabemos que o nível de profundidade da discussão não irá muito além, mas também pouco importa ou não estivessem eles simplesmente à conversa num bar. Outra coisa seria de esperar quando o “favor” e o “contra” a legalização da eutanásia se encontram no parlamento. Dar uso à voz do povo para legislar à pressa sobre uma matéria tão fraturante, que nem sequer constava nos programas eleitorais dos partidos (à exceção do PAN), é no mínimo ultrajante. Depois, à boa moda da política portuguesa, não faltou espaço para o voto servir de arremesso político o que por si só é repugnante. Para começar deveriam ter sido realizadas/incentivadas discussões prévias no seio da sociedade civil com o objetivo de se refletir profundamente sobre a eutanásia, o que poderia ter ajudado a perceber o entendimento existente sobre o assunto, a desmistificar constructos sociais e a percecionar se essa seria uma escolha livre de condicionamentos ou dependente de fatores, como sejam a distanásia que se pratica nos serviços de saúde, a falta de acesso a cuidados de saúde em tempo útil, em segurança e com qualidade, a falta de apoio social e/ou familiar, entre tantos outros. O debate poderia ser, igualmente, facilitador da compreensão de que em matérias desta natureza e complexidade importa legislar independentemente do número de pessoas que possam beneficiar da mesma. Primeiro, porque a eutanásia a ser realizada é com base numa escolha livre, individual e esclarecida. Segundo, porque aos profissionais de saúde também lhes assiste o direito à liberdade em praticar ou não a eutanásia, podendo invocar objeção de consciência se assim o entenderem. Depois, quem sabe, uma campanha de grande alcance sobre o testamento vital, talvez com o mesmo vigor que a do consumo de sal/açúcar ou a do combate aos incêndios, pois são apenas cerca de 20 a 30.000 os portugueses que até ao momento subscreveram o documento. Por último, e porque agora de repente as sugestões já parecem ser muitas, referir que numa próxima seria prudente não desvalorizar a rampa deslizante, nem tampouco fazer disso um bicho papão, isto porque importa mais consciencializar do que manipular. Talvez aqui relembrar que, por exemplo, no caso do aborto ele é hoje utilizado como método contracetivo, extrapolando as circunstâncias para as quais se previu a despenalização. Portanto, sim, importa refletir, questionar, informar, …, e consciencializar antes de legislar! “Brilhante, brilhante” é no nosso país verificar-se exatamente o oposto e, portanto, não é de admirar o número consistente de manifestos “contra”. Interessa agora saber se existirá espaço para o debate até que a legalização da eutanásia torne a fazer parte da agenda do dia. Sim, porque esta é matéria que mais tarde ou mais cedo irá voltar e o marasmo pós-votação é demasiado notório e perturbante para quem acompanhou os acontecimentos da última semana. Por cá a sul, continuaremos a fazer o nosso papel: “a refletir, discutir e ser mais plurais do que consensuais!” (http://www.lugaraosul.pt/entrada/lugar-ao-sul-na-sic-noticias-para-falar-sobre-eutanasia). Por Sara Luz
Em 2015, o número de utentes sem médico de família em Portugal era de cerca de 1.3 milhões. A região do Algarve era, segundo o Tribunal de Contas (https://www.tcontas.pt/pt/actos/rel_auditoria/2016/2s/rel011-2016-2s.pdf), a região do país com menor percentagem de pessoas com médico de família atribuído face ao número total de utentes inscritos (72,49%), com especial relevância para o Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Barlavento onde mais de metade dos inscritos não tinha médico de família. Hoje, a realidade é outra e pode dizer-se que o compromisso do atual Governo em atribuir médico de família a toda a população até ao final da legislatura constitui uma verdadeira (e ansiosamente aguardada!) reforma estrutural no setor da saúde. Até ao momento sabe-se que a meta do Governo em alcançar uma cobertura total de utentes com médico de família ainda não foi alcançada, mas desde 2016 esse número mantém-se pela primeira vez abaixo de um milhão. O ritmo para a concretização desse objetivo poderá não ser o mais desejável, muito condicionado pelas reformas antecipadas e pelos atrasos no lançamento dos concursos para a colocação de médicos após internato, contudo, há que salientar o bom trabalho realizado nesta área e o facto do Algarve desta vez não ficar a segurar a lanterna vermelha. Nos últimos dois anos, foram inauguradas sete Unidades de Saúde Familiar (USFs) no Algarve – USF Descobrimentos, Portimão (maio 2016); USF Baesuris, Castro Marim (outubro 2016); USF Balsa, Tavira (outubro 2016); USF Levante, Vila Real de Santo António (outubro 2016); USF Atlântico Sul, Portimão (dezembro 2016); USF Ossónoba, Faro (agosto 2017); USF Amendoeira, Lagos (abril 2018) – e contratados 46 médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar (MGF) (22 médicos em agosto de 2016 – 14 colocados no ACES Central e 8 no ACES Barlavento; 24 médicos em novembro de 2017 – 13 colocados no ACES Barlavento e 11 no ACES Central) –, permitindo que a percentagem de utentes com médico de família aumentasse para 85,4% em 2017, de acordo com dados da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve. A par disso, o ACES do Barlavento tem hoje mais de 70% da população com médico de família atribuído. Nos últimos tempos, vimos também acontecer a mobilidade de 40 enfermeiros do setor hospitalar para os cuidados de saúde primários e a contratação de três médicos dentistas para cada um dos ACES algarvios. Neste último mês de abril, torna a abrir mais um procedimento concursal para médicos especialistas em MGF, o que denota a preocupação da ARS do Algarve em continuar a alocar novos médicos de família para dar cumprimento à meta do Governo sem que isso se faça à custa do aumento das listas de utentes por médico de família, o que serviria não para resolver os problemas em saúde da região mas para agravá-los ainda mais. Passo a passo, rumamos aos 100%... E, apesar da convicção de que para aumentar a capacidade de resposta do Serviço Nacional de Saúde no país, e em concreto na região do Algarve, isso não chega, parece-me que está dado o tiro de partida para a profunda reforma estrutural que o setor da saúde tanto carece! Por Sara Luz
Se for enfermeiro numa Unidade de Cuidados na Comunidade (UCC), não conduza! Este parece ser o movimento que está a ganhar corpo entre os enfermeiros a exercer funções nas UCCs da Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve, em virtude da ARS em questão ter decidido notificar duas enfermeiras a exercer funções nas UCCs de Faro e Portimão para pagar danos em viaturas de serviço (i.e., uma jante riscada e um espelho partido) no prazo de dez dias úteis, sob pena de procedimento disciplinar. Apesar da condução de viaturas não fazer parte do conteúdo funcional de Enfermagem, a constante falta de motoristas e/ou viaturas nas UCCs do Algarve têm levado a que muitos enfermeiros assegurem as visitas domiciliárias e outras atividades na comunidade conduzindo as viaturas de serviço, deslocando-se a pé ou até mesmo utilizando viaturas próprias sem que lhes sejam pagas as despesas de deslocação. Se o têm feito, muito se deve à sua deontologia profissional e, ainda que a ARS do Algarve não reconhecesse esse facto, o mínimo que se esperaria é que o comportamento a adotar não fosse de cariz punitivo. Por esse motivo, e porque não há sentimento que indigne mais o ser humano que o da injustiça, os enfermeiros das UCCs de Faro, Portimão, Lagos e Silves recusaram continuar a conduzir as viaturas de serviço em solidariedade com as colegas, sendo esperado que outros tantos se juntem à causa. Posto isto, de quem é a responsabilidade pelo sucedido? Creio que os responsáveis são vários. Os enfermeiros não devem assumir uma responsabilidade que não lhes compete e, muito menos, ceder a pressões relacionadas com processos disciplinares, pois está visto que são “presos por ter cão e por não ter”. Neste caso em concreto, o procedimento disciplinar decorre em virtude dos danos causados às viaturas de serviço conduzidas pelos enfermeiros. Mas, se recuarmos no tempo, em agosto de 2017, os nove processos disciplinares instaurados pela ARS do Norte aos enfermeiros da UCC de Arcozelo/Espinho deveram-se à recusa dos enfermeiros em conduzir as ditas viaturas. À ARS do Algarve, pesa o facto de não disponibilizar os meios necessários à prestação de cuidados. Mais grave, ainda, é o facto de ter conhecimento que os cuidados são prestados sem que sejam acauteladas as situações que colocam em risco os profissionais e utentes. Não basta que conste no Decreto-Lei n.º 22/2012, de 30 de janeiro, que as ARSs devem “assegurar o planeamento regional dos recursos humanos, financeiros e materiais, incluindo a execução dos necessários projectos de investimento, das instituições e serviços prestadores de cuidados de saúde, supervisionando a sua afectação”, é também preciso colocar em prática essa atribuição, não dispensando nunca do bom senso na sua aplicação. Deste modo, não se espera outra atitude da ARS do Algarve que não a revogação da decisão tomada e a adoção de medidas concretas na resolução do problema, como sejam a contratação de motoristas e/ou aquisição/arranjo de viaturas para as UCCs onde esses recursos estão em falta. Quanto ao suspeito do costume, o Sr. Ministro da Saúde, talvez importe pouco falar, não por resignação, mas porque pouco se espera de quem segue o lema “somos todos Centeno”! Por Sara Luz
No último ano distinguimo-nos como sendo o 5º melhor país do mundo para se viver e o melhor da Europa. Fomos considerados o 3º país do mundo mais pacífico e o mais amigável para imigrantes. Igualmente notório foi o desempenho português no campeonato europeu de futebol e no festival da canção. O protagonismo e a visibilidade adquiridos, conjuntamente com as medidas adotadas pelos nossos governantes e o espírito de sacrifício dos portugueses, foram contributos importantes para o período de crescimento económico que atravessamos, materializado por um aumento de 2,7% no Produto Interno Bruto em 2017. Infelizmente, nem tudo é motivo de orgulho. Fomos, igualmente, considerados um dos países mais corruptos na União Europeia (UE), um dos cinco países da UE que pior trata os idosos e um país onde a esperança de vida à nascença superior à média europeia não se traduz em anos de vida a mais vividos com qualidade, mas antes com doença e incapacidade. Face a isto, não é de admirar a posição ocupada por Portugal no World Happiness Report (77ª posição), publicado neste mês de março pela Organização das Nações Unidas. Um lugar que denota a fragilidade de Portugal no que toca à felicidade sentida pelos seus cidadãos, comparativamente aos restantes 155 países incluídos na amostra. O lugar a meio da tabela no ranking mundial da felicidade não parece ter enchido as medidas ao Governo português que terá decidido intervir de imediato, começando não mais nem menos pelo setor da saúde. Um setor em que, segundo estudos nacionais publicados recentemente, um em cada cinco enfermeiros está em depressão e dois terços da classe médica apresenta exaustão emocional. Assim, no passado Dia Internacional da Felicidade a Ministra da Presidência e da Modernização Administrativa, Maria Leitão Marques, e a Secretária de Estado da Saúde, Rosa Matos Zorrinho, anunciaram, em pleno Portugal eHealth Summit, a publicação dentro em breve de um despacho no âmbito da implementação de medidas promotoras da felicidade e bem-estar por parte das organizações de saúde, com vista ao envolvimento dos profissionais, à melhoria dos ambientes de trabalho, à conciliação da vida pessoal com a vida profissional e à promoção de estilos de vida saudáveis. Na sua intervenção, a Sra. Ministra referiu ainda que a adoção de práticas de gestão sustentáveis na área da felicidade e bem-estar darão lugar à entrega de um prémio no prazo de um ano, mas sem concretizar os critérios de atribuição do mesmo. Ora, no início desta semana o dito despacho é publicado em Diário da República, apresentando o grupo de trabalho responsável pela elaboração de um plano de ação para prossecução dos objetivos referidos. De facto, no mundo contemporâneo a produtividade passou a ser um meio para atingir a felicidade e não um fim em si próprio e, por isso, é de louvar a ideia. Contudo, confesso ter dificuldade em compreender como é que se envolverão profissionais de saúde que estão diariamente em número inferior ao esperado para dar resposta às necessidades reais dos utentes, se sentem injustiçados pelo congelamento das carreiras e pela desigualdade existente entre as próprias classes, sacrificam constantemente o seu tempo de descanso em prol da continuidade dos cuidados e não se identificam com culturas organizacionais rígidas que temem a mudança e nem sequer respeitam valores como o da meritocracia. A mim parece-me que a satisfação destas expetativas será determinante para o sucesso do plano, pois o envolvimento profissional está intimamente ligado com todas as outras condições a que se pretende dar cumprimento. Deste modo, a menos que haja uma concertação entre Ministérios, não vejo como o plano poderá ter futuro e, por isso, ao grupo nomeado, os meus desejos de bom trabalho! Por Lugar ao Sul Dando continuidade àquela que é já uma tradição, o Lugar ao Sul voltou a marcar presença no ciclo de conferências “O Algarve, Portugal e o Futuro”, organizado e dinamizado pela editora algarvia Sul, Sol e Sal, e pelo Rotary Club de Faro. Desta vez, a nossa Dália Paulo, tal como a nossa convidada Lídia Jorge, fez parte do painel que discutiu as perspectivas e desafios que se colocam à Cultura no Algarve, no sentido da sua plena afirmação como pilar fundamental da identidade da região e alicerce para a construção do seu futuro. E, claro está, com o apoio dos restantes a partir da bancada. No Dia Internacional da Mulher, a Dália promoveu uma excelente representação das mulheres deste nosso Lugar, que demonstram e afirmam (para os muito distraídos que ainda possam ter dúvidas), no seu dia-a-dia, nos seus diferentes papéis sociais, a mais-valia indispensável que é poder contar com a participação feminina no pleno usufruto dos seus direitos, livre de preconceitos e injustiças, em autêntica equidade. Também uma saudação muito especial à organização, pela iniciativa que em boa hora materializaram e que claramente vai conquistando o seu espaço como acontecimento de referência no panorama do debate do carácter, momento e devir algarvio. Até à próxima! O Lugar ao Sul conta hoje com a opinião de mais uma convidada especial. A convite da Sara Luz, hoje, no Lugar ao Sul, escreve Sofia Amálio. É Internista no Centro Hospitalar Universitário do Algarve, EPE. Conheci a Sofia há uns anos atrás no serviço de Medicina Interna 1 do Hospital de Faro. Uma pessoa extraordinária e profissional para lá de competente. Lembro-me das horas que a Sofia fazia a mais, e tantas eram… Lembro-me da resposta sobre-humana a todas as solicitações quando estava de urgência… Lembro-me das decisões difíceis que tomámos em conjunto… Lembro-me da Sofia chorar ao meu ombro após ter informado uma mãe do estadio terminal da doença da filha, já tendo essa mãe perdido um filho uns anos antes… Lembro-me de tanto…
São pessoas como a Sofia que mantêm o SNS a funcionar. São médicos, enfermeiros, assistentes operacionais, técnicos de diagnóstico e terapêutica, administrativos, entre tantos outros que dão a cara… que fazem de tudo para manter o SNS vivo! Mas o desalento começa a instalar-se como se de uma epidemia se tratasse. O relato da Sofia espelha exatamente isso… E a minha verdade é também a da Sofia… Boa leitura! “Nasci no seio de uma família de classe média, numa pequena cidade do Sul do País. Cresci com uma educação assente em 3 pilares fundamentais: amor incondicional, a importância de estudar e apreender, ser sempre fiel aos meus princípios morais. A ideia de ser médica não se materializou na infância. Quis ser astronauta, Jardineira, jornalista e Designer de moda. Foi na escola que o interesse pelas ciências foi crescendo em mim tornando-se uma imposição. Ainda ponderei outros caminhos como Física e Eng. Aeroespacial, mas o que orientou a minha decisão final foi um aspeto essencial desta minha profissão. Gosto de Pessoas. Gosto de falar com Pessoas, de estar com Pessoas, de trabalhar com Pessoas. E foi isto que ditou a minha escolha. Terá sido uma escolha acertada? Os caminhos alternativos são hoje áreas em expansão, cada vez mais valorizadas. O aumento dos numerus clausus, que vão continuar a subir, com a já anunciada abertura de faculdades privadas de Medicina, já não garantem que todos os recém licenciados tenham acesso a uma especialidade. Os mais novos que ficam fora do sistema emigram cada vez mais. Com a chegada de tantos médicos indiferenciados ao mercado de trabalho, já começou o trabalho médico precário e avista-se o desemprego médico. A fuga de profissionais para instituições privadas em busca de melhores condições de trabalho está a desertificar o SNS piorando ainda mais as condições de trabalho dos que ficam. Quando já não for não necessário aos privados igualarem os salários do SNS para cativar médicos, o que acham que vai acontecer? A remuneração dos médicos, que ao contrário do frequentemente publicitado nos media já não é alta, vai decrescer progressivamente. À semelhança do que já aconteceu com outros grupos profissionais como professores e advogados a profissão médica começou agora a enfrentar uma fase de declínio. Não deixa de ser curioso que isto coincida com uma feminização da profissão, que passa assim de ofício dominado por de homens, que se demitiam do seu papel familiar e muito bem pagos, para uma atividade desempenhada maioritariamente por mulheres, que não podem ou não querem abdicar da sua vida familiar e mal pagas. O reflexo desta decadência é a descida da média de acesso ao curso de Medicina, que já não ocupa o 1º lugar nas pretensões dos estudantes nacionais. Quem está nessa posição de escolha começa a encarar esta profissão como um caminho demasiado penoso, com muitos anos de estudo e sacrifício pessoal sem qualquer garantia de estabilidade ou qualidade de vida. Apesar de tudo isto não me arrependo da escolha que fiz e mantenho-me fiel a esta profissão que é mais do que isso, é uma escolha de vida. Não! Não é por isso que estou desolada... Concluído o curso de Medicina, com alguns solavancos pelo meio que me obrigaram a interiorizar a ideia que nunca saberei tudo de tudo e me fizeram crescer, chegou a altura de escolher uma especialidade. Sempre soube que queria uma especialidade generalista, consciente de que são as mais trabalhosas e pior remuneradas. Escolhi Medicina Interna por acreditar nesta especialidade. Sou Internista por opção e convicção. O Internista é o médico dos médicos. A Medicina Interna é a especialidade que sustenta todo o funcionamento hospitalar. Nenhum hospital pode ter as portas abertas sem um internista. É a base de todas as outras especialidades. E, no entanto, é desconhecida das pessoas. Medicina Interna? O que é isso? Perguntam-me com frequência conhecidos e amigos. É o médico que tem de saber de tudo, é o médico que faz os diagnósticos respondo eu. E para ilustrar um pouco melhor: devíamos ser uma espécie de Dr. House, mas sem o sensacionalismo da série. Devíamos ser porque a realidade nos desvia desse ideal. Estamos no Serviço de Urgência para perceber o que os doentes têm antes de passarem a qualquer outra especialidade. Estamos em Unidades diferenciadas como as Unidades de Cuidados intensivos ou as Unidades de Doenças Vasculares Cerebrais. Estamos na Enfermaria para diagnosticar ou para gerir doentes complexos, que como têm muitas patologias não encaixam numa só especialidade. É verdade que, com o aumento da esperança de vida e ausência de estruturas sociais adequadas no nosso País, e porque um idoso é sempre um doente complexo com pluripatologia, também somos muito Geriatras e temos enfermarias inundadas de casos sociais (pessoas já sem doença mas que por questões sociais não podem ter alta). Mas também vemos em consulta jovens e grávidas com diabetes, com doenças auto-imunes, com infecção VIH, jovens obesos que precisam de perder peso, doentes sem diagnóstico para os quais fazemos diagnósticos raros e brilhantes! Infelizmente é uma especialidade pouco conhecida e reconhecida. Mesmo dentro da comunidade médica. As outras especialidades não sobrevivem sem a Medicina Interna, mas teimam em desvaloriza-la e desrespeita-la. As instituições também não têm interesse em reconhecer o seu valor. O trabalho do internista não se mede em atos, em cirurgias, em endoscopias ou em biópsias. O trabalho do internista é sobretudo intelectual e inquantificável, e por isso, na minha opinião, ainda mais valioso. Mas não há investimento na Medicina Interna. Não há espaço para evoluirmos através da disponibilização de técnicas como ecografia para as enfermarias e urgência. Desta forma, há um grande desalento entre internistas. Somos poucos para o trabalho que nos exigem. Sendo uma especialidade que tem de existir 24 horas por dia em qualquer hospital implica sempre trabalho nocturno, em fins de semana e feriados e como tal pouca qualidade de vida e implicações na vida familiar. Os internos que concluem a especialidade procuram caminhos alternativos e poucos ficam. Há dias em que por um momento questiono esta minha escolha...mas no instante seguinte a consideração pela Medicina Interna sobrevem a qualquer dúvida. Não! Esta não é a causa da minha desolação... Concluí a minha especialidade num hospital central de Lisboa. Pouco meses depois fizeram-me um contrato individual de trabalho e fiquei na mesma instituição por mais 2 anos. Além disso colaborava como assistente convidada na Faculdade de Medicina, atividade que desenvolvia com gosto e que acrescia uma pequena e simbólica remuneração ao meu orçamento mensal. Mas sempre tive o desejo de regressar a minha terra natal para junto da minha família e raízes. Numa cidade como Lisboa, com 2 filhos pequenos e sem qualquer apoio familiar, a vida pode tornar-se sufocante e sem graça. Por isso comecei a amadurecer a ideia de me mudar. Deixar um hospital central da capital, para um hospital dito central num sul cheio de carências foi uma decisão difícil de tomar. Mas caramba se não formos nós da terra a voltar! Ninguém quer vir para Marrocos! Como diz uma colega a brincar. Os colegas de Lisboa assustavam-me alegando o que se ouve nas notícias, a potencial falta de qualidade dos profissionais, a dificuldade de voltar para trás caso me arrependesse. Não quis saber. O meu marido deixou o seu emprego estável e bem remunerado. Fechámos os olhos e demos o salto. Concorri num concurso aberto a todos os especialistas de Medicina Interna, no qual existiam 13 vagas e só fiquei eu. Ninguém quis vir para Marrocos. Encontrei um hospital cheio de carências. Encontrei ótimos profissionais com vontade de mudar as coisas à custa do seu trabalho. Encontrei um Serviço de Medicina Interna bem organizado e a funcionar bem. Por outro lado, encontrei um Serviço de Urgência caótico com muitos médicos contratados “à tarefa”, indiferenciados (têm apenas o curso de medicina sem qualquer formação adicional), para assegurar a abordagem inicial aos doentes. Estes médicos contratados, recebem quatro vezes mais do que eu pelo mesmo período de trabalho. Avaliam inicialmente o doente, mas quem toma da decisão final da orientação do doente sou eu, que ganho 4 vezes menos. Somos poucos internistas, um, dois no máximo três, por período de urgência de 12 horas. Além de orientar os doentes abordados pelos “tarefeiros”, temos de assumir a responsabilidade dos os doentes mais graves que chegam ao Serviço de Urgência. Temos de responder às necessidades dos doentes internados em todo o Hospital, prestando o chamado “Serviço de Urgência Interna”. Somos poucos e muitas vezes sinto-me sozinha e desapoiada. Somos poucos e os nossos internos em formação estão, por vezes, sozinhos e desapoiados. Sei que as condições do SNS se têm degradado por esse País fora. Sei que se degradaram no hospital central de Lisboa de onde vim. Mas se isso é verdade no centro de Lisboa imaginem num dos mais periféricos hospitais do País. Redução de horário, saída para o privado têm feito sangrar este pequeno hospital nos 2 anos que cá estou. Nunca trabalhei no privado. Continuo obstinadamente a acreditar na importância do SNS e na sua valorização. Entretanto é criado um regime de incentivos para tentar cativar mais médicos para esta zona carenciada. Todos os que fizeram um contrato com o Hospital cerca de 3 meses depois da minha chegada têm direito, em números redondos, a mais 1000 euros de ordenado bruto por mês durante 3 anos. Eu por ter chegado 3 meses antes não tenho direito. Os colegas mais antigos ainda usufruem do regime da exclusividade, e alguns de contractos individuais com valores superiores ao atualmente estipulado no contrato coletivo de trabalho negociado com os sindicatos. Eu, e mais meia dúzia de gatos pingados, ficamos no meio e ganhamos, números redondos, menos 1000 euros que toda a gente ao fim do mês. Também trabalhamos neste hospital carenciado, também estamos sozinhos no Serviço de Urgência. Como não somos dos mais velhos, nem dos mais novos, somos talvez a força de trabalho mais importante. Alguns de nós formaram internos que agora ganham mais 1000 euros por mês. Mais que o seu orientador! Reclamámos à nossa entidade patronal. Primeiro ignoraram-nos. Depois disseram que nada podiam fazer. Que não podem tomar essa decisão. Remeteram para instâncias superiores que certamente também nos vão ignorar. Tenho 2 filhos pequenos, em idade pré-escolar. O pré-escolar público em Portugal é uma miragem, logo estão na escola privada. Tenho um marido que deixou o seu emprego bem remunerado em Lisboa. Tenho um apartamento T3 sem qualquer luxo. Tenho um carro da gama mais baixa. Não vou de férias para as caraíbas. E no fim do mês faço contas e não poupo dinheiro. Esses 1000 euros fazem-me falta. Fico triste. Mas pela injustiça. Nunca fui de valorizar demasiado o dinheiro e por isso, compro menos, vivo com menos e sobreviverei. E não! Não é por isto que estou desolada... Antes do verão, com um timing que não podia ter sido pior, o governo resolveu cortar o pagamento aos chamados “tarefeiros” reduzindo o valor hora que lhes pagam. No meu hospital muitos foram embora. De repente parte do Serviço de Urgência que era assegurada por estes colegas ficou a descoberto. Sobrou claro está para a Medicina Interna! Continuámos a ser poucos, ainda menos pois era período de férias, e ainda tivemos de abarcar a responsabilidade de mais doentes. Todos os dias de urgência preenchia o chamado registo de “gestão de risco clínico” que é diretamente reportado ao diretor clínico e à administração do Hospital. Expliquei que somos em número insuficiente, que não é possível para mim responsabilizar-me por todas as decisões tomadas naquele período de urgência, que o risco de erro é enorme. Que o desgaste físico e emocional para os internistas de urgência é incomportável por muito mais tempo. Que isto poe em risco os doentes assistidos neste Serviço de Urgência. Nunca recebi qualquer resposta. Escrevemos em conjunto uma carta à administração do hospital e à Ordem dos Médicos. Ameaçámos com uma escala de urgência do mês de Agosto com dias em branco, mas escala foi refeita pela administração com o mesmo número de internistas habitual, claramente insuficiente. Cada vez mais insuficiente... Atualmente, já no inverno, em vez de 3 Serviços de Medicina Interna com cerca de 40 camas no nosso hospital temos 5! São cerca de mais 30 camas de doentes internados no Serviço de Urgência e outras tantas espalhadas por todo o Hospital no espaço Físico de outros Serviços. O Bloco operatório já parou pois não há camas para internar os doentes operados. Continuamos a ser os mesmos...já sobrecarregados e em burnout. Todos trabalhamos para lá do nosso horário de trabalho, não ganhamos mais e não cumprimos os descansos compensatórios estipulados na lei. Não cumprimos senão o sistema colapsa. Outros não vão aguentar e vão sair. E o que dizem os nossos administradores? Que temos de acelerar altas, que não trabalhamos bem...Sinto-me escravizada pelo sistema. Num destes dias fiz banco 12 horas durante noite. Era a única internista. Não descansei as 4 horas estipuladas pela Ordem dos Médicos. Não descansei de todo. Quando passei o banco de manhã percebi que algumas situações graves nem tinham chegado ao meu conhecimento. E isto não sou capaz de aguentar!!Não posso mais aceitar! Felizmente nada correu mal, mas podia ter corrido. No caminho para casa as lágrimas escorriam-me gordas, salgadas e furiosas. Somos poucos internistas. Sinto-me sozinha e desapoiada. Trabalho para lá do meu horário de trabalho. Ganho menos por mês do que o justamente merecido. Não tenho condições para garantir que sob a minha alçada não se cometam erros. Não vejo fim à vista para esta situação. Não há dinheiro dizem-me. Não há soluções dizem-me. Do que é que estão a espera? De uma desgraça? Hoje sou médica e estou desolada..” Por Sofia Amálio O Lugar ao Sul interrompe-se pela dor e pela consternação.
Hoje o nosso sal é de lágrimas, no adeus a Carlos Silva e Sousa, o Presidente da Câmara Municipal de Albufeira. Servidor público, voz crítica numa região que sonhou e defendeu, com convicção política de regionalista. Neste Algarve, que lhe corria nas veias, plantou vinha, semeou valores e simplicidade. Parte, e deixa a colheita e os ensinamentos, em favor de um território e de uma família que sempre valorizou. À família, a equipa do Lugar ao Sul endereça sentidas condolências. Ao Carlos, um abraço, e até um dia. Por Sara Luz
Diz-nos a experiência que o resultado das últimas eleições autárquicas em Castro Marim já fazia prever um mandato turbulento. O que não se esperava é que o conflito político determinasse o encerramento da Unidade Móvel de Saúde (UMS) em dezembro de 2017, ou não fosse esta uma ideia completamente estapafúrdia. Um projeto que, apesar de não ser inovador na região algarvia, se tem distinguido por aproximar os cuidados de saúde a uma população maioritariamente idosa e com mobilidade reduzida a residir no interior de Castro Marim, um concelho cuja extensão ascende os 300 Km2 e índice de envelhecimento os 200%. A ideia parece simples. Uma unidade móvel, com um médico e um enfermeiro em permanência num total de cerca de 20 horas semanais, a assegurar a prestação de cuidados de saúde a uma população com acesso limitado aos mesmos, especialmente após o encerramento das extensões de Azinhal e Odeleite em outubro de 2013. A par disso, uma população que enfrenta grandes desafios no que respeita à logística envolvida numa simples ida a uma consulta de saúde ou não fossem muitos os quilómetros a percorrer, perante uma fraca rede de transportes públicos e pensões mínimas face aos custos a suportar. Nada fazia crer, portanto, que a oposição ao executivo camarário castromarinense decidisse chumbar a manutenção da UMS. Mas, enveredar por esse caminho pressupunha que a oposição tivesse no mínimo feito o “trabalho de casa”. Não se descontinua um serviço de saúde oferecido à comunidade baseando-se na suspeita de aproveitamento político, sem a apresentação pública e imediata de um plano concreto com propostas de melhoria. Primeiro, porque se atropela o princípio da não maleficência. Segundo, porque a intenção de melhoria em prol da população é totalmente desacreditada. Terceiro, porque a população mais facilmente irá condenar quem extinguiu o serviço do que quem o implementou alegadamente com vista à angariação de votos. De facto, e de acordo com um artigo publicado no jornal Público (https://www.publico.pt/2017/12/29/local/noticia/castro-marim-perde-unidade-movel-de-saude-1797555) parece existir a pretensão por parte da oposição em tornar o serviço mais completo, com mais valências e menos dispendioso (custo atual 60-65 mil euros/ano). Contudo, a falta de sentido de oportunidade, rigor e responsabilidade determinaram a ausência da prestação de cuidados de saúde à população durante o último mês e meio (e sem fim à vista!), com a agravante do período crítico do ano em que nos encontramos. Na política não pode valer tudo, ou pelo menos não devia! Presidente da comissão técnica independente que analisa os incêndios do ano passado, recebeu a distinção de “Personalidade do Ano a Sul – 2017” atribuída pela plataforma de reflexão “Lugar ao Sul” Um fundo de coesão regional para o Algarve, criada pelas autarquias e absorvendo parte das receitas do Imposto Municipal sobre as Transmissões de Imóveis. Foi esta uma das grandes ideias que o Professor Doutor João Guerreiro deixou a uma plateia de cerca de meia centenas de convidados que assistiram no passado dia 05 de Fevereiro a entrega da distinção “Personalidade do Ano a Sul – 2017” organizada pela primeira vez pela plataforma de reflexão “Lugar ao Sul”.
Numa intervenção pautada pela necessidade de afirmação regional do Algarve, a proposta de João Guerreiro visa a concretização de um conjunto de investimentos regionais de base supramunicipal, não dependentes de ciclos políticos autárquicos ou legislativos. A ideia, segundo explicou, seria criar um fundo que pudesse levar a efeito projetos de investimento que por um lado são estruturantes mas também outros que possam esbater as assimetrias existentes dentro da própria região. Seria um fundo que teria de beneficiar adicionalmente da participação de recursos nacionais e comunitários. Com diversos presidentes de câmara na plateia, com o Reitor da Universidade do Algarve, com diversos dirigentes regionais, com um conjunto de pessoas de referência em diversas áreas da vida da região e ainda com o presidente da AMAL, Jorge Botelho, ao seu lado, o ex-reitor da universidade do Algarve interpretou a distinção que lhe estava a ser atribuída como uma necessidade de debater mais a região mas ao mesmo tempo de criar pontes que permitam que possamos ser mais concretizadores. A plataforma de reflexão “Lugar ao Sul” que numa base regular produz textos de opinião no site www.lugaraosul.pt entendeu atribuir esta distinção ao Professor João Guerreiro não apenas através do trabalho realizado nos diversos cargos de responsabilidade que ocupou no passado, desde a presidência da então Comissão de Coordenação Regional do Algarve à Reitoria da Universidade do Algarve, mas também pelo seu pensamento e ação enquanto cidadão. De resto foi esta amplitude de pensamento que norteou a intervenção de Idálio Revés, jornalista do Público, que fez uma resenha da vida do Professor João Guerreiro. Em 2017, na sequência dos dramáticos fogos da zona de Pedrógão e também dos incêndios de Outubro, João Guerreiro foi a pessoa a quem foi atribuída a missão de coordenação da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias e também pela elaboração de propostas para o futuro da organização institucional, territorial e operacional do País. Este inequívoco reconhecimento a nível nacional da capacidade e competência do Prof. João Guerreiro constitui uma nota de prestígio para o Algarve, e também mote para uma reflexão interna, pois é de uma das regiões mais carenciadas ao nível do ordenamento e competitividade territorial que é escolhida a pessoa a quem incumbe uma das mais profundas e graves tarefas nesse capítulo, quando as suas ideias nem sempre têm a merecida e devida atenção a Sul. A cerimónia contou com o apoio da Câmara Municipal de Tavira e na ocasião o seu presidente, Jorge Botelho, enalteceu a ideia desta distinção defendendo a ideia da necessidade de termos mais reflexão regional pois só assim conseguimos criar as condições para o crescimento e desenvolvimento do Algarve. Por Sara Luz
Saber atempadamente que se vai receber visitas em casa é facto para nos apressarmos a limpar e a arrumar o que a azáfama do dia-a-dia não nos permite. Desse modo, garantimos não só que as visitas se sintam confortáveis como fiquem bem impressionadas. No setor da saúde passa-se exatamente o mesmo quando o Sr. Ministro da Saúde (MS) decide fazer uma visita aos serviços. Nos serviços de urgência dos hospitais, por exemplo, o número de pessoas internadas no serviço/sala de observação (comummente designado por “SO”) tende surpreendentemente a diminuir dias ou horas antes às visitas com pré-aviso do MS. Não é, portanto, de admirar que use isso a seu favor, dizendo que as “coisas” não são assim tão más como muitos as pintam. O próprio desafio lançado aos deputados de todos os partidos políticos para fazerem visitas “surpresa” aos serviços de urgência reflete exatamente essa sua (falsa) crença. Mas, até que ponto é correto acreditar no que os mais chegados lhe dizem, negando factos dos que estão no terreno lhe dão a conhecer?! A verdade é que se em nossas casas não contamos que as visitas andem a espreitar o “pó debaixo do tapete”, é exatamente isso que se esperaria de um Ministro da Saúde, sobretudo quando as denúncias dos profissionais de saúde, sindicatos, ordens profissionais, são significativas em número e em teor. Esconde-se atrás dos picos de afluência e de quem se faz representar. Quebra promessas. Ameaça os profissionais de saúde na defesa das carreiras e na igualdade das classes. Num país de “pobres e velhos”, insinua egoísmo profissional aos que todos os dias vestem a camisola nas suas organizações… Esperava-se mais, muito mais deste Ministro, especialmente pela formação base que tem. Mas, no final das contas, nem médico, nem político, nem líder, nem grande decisor… |
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