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DIA MUNDIAL DA FOTOGRAFIA : O ALGARVE ILUSTRADO

19/8/2019

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Por Patrícia de Jesus Palma

A 19 de Agosto de 1839, o governo francês anunciava ao mundo a nova invenção, cujo método fora desenvolvido por Louis Jacques Mandé Daguerre. Celebram-se assim hoje os 180 anos deste primeiro processo fotográfico, cujo avanço multiplicou exponencialmente a produção e a difusão de imagens. Tanto assim é que, de uma cultura escritocêntrica, firmada nos últimos trezentos anos, imergimos num panorama essencialmente visual, potenciado cada vez mais pelo digital.
​
Ao Algarve, a fotografia e os fotógrafos itinerantes começaram a fazer-se anunciar nas páginas dos jornais oitocentistas, ficando nesta ou naquela cidade até esgotar o número de interessados nos retratos. Não tardou que a própria imprensa se apropriasse do novo processo. A 1 de Junho de 1880 surgia aquele que consideramos (atendendo aos dados conhecidos) como o primeiro periódico algarvio ilustrado com fotografia – O Algarve Illustrado: Jornal Litterario (n.º 1, 1/6/1880 – n.º 18, 15/2/1881), propriedade de João Frederico Tavares Bello.
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O Algarve Illustrado : Jornal Litterario, n.º 1, 1.6.1880. Fonte: Arquivo Distrital de Faro.
Para além da excelência do seu corpo editorial, a marca diferenciadora do jornal traduzia-se na fotografia colada ao centro da primeira página. O sentido de actualização da informação, fortalecida pela imagem fotográfica, obrigou a direcção a adiar o número dedicado ao poeta João de Deus, por não dispor de uma fotografia recente capaz de satisfazer os leitores ávidos pela novidade. Aguardou-a e publicou-a no número seguinte, a 15 de Agosto de 1880 (n.º 6).

Mas o curioso é que a fotografia, neste caso particular, introduziu à repetitividade própria de cada número de jornal, expressa nas suas centenas de exemplares, a subtileza da variação, do carácter único.

Ei-las, as variantes do n.º 1, para satisfação dos nossos prazeres visuais, neste dia mundial da fotografia:
Praça da Rainha, em Faro.
Imagem da esquerda: fotografia do n.º 1, colecção Arquivo Distrital de Faro.
Imagem da direita: fotografia do n.º 1, colecção Biblioteca da Escola Secundária João de Deus (Faro).
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VIAGENS NA MINHA TERRA: O ALGARVE MONUMENTAL

14/8/2019

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Como ali faltam os monumentos, diligenciarei evocá-la em paisagens.
Manuel Teixeira-Gomes, in «Reminiscências aguareladas»

Por Patrícia de Jesus Palma

      Talvez tenha sido com Almeida Garrett que fortaleci a aprendizagem de viajar sem sair do lugar. Ou, como agora se diz, a ser «turista quotidiana».
        Entrelaço as viagens dos livros com os lugares e os lugares com as leituras. Fermentam.
Ando a pé, sentidos aparelhados. Faço um dos mais interessantes trajectos ferroviários do país. Duas horas de uma diversidade paisagística singular, exuberante e íntima, sempre nova, sem época baixa (Turismo do Algarve: tanto potencial que (a)guarda!).
      A partir dessa espinha que atravessa o Algarve e em que se reconhece uma rede de cidades antiga, interligada, procuro desenhar a rota do Algarve Monumental, contrariando, é bom de ver, as «reminiscências aguareladas» de Teixeira-Gomes a propósito da sua terra. Aquele Algarve que, desde 1910, vem esboçando uma cartografia de monumentos com valor cultural relevante para a Nação, os designados Monumentos Nacionais. Contam-se 26.
    Da pré-história aos nossos dias, erguem-se as grandes e as miúdas telas da nossa civilização, memória e imaginação, um inestimável manancial patrimonial, cuja visita enche de júbilo qualquer passaporte cultural, não fosse estar, em alguns casos, inacessível ao público. 
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    ​Uns estão fisicamente inacessíveis, outros com sérias limitações em termos de acessibilidade cultural. Isto é, quanto a identificação, a materiais interpretativos que permitam, mesmo que superficialmente, a sua valorização, do contexto e da paisagem. O descaso, a incúria, está bem patente no documento «Mapeamento dos investimentos em infra-estruturas culturais e patrimoniais» que sustenta a estratégia de investimento e desenvolvimento do Algarve 2020 (https://algarve2020.pt/info/sites/algarve2020.eu/files/documentacao/Doc_Referencia/20180125_mapeamento_cultura.pdf), revelando a enorme frequência de não controlo do fluxo de visitantes ao património classificado, indício firme da falta de conhecimento dos públicos, de programação e da possibilidade de uma oferta cultural qualificada.
      Mas não é só o consumo ou a fruição turística ou o apreço estético destes monumentos nacionais. E é aí que bate o ponto: é a possibilidade de vivermos as cidades enquanto espaços abertos, fluídos, habitados, construídos e reconstruídos, relacionais, vividos, inteligíveis. É, no fundo, a possibilidade de acesso e consequente apropriação à riqueza do conhecimento, pilar essencial das sociedades democráticas. Lembrem-mo-nos que somos tanto aquilo a que temos acesso, como aquilo a que não temos.
     Os últimos dados controlados atestam de forma inequívoca o que os nossos olhos impressivamente registam à entrada de alguns destes monumentos: a grande e interessada afluência ao património monumental algarvio tanto por nacionais quanto por estrangeiros: uma taxa de crescimento na ordem dos 55% entre os dados apurados em 2014 e 2018 para os monumentos monitorizados, afectos à DRCALG (cf. http://www.postal.pt/2019/08/publicos-nos-monumentos/).
     Que não possamos conhecer o pórtico renascentista da Igreja de São Sebastião (Lagos) e a comovente história de amor que as suas pedras narram, a capela dos ossos (umas das três que existem na região); a manuelina igreja matriz de Estômbar (Lagoa), ou o “mais impressionante e historicamente importante conjunto religioso islâmico no Ocidente da Península Ibérica”, o Ribāt da Arrifana  (in https://nationalgeographic.sapo.pt/historia/grandes-reportagens/2072-o-ribat-da-arrifana) (foi assinado há poucos dias o protocolo que permitirá explorar este espaço: https://www.sulinformacao.pt/2019/07/protocolo-do-ribat-da-arrifana-foi-ponto-alto-de-cerimonia-no-centro-ismaelita-de-lisboa/), são razões para persistirmos, ou para ser mais exacta, para admoestar, palavra com origem no latim moneo, -ere, de onde deriva igualmente a palavra monumento.
Monumento, admoestação viva, perene. 
Amanhã é feriado, procuremos o nosso Algarve Monumental!

1. Forte de São Sebastião, Castro Marim (créditos: Câmara Municipal); 2. Igreja Matriz de Estômbar (créditos Câmara Municipal); 3. Pórtico renascentista da Igreja de São Sebastião, Lagos (créditos: Francisco Castelo, fototeca municipal de Lagos); 4. Ribat da Arrifana, configuração conforme dados já conhecidos (créditos Anyforms)
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O PROVINCIANISMO ALGARVIO

15/4/2019

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Por Patrícia de Jesus Palma

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Há pesos diferentes. Por exemplo: um coimbrão orgulhoso da sua terra é um «coimbrão a valer»; um algarvio orgulhoso da sua raiz é…«um provinciano». Estas diferentes medidas deixam-me sempre divertida, porque elas dizem mais do avaliador do que do objecto da avaliação.

Cá estou, provincianíssima, deliciada a imaginar o escocês Thomas Carlyle (ensaísta, 1795-1881) a ler a abertura do romance do meu comprovinciano Guilherme Centazzi (Faro, 1808-Lisboa, 1879):

«Nasci no Algarve, donde se vê que devo ser grulha, e falador: isto ponho eu já aqui para que os leitores saibam com quem se metem, e depois se não queixem das digressões e moralidades a que sou sujeito, e de que por mais que faça nunca posso mondar de todo o que escrevo: pois sou algarvio, isto é filho lá das terras que estão mais a sul de Portugal, formando certa província com a alcunha de reino […].»



Assim começa O Estudante de Coimbra – figura de difícil classificação, já se vê: protagonista de origem algarvia com formação coimbrã... O Estudante de Coimbra, ia a dizer, foi romance publicado em Lisboa no ano de 1840 sobre tema coevo («história portuguesa desde 1826 até 1838») e pouco depois traduzido para alemão – Der Student von Coimbra, 1844 – sem que a maioria da reduzida elite cosmopolita portuguesa lhe tivesse posto os sapientes olhos em cima.


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Foi nesta língua que Thomas Carlyle leu atentamente a prosa de Centazzi e sobre ela escreveu extensa recensão na Fraser’s Magazine, reconhecendo que: «although many faults may inquestionably be found in it, is yet the best specimen of the present school of Portuguese belles lettres it has been our fate to meet with.»

Naquele ano, Alexandre Herculano dava à estampa em Lisboa o seu Eurico, o Presbítero, considerado até há pouco tempo «o primeiro romance moderno». Mas a história tem destas coisas: reescreve-se. E Pedro Almeida Vieira reescreveu-a ao reinscrever O Estudante de Coimbra na história da literatura e Centazzi como o «pai do romance moderno português».

Para além do tema das paternidades e das cronologias, o que não é pouco, afinal G. Centazzi deu expressão contemporânea à modernidade, atrai o estilo coloquial, bem-humorado, irónico e desassombrado, agradável a qualquer «comprovinciano» deste ou de qualquer outro reino.

É largo o «provincianismo» algarvio.


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HISTÓRIAS DA HISTÓRIA NO DIA 1 DE ABRIL

1/4/2019

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Por Patrícia de Jesus Palma

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Lá para Setembro, assinalam-se os 500 anos do início da primeira circum-navegação da Terra, comandada por Fernão de Magalhães: o tal português que deu a volta ao mundo a expensas dos espanhóis, isto é, ciência portuguesa com dinheiro espanhol.

Folgo que, tal como nessa altura, se tenha instalado a polémica com os nossos vizinhos espanhóis, o que na verdade só reforça a verosimilhança do programa comemorativo. O que me desaponta é esta tendência secular para, como no provérbio chinês, não se ver o céu que o sábio aponta e fixarmo-nos no dedo que aponta. Ai, a obstinação com o dedo que aponta!…  (É um bom tema a desenvolver para o campo pseudocultural).

Por falar em dedo que aponta, vale a pena apontar uma visita à Biblioteca Nacional de Portugal, comissariada por Rui Loureiro, para conhecer os livros e os mapas com que Magalhães terá planeado a viagem. «Em demanda da biblioteca de Fernão de Magalhães» está patente até 13.5.2019 na sala de exposições do piso 3. É uma excelente oportunidade para pôr os olhos no raríssimo Almanach Perpetuum de 1496.

Magalhães viria a falecer em Abril de 1521, aos 41 anos e, por ser hoje 1 de Abril, lembrei-me desta e de outras estórias da história de Portugal, que João Ferreira, historiador e jornalista, escreveu e compilou em Histórias Rocambolescas da História de Portugal, com a chancela d’ A Esfera dos Livros. Abre com o capítulo «Milagres, Mitos e Mentiras» e não falta a «Escola de Sagres: um mito que fez a escola».

São factos históricos insólitos, mitos, falsidades e falsificações (as fake news há muito que estão na ordem do dia), inverosimilhanças, heróis, vilões, intrigas, escândalos que formaram Portugal e que seriam um êxito de bilheteira nos cinemas, como escreve Ferreira Fernandes no prefácio ao livro:

«É que na nossa História pode ter faltado muita coisa. Ela é, aliás, uma sucessão de ausências. Faltou o individualismo protestante, a altivez castelhana, a queda alemã para a música e a inglesa para a democracia. Mundializámos o planeta mas logo cedemos a patente, deixámos fugir entre os dedos um imigrante de luxo (Colombro), já para não falar da nata dos nossos técnicos da primeira das indústrias de ponta (os lapidadores judeus) – falhas que conduziram nos tempos recentes, a não termos sabido, para comparar com uma Finlândia do nosso tamanho, organizar a globalização do Nokia. Seja. Mas histórias picantes, brutais e manhosas nunca nos faltaram. Que esperamos para recompilar – e retocar, publiquem-se as lendas, se elas são interessantes – essa indústria de tramas que nunca nos falhou? E se realizadores nacionais não tiverem unhas, pensemos à finlandesa, pesquisemos o património histórico (de histórias) com olhos postos em Hollywood e até Bollywood, já que não somos virgens nisso de chegar à Índia.»
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Enquanto as não podemos ver no grande écran, joguemos a mão a este livro de História com gente de carne e osso, que nos diverte e faz pensar. 

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O vazio é um lugar imenso

4/3/2019

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Por Patrícia de Jesus Palma

«… O vazio é um lugar onde não existe nada, mas no interior do qual se espera que venha a acontecer tudo.»    Lídia Jorge, O Organista


Quem melhor do que os músicos para reconhecer a verdade expressa na abertura da magistral fábula de Lídia Jorge?

O vazio, gerador de silêncio, é o único capaz de transmitir sentido criativo ao som. É o lugar por excelência da criação e da expectativa.

Cada vez se sabe menos isto, porque o ruído é cada vez mais intenso e contínuo. Precisamos, como de pão para a boca, de reaprender esta condição essencial para o entendimento de nós e do mundo. De contrário, o vazio espreita-nos e, ao mais pequeno descuido, instala-se em nós, redondo e gordo.

O Rui Afonso sabe isto. O Rui é músico. O Rui conhece os diferentes significados do vazio. Sabe como cruzá-los, transfigurando-os em acto criador e sublime. Conheci o Rui na Casa do Povo de São Bartolomeu de Messines, onde é professor. No início do ano lectivo, fundou o Clube da Batucada (https://www.facebook.com/clubedabatucada/), no âmbito do projecto «Sorrir M». O projecto é um serviço da Casa do Povo (https://www.facebook.com/casadopovo.messines/) que desenvolve competências da pessoa com deficiência e incapacidade, tendo em vista a sua autonomia, bem-estar e inclusão social. A música surgiu como mais uma das ferramentas ao dispor do projecto de reabilitação social, mas a sua natureza confere-lhe um carácter extra instrumental.

As aulas estão abertas a todas as pessoas que desejem aderir com mais de 12 anos e acontecem em pleno espaço público da vila, no Jardim Municipal, às quintas-feiras entre as 17h30 e as 18h30. Ao Rui juntou-se voluntariamente o Carlos Peixoto, também professor e fundador do conhecido grupo de percussão que originou o Percutunes (https://www.facebook.com/orquestrapercutunes/).

Os ensaios são, na verdade, apresentações públicas. Em cada ensaio, os participantes tomam conta de si e do espaço em identidade singular e em relação, exibindo, sem pudor, o som que habita o corpo em diferentes ritmos e atitudes. Perante os olhos que escutam - oiça-se sempre bem aquilo que se vê -, nasce a função mágica da actividade artística.

O vazio enche-se. Transborda. «Eu não sabia que era capaz. Agora sei. Não tenham medo, eu sei que todos somos capazes», disse um dos participantes no final de uma apresentação.

A experiência do Clube da Batucada recupera, para os participantes e para o espectador, a dimensão comunitária de ser e de estar: «evoluímos do social para o comunitário», considerou o Rui, avaliando o percurso do grupo.

Ontem, o Clube da Batucada abriu admiravelmente o Entrudo de São Bartolomeu de Messines (https://www.facebook.com/Carnaval-de-Messines-699383030086134/), fazendo jus à raiz latina da palavra entrudo («introitus» ‘começo, princípio’) e a felicidade, o reconhecimento e o sentido de pertença não usaram máscara, apenas tiveram novo princípio: o vazio é um lugar imenso!

E eu lembrei-me, e quis corrigir, o condicional do texto de Lídia Jorge (perdoe-me a ousadia, Lídia!): O vazio poderia vir a encher-se de homens, mulheres, órgãos, música e canto, som e harmonia.

Assim: O vazio enche-se de homens, mulheres, órgãos, música e canto, som e harmonia.
 


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Uma declaração de amor ao lugar-raiz

18/2/2019

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Por Patrícia de Jesus Palma

O texto de hoje - talvez pelo avançado da hora - é mais expressivo do que o usual. É uma declaração de amor à paisagem, ao lugar-raiz, àquele que é, em igual medida, o lugar de todas as possibilidades.
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Foto: Ribeira de Odelouca, Fev./2019. PJP.


 Procuro filtrar
no alambique dos tempos
 
a
s memórias de um desenho
ou de uma moldura

no halo do rio
    ossos-raízes 
útero de estrelas evaporadas 

ah! como se dorme bem

     sobre o dorso das águas.


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SAPERE AUDE! Ousa saber!

4/2/2019

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A propósito dos 10 anos do Curso de Medicina da UALG

Por Patrícia de Jesus Palma

Cursos, conferências, palestras, oficinas, clubes, publicações são modalidades recorrentes para quem continua a acreditar que o conhecimento, a curiosidade, a transmissão do pensamento aos outros e ao futuro continua a ser a única forma de encarar, com esperança, os desafios que se nos colocam.
Não é de hoje, porém, este optimismo, como bem comprova a expressão latina «Sapere aude!», que o Iluminismo fixou como lema.

Precisamente neste tempo histórico surgiu entre nós D. Nuno José Fulgêncio Agostinho João Nepomuceno de Mendonça e Moura, 6.º Conde Vale de Reis, governador do Algarve entre 21.8.1786-9.11.1795. Como gosto de imaginá-lo dirigindo a sua acção sob esta divisa!...

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Como já referi aqui (http://www.lugaraosul.pt/home/2019-40-anos-de-universidade-do-algarve-228-anos-de-universidade-no-algarve), a ele se deveu a oficialização do primeiro curso com estatuto de ensino superior no Algarve: o Curso de Estudos Militares. Mas também a ele se deveu a vinda do cirurgião e professor de cirurgia, José Gonçalves de Andrade, que a 23 de Janeiro de 1787 foi nomeado «cirurgião mór do hospital militar de Tavira» com a obrigação de socorrer os hospitais e demais regimentos (Faro e Lagos), assim como de «explicar Cirurgia na Aula, que lhe destinar o Governador daquele Reino, Conde Vale de Reis» (Decreto de 23.1.1787).

Sabemos que a Aula de Medicina (Anatomia e Cirurgia) esteve em funcionamento até 1805. Representou, nessa época, a entrada de uma nova área e modalidade de ensino na região, equivalente ao que só era possível frequentar no curso do Hospital Real de São José em Lisboa, ficando os seus alunos igualmente habilitados cirurgiões, após o exame final naquele hospital.

Esta «ousadia» de D. Nuno contribuiu para a descentralização do ensino radicado em premissas científicas e para a fixação de profissionais de saúde na província, reforçando a rede de cuidados prestados à população.

Um indício seguro das vantagens desta Aula colhe-se no duplicar da experiência formativa que o governador António José da Franca e Horta (n. Faro, 4.9.1753) levou a São Paulo, no Brasil, criando o «primeiro curso médico oficial instituído no Brasil», capaz de deixar naquela capitania «pessoas com todos os conhecimentos da arte que possam socorrer as moléstias da humanidade destituída até aqui de uma tal providência» (in Ernesto de Souza Campos, História da Universidade de São Paulo).

Foi também como uma ousadia que a abertura do Mestrado Integrado em Medicina, da Universidade do Algarve, foi encarada há 10 anos atrás. Hoje ninguém ousa duvidar da sua relevância para o conhecimento e cuidados de saúde. Vida longa!

A realidade precisa da ousadia de todos nós, sobretudo da que nasce do rigor do conhecimento e da excelência da inventividade: sapere aude!

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2019: 40 anos de Universidade do Algarve, 228 anos de «Universidade» no Algarve

7/1/2019

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Por Patrícia de Jesus Palma

A Universidade do Algarve e todos os que a sonharam, a defenderam, nela trabalharam e trabalham diariamente em prol da excelência e do desenvolvimento estão de parabéns!

A UALG tem sido uma das forças motrizes da transformação da sociedade algarvia nas últimas décadas, mas o seu contributo para a sociedade do conhecimento extravasa e amplia largamente as fronteiras da região, como é desejável, e o seu símbolo, gizado pelo genial Tóssan, tão bem ilustra.
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Símbolo original da Universidade do Algarve, da autoria de Tóssan. Foto gentilmente cedida por Salomé Horta, a quem agradeço.
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Nesta data, é o porvir da instituição o que mais preocupa e, de forma geral, o do ensino superior, como se pode acompanhar pela Convenção do Ensino Superior, que hoje tem início no ISCTE para estabelecer uma «agenda para a década, que dê ao ensino superior uma ideia delineada de futuro». Ainda assim, não queremos deixar de assinalar que as mudanças ocorrem na espessura do tempo e que esse tempo nem é tão curto nem tão vácuo, como tantas vezes supomos.

Neste meu primeiro texto de Janeiro, mês presidido pelo deus Jano – o que contempla vigilante o passado e o futuro –, pareceu-me oportuno trazer à colação não apenas os 40 anos da UALG, mas os 228 anos de ensino superior no Algarve, na esperança de que possamos compreender, de forma mais justa, o lugar do Algarve na história da produção e difusão do Saber.

Em 1787 foi criada, na cidade de Tavira, a Aula de Artelharia, Geometria, Fortificação e Desenho, com a autorização do governador e capitão-general do Algarve, 6.º conde de Val de Reis e direcção do Eng.º José de Sande Vasconcelos. A Aula foi oficializada por Estatutos próprios em 13 de Setembro de 1796, considerando-se então como «Curso de Estudos Militares» e incluiu no curriculum as ciências matemáticas, fortificação de campanha, castrametação, defesa de praças, análise inferior ou álgebra e desenho, ministradas pelo referido Eng.º Sande de Vasconcelos e pelo capitão Baltazar de Azevedo Coutinho.

O documento estatutário brilha como o mais completo e complexo que se conhece deste período e como testemunho do processo de escolarização nacional sob iniciativa militar, mormente na área da matemática, prevendo-se a possibilidade de frequentar ainda mecânica, secções cónicas e artilharia, esfera, geografia, trigonometria esférica e astronomia.

Na época, apenas a recente Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra (1772), a Academia Real da Marinha (1779) e a Academia Real de Fortificação e Desenho (1790) ofereciam formação superior em matemática. O plano de estudos, desenhado e posto em prática por Sande Vasconcelos para o «Curso de Estudos Militares», estava em plena consonância com o das Academias Reais. Não estranhemos. O Curso, e demais aulas regimentais similares, foi reconhecido pelo Alvará de 13 de Agosto de 1790 como equivalente ao ministrado pela Academia Real da Marinha, alcançando assim o estatuto de Ensino Superior.

Com métodos, modos e bibliografia actualizados, o Curso funcionou continuamente entre 1787 e 1808 e consolidou-se como pólo de formação científica em matemática aplicada à prática militar, mas com influência muito para além do círculo restrito do exército.

No final da vida, José de Sande Vasconcelos pôde afirmar:

«tendo ensinado com tanto desvelo, que os seos discipulos são os melhores desenhadores de Portugal, tendo desempenhado a obrigação dos seos postos em Rosilhom, sahindo da sua Aula officiaes benemeritos p.ª todos os Corpos do Exercito, e athé p.ª Capitaes Generaes.»


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Que a Universidade do Algarve possa continuar a corresponder aos anseios dos que a procuram, não descurando o legado da região (para quando a reabertura do mestrado em História do Algarve?) e a sua própria história, e que possa continuar a formar os melhores de Portugal e do mundo são os meus votos sinceros!
        Viva a UALG!

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Júlio Resende é a Personalidade do Ano a Sul 2018

1/1/2019

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Créditos Fotográficos: Tomás Monteiro ​
Site de opinião Lugar ao Sul distingue pelo segundo ano consecutivo uma personalidade marcante do ano. 

Uma personalidade ímpar que em 2018 cimentou a sua posição como um dos grandes músicos da nova geração da cena cultural nacional. Júlio Resende, pianista e compositor Algarvio, teve um ano de 2018 imparável e recebe agora a distinção de “Personalidade do Ano a Sul 2018” atribuída pelo segundo ano consecutivo pelo site de opinião “Lugar ao Sul”.

Participou no Festival da Canção como compositor da música que Emmy Curl interpretou e teve a oportunidade de actuar, com Salvador Sobral, para uma audiência de milhões de pessoas em todo o mundo ao lado de um dos seus ídolos, Caetano Veloso, na final do Festival Eurovisão da canção em Lisboa.

O palco tem chamado insistentemente por ele. Seja a solo, seja em dueto com Salvador Sobra, seja através do projecto comum de ambos, a banda Alexander Search, foram muitos os concertos que o apresentaram definitivamente ao país em 2018. Ainda em 2018 Júlio Resende volta a editar um novo álbum, "Cinderella Cyborg". O Jornal Público escreve que este “é um nome em que o pianista pretende reflectir não um choque, mas um encontro entre aquilo que há de mais inocente e poético – na vida e na música –, e o lado mais maquinal e frio associado à tecnologia.”  Este seu novo álbum foi nomeado como melhor álbum português de 2018 pela plataforma Altamont e ficou ainda considerado entre os melhores discos pela equipa do Observador (jornal on-line). 

Os últimos anos tem sido intensos para Júlio Resende. Em 2007 grava o seu primeiro álbum – “Da Alma” - através de prestigiada editora de Jazz, Clean Feed, tornando-se o mais jovem músico português a editar um disco para esta editora, enquanto líder. Segue-se, em 2009, “Assim Falava Jazzatustra”, álbum que viria a ser considerado um dos melhores discos do ano pela crítica especializada. Em 2011 surge “You Taste Like a Song”, um disco em Trio, com a participação de grandes músicos tendi sido classificado com 5***** Estrelas pela Revista TimeOut. Em Outubro de 2013 lança Amália por Júlio Resende. O seu primeiro disco a solo, onde revisita algumas canções do repertório de Amália Rodrigues, iluminado pela memória e pela Voz da Diva, num dueto (im)possível no tema “Medo”. Este trabalho mereceu a melhor atenção por parte da crítica nacional e internacional. Da prestigiada Clássica francesa onde recebeu CHOC DISC***** à célebre Monocle, o consenso foi claro: este é um disco que marca e “está ao nível do que de melhor se faz pelo vasto Mundo”. Seguem-se “Fado & Further” e “Amália por Júlio Resende”. Pelo caminho ainda cria “Poesia Homónima” com o psiquiatra Júlio Machado Vaz onde apresentam poemas de Eugénio de Andrade e Gonçalo M. Tavares. De relevância assinalável é igualmente o cuidado que tem na escolha das vozes que acompanha ao piano, onde se destacam, a titulo de exemplo, para além de Salvador Sobral, Elisa Rodrigues e Sílvia Perez Cruz, com quem também já gravou.

Mas Júlio Resende não se esgota na música. Assina uma coluna de opinião na Revista Visão onde aborda temas tão diversos. O também licenciado em Filosofia é pois alguém que reflete regularmente sobre si e sobre os outros. Quando questionado recentemente pela revista Blitz sobre a forma como a Filosofia o acompanha, afirmou que o “obriga a pensar em conceitos interessantes. E a trabalhá-los bem. E tento trazer essas reflexões para o mundo musical, ainda que a música seja outra coisa, que vem depois da reflexão. A reflexão faz-se para trás, a vida faz-se para a frente, como se costuma dizer em Filosofia. E a música também.”

Júlio Resende é um profissional inspirador e os autores do site Lugar ao Sul entenderam distingui-lo, depois de em 2017 ter sido distinguido O Prof. Dr. João Guerreiro, ex-reitor da Universidade do Algarve, que foi o presidente da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias dos incêndios de 2017.

Em 2018, Júlio Resende conseguiu impor a sua marca num pais que ainda vive profundamente centralizado. Além disso entendemos que a sua forma de olhar o mundo vai ao encontro do que temos vindo a defender no Lugar ao Sul: necessitamos de mais e melhor opinião. Sobre essa ideia, Júlio Resende, tem uma frase lapidar: “As pessoas que digam coisas! Mas tentem pensá-las antes de dizer, já não seria mau.”
​

A data e local da cerimónia pública de atribuição desta distinção será anunciada em breve.
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Terra Coroada

24/12/2018

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Por Patrícia de Jesus Palma

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É ao som das palavras de António Ramos Rosa que desejo Boas Festas aos leitores do Lugar ao Sul!


Renovo neste dia os meus votos – votos diários! – para que o espírito luminoso de proximidade, de partilha e de solidariedade se alargue maravilhosamente por todo o ano, para uma pacificação e convívio fraternos em todos os lugares e para que possamos, apesar da inverosimilhança dos dias, conhecer a Alegria e o Amor, como nos inspiram estas palavras do poeta:

«O amor cerra os olhos, não para ver mas para absorver: a obscura transparência, a espessura das sombras ligeiras, a ondulação ardente: a alegria. Um cavalo corre na lenta velocidade das artérias. O amor conhece-se sobre a terra coroada: animal das águas, animal do fogo, animal do ar: a matéria é só uma, terrestre e divina.»

António Ramos Rosa, in Três Lições Materiais (1989)

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A ARTE EM VIAGEM: POR QUE ESTRADAS?

10/12/2018

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Itinerâncias
Por Patrícia de Jesus Palma

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Belíssima a iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian para colocar obras do seu Museu, o Coro e a sua Orquestra em circulação pelo país até 2020 ao abrigo do programa «Gulbenkian Itinerante» (https://gulbenkian.pt/gulbenkian-itinerante/), trazendo à memória a acção fecunda das «bibliotecas itinerantes».

No Algarve, serão os museus de Portimão (8.12.2018-Mar./2019) e de Tavira (23.11.2019-23.2.2020) a acolher obras do Museu Calouste Gulbenkian, durante o período da designada «época baixa».

O que me parece mais interessante nesta iniciativa não é a mudança do espaço expositivo – o que já teria algum interesse –, mas que manteria uma perspectiva «proprietária» das obras artísticas. O que me parece verdadeiramente estimulante e inovador é o especial cuidado em relacionar as obras em itinerância com os contextos e as colecções de acolhimento, produzindo novas narrativas expositivas. Portimão conduz-nos por «Lugares, Paisagens, Viagens» a partir dos textos de Manuel Teixeira Gomes e, em Tavira, «Mares sem Tempo» ligará a contemporaneidade à herança histórico-cultural da região, para celebrar os 500 anos de Tavira-cidade.

Criam-se, deste modo, diálogos originais e sentidos inéditos pela relação de todas as obras em presença e para todas as obras em presença.

Estes circuitos fluídos de circulação cultural, que espero possam intensificar-se em diferentes escalas em prol da consolidação de um território colaborativo e em rede, contrastam, porém, com o mau estado, o anacrónico estado, de múltiplas vias de acesso, como a Estrada Nacional 125 (Vila do Bispo-Vila Real de Santo António) ou a degradada Estrada Nacional 124 (Silves-Porto de Lagos), que pouco contribuem para a mobilidade e itinerância dos públicos, para a segurança, para a coesão do território ou para a fruição de uma viagem que é ela própria quadro vivo e pórtico exuberante dos espaços museológicos acima referidos.

São múltiplas, pois, as temporalidades a que nos conduz a itinerância.

Termino, evocando esse grande protector das artes e – das estradas – que foi D. Francisco Gomes do Avelar, bispo do Algarve (1789-1816), cujo 202.º aniversário da morte se assinala a 16 deste mês, citando as suas Instrucções que deverão observar os inspectores da reparação das estradas:

«Primeiramente devemos todos persuadirnos, que as boas Estradas servem muito para o bem Publico; e por isso todos os Povos civilizados sempre cuidárão, e hoje cuidão, com grande eficacia neste ponto.
Em segundo lugar deve haver sumo cuidado em que as Estradas se fação de modo, que permaneção, para não se perder o trabalho e despesa.
Em terceiro lugar se deve atender a que huma Estrada he huma especie de edificio; e deve ter fundamento solido, paredes bem construidas, pavimento livre de obstaculos; e tambem admitte sua formosura e ornato: e com especialidade lhe dá belleza o ser direita, quanto for possivel.» (subs. meus).
 
Para continuar a leitura deste tão oportuníssimo texto, clique em: http://purl.pt/17465 (Biblioteca Nacional de Portugal).

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O LUGAR DO PATRIMÓNIO

26/11/2018

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Por Patrícia de Jesus Palma 
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Em alguns casos, o lugar do património pode situar-se próximo do lugar da desesperança, apesar de este ser o ano europeu dedicado ao património cultural, sob o lema «Património: onde o passado encontra o futuro» (cf. http://anoeuropeu.patrimoniocultural.gov.pt/). Aí nos situa o último artigo de Aurélio Cabrita, no jornal Terra Ruiva a propósito do património monumental do concelho de Silves (https://bit.ly/2ByVfrd), e que um outro artigo de Paula Bravo também já deixara a nu. (https://bit.ly/2DH7LGu).

Junto-me às suas vozes. Mas, perante esta realidade, quero concentrar-me na ideia de que tudo é possibilidade e que dizê-lo é já forma nascente de esperança.

No campo de futuros possíveis, a educação através do património (em sentido abrangente) terá um papel crucial, nomeadamente na identificação dos cidadãos com o seu espaço e com a memória colectiva. A história, a memória, os lugares estão carregados de sentidos, de conhecimento científico e cultural, que se manifesta de forma viva no património e que podemos explorar com recursos pedagógicos adequados, envolvendo a comunidade.

Oferecer às crianças e aos jovens a possibilidade de aprender através da sua herança patrimonial, preservada nas aldeias, vilas ou cidades, é iniciá-los pelas «planícies e os vastos palácios da memória, onde estão tesouros de inumeráveis imagens veiculadas por toda a espécie de coisas que se sentiram» de que nos fala limpidamente Santo Agostinho. O processo de defesa do património comum pode nascer aí, nessa construção da memória individual e afectiva onde se guardam os nossos «tesouros» (Santo Agostinho, Confissões. Lisboa: INCM, 2004, p. 241).

Não se protege o que não se conhece. É, por isso, imprescindível preservar e comunicar.
Aprofundar o trabalho colaborativo entre os arquivos, os museus, as bibliotecas, os centros de documentação e as escolas e centros de formação de todos os níveis de ensino é um caminho profícuo, de que há exemplos felizes. Uma das possibilidades será a construção de projectos educativos e planos de actividades conjuntos que satisfaçam os objectivos e metas pedagógicas e que, ao mesmo tempo, enriqueçam o curriculum, permitindo aos alunos a compreensão e o acesso à herança patrimonial local: a primeira que têm o direito de conhecer e o dever de preservar.

Poderemos assim educar um olhar capaz de procurar razões – anteriores e interiores –, na certeza de que a cor do tempo é uma só, a do coração; como, muito melhor do que nós, diz Pedro Tamen (in O Livro do Sapateiro):
​
Há um rio e o outro lado do rio.
Ao longe há um verde entrando pelos olhos que fecho
e sem saber ao certo
se o que entra é a cor de um certo tempo antigo
ou o licor de um outro tempo novo.
E verifico então de olhos molhados
que não há que saber
nem distinções na paisagem
— que é uma só no largo coração.
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ALGARVIANA.PT

12/11/2018

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Por Patrícia de Jesus Palma
As formigas no relógio ou a memória persistente

«Restauração intelectual do reyno» no século XVIII, «ressurgimento intelectual da província» no século XX, «especialização inteligente do Algarve» no século XXI, são expressões que integram o Algarve numa trajectória longa de procura pelo conhecimento, embora com hiatos e retrocessos. Nesses intervalos, como na pintura de Dalí, as formigas apoderam-se do vazio... Nem sempre temos facilidade em assumir a dupla condição de quem ousa Saber, regressando ao passado com os olhos postos no futuro, desejando tanto o conhecimento, quanto a compreensão através da inteligência. Será mais cómodo, mais económico, mais alienante também.

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Salvador Dalí – A Persistência da Memória, 1931.
Por estes dias, inicia-se nova discussão pública em torno dos «Caminhos para a Competitividade e Especialização Inteligente Regional» e interrogo-me sobre o lugar que o conhecimento sobre a região, não só em termos estatísticos, económicos e sociais, mas também em termos históricos e culturais, ocupará no desenho da nova Estratégia de Especialização Inteligente tendo em vista o horizonte 2030. Tal assunto mereceu tão-só um parágrafo na descrição do contexto regional na versão de 2015 (https://issuu.com/ccdralgarve/docs/ris3_20-06).  E, no entanto, é para os eixos do conhecimento, da inovação, da eficiência e da coesão territorial que todo o documento se dirige.
É, pois, oportuno lembrar o monumental trabalho de um particular, Mário Lyster Franco (1902-1984), em prol do conhecimento e desenvolvimento científico e social do Algarve e da sua valorização como um todo. Refiro-me, naturalmente, à Algarviana. Não àquela que a maioria dos leitores identificará com a paisagem natural do Algarve, através da Grande Rota Pedestre, a Via Algarviana, mas àquela outra paisagem, a mental e simbólica, construída pela imensa colecção de textos e de imagens sobre o Algarve, coligidos por M. Lyster Franco, para a qual criou o neologismo «Algarviana» e de que resultou a Algarviana: Subsídios para uma Bibliografia do Algarve e dos Autores Algarvios, vol. I, A-B (1982).
Mário Lyster Franco procurou reunir o maior número de documentos, de periódicos, de livros, de imagens, de testemunhos sobre o Algarve e assim também de informações sobre os algarvios que, em qualquer época, desenvolveram actividade intelectual deixando memória escrita. O legado, que está a cargo da Biblioteca Central da Universidade do Algarve (https://www.ualg.pt/pt/content/pesquisa-bibliografica), representa e representa-nos uma região que abala completamente o conceito de um espaço culturalmente lacunar e subalterno. Erige, em vez dessa ausência, uma sociedade de cultura e de conhecimento, aberta e em diálogo, oferecendo-nos uma notável quantidade de informação sobre os lugares, sobre as pessoas, sobre a história, sobre o património e sobre as actividades desenvolvidas no território ao longo do tempo. O trabalho ficou suspenso em 1984, apesar de a sua utilidade não ter parado de aumentar, quer no contexto do desenvolvimento da Universidade do Algarve, quer das transformações tecnológicas, quer ainda no quadro da política de coesão da União Europeia ao levar os países e as regiões a delinear Estratégias de Investigação e Inovação para uma Especialização Inteligente.
Ora, o que é a Algarviana se não uma “especialização inteligente”, realizada de acordo com os instrumentos e as tecnologias disponíveis no século XX? Trata-se, com efeito, de uma abordagem ao território do ponto de vista do Saber, integrando-o nas dinâmicas globais de circulação e de produção do conhecimento, um extraordinário instrumento de pesquisa e simultaneamente um impulsor de desenvolvimento.
Se é pouco exequível dar continuidade à Algarviana nos termos em que foi originalmente delineada, creio que a detentora deste criativo acervo, a Universidade do Algarve, reunirá as melhores condições para o potenciar, liderando e desenvolvendo uma plataforma digital agregadora – a ALGARVIANA.PT – que funcione como ponto único de acesso a informação sólida, segura e de qualidade sobre o Algarve nas suas múltiplas coordenadas espácio-temporais, contribuindo para incrementar as relações dialógicas entre a Academia e a sociedade.
A Algarviana é um projecto de conhecimento sobre o Algarve que continua vivo e a desafiar o futuro. Estaremos à altura deste legado?
A memória persiste. Persistamos.

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Chegou a Terceira Vaga ao Lugar ao Sul

4/11/2018

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António Gedeão cantava que o sonho é uma constante da vida.

O Lugar ao Sul, agora com dois anos, conseguiu algo que pouco acreditávamos ser possível: ter uma vida longa e robusta. É certo que já teve os seus momentos menos participados mas nunca deixou de ter actividade constante e regular. Em dois anos de vida foram produzidas mais de trezentos artigos de opinião sobre os mais variados temas e das mais variadas formas.

Tal como outros famosos e espartanos 300, marcam uma resistência. Ao alheamento, ao marasmo opinativo, crítico, reflectivo em torno do Algarve, mostrando que esta região tem pensamento e voz. Valerá o que vale, mas para nós é muito.

Não só pelo empenho e carinho emprestado a esta ideia, mas fundamentalmente porque acreditamos que conseguimos criar um fórum de opinião que tem ganho o seu espaço no espaço público regional, conciliando gente de diferentes áreas, formações e ideologias em torno de um princípio comum: o Algarve e o Sul de uma forma geral como espaço de pensamento e debate.

E, de forma imodesta, acreditamos, porque o vemos, tem vindo a conseguir contagiar a região, que hoje, mais do que há 2 anos, se olha, pensa e discute com outro vigor. Poderá não ser ainda o desejável, mas todo o caminho se inicia com o primeiro passo.

Isto importa porque a continuidade deste projecto, contra a espuma dos dias, se deve mais aos leitores que assiduamente fazem do Lugar ao Sul um site com um volume de visitas invulgar para uma plataforma deste género – fora dos grande centros urbanos e longe dos grandes centros de poder – do que aos autores que o realizam todos os dias. É pois devido um grande agradecimento a todos vós que, pelas mais variadas razões, nos vão acompanhando, que nos lêem, que nos elogiam e nos partilham, mas também aquelas que opinando criticam. São todos vós a fasquia que nos ajuda a elevar o debate.

Obrigado. 
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Outro factor que tem contribuído para o sucesso do Lugar ao Sul é a capacidade que tem tido para chamar a si novos protagonistas. Em 2017 uma segunda vaga de “habitantes” assentou arraial neste “Lugar” e duplicou a nossa densidade de opinar. Agora, já com dois anos e uma curta mas importante história, é tempo de dar as boas vindas a uma terceira vaga de novos elementos.

É também tempo de dizer até já a outros, que deixaram de escrever, pelo menos regularmente.

Sem a sua disponibilidade e a sua entrega, este projecto que, recorde-se, nada mais é que um acto de cidadania activa sem qualquer propósito comercial, não seria possível.

Por isso, ao Pedro Pimpão, à Dália Paulo, ao João Fernandes e à Joana Cabrita Martins, o nosso muito obrigado por terem acedido fazer esta viagem connosco. E, sempre que a queiram continuar, as portas deste vosso Lugar ao Sul estarão sempre abertas para vos receber.

Aos novos elementos, damos as boas vindas e dizemos que contamos com eles para continuar a inquietar mentes, agitar águas e criar ideias e novos pensamentos.

Entram em cena a Patrícia de Jesus Palma, a Anabela Afonso, a Luísa Salazar, o Paulo Patrocínio Reis, a Vanessa Nascimento, a Ana Gonçalves, o Dinis Faísca e a Sara Fernandes.

Conheçam um pouco mais sobre todos, carregando aqui. O restante muito que há a descobrir, conhecerão através dos seus textos.

Esta é a nova vida do Lugar ao Sul.

O propósito é o de sempre: um sentido a Sul, contribuindo para o debate e crescimento deste território. 
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