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Deve a estética sobrepor-se à ética e à dignidade humana?

2/3/2017

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Richard Long

Por Dália Paulo
No dia 8 comemora-se o dia da Mulher. Dia que recorda um longínquo 8 de março de 1857 quando as operárias fabris de Nova Iorque se revoltaram para lutar pelos seus direitos laborais. Foi neste dia que, em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi declarado como o Dia Internacional da Mulher e que, em 1975, foi adotado oficialmente pelas Nações Unidas. Contudo, hoje, mais do que o género, interessa que se fale da pessoa e da sua igualdade de acesso e de tratamento. Mas o que motiva este apontamento a Sul é o óscar de Melhor Actor com que Hollywood distinguiu Casey Affleck - pelo seu trabalho no filme Manchester by the Sea -  quando está acusado de um crime de abuso sexual (ainda sem ter sido condenado é certo). Não é o primeiro desta indústria e, infelizmente, não será o último caso em que o sucesso é proporcionalmente oposto ao respeito pelo outro, neste caso as mulheres.

Nestas breves notas e porque muito se tem escrito sobre o assunto, pretende levantar-se algumas questões para reflexão: deve a estética sobrepor-se à ética, aos valores e à dignidade humana? Pode dissociar-se o homem da sua arte ou vice-versa? Estas são questões que amiúde são discutidas, normalmente quando temos obras que estão a serviço de regimes ditatoriais (e todos se lembraram de Leni Riefenstahl e o seu Triunfo da Vontade de 1935, que foi apelidada de “uma obra eticamente falha por expressar atitudes eticamente repreensíveis”). No caso em análise não se trata da obra de arte mas do seu intérprete que, de acordo com a Academia de Holllywood, é brilhante; mas será correto fazer esta distinção quando há um comportamento que pode ser repreensível? Ou será que a ética é irrelevante perante a estética? Que consequências terá esta distinção na sua atuação como ser humano, como pessoa? São perguntas de difícil resposta e a mesma não se baliza apenas neste caso mas no modelo de sociedade que temos, que desenvolvemos e que, quer queiramos ou não, estamos a desenvolver.

Numa sociedade do espetáculo, do efémero, do imediato, em que a voracidade das imagens e dos acontecimentos se sobrepõem ao pensamento, ao tempo para refletir estas questões podem parecer de somenos importância. Contudo são, em nosso entender, o esteio para a construção de uma sociedade mais saudável, mais humana e norteada por valores. Sim, precisa de se discutir, de se voltar à ética em detrimento da estética sem valores e sem densidade; precisa de se voltar ao respeito pelo outro como fator chave onde se alicerçam os valores da sociedade contemporânea. E a arte e a cultura têm aqui um papel de charneira ao serem disruptivas, ao inquietarem, ao poderem colocar o dedo onde sangra para espiar males e renascer o belo que é simultaneamente ético e estético.

O que podemos nós fazedores e/ou consumidores de cultura fazer? Muito (ou alguma coisa) se nos unirmos; em primeiro lugar deixando as salas de cinema vazias se formos espetadores ou não incluir este filme na programação do espaço cultural que programamos. Ou a incluí-lo liga-lo a um ciclo de debate sobre os valores da sociedade ocidental ou a sua ilusão, sobre a dignidade da pessoa ou sobre abuso de poder. Por outro lado, o filme não é só o Afleck, tem outros magníficos atores e atrizes. Vamos penalizá-los por isso? Aceitaram trabalhar com ele…são tão culpados como ele? Deviam ter-se recusado a contracenar com ele? A temática do filme passa essas questões e levanta muitas outras…enfim temas a analisar, refletir e que certamente não têm respostas únicas, lineares ou fáceis. Pode não ser muito mas é com pequenos ritos mudos que se pode construir do local para o global uma sociedade mais digna, menos egoísta e mais feliz.

Como este é o último apontamento antes do Dia da Mulher, desejo que todas as Mulheres utilizem este dia para fazer ouvir a sua voz e termino com o poema “O mar dos meus olhos” de Sophia de Mello Breyner Andresen, que dedico a todas as mulheres que lutam para que a questão de género não seja discriminatória.
Há mulheres que trazem o mar nos olhos/Não pela cor/ Mas pela vastidão da alma/E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos/ Ficam para além do tempo/ Como se a maré nunca as levasse/Da praia onde foram felizes/ Há mulheres que trazem o mar nos olhos/pela grandeza da imensidão da alma/ pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens.../ Há mulheres que são maré em noites de tardes/e calma


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Seduções transformadoras… ou reflexões soltas em torno da educação, cultura e cidadania

23/2/2017

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Pedro Cabral Santo, Unforeseeable, Casa Rural das Ruínas de Milreu, Estoi, 2017

Por Dália Paulo

 “Talvez o objetivo nos dias de hoje não é descobrir o que nós somos mas refutar o que nós somos”
Michell Foucault

 
As instituições culturais são “seres” que vivem (devem viver) implicadas e inseridas na sociedade contemporânea e, por isso, a sua ação tem de assentar, em primeiro lugar, na leitura do mundo, no questionamento da vida e devem ter como fim, primeiro, transformar. Esta transformação, para ser alicerçada e consistente, tem de ter como base a produção de conhecimento. Esse conhecimento, que servirá para construir janelas onde antes só havia paredes, resulta das questões que urge fazer entrar nas instituições culturais – que concorrem para a missão, visão e objetivos, para que estas se conheçam e coloquem na agenda a investigação como base de ação, de inovação e de criação, com vista a uma programação que, a cada momento, se consiga metamorfosear.
 
Programar uma instituição cultural é, acima de tudo, estar atento, “ler” o mundo e fazer escolhas – o que dito assim parece linear, mas não o é! Estas escolhas são extremamente importantes na relação que criam com o público, na forma como são apresentadas; se são apenas transmissão de conhecimento ou se o mesmo se traduz em indagação e na possibilidade de, através dele, criar novas leituras e novos olhares sobre o mundo, a vida; sobre nós. Esta opção (talvez não consciente) faz a diferença entre uma instituição cultural que apenas transmite conhecimento e uma instituição cultural que trabalha o conhecimento e que pretende deixar lastro e, através da sua programação, ser um veículo de inquietamento e reflexão sobre a sociedade, sobre os valores, a identidade, a criação, o esquecimento e a memória, fazendo disso parte da responsabilidade social da instituição.
 
A responsabilidade social dá palco à dimensão educativa de uma instituição cultural; significa isto que a questão da mediação entre os fazedores de conteúdos e os públicos (também eles fazedores de conteúdos) é primordial para que o conhecimento seja transmitido e, por outro lado, para que seja transformado em reflexão e construção de uma consciência crítica e incrementando a cidadania. Importa, igualmente, perceber que esta transmissão de conhecimento deve concretizar-se, também, dentro das próprias equipas, uma vez que o vão utilizar e transformá-lo (mediando-o) em diálogos e em questionamento, centrando-o no quotidiano dos públicos. Há, infelizmente, nesta última questão, algumas barreiras (sobretudo mentais) a derrubar.
 
Considero que é necessário colocar a questão educativa no palco principal, e à mesa com a programação e a gestão da instituição, e isto implica que a educação faça parte das equipas que definem a agenda e as linhas estratégicas do diálogo que se mantém com os públicos. Para ser colocado em prática é preciso sensibilizar os gestores para um diálogo equilibrado e, igualmente, mudar hábitos e pré-conceitos. Para tal, cabe às equipas que, por norma, têm a tarefa da dimensão educativa nas instituições culturais serem persistentes e resilientes e, aos pouco, ir ganhando o seu lugar na gestão e na programação.
 
O trabalho de “sedução” levará a que se perceba que a dimensão educativa numa instituição cultural deverá ter o papel de charneira na formação de uma cidadania ativa e contribuir para o espírito crítico e a reflexão, questionando e colocando em causa. Se tal não se verifica, o que responder à pergunta de Gilles Lipovetsky: “Quem se queixará desta suave anestesia para a qual tudo concorre?” (2011: 181), nós, a esta questão, seremos forçados a responder: ninguém. Se este cenário dantesco ocorresse teríamos, eminentemente, falhado.
 
Não sendo ainda o tempo do olvido, as instituições culturais têm um papel fundamental, através da sua programação, de contribuírem para a formação cívica e crítica dos cidadãos. De que forma? Percorrendo diversos caminhos, sendo casas seguras para debater questões inseguras; casas onde se manifestam opiniões plurais e onde se questionam verdades absolutas, casas que apresentem programações que surpreendam, intriguem e levem ao questionamento e, acima de tudo, que despertem a curiosidade e impliquem os públicos e os levem a refletir. Nesse sentido, a dimensão educativa deve, na sua versão de educação não formal, ir contaminando a educação formal para que, também na escola, se comece a privilegiar os porquês e as dúvidas e se caminhe para “criar” cidadãos que sabem pensar, inteiros e únicos. - "Não importa. Tente outra vez. Fracasse outra vez. Fracasse melhor." – Samuel Beckett

 
 
* Texto realizado a convite do programa Descobrir da Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do seminário “Que Lugares para a Educação? A dimensão educativa nas instituições culturais”, 2014

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Parabéns ALGARVE!... Obrigada Carlos Albino, António Branco e Manuel Brito

16/2/2017

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Sessão sobre os "750 anos do Tratado de Badajoz", Universidade do Algarve, 16 de fevereiro de 2017, com Guilherme d'Oliveira Martins, Vítor Neto, António Branco, Lídia Jorge e Luís Filipe Oliveira

Por Dália Paulo

Hoje estamos, algarvios, de parabéns! A 16 de fevereiro de 1267 assinava-se, em Badajoz, uma convenção entre os reinos de Castela e de Portugal, governados por Afonso X de Leão e Afonso III de Portugal, que punha termo ao conflito territorial entre as duas coroas e efetivou a integração oficial do Algarve na coroa portuguesa.

Pode pensar-se que a data foi amplamente comemorada com a realização de atividades educativas em escolas, de atividades culturais em bibliotecas e museus; pasme-se, não foi! E teria passado ao lado de todos nós esta efeméride - simbólica apenas dirão uns, mas os símbolos importam e, mais do que isso, estes momentos também motivam para refletir, ouvir, escutar e fazer um exercício prospetivo da região – se não fosse a voz sempre atenta, assertiva e acutilante de Carlos Albino no seu SMS do Jornal do Algarve a recordar.

À voz de Carlos Albino juntaram-se para, simbolicamente, comemorar a data a Universidade do Algarve e a editora Sul, Sol e Sal; pelo que o Algarve deve felicitar e agradecer ou mesmo ser grato a Carlos Albino, António Branco e Manuel Brito. Eu sou! Porque hoje estas três pessoas fizeram a diferença neste nosso Sul e permitiram comemorar uma data importante para a construção da identidade da região, para, como nos recordava António Branco na sessão organizada na Universidade do Algarve, que todos devemos “combater militantemente o desmemoriamento” para garantir valores essenciais à democracia.

Hoje, 16 de fevereiro de 2017, realizou-se a sessão na Universidade do Algarve que teve como oradores António Branco, Lídia Jorge, Luís Filipe Oliveira, Vítor Neto e Guilherme de Oliveira Martins. Foi uma tarde rica de reflexões e olhares múltiplos, organizada pelo “coração da nossa esperança” como Lídia Jorge se referiu à Universidade do Algarve, coração pela liberdade, pelo conhecimento, pela inovação que são os seus valores. Uma sessão que devia ser da região, que devia ter contado com as principais instituições da região e a comunicação social. Será porque como nos inquietava e desassossegava Lídia Jorge “somos uma região ressentida” e por isso esse ressentimento inibe a ação? Inibe uma construção conjunta que é tentada mas que como nos recordava Vítor Neto falta um “instrumento de gestão política integrada” a que chama regionalização ou então a constituição de uma Área Metropolitana no Algarve, propondo que se realize um Congresso do Algarve para pensar a região; e a que Guilherme d’Oliveira Martins acrescenta a noção de que é preciso inverter ou derrubar o (pre)conceito que a cultura portuguesa é feita apenas no sentido norte-sul.

Luís Filipe Oliveira e Guilherme de Oliveira Martins recordaram a importância geoestratégica e geopolítica do tratado e António Branco, Lídia Jorge e Vítor Neto refletiram sobre o Algarve de hoje e sobre a “lassidão dolorosa do presente” nas palavras da escritora.

Estas efemérides são importantes porque nos possibilitam algo precioso: tempo para o questionamento, tempo para parar (temporariamente) a voragem dos dias e do quotidiano que nos absorve de emails urgentes, de relatórios inadiáveis, de reuniões intermináveis e nos devolve TEMPO para ouvir, para conversar, para estar. Foi isso que aconteceu esta tarde na Universidade do Algarve, a felicidade (na expressão utilizada por Carlos Albino) de, a partir do tratado de há 750 anos, sonhar um Algarve para mais 750 anos…


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ALGARVE DA LENTIDÃO

2/2/2017

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Dália Paulo convida Lídia Jorge

O Lugar ao Sul iniciou em Dezembro a publicação de um conjunto de textos de autores convidados.  Hoje cabe-me a mim fazer o convite. Convidei Lídia Jorge, uma escritora incontornável no panorama literário mundial, algarvia de nascimento. Lídia Jorge é, hoje, uma das vozes que deve ser escutada, pela sua leitura acutilante e assertiva sobre o mundo que nos rodeia, pela sua intervenção cívica, pelo seu humanismo e pela sua capacidade de nos inquietar e, simultaneamente, de nos encantar. Estou (estamos) grata pela colaboração e por tornar este Lugar ao Sul mais plural.


Mesmo nos tempos que correm,  eu louvo a lentidão.

Uma lenda antiga dizia que um dia os deuses do Olimpo, cansados das durezas da guerra  e das batalhas do amor, deixaram o monte mágico onde residiam e voaram na direcção do extremo ocidental do mundo, para repousarem a cabeça sobre  doces colinas, areias brancas e águas plácidas. Esse travesseiro pacífico, segundo o conhecimento que então se tinha da  Terra, corresponderia,  naturalmente, ao Algarve. Se escutarmos o mar, talvez ainda hoje o som das ondas seja um eco das suas respirações  cansadas, que aqui ficaram para lembrar essas divinas sestas. Entretanto, o tempo passou, os deuses morreram e a lenda desapareceu,  mas o ritmo da  lentidão desses sonos ficou. Com algumas alterações maçadoras, claro.
Pois, entretanto, com muitas décadas de lento atraso, também aqui chegou a revolução industrial, que colocou relógios nas torres das igrejas, e sirenes nas fábricas,  campainhas nas escolas,  apitos tremendos nas locomotivas, e por fim chegaram os aviões atroando os ares. Uma maçada, a lentidão passou a ter horas. E que horas!  Se uma pessoa se descuidava, perdia o comboio e o avião.  Depois, aqui há uns anos,  a revolução electrónica pôs de lado  os ponteiros e os mostradores, os apitos e as sirenes, e  introduziu  os horários  com  um  chip  invisível, directamente, no interior do corpo  da pessoa, e logo a seguir a nossa vida passou a ser comandada por sincronias  em rede. O tempo passou a ser uma região  da histeria, e o cumprimentos ao minuto, uma prática imprescindível. O timing de uma reunião qualquer,  passou a ser um galope ao segundo. Primeiro fala o presidente, um minuto. Depois cumprimenta o delegado, trinta segundos, depois senta-se o secretário, outros trinta, depois fala o primeiro participante, cinco minutos e trinta e três segundos, e assim por diante. Calendário nórdico, rigoroso,  calvinista, luterano. Claro que o Algarve  quase mediterrânico, feito para a lentidão, com deuses cochilando e dormindo,  imita bem mas ressente-se. Não é fácil  incorporar semelhante galope . Estabeleceu-se entre nós uma contradição que merece ser estudada com seriedade.  Proponho  mesmo um congresso sobre LENTIDÃO/ SLOWNESS,   em que se debata este tema controverso, defendendo  as virtudes do nosso  ritmo lento. Lembramos países longínquos,  regiões  exóticas,  terras africanas que  um estreito mar separa.  Tudo isto é útil,  a nossa lentidão serve para vender e sonhar.
E no entanto,  há  aqui um   problema  difícil de equacionar, e  esta é a base da contradição que nos assiste.  Trata-se da questão do  incumprimento,  o vício dilecto  da lentidão. Francamente, nem   sei como explicar. Isto é, entre nós, à conta da lentidão, quem diz que aparece dentro de minutos, só surge dali a duas horas. Quem  diz que telefona amanhã, telefona dali a um mês. Quem marca uma sessão para dali a um mês, está a pensar que será realizada dali a três. Quem diz que fará uma obra em seis meses, está a querer dizer dezoito. Quem anuncia  uma escritura de compra e venda para dali a um ano, está a querer  dizer dez.  Uma estrada deve ser reparada em dois anos? Passados vinte, ainda lá estão os buracos, as setas e as vedações à espera.  O Ministro veio prometer uma reforma? Se atravessou o Alentejo e chegou ao Algarve, ele deve saber que virão dez outros ministros futuros  prometer exactamente o mesmo,  com as devidas alterações provocadas  pelo correr do tempo.  Até que um dia acontece, e os pais contam aos filhos as promessas que já ouviram aos avós dos filhos. Naquele tempo, meu filho,  prometeram  assim, era o tempo do teu avô.  Claro, ninguém  leva a mal, é um problema da lentidão. Por mim, quando há excepções, e o rapaz do gás chega na hora, o notário marca e cumpre, ou a  promessa de telefonar, escrever,  intervir,  acontece, preparo uma bandeja com copos, e saúdo à excepção  da excepção.  Apetece-me abraçar quem cumpre. Quem não confunde lentidão com incumprimento.  Sou suspeita, mas  em minha opinião,  este assunto  merece um colóquio e vinte conferencistas à mesa. Pois como é que se compagina esta herança de ritmo vago, lerdo, moroso, herdado do calor do sol e da sesta dos deuses cansados, com  um mínimo de cumprimento? Eu não sei como. Mas deve haver  quem saiba. O jovem que disse que chegava dentro de dez minutos, e chegou, e aqui está na minha frente, por certo  que sabe. Por certo que ele tem uma chave que roda e se chama respeito pelos outros. Eu mesma escrevi este texto apressado  para  enfeitar  o meu gosto pela lentidão com o desejo  de cumprimento, em face dos que me são  caros.


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Chegamos para conquistar o Mundo... à FITUR

19/1/2017

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Por Dália Paulo
O breve apontamento de hoje tem como ponto de partida a FITUR (Feira Internacional de Turismo de Madrid). Aqui o “mundo” constrói-se de tolerância, diversidade e identidade de todos os povos e continentes que convivem pacificamente e com um olhar e uma escuta atentos e curiosos para com o outro. Todos a querer partilhar quem são, de onde vêm e o que têm de melhor. Se esta feira fosse um espelho do Mundo teríamos um Mundo maravilhoso, sem problemas de conflitos de territórios, étnicos ou outros, com uma economia a fervilhar. Que bom seria! E no entanto, quando saímos da feira, lá fora percebemos que o Mundo não é isto e perguntamo-nos porquê? Acredito que estes milhares de pessoas têm de ser tocados por estas emoções e beleza do contacto com o outro e contribuir (ou querer contribuir) para que esta indústria da paz vença.

Contudo, permitam-me que hoje partilhe convosco algo que nos deve orgulhar a Sul: o programa cultural 365 Algarve foi escolhido como um dos destaques quer do Turismo de Portugal, quer do Turismo do Algarve, proporcionando aos milhares que visitam a feira ter contacto com a nossa Cultura, as nossas gentes, a nossa criação contemporânea e a nossa identidade. Por aqui a emoção foi (é) grande e o contacto com quem se conversa está a ser uma útil e preciosa lição para fazermos nas próximas edições mais e melhor. Comunicação, forma de apresentar, o que se apresenta, como se pode encantar os outros com a nossa Cultura, a transversalidade da mesma e nunca ser tratada de forma isolada, porque Cultura é Vida, é Território, são as gentes; ensinamentos que vamos levar e colocar em prática, de modo a contribuir para um Algarve todo um ano.

Importa explicar um pouco do que falamos, o Algarve tem a funcionar, desde outubro, um programa cultural que une Turismo e Cultura – 365 Algarve; um programa realizado a partir de um desafio das Secretarias de Estado da Cultura e do Turismo, com execução através do Turismo de Portugal e Região de Turismo do Algarve, aos agentes culturais e Municípios da região. Um programa identitário e, simultaneamente, contemporâneo que conta com a participação de 51 parceiros para realizar 1023 apresentações ao longo de oito meses. 365 Algarve é um programa que parte da identidade da região, construindo uma simbiose perfeita entre território, comunidades, conhecimento, património, inovação, criação contemporânea, experiência e imersão, proporcionando aos residentes e visitantes uma (re)descoberta do território - através das artes, espaços e criadores -  e uma reforçada oferta cultural regular, ao longo de todo o ano; pode assistir-se a espetáculos de música, dança, passando pela animação do património e pelas artes visuais.

Nos primeiros meses o programa contou com 19.273 pessoas que dele usufruíram; desses meses partilho um vídeo do 365 Algarve, com imagens de alguns espetáculos, para que possam desfrutar nos próximos meses deste programa cultural que como os nossos parceiros – agentes culturais e Municípios (a quem se agradece o empenho) – têm afirmado veio contribuir para “a concretização de sonhos” e para “reforçar a oferta cultural em época baixa permitindo-nos receber melhor quem nos visita [nesta época] e tornar a experiência diferenciadora, permitindo benefícios económicos que têm de ser potenciados”.
Porque o 365 Algarve é um programa para todos aqueles que vivem e visitam a região; assim, como afirma o vídeo “Todos os dias contam”, marquem na vossa agenda, porque certamente existirá um evento perto de si e que surpreenderá. (
www.visitalgarve.pt e www.facebook.com/365Algarve.EveryDayCounts)

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Aprofundando a cidadania cultural e alertando as instituições culturais de utilidade pública – aplicação dos 0,5% do IRS

12/1/2017

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Pistoletto, "Pequeno Muro de Trapos", 1967, Fundação de Serralves - artista que coloca "a arte no centro de uma transformação socialmente responsável"

Por Dália Paulo
Começo este apontamento da semana com um profundo agradecimento a Mário Soares, porque este Lugar ao Sul só é possível porque homens como ele (como Assunção Cristas disse, “com ele à cabeça”) lutaram para vivermos num país livre e democrático, onde a pluralidade de opinião é uma realidade. Contudo, não nos esqueçamos que não é um dado adquirido e que devemos, diariamente, contribuir para preservar e aprofundar esses valores; vejam-se as imagens e o discurso de Donald Trump de ontem: “não vos vou deixar fazer uma pergunta, vocês dão notícias falsas”, dirigindo-se a um jornalista da CNN. Podemos e devemos ficar receosos do abismo que pode estar para vir. Barack Obama no seu último discurso disse que “a democracia não exige unanimidade mas solidariedade” e que todos nós, cidadãos, devemos estar atentos e diariamente contribuir para a garantia de valores fundamentais como a democracia e a liberdade de expressão.

Quero dedicar este apontamento à possibilidade de nós, cidadãos, podermos consignar 0,5% do nosso IRS a instituições de utilidade pública na área da cultura - através da portaria Portaria n.º 22/2017, de 12 de janeiro, que vem regulamentar a Lei n.º 7-A/2016, de 30 de março, que aditou o artigo 152.º ao Código do Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Singulares – podendo estas “beneficiar da consignação da quota equivalente a 0,5% do IRS liquidado aos sujeitos passivos deste imposto, nos termos do artigo 152.º, do Código do IRS”.

O meu alerta vai em primeiro lugar para as instituições culturais de utilidade pública que têm até 28 de fevereiro para junto do Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais (GEPAC) do Ministério da Cultura - através do endereço eletrónico –
cultura.irs@gepac.gov.pt -fazer prova que desenvolvem a sua atividade predominantemente de natureza e interesse cultural, enviando os estatutos e relatório de atividade do ano anterior e requerer a atribuição do benefício fiscal. Este passo é fundamental porque caso não o façam impossibilitam qualquer cidadão de escolher a instituição cultural para consignar os 0,5% do seu IRS.

E nós cidadãos como podemos fazer? Primeiro, devemos, após 28 de fevereiro, consultar a base de dados pública "Pessoas Coletivas de Utilidade Pública", disponível em
http://www.sg.pcm.gov.pt/, para verificar quais as instituições que são passíveis de receber a consignação de 0,5% do IRS; depois, em sede de preenchimento de IRS, concretizar essa nossa intenção.

Reafirmo o que escrevi no Algarve Informativo #56, de 8 de maio, sobre a inscrição desta medida na Lei n.º 7-A/2016, de 30 de março:
“Estamos perante uma medida que, creio, vai fazer a diferença e contribuir para mudar práticas e para potenciar relações de maior proximidade entre a criação e os públicos. Porquê? Porque impele as associações, fundações ou cooperativas culturais a produzir novos diálogos com os públicos, criar maior proximidade e construir laços de afeto. Dir-me-ão isso já existe; sim, mas este incentivo fiscal permitirá reforçar o existente. Por outro lado, propõe a implicação e a co-responsabilização dos cidadãos no apoio à cultura, assim como na escolha de que projeto artístico apoiar, sem mediação, numa relação direta entre criadores e cidadãos. Exigirá mais de ambos: aos cidadãos que sejam mais atentos e exigentes e aos criadores que, nunca colocando em causa a liberdade e a qualidade da criação, consigam criar “comunidades de cidadãos” que lhes reconheçam valor e “(in)utilidade” para consignar parte do seu rendimento. Esta é uma medida que promoverá uma cidadania mais ativa, mais consciente e que terá como consequência - assim espero - o reforço da criação artística fora dos grandes centros de Lisboa e do Porto.”

Aprofundar a democracia é, também, isto: possibilitar ao cidadão decidir onde investir o dinheiro de parte dos impostos que paga. Aprofundar a liberdade de escolha é possibilitar que cada cidadão possa contribuir de forma ativa para valorizar uma instituição cultural e as suas formas de Arte. Tenhamos sempre presente o alerta de Sophia de Mello Breyner Andresen (1975) “A cultura é uma das formas de libertação do homem. E se é evidente que o Estado deve à cultura o apoio que deve à identidade de um povo, esse apoio deve ser equacionado de forma a defender a autonomia e a liberdade da cultura para que nunca a ação do Estado se transforme em dirigismo.” E citando Sophia volto a homenagear Mário Soares e a apelar para que possamos dar bom uso a esta excelente oportunidade legislativa, que nos leva precisamente ao oposto do dirigismo; oferece-nos implicação, pensamento e aprofundamento da cidadania. E que isso a Sul seja visível. Depende de nós, como (quase) sempre!


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Sul Informação e o Lugar ao Sul estabelecem parceria

12/12/2016

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Por Lugar ao Sul

​Com um ponto de união cardeal, a partir de hoje o Lugar ao Sul tem o prazer de anunciar uma parceria estabelecida com o Sul Informação.

Este projecto, nascido em 2011 da vontade de fazer mais e melhor jornalismo no Algarve, rapidamente se tornou um caso de sucesso, sendo hoje o jornal (online ou impresso) mais lido não apenas da nossa região, mas também do Baixo Alentejo.

Desta forma, o Lugar ao Sul passa a estar permanentemente acessível a partir desta que é já uma referência incontornável no panorama jornalístico, como comprova a média diária de 12.500 visualizações únicas que regista, ou a atribuição, em 2013, do Prémio Melhor Trabalho Jornalístico/Media, atribuído pela Associação Portuguesa de Museologia (APOM).

Uma prova do valor acrescentado que o Algarve é capaz de gerar!

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Tornar um sonho realidade: é preciso um Museu de Arte Contemporânea no Algarve!

8/12/2016

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Manuel Baptista, Marie Hubner, António da Costa Pinheiro, Bartolomeu dos Santos, Tavira (2003) (Sul Informação)

Por Dália Paulo
O programa cultural 365 Algarve, uma iniciativa das Secretarias de Estado da Cultura e do Turismo, com financiamento via Turismo de Portugal e execução pela Região de Turismo do Algarve tem permitido segundo os parceiros “tornar sonhos realidade”.

Ontem vimos mais um sonho tornado realidade, inaugurou no Museu Municipal de Faro a exposição “ O regresso do objeto, Arte dos Anos 1980 na Coleção de Serralves”, pela segunda vez como disse Rui Nicolau, Serralves está a Sul e neste centenário museu (a primeira foi em 2008). Estas iniciativas são importantes para a fruição por todos da Arte Contemporânea, para se construir uma literacia da contemporaneidade (se me é permitido utilizar esta expressão), tão necessária neste Sul tão pouco familiarizado com estas manifestações, e, por outro lado para que se cumpra uma verdadeira democratização da cultura. Mas ontem (2008) como hoje a minha preocupação é a mesma: é necessário que estas iniciativas estejam integradas em estratégias não só de difusão mas também de criação, de sedimentação, de educação para a arte e que culmine, desejavelmente, na criação de um Museu de Arte Contemporânea no Algarve.

Nos finais do milénio passado, três cidades posicionaram-se para, com financiamento do “saudoso” POC (Programa Operacional da Cultura) construir esse Museu de Arte Contemporânea: Faro, a partir do trabalho pioneiro do pintor Manuel Baptista nas Galerias Trem e Arco, nos anos 1990 e da sua coleção particular, assim como de um acervo nacional que seria depositado a Sul, num lugar de internacionalização da Arte Contemporânea pela forte ligação da região ao Turismo; Lagos, a partir do notável trabalho de Alexandre Alves Barata, no Centro Cultural de Lagos, assim como do fervilhar de criação e de artistas que a partir dos anos 60, do século XX, ali se juntaram; e, Tavira, num trabalho mais recente, mas igualmente importante, de Jorge Queiroz no Palácio da Galeria.

Nenhum destes equipamentos viu a luz do dia e houve mesmo uma redução do trabalho continuado a partir da Arte Contemporânea, destacando-se atualmente, do meu ponto de vista, apenas a Galeria Trem em Faro, com uma programação muito interessante, que desafia artistas a criar e que alia nomes consagrados com jovens criadores, sob a direção de Mirian Tavares, do CIAC, Centro de Investigação e Comunicação em Artes da Universidade do Algarve. Tenho igualmente que referir alguns exemplos não públicos e que têm feito a diferença no Algarve: Casa das Artes em Tavira; LAC, Laboratório de Atividades Criativas de Lagos e o Coletivo Artístico Policromia, para citar apenas alguns.

Faro, anunciou em setembro de 2015 a intenção de se candidatar a Faro, Capital Europeia da Cultura em 2027, tenho escrito amiúde sobre este tema, por ter passado um ano e o assunto apenas agora ter sido recuperado; ontem no discurso de abertura da exposição no Museu Municipal de Faro, o Presidente da Câmara, voltou ao assunto e anunciou que Faro é um dos Municípios que integrará o conjunto de “Municípios Fundadores” da Fundação de Serralves, incluindo esta integração na estratégia para a candidatura de Faro, Capital Europeia da Cultura em 2027, que tem de ser entregue até dezembro de 2017. Felicito, como o fiz ontem, e, como algarvia, fico feliz com esta ação. Porém, considero que apesar de relevante, para a candidatura o que importará para além das redes e parcerias extra-região, é implicar a região (ou mesmo o Sul) nesta candidatura, é criar sinergias, laços e sementes para que a Faro, Capital Europeia da Cultura possa ser um verdadeiro motor de desenvolvimento da região/ Sul assente na Cultura, veja-se o exemplo de Guimarães; sabemos que Guimarães se debate com problemas de financiamento mas que são resolúveis numa estratégia nacional de coesão territorial e cultural.

Nesse sentido, considero que a criação de um Museu Nacional de Arte Contemporânea no Algarve (não falo apenas ou só do contentor mas falo sobretudo do conteúdo e do trabalho) é um eixo fundamental nessa candidatura, porque a parceria com Serralves é importante mas não satisfaz, ou seja é preciso mais, é preciso mapear as coleções que existem no Algarve, mapear os artistas a residir no Algarve, reforçar a relação com a Universidade do Algarve, fixar artistas, curadores e ter uma equipa técnica e artística a dirigir o Museu de Arte Contemporânea do Algarve com autonomia que trabalhe o território, as suas ligações (existentes há milénios) com o exterior e que produza conhecimento e criação. Estou ligada profissionalmente, mas mais do que isso efetiva e afetivamente, desde 1999, ao projeto de Museu de Arte Contemporânea no Algarve, acredito que continua (cada vez mais) a ser uma necessidade e contem comigo, parafraseando Walt Disney, para fazer esse sonho “tornar-se realidade se tivermos a coragem de persegui-lo”!


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Para uma revisão do Programa Nacional da Política de Ordenamento do Território que ame o espaço, a luz e o próximo…

1/12/2016

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Costa Pinheiro, Citymobil, 1969

Por Dália Paulo
A CCDR Algarve, em colaboração com a Direção-Geral do Território, no âmbito da revisão do Programa Nacional da Politica de Ordenamento do Território (PNPOT), organizou ontem um seminário dedicado ao tema “Território e Turismo” para ouvir os stakeholders e refletir sobre as propostas de alteração ao articulado. O PNPOT é:
“um instrumento de desenvolvimento territorial de natureza estratégica que estabelece as grandes opções com relevância para a organização do território nacional, consubstancia o quadro de referência a considerar na elaboração dos demais instrumentos de gestão territorial e constitui um instrumento de cooperação com os demais Estados membros para a organização do território da União Europeia.”

No artigo “pelo negro da terra e pelo branco do muro” na Távola Redonda (1963) Sophia de Mello Breyner Andresen sobre a necessidade de “desenvolver turisticamente o Algarve” apelava para que “é necessário que aqueles que vão construir amem o espaço, a luz e o próximo”, palavras que infelizmente não foram suficientemente fortes para que tivéssemos o desenvolvimento urbanístico a que assistimos e, como afirmava ontem João Manuel Simões, como consequência a construção de “não-lugares” (um termo de Marc Augé), a que tantas vezes António Rosa Mendes aludia, alertando para a Identidade que se estava a perder!

 Hoje estamos numa fase de maior consciência, de maior respeito e de mais cuidado para com o território, apesar de longe ainda do que será o desejável, esta ideia ficou do seminário de ontem. Os agentes que operam na área do turismo reconhecem os benefícios do planeamento, apesar de a nível mais operacional solicitarem simplex quer na elaboração dos planos quer nas aprovações, de forma a aumentar a competitividade e para que o investimento seja feito em tempo útil e não quando aquele “produto” já não se insere no circuito da procura; temos vários exemplos na área do turismo, como noutras áreas veja-se o paradigmático Centro Comercial na Baixa de Faro; reconhecem a necessidade de assentar o seu modelo de negócio numa estreita relação com a Identidade da região e de complementar a oferta com experiências enriquecedoras que assentem na sua riqueza ambiental e patrimonial; reconhecem que trabalhar o Turismo implica estar atento, escutar e sentir a região, para a partir dela criar produtos especiais e inovadores.

Mesmo assim, importa referir que definir a estratégia para um território implica diálogos, criação de plataformas de entendimento e, acima de tudo, uma visão clara do que se quer para o futuro do território; isto porque as várias áreas sectoriais têm a tendência para ver apenas a parte e não o todo. Contudo, fazer um exercício prospetivo do território implica saber que o todo deve prevalecer ao somatório das partes. Pensar o território envolve refletir e decidir sobre as paisagens naturais e culturais e como a sua preservação e transformação deve ser realizada, para que possa existir uma forte coesão territorial. Que a equipa coordenada por Teresa Sá Marques consiga o maior desiderato que é fazer uma revisão consciente, mas, simultaneamente, de futuro e ousada para que respeitando as paisagens torne o território mais coeso, qualificado, competitivo e que proporcione maior qualidade de vida aos cidadãos.

Quero referir, ainda, uma ideia que me parece basilar transmitida por Vítor Neto: a de uma “estratégia integrada” eu ousaria até dizer (indo buscar o termo à museologia) de “estratégia integral”, na atuação do Turismo no território, isto significa respeitar e fortalecer cada parceiro e colocá-lo em diálogo horizontal com visões e olhares plurais, que permitam no plano da ação fortalecer os ativos do território e a respetiva cadeia de valor, assim como ser mais competitivos. Creio que este é um caminho desafiador, que exigirá novas formas de trabalhar, novas ferramentas e metodologias mas que permitirá ao Algarve reforçar o seu capital humano, a sua atratividade (mesmo de fixação) e a sua coesão territorial (interior-litoral). Termino com o desejo de que o nível regional que se quer implementar (e que tão necessário é) seja construído nesta perspetiva de visão integral/integrada que permitirá, creio eu, um novo posicionamento para a região.


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 Do que falamos quando falamos de acesso à informação em instituições culturais?

24/11/2016

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Por Dália Paulo
Em fevereiro passado o Comité para a Cultura, Ciência, Educação e Média do Conselho da Europa apresentou o relatório “As Bibliotecas e Museus numa Europa em tempos de mudança” (Doc. 13984, 15 fevereiro 2016) que tem como intenção “ajudar as bibliotecas e os museus a posicionarem-se como plataformas para a educação digital e a inovação, para o benefício das comunidades locais”, um documento ainda pouco divulgado. Por seu lado, a UNESCO vem desenvolvendo trabalho para aumentar o acesso à informação, promovendo o direito universal à informação e ao conhecimento.

Durante as últimas décadas assistimos a um caminho de especialização do conhecimento e das instituições. Museus, Bibliotecas e Arquivos foram fazendo caminhos paralelos, muitas vezes sem se (re)conhecerem e sem partilharem informação, semelhanças e diferenças. No Algarve foram, na primeira década deste milénio, criadas as redes de Museus, Bibliotecas e Arquivos e, até ao momento, apenas pontualmente se intersetaram sem promoverem um encontro entre redes ou qualquer iniciativa conjunta. E é este o cerne da questão: o acesso à informação, comum a todas as instituições, beneficiará certamente de uma reflexão conjunta.

A BAD (Associação de Bibliotecários e Arquivistas e Documentalistas) / Grupo de Trabalho de Informação em Museus e a Acesso Cultura estão a promover um debate que passou por Braga, Porto, Lisboa, Évora e termina, no dia 25 de novembro, em Loulé dedicado ao tema: “Arquivo, Bibliotecas e Museus: acesso à informação”, reunindo profissionais destas três instituições para, em conjunto, refletir sobre o acesso à informação e as suas limitações; o direito a essa informação dos públicos; a preservação dos acervos versus o acesso; constrangimentos éticos, técnicos e mentais; como as novas tecnologias de informação podem contribuir para o acesso e que limites, perigos e vantagens nessa disponibilização. Serão muitas as questões mas todas com um foco principal: o direito do acesso dos públicos aos objetos e documentos que constituem a memória coletiva e ao conhecimento que o acervo de uma biblioteca encerra, de modo a cimentar estas instituições culturais na vida das pessoas e na promoção de uma cidadania plena.

O curioso é que este debate, para mim, começou há umas semanas quando num seminário que ministrei aos alunos de “Introdução à Museologia” da Universidade do Algarve, a convite do professor Francisco Lameira, fui questionada por diversas vezes sobre o porquê de museus, arquivos e bibliotecas não trabalharem em conjunto ou não partilharem (na maior parte dos casos) os mesmos espaços, como centros culturais das cidades, que traria benefícios (segundo eles) e um acesso à informação mais facilitado, criando sinergias entre as várias instituições e os seus públicos. Fiquei a pensar nas afirmações e no argumentário dos alunos, pela sua pertinência e por nos obrigar a pensar fora de esquemas mentais pré-estabelecidos, assim como por ser o oposto ao que vimos assistindo como ideal e correto nas últimas décadas, seja o afastamento destas três instituições culturais. E, se nos recordarmos, em tempos de crise este debate intensificou-se e as vozes eram todas concordantes (quando isso acontece não haverá perigo?) na necessidade de preservar as instituições como as conhecemos e agora vem esta nova geração e questiona o que era uma conquista de gerações anteriores – a da especialização da cultura para promover um melhor e mais qualificado acesso; será mesmo assim? Creio que este é apenas o início de uma reflexão que não é fácil, nem linear mas que devemos tê-la em consideração na construção do pensamento sobre políticas e estratégias culturais.
 
Termino com uma nota de muito orgulho que importa partilhar: o “nosso” Museu de Portimão é citado como um bom exemplo no relatório “As Bibliotecas e Museus numa Europa em tempos de mudança”. No ponto 4.3 sobre parcerias e redes diz-se:
“The Portimao Museum, a local museum in Portugal and winner of the Council of Europe Museum Prize in 2010, has established a rather unusual win-win partnership with the Ministry of Defence of Portugal since 2014. By organising awareness-raising events and initial recruitment contacts for young people in the museum rather than in army barracks, the Ministry relates the army through the region’s identity, its cultural heritage and future development.”
É importante e imperativo divulgar as instituições de excelência da nossa região, sendo o Museu de Portimão uma delas, por muitos motivos e dentre eles realço dois: a continuidade, consistência e resiliência do projeto (mais de trinta anos) alicerçado na(s) comunidade(s) e a qualidade da equipa técnica.

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“Um olhar atento” um documentário e um livro que nos provocam...

17/11/2016

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 Por Dália Paulo
Em setembro de 2015 apresentei o livro “Miscelânea” de António Pinto Ribeiro em Loulé. Partilho hoje convosco parte dessa leitura, porque voltei ao livro impelida pela transmissão, esta semana pela RTP, do documentário Human de Yann Arthus-Bertrand (imperdível) quem não viu pode descarregar gratuitamente, o qual parte da inquietação sobre a humanidade não estar a progredir e por se falar da Vida. Inquietação, vida, outras respostas e múltiplos olhares, podem sintetizar (de forma simplista) o livro; por outro lado porque considero uma boa sugestão de leitura quando se começam a (re)pensar as cidades (para a felicidade das pessoas) com vista às próximas eleições autárquicas.
 
“Miscelânea” aborda a questão cultural sem perder a ligação à realidade, daí a atualidade das crónicas; usando uma expressão do autor “nada aqui é simples, nem claro, nem óbvio”. Denota-se uma preocupação com a forma como o discurso dominante - e o discurso é central no entendimento que fazemos das sociedades - aborda as questões da cultura, dando novas camadas de leitura a um discurso que, a mais das vezes, é entendido num plano monocórdico e, portanto, além de dominante é dominador; algo que António Pinto Ribeiro combate: “O maior acto de rebelião hoje é ser capaz de criar uma linguagem que combata a linguagem colonizadora dos vários governantes”.
 
O autor afirma que “optou por um formato curto para compor a descrição do real”. É uma obra que se lê com prazer e surpresa (mesmo que seja uma releitura), surpresa no questionamento e nos desafios que nos propõe; surpresa quando nos obriga a voltar à história do século xx europeu e africano e a reenquadrar o discurso político sob o olhar atento de quem não se deixa iludir pelos aplausos e medidas populares, assim como no permanente questionamento e defesa da cidadania, quando afirma que (e cito) “Se há coisa que se espera de um cidadão com espessura política é que seja capaz de, argumentando sempre -, conseguir transformar a comunidade, o país, com o objetivo de uma paz universal”.
 
“Miscelânea” é, de facto, uma obra que vai para além da cultura, por a cultura não ser, apenas, um sector económico mas um lugar onde a sociedade é descodificada; sem permitir que o entendimento que fazemos da sociedade seja traduzido pelos termos económicos, propondo pontos de fuga, bem como o direito à diferença e à contestação que a cultura sempre proporcionou (ou deve proporcionar). Isso pode depreender-se quando o autor questiona “porque continua a ser tão difícil transmitir esta ideia simples de que o investimento financeiro na cultura sai muitíssimo mais barato do que o não-investimento?”
 
É um livro, que se afasta do discurso dominante porque entende o mundo cultural atual como poucos e por isso se permite abandonar esse discurso e apontar o dedo ao fato de as palavras importarem, de não ser indiferente dizer clientes ou públicos, afastando-nos da armadilha de não termos forma de olhar a cultura como uma atividade que é, na génese, não económica mas sim, profundamente, humana; que não é entretenimento mas sim entendimento, que não serve clientes, dirige-se a cidadãos, que por muito que nos digam, por muito que o discurso político o reflita, não é uma atividade económica como as outras.
 
O sentido do livro está na profundidade dos temas que aborda, que convoca o pensamento europeu, desde a sua linhagem mais clássica à mais marginal, que, em simultâneo, convoca um olhar multicultural sobre o Mundo; que convoca os pequenos (grandes) pormenores ou nos impele a olhar para fora do comum, para o outro como igual (nas suas diferenças) para nos proporcionar um novo entendimento das questões centrais da sociedade, das questões centrais da cultura, das questões centrais, em meu entendimento, da Vida!


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Janelas de esperança num mundo que quer (re)construir muros …

10/11/2016

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Por Dália Paulo
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Começo o apontamento desta semana com uma questão de Gilles Lipovetsky (filósofo que teremos a oportunidade de ouvir em Loulé este mês - 29.11): “Quem se queixará desta suave anestesia para a qual tudo concorre?”. Mas descansem que não vou falar de Trump ou das consequências da sua eleição para o Mundo.
 
Contudo, a eleição de Trump leva-nos a (re)pensar o Mundo tal como o conhecemos e o papel da Cultura, da Educação e da Cidadania num tempo em que a Comunicação Social e a Economia (ou melhor os mercados financeiros) dominam as nossas vidas e “guiam” a nossa perceção do real, criando (tentando criar) um imaginário coletivo. Dão-nos, na maior parte das vezes, “uma história única”, para utilizar uma expressão de Chimamanda Ngozi Adichie e nós, como que anestesiados, concorremos pouco para a construção coletiva da sociedade, questionamos pouco e exigimos menos, como aliás lembrava hoje, no jornal Público, Jorge Almeida Fernandes: “O catastrofismo incita à passividade”.
 
Aqui chegados, a um tempo de mudança, de repensar valores e modelos de sociedade, a Cultura (a par da Educação) tem um papel fundamental na construção do pensamento contemporâneo, na leitura do mundo, numa atitude prospetiva mas, mais do que isso, numa atitude resiliente, promovendo espaços de debate, de questionamento, de inquietação e de perturbação, assim como de possíveis respostas a anseios e medos. Estamos perante um tempo claramente de combate político (e ideológico), de dizer não à indiferença de, através da promoção da cidadania ativa, lutar por um mundo plural, multicultural, justo.
 
E isso, em nosso entender, faz-se do local para o global. Por isso termino com dois exemplos de como há espaço de ação para cada um de nós, para nos juntarmos e, como cidadãos, debater, refletir e propor novas agendas:

 1. Esta semana um grupo de cidadãos farenses convidou para a iniciativa de reflexão “Faro à conversa”; juntaram-se três dezenas de pessoas, de vários quadrantes políticos e ideológicos, em torno de um “Menu” que tinha como objetivo pensar Faro e construir um “corpus” de ideias para o seu futuro. Num modelo participado e colaborativo, todos foram convidados a partilhar sonhos e ideias. Numa primeira leitura percebeu-se que muito do exposto eram ideias consensuais (o que pode mostrar que ainda estamos a falar entre os mesmos) ou sonhos já antigos (o que demonstra que o diagnóstico está feito há muito), mas o que quero partilhar como fator de valorização e diferenciador desta iniciativa é que a mesma nasce de um conjunto de cidadãos que deixaram o seu “confortável” lugar de espetadores e juntaram-se para contribuir para a construção da vida da pólis, como grupo de influência e de pressão junto dos decisores da cidade. Como dizia Michell Foucault, “O meu [nosso] trabalho é construir janelas onde antes só havia paredes”; como esta ideia ganhou novos significados e relevância a partir de ontem! Esperamos que este grupo de cidadãos possa voltar a surpreender-nos com abordagens novas, com atitude e com novas formas de exercer a cidadania, tão necessária para garantir a democracia e a liberdade, valores que amiúde nos esquecemos que não são adquiridos. Que para além da escuta (tão necessária) este grupo consiga influenciar atitudes e escolhas na construção das prioridades para a cidade, construir alternativas e promover novas formas de atuação cívica.

2. Na próxima terça-feira (15/11) vai debater-se, no que é o último debate do ano da Acesso Cultura, o tema “O que é o elitismo na Cultura?” (às 18h30 no Ginásio Clube de Faro). Num país em que numa entrevista recente Maria Filomena Mónica (27.10, Sapo 24) afirmava que não temos elites em Portugal e em que ainda ouvimos com frequência “isso não é para mim”, em que a Educação e a Cultura ainda não conseguiram uma articulação estrutural e duradoura; em que os níveis de participação/fruição cultural são os mais baixos da Europa, debater o elitismo na Cultura é entrar num universo ainda cheio de preconceitos, de inibições, de intolerâncias, de posições que se extremam sem se entreolharem, de falsos pudores. Contudo, é uma discussão muito atual e necessária, confirmada pelo Nobel da Literatura atribuído a Dylan que veio retirar o “elitismo do armário” e acicatar conceitos – cultura popular e cultura erudita. Neste tempo onde a intolerância cresce, debater o “elitismo para todos” (expressão do Irish Arts Council) é uma necessidade.  

Porque como diz o ditado popular “não se pode abraçar o mundo com as duas mãos” mas pode abraçar-se quem está ao nosso lado, fazendo a diferença, este é um apontamento de esperança de que localmente se vá criando lastro e mudando o (nosso) mundo!


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À mulher de César não basta sê-lo…

3/11/2016

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Por Dália Paulo

Muito se fala em transparência, em accountability ou na necessidade de prestação de contas aos cidadãos, bem como dos titulares de órgãos da administração exercerem os cargos com idoneidade, de aproximar a gestão das pessoas tornando-a mais eficaz, eficiente e ao serviço da sociedade… muito se apregoa mas pouco se concretiza!
Em julho passado foi publicado em Diário da República o Decreto-Lei n.º 39/2016, que procedeu à alteração do Estatuto de Gestor Público justificado pela necessidade de: “alcançar o objetivo de maior competitividade das instituições de crédito públicas, sem perda de efetividade do controlo exercido sobre os respetivos administradores”. E a consequência foi (ou assim o parece) a de desobrigar a nova equipa de administração da Caixa Geral de Depósitos a não entregar a declaração de rendimentos ao Tribunal Constitucional, pelo menos no prazo legalmente estipulado (60 dias após a tomada de posse) que já foi ultrapassado.
A vox populi e a comunicação social (na sua maioria) tratam estes assuntos de forma populista e com uma certa demagogia (é a arte de ensinar um povo a não pensar, nas palavras de Sophia de Mello Breyner Andresen), sabemos que o “sangue” é sempre apetitoso. Mas não devem os gestores públicos ter um cuidado acrescido na sua conduta, bem como contribuir para a construção de uma sociedade mais exigente e mais implicada? Devia ser óbvio e claro, mas se a legislação os desobriga - e isso saberemos quando o Tribunal Constitucional se pronunciar - o que fazer ou pensar? Creio que na base deve estar a exigência, a ética, o rigor e a seriedade a nortear quem exerce cargos públicos, ainda mais quando sabemos que a nossa democracia ainda não está suficientemente amadurecida, como diziam os romanos “à mulher de César não basta sê-lo, é necessário parecê-lo”!
Neste caso creio que teria sido dado um sinal de naturalidade, tranquilidade e transparência a apresentação da declaração de rendimentos pela nova administração da Caixa Geral de Depósitos. Contudo, é um assunto que, certamente, se olvidará na espuma fugaz dos dias mediáticos; interessa que sejam excelentes gestores, sim, mas também que sejam eticamente irrepreensíveis, com atitude clara e sentido de responsabilidade.
Diria que estamos perante uma questão cultural estrutural (e não conjuntural) e que a sua mudança depende de cada um de nós, de exercermos a nossa cidadania, de questionar, de estar atentos, de participar e de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, mais responsável, mais equilibrada e mais feliz.
Um caso que não ficará na história mas que infelizmente aprofunda um gueto entre o nós (cidadãos comuns) e o eles (os que têm poder). Por um lado afasta quem podia dar um excelente contributo para a construção do coletivo e, por outro, avoluma o desrespeito por quem exerce cargos públicos, assim como aumenta o “eu também quero ser como eles” que pejorativamente significa “os intocáveis”. E isto seria diferente se nos últimos 40 anos tivéssemos apostado na Educação como motor de desenvolvimento, como chave de sucesso (e não falo apenas de números) mas num modelo plural que incluísse a educação para a cidadania; creio que aí está o motor para passarmos a ser mais exigentes, implicados e participativos, bem como para passarmos do eles ao NÓS!

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Uma questão de atitude: confiança e cumplicidade, chaves para a participação

27/10/2016

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Por Dália Paulo
 
Portugal terá o seu primeiro Orçamento Participativo e vai ser o primeiro país a tê-lo. Arranca em janeiro de 2017 e os projetos selecionados começam a ser executados em setembro desse ano. Apresentado na página eletrónica do Orçamento Participativo Portugal www.opp.gov.pt como:
“O Orçamento Participativo Portugal é um processo democrático, direto e universal, através do qual as pessoas decidem sobre investimentos públicos em diferentes áreas de governação. Através do OPP as pessoas podem decidir como investir 3 milhões de euros.”

O Orçamento Participativo Portugal (OPP) irá contemplar cinco áreas: cultura, agricultura, ciência, educação e formação de adultos. Este OPP já está na estrada para um período de divulgação; a 21 de novembro estará no Algarve a Secretária de Estado Adjunta e da Modernização Administrativa na sessão extraordinária do Conselho Regional do Algarve, onde estão representados os 16 municípios, os serviços desconcentrados do Estado e duas dezenas de organizações.

A apresentação de propostas decorre entre janeiro e abril de 2017, as mesmas não podem ultrapassar os 200 mil euros e não contemplam a construção de infraestruturas. Desde este sul, quero enfatizar a escolha da área cultural como uma das cinco áreas abrangidas pelo OPP; uma oportunidade de densificar a coesão territorial, de reforçar o valor da cultura como pilar de desenvolvimento, aliado ao conhecimento e à educação, bem como de reforçar a cidadania e o envolvimento, como afirma Nelson Dias “os processos de participação são essenciais para ganhar confiança entre os cidadãos e as instituições”; eu acrescentaria que são fundamentais para consolidar a democracia e para implicar os cidadãos (nós) nos processos de decisão e de escolha.

Para que o OPP seja um sucesso é necessário que nos impliquemos, que exerçamos a nossa cidadania e que participemos com as nossas propostas; é um desafio a todos mas especialmente aos que estão a Sul para não ficarem indiferentes e para participarem.
E porque falei de participação, esta semana foi constituída a PERFORMART – Associação para as Artes Performativas no Porto. É uma associação composta por 14 membros fundadores: Teatro Nacional São João, Instituto Politécnico do Porto, Fundação Centro Cultural de Belém, Fundação Casa da Música, Fundação de Serralves, OPART, Teatro Nacional D. Maria II, EGEAC, Teatro Viriato, Centro Cultural Vila Flor (A Oficina - Centro de Artes e Mesteres Tradicionais de Guimarães, CIPRL), Teatro do Bolhão, Teatro Experimental do Porto, Espaço do Tempo e Companhia de Teatro de Almada. O país, com exceção do oásis do Rui Horta em Montemor-o-Novo, termina em Almada! E como seria importante pela missão que a nova associação tem que uma instituição da região estivesse representada. Mas as redes fazem-se de cumplicidades, de confiança, de trabalho. Olhando do Sul, esta configuração traduz o que há muito os que se fixaram no Algarve e aqui tentam fazer Cultura e contrariar os preconceitos sentem na sua prática profissional, percebendo que ainda há muito caminho por fazer, muita discussão a abrir. Desde logo um debate regional sobre as direções artísticas e os programadores dos espaços regionais, um debate, creio eu, que pode ser promovido pela rede AZUL em colaboração com a AGECAL, porque é o princípio para que os outros os de fora ganhem confiança no trabalho que por aqui se faz e criem cumplicidades (a)efetivas…

Depende de nós e não dos outros esta mudança de mentalidade e esta afirmação das instituições culturais regionais no panorama nacional e internacional, mas só o conseguiremos refletindo e partilhando em conjunto. Dir-me-ão que há redes, há cumplicidades entre os equipamentos culturais regionais e os nacionais e internacionais; mas que redes? Importa reforçá-las para que a Cultura esteja na agenda regional e isso se reflita no densificar da sua prática, das suas redes e do seu contributo para o todo nacional.

Dois exemplos distintos – OPP e PERFORMART – com pelo menos dois aspetos comuns: desenvolver e transformar a sociedade, promovendo uma cidadania ativa e afirmar a Cultura/ Artes como um dos pilares do desenvolvimento sustentado.

Que o Sul possa dizer: presente!

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Um rasgo no desassossego - o orçamento para a Cultura 2017

20/10/2016

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Um rasgo no desassossego - o orçamento para a Cultura 2017

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Por Dália Paulo
 
Em semana de Orçamento, muito já se escreveu sobre a dotação para a Cultura. Um dado é certo: houve um reforço orçamental para a Cultura de 6,2%. Insuficiente dirão uns; incompreensível dirão outros. Irei centrar-me não na análise dos números mas em medidas de impacto a longo prazo na área cultural, porque o Orçamento é (deve ser) um instrumento para a construção de um modelo de sociedade, ser prospetivo e transformar.
Assim, neste breve apontamento (a Sul) elegi cinco aspetos do OE 2017 que, do meu ponto de vista, são verdadeiramente significativos e muito positivos para todo o território nacional e que garantirão uma maior coesão territorial e social, um reforço da cidadania e da fruição cultural:
Revisão da Estratégia e Modelo de Apoio às Artes. Urgente. Necessária. Esta revisão quer-se participada e por isso será ouvido o setor, os parceiros do mesmo e serão realizadas sessões descentralizadas de escuta. O diagnóstico há muito que está feito dirão alguns! É certo que sim, mas iniciar com seriedade esta revisão de estratégia e modelo, como a DGArtes está a fazer, implica voltar (e partir) do terreno para que a sua definição seja consistente, atual e permita trazer alguma estabilidade a um sector que, nos últimos anos, foi (quase) estrangulado. Um modelo que vai além das questões financeiras, que se quer estratégico no impacto, através do redesenho da criação e da fruição cultural, um fator significativo e significante no desenvolvimento das pessoas e do território, que se quer menos assimétrico.

Implementação do programa “Cultura para Todos”, no âmbito do Programa Operacional da Inclusão Social e Emprego. Das várias ações do programa quero enfatizar a remoção de barreiras de comunicação e a divulgação de conteúdos digitais acessíveis a pessoas com deficiência e desfavorecidas. Um trabalho essencial que tem vindo a ser feito por algumas instituições culturais mais sensibilizadas para estas questões mas que agora será trabalhado como prioridade do Estado, permitindo colocar a acessibilidade no centro da agenda política e de gestão cultural, como fator de inclusão, de igualdade e de cidadania.

Desenvolvimento de um programa de apoio às Bibliotecas Municipais, em colaboração com as Comunidades Intermunicipais. Urgente. Prioritário. Esta atenção é muito significativa da importância dada à Cultura como fator de coesão social, de conhecimento e de esbatimento de desigualdades regionais. Os fundos documentais de muitas bibliotecas municipais não são atualizados há anos o que aumenta a disparidade no acesso e a discriminação, pelo que esta medida permite a capacitação e promoção de hábitos de leitura para potenciar cidadãos mais conscientes, mais atentos e, tendencialmente, mais críticos, tolerantes e felizes.

Qualificação do setor. Tão urgente quanto necessária (e sonhada e reivindicada), beneficiará sobretudo as regiões mais deficitárias do ponto de vista da profissionalização do sector e permitirá uma democratização da oferta cultural e uma maior coesão territorial, criando condições para a fixação de profissionais do sector cultural em regiões mais periféricas, gerando “novos epicentros distribuídos pelo território” (p. 165 do Relatório do OE2017). Gostaria, ainda, enfatizar outro aspeto significativo deste referencial: a qualificação dos serviços públicos da área da Cultura é uma tomada de consciência - mais do que isso de ação - do Governo para que a descapitalização humana (sobretudo pelas reformas) seja invertida e que a transmissão de conhecimento e o rejuvenescimento dos serviços sejam assegurados.

Reorganização orgânica dos serviços e início do processo de descentralização. Esta medida é necessária porque se inscreve no novo quadro de reorganização das Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regionais. Um processo que deve ter como base uma avaliação do impacto efetivo nas instituições culturais - no serviço público prestado e na vida das comunidades - da última reorganização e descentralização (2012), ouvindo os profissionais do sector, os públicos e articulando o que deve ser uma política cultural e normativa nacional e o que pode, para ser mais eficiente, eficaz e prestar um serviço público de maior proximidade, ser descentralizado. Uma medida/ proposta verdadeiramente significativa e que a ter por base uma discussão alargada e participada terá certamente economias de escala e a criação de um tecido cultural nacional mais coerente e que servia melhor as pessoas.

Um orçamento que aposta na Cultura como motor de transformação social, de eliminação de assimetrias, de transversalidade, de devir, que vai para além dos números e que quer deixar sementes. É, acima de tudo, um orçamento que não sendo o ideal, aponta para uma viragem no que tem sido o caminho trilhado até aqui e, mais importante, com uma ideia de fundo, de base, ideológica se quiserem
!

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Grão a grão… estratégias para consolidar um tecido cultural e criativo

13/10/2016

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Por Dália Paulo

A Estratégia Regional de Investigação e Inovação para a Especialização Inteligente (RIS3) indica como área emergente para o Algarve as Indústrias Culturais e Criativas, para tornar a região mais competitiva.
Relembro aqui o conceito de ICC´s:


“Indústrias Criativas são “as actividades que têm a sua origem na criatividade individual, habilidade e talento e com potencial de criação de emprego e riqueza, através da geração e exploração da propriedade intelectual.” (in FLEMING (Tom) et al, Estudo Macroeconómico – Desenvolvimento de um Cluster de Indústrias Criativas na Região do Norte, Fundação Serralves, Julho de 2008)
 
Contudo, ao nível das Indústrias Culturais e Criativas a região encontra-se num estado embrionário de desenvolvimento, com a inexistência de polos agregadores, tanto pela ausência de fenómenos de aglomeração de agentes privados como pela ausência de investimento público nesse sentido, fulcral para o seu desenvolvimento; veja-se o exemplo (mesmo com todas as suas fragilidades) do Cluster Criativo do Norte de Portugal.
No entanto, cremos que um trabalho transversal, liderado pela Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional, pode inverter esta situação e criar condições para que as empresas que operam no sector criativo se fixem na região, até porque temos condições favoráveis de desenvolvimento quer pela existência de um mercado externo que se encontra na região (turistas), como pela existência de fatores facilitadores para que as empresas que operam nesse sector se possam constituir como fornecedores de empresas estrangeiras, deslocalizando para a região parte das suas produções (residentes estrangeiros, clima atrativo para a classe criativa e centros de conhecimento – a Universidade do Algarve). Acrescido ao facto de que estas ICC’s contribuem (ou devem contribuir) para a melhoria a regeneração urbana e para a melhoria da qualidade de vida das populações, bem como para uma forte coesão territorial e inclusão social.
 
Assim, lanço o desafio para que se possa criar conhecimento à volta das ICC’s no Algarve e que a Universidade do Algarve e a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional possam, em conjunto, promover um estudo que faça o mapeamento das ICC´s sedadas no Algarve, para que a partir daí e das dinâmicas registadas se possa verificar da necessidade de criar um Arts&Business centers ou uma ADDICT (Agência para o Desenvolvimento das Indústrias Criativas) regional.
 
Este desafio pretende ser um contributo para a atração/ fixação de criativos na região e para colocar na agenda política regional este eixo bem identificado no RIS3 e que deve unir CCDRAlgarve, Universidade do Algarve, a AMAL e as associações de empresários da região.

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A propósito de dois acontecimentos felizes desta semana: os Mirós ficam em Portugal e a inauguração do MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia)

6/10/2016

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Por Dália Paulo

Este nosso Lugar ao Sul pretende pensar este Sul sempre na sua relação com o país e com o mundo. Por isso escolhi dois felizes acontecimentos da semana (para além da quase certa eleição de António Guterres como Secretário-Geral da ONU) como mote para uma reflexão/ desafio ao Sul que envolve: Cultura, Economia e Desenvolvimento do Território.
  1. Inaugurou a exposição Joan Miró: Materialidade e Metamorfose na Casa de Serralves, com parte da coleção pertencente ao Estado Português. No primeiro fim-de-semana milhares de pessoas visitaram a exposição e no dia da inauguração foi anunciada a permanência da coleção na Casa de Serralves.
  2. Inaugurou o MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia) em Lisboa, uma obra da arquiteta britânica Amanda Levete. Um investimento da Fundação EDP no valor de 20 milhões de euros; no dia da abertura ao público contou com mais de 15 mil pessoas.
Estes dois acontecimentos servem de ponto de partida para dizer que a Cultura tem um retorno económico positivo - já vários estudos o comprovaram - que transforma e regenera áreas urbanas e promove a coesão social. Então porque é que sistematicamente temos de o afirmar? Porque é que ainda é considerada uma área lateral nas políticas de desenvolvimento? São questões para as quais as respostas são difíceis porque se prendem com razões de atraso estrutural, a que se liga uma (quase) ausência de estratégia que una cultura e educação de forma umbilical. Há caminhos feitos, é necessário reforçá-los!
Escolhi, ainda, estes exemplos para me centrar no Algarve e revisitar os finais dos anos 90, inícios dos anos 2000, quando estavam pensados (e alguns em curso, caso de Faro) três espaços (museus e centros culturais) de Arte Contemporânea para o Algarve – Faro, Tavira e Lagos. Percebe-se agora que seria uma total irracionalidade, claramente falta de estratégia regional. Nenhum deles foi construído! No entanto continuo a defender a necessidade da existência de um equipamento cultural de referência na área da Arte Contemporânea no Algarve.
Faro anunciou a intenção de apresentar a sua candidatura a Capital Europeia da Cultura 2027, a concretizar em 2017; entretanto já passou um ano desde esse anúncio e não houve (des)envolvimento público da cidade ou região.  Na semana passada Leiria apresentou a sua intenção de se candidatar à mesma data, mas, mais do que isso, deu logo a conhecer o Grupo de Missão que vai coordenar esse processo. Faro terá, certamente, a vantagem de ser a eleita porque é um critério de majoração a envolvência da região. Saibamos todos concorrer para esse desígnio.
No entanto, impõe-se a questão de saber se desde o anúncio da intenção de candidatura em 2015, Faro tem sabido (ou não) envolver a região e a cidade? Escolheu (e muito bem) como homem para fazer a necessária diplomacia externa Guilherme d’Oliveira Martins, mas não se conhece qual o envolvimento dos agentes da cultura, ou se a AMAL já oi envolvida, a Universidade estará envolvida mas sem ser conhecido qual o seu papel. Como já afirmei várias vezes este é um momento de nos unirmos, de deixar as “capelinhas” (quaisquer que elas sejam, partidárias ou outras) em torno de um projeto que pode ser verdadeiramente transformador para a região, mas, para isso, há que começar a fazer o caminho para ter capacidade de receber uma Capital Europeia de Cultura; são necessárias pessoas e equipamentos, é preciso estrategicamente o Algarve dizer presente.
Faro precisa de todos neste grande desafio, mas precisa em primeiro lugar de começar (e)afetivamente a fazer! Eu digo presente e vocês?

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Será que o Algarve não muda? (V)

1/10/2016

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Por Dália Paulo

Ou a necessidade de um ténue raio cintilante a penetrar a nebulosa

Provocação pensarão uns. Verdade anuirão outros. Creio que primeiro temos de balizar a questão: o que é que afinal não muda? O modo como nos olham e, em simultâneo, como nos olhamos, assim como a forma como nos damos a ver. É uma questão secular! Mas, mais significativo que tudo, parece ser a falta de capacidade de reivindicação/afirmação da região. Saibamos nós ter a capacidade de inverter estes pré-conceitos, que - com persistência, ação e continuidade - podemos (devemos) contribuir para a construção de um Algarve mais competitivo, atrativo e sustentável.
​
Mas o tema da mudança é tão vasto que quero eleger três áreas essenciais, porque estruturais, para a(s) mudança(s) que a maior parte de nós anseia para a nossa região: conhecimento, cidadania e cultura. 

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