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Bem-vindo

Júlio Resende é a Personalidade do Ano a Sul 2018

1/1/2019

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Créditos Fotográficos: Tomás Monteiro ​
Site de opinião Lugar ao Sul distingue pelo segundo ano consecutivo uma personalidade marcante do ano. 

Uma personalidade ímpar que em 2018 cimentou a sua posição como um dos grandes músicos da nova geração da cena cultural nacional. Júlio Resende, pianista e compositor Algarvio, teve um ano de 2018 imparável e recebe agora a distinção de “Personalidade do Ano a Sul 2018” atribuída pelo segundo ano consecutivo pelo site de opinião “Lugar ao Sul”.

Participou no Festival da Canção como compositor da música que Emmy Curl interpretou e teve a oportunidade de actuar, com Salvador Sobral, para uma audiência de milhões de pessoas em todo o mundo ao lado de um dos seus ídolos, Caetano Veloso, na final do Festival Eurovisão da canção em Lisboa.

O palco tem chamado insistentemente por ele. Seja a solo, seja em dueto com Salvador Sobra, seja através do projecto comum de ambos, a banda Alexander Search, foram muitos os concertos que o apresentaram definitivamente ao país em 2018. Ainda em 2018 Júlio Resende volta a editar um novo álbum, "Cinderella Cyborg". O Jornal Público escreve que este “é um nome em que o pianista pretende reflectir não um choque, mas um encontro entre aquilo que há de mais inocente e poético – na vida e na música –, e o lado mais maquinal e frio associado à tecnologia.”  Este seu novo álbum foi nomeado como melhor álbum português de 2018 pela plataforma Altamont e ficou ainda considerado entre os melhores discos pela equipa do Observador (jornal on-line). 

Os últimos anos tem sido intensos para Júlio Resende. Em 2007 grava o seu primeiro álbum – “Da Alma” - através de prestigiada editora de Jazz, Clean Feed, tornando-se o mais jovem músico português a editar um disco para esta editora, enquanto líder. Segue-se, em 2009, “Assim Falava Jazzatustra”, álbum que viria a ser considerado um dos melhores discos do ano pela crítica especializada. Em 2011 surge “You Taste Like a Song”, um disco em Trio, com a participação de grandes músicos tendi sido classificado com 5***** Estrelas pela Revista TimeOut. Em Outubro de 2013 lança Amália por Júlio Resende. O seu primeiro disco a solo, onde revisita algumas canções do repertório de Amália Rodrigues, iluminado pela memória e pela Voz da Diva, num dueto (im)possível no tema “Medo”. Este trabalho mereceu a melhor atenção por parte da crítica nacional e internacional. Da prestigiada Clássica francesa onde recebeu CHOC DISC***** à célebre Monocle, o consenso foi claro: este é um disco que marca e “está ao nível do que de melhor se faz pelo vasto Mundo”. Seguem-se “Fado & Further” e “Amália por Júlio Resende”. Pelo caminho ainda cria “Poesia Homónima” com o psiquiatra Júlio Machado Vaz onde apresentam poemas de Eugénio de Andrade e Gonçalo M. Tavares. De relevância assinalável é igualmente o cuidado que tem na escolha das vozes que acompanha ao piano, onde se destacam, a titulo de exemplo, para além de Salvador Sobral, Elisa Rodrigues e Sílvia Perez Cruz, com quem também já gravou.

Mas Júlio Resende não se esgota na música. Assina uma coluna de opinião na Revista Visão onde aborda temas tão diversos. O também licenciado em Filosofia é pois alguém que reflete regularmente sobre si e sobre os outros. Quando questionado recentemente pela revista Blitz sobre a forma como a Filosofia o acompanha, afirmou que o “obriga a pensar em conceitos interessantes. E a trabalhá-los bem. E tento trazer essas reflexões para o mundo musical, ainda que a música seja outra coisa, que vem depois da reflexão. A reflexão faz-se para trás, a vida faz-se para a frente, como se costuma dizer em Filosofia. E a música também.”

Júlio Resende é um profissional inspirador e os autores do site Lugar ao Sul entenderam distingui-lo, depois de em 2017 ter sido distinguido O Prof. Dr. João Guerreiro, ex-reitor da Universidade do Algarve, que foi o presidente da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias dos incêndios de 2017.

Em 2018, Júlio Resende conseguiu impor a sua marca num pais que ainda vive profundamente centralizado. Além disso entendemos que a sua forma de olhar o mundo vai ao encontro do que temos vindo a defender no Lugar ao Sul: necessitamos de mais e melhor opinião. Sobre essa ideia, Júlio Resende, tem uma frase lapidar: “As pessoas que digam coisas! Mas tentem pensá-las antes de dizer, já não seria mau.”
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A data e local da cerimónia pública de atribuição desta distinção será anunciada em breve.
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Chegou a Terceira Vaga ao Lugar ao Sul

4/11/2018

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António Gedeão cantava que o sonho é uma constante da vida.

O Lugar ao Sul, agora com dois anos, conseguiu algo que pouco acreditávamos ser possível: ter uma vida longa e robusta. É certo que já teve os seus momentos menos participados mas nunca deixou de ter actividade constante e regular. Em dois anos de vida foram produzidas mais de trezentos artigos de opinião sobre os mais variados temas e das mais variadas formas.

Tal como outros famosos e espartanos 300, marcam uma resistência. Ao alheamento, ao marasmo opinativo, crítico, reflectivo em torno do Algarve, mostrando que esta região tem pensamento e voz. Valerá o que vale, mas para nós é muito.

Não só pelo empenho e carinho emprestado a esta ideia, mas fundamentalmente porque acreditamos que conseguimos criar um fórum de opinião que tem ganho o seu espaço no espaço público regional, conciliando gente de diferentes áreas, formações e ideologias em torno de um princípio comum: o Algarve e o Sul de uma forma geral como espaço de pensamento e debate.

E, de forma imodesta, acreditamos, porque o vemos, tem vindo a conseguir contagiar a região, que hoje, mais do que há 2 anos, se olha, pensa e discute com outro vigor. Poderá não ser ainda o desejável, mas todo o caminho se inicia com o primeiro passo.

Isto importa porque a continuidade deste projecto, contra a espuma dos dias, se deve mais aos leitores que assiduamente fazem do Lugar ao Sul um site com um volume de visitas invulgar para uma plataforma deste género – fora dos grande centros urbanos e longe dos grandes centros de poder – do que aos autores que o realizam todos os dias. É pois devido um grande agradecimento a todos vós que, pelas mais variadas razões, nos vão acompanhando, que nos lêem, que nos elogiam e nos partilham, mas também aquelas que opinando criticam. São todos vós a fasquia que nos ajuda a elevar o debate.

Obrigado. 
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Outro factor que tem contribuído para o sucesso do Lugar ao Sul é a capacidade que tem tido para chamar a si novos protagonistas. Em 2017 uma segunda vaga de “habitantes” assentou arraial neste “Lugar” e duplicou a nossa densidade de opinar. Agora, já com dois anos e uma curta mas importante história, é tempo de dar as boas vindas a uma terceira vaga de novos elementos.

É também tempo de dizer até já a outros, que deixaram de escrever, pelo menos regularmente.

Sem a sua disponibilidade e a sua entrega, este projecto que, recorde-se, nada mais é que um acto de cidadania activa sem qualquer propósito comercial, não seria possível.

Por isso, ao Pedro Pimpão, à Dália Paulo, ao João Fernandes e à Joana Cabrita Martins, o nosso muito obrigado por terem acedido fazer esta viagem connosco. E, sempre que a queiram continuar, as portas deste vosso Lugar ao Sul estarão sempre abertas para vos receber.

Aos novos elementos, damos as boas vindas e dizemos que contamos com eles para continuar a inquietar mentes, agitar águas e criar ideias e novos pensamentos.

Entram em cena a Patrícia de Jesus Palma, a Anabela Afonso, a Luísa Salazar, o Paulo Patrocínio Reis, a Vanessa Nascimento, a Ana Gonçalves, o Dinis Faísca e a Sara Fernandes.

Conheçam um pouco mais sobre todos, carregando aqui. O restante muito que há a descobrir, conhecerão através dos seus textos.

Esta é a nova vida do Lugar ao Sul.

O propósito é o de sempre: um sentido a Sul, contribuindo para o debate e crescimento deste território. 
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2 anos neste Lugar

1/10/2018

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Por Lugar ao Sul

O Lugar ao Sul completa hoje 2 anos de existência.


São 2 anos a tentar contribuir para uma reflexão crítica em torno do Algarve, das suas dinâmicas, dos seus problemas, do seu tremendo potencial, de tudo o que permita a construção do seu futuro, em moldes de maior prosperidade, equilíbrio e, acima de tudo, felicidade para todos os que aqui vivem, trabalham e nos visitam.

Este esforço nem sempre é fácil, e nem sempre o conseguimos.

Mas não paramos. Nem desistimos.

E porque não há 2 sem 3, iniciamos este novo ano preparando novidades que em breve serão partilhadas.

Entretanto, boas leituras!
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Lugar ao Sul nas conferências "O Algarve, Portugal e o Futuro"

8/3/2018

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Por Lugar ao Sul

Dando continuidade àquela que é já uma tradição, o Lugar ao Sul voltou a marcar presença no ciclo de conferências “O Algarve, Portugal e o Futuro”, organizado e dinamizado pela editora algarvia Sul, Sol e Sal, e pelo Rotary Club de Faro.

Desta vez, a nossa Dália Paulo, tal como a nossa convidada Lídia Jorge, fez parte do painel que discutiu as perspectivas e desafios que se colocam à Cultura no Algarve, no sentido da sua plena afirmação como pilar fundamental da identidade da região e alicerce para a construção do seu futuro.

E, claro está, com o apoio dos restantes a partir da bancada.

No Dia Internacional da Mulher, a Dália promoveu uma excelente representação das mulheres deste nosso Lugar, que demonstram e afirmam (para os muito distraídos que ainda possam ter dúvidas), no seu dia-a-dia, nos seus diferentes papéis sociais, a mais-valia indispensável que é poder contar com a participação feminina no pleno usufruto dos seus direitos, livre de preconceitos e injustiças,  em autêntica equidade. 

Também uma saudação muito especial à organização, pela iniciativa que em boa hora materializaram e que claramente vai conquistando o seu espaço como acontecimento de referência no panorama do debate do carácter, momento e devir algarvio.

Até à próxima!
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Adeus a Carlos Silva e Sousa

23/2/2018

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O Lugar ao Sul interrompe-se pela dor e pela consternação.

Hoje o nosso sal é de lágrimas, no adeus a Carlos Silva e Sousa, o Presidente da Câmara Municipal de Albufeira.

Servidor público, voz crítica numa região que sonhou e defendeu, com convicção política de regionalista.

Neste Algarve, que lhe corria nas veias, plantou vinha, semeou valores e simplicidade. Parte, e deixa a colheita e os ensinamentos, em favor de um território e de uma família que sempre valorizou.

À família, a equipa do Lugar ao Sul endereça sentidas condolências.

Ao Carlos, um abraço, e até um dia.
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João Guerreiro propõe a criação de um fundo de coesão regional com base nas receitas das transações imobiliárias da região

7/2/2018

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Presidente da comissão técnica independente que analisa os incêndios do ano passado, recebeu a distinção de “Personalidade do Ano a Sul – 2017” atribuída pela plataforma de reflexão “Lugar ao Sul”
Um fundo de coesão regional para o Algarve, criada pelas autarquias e absorvendo parte das receitas do Imposto Municipal sobre as Transmissões de Imóveis. Foi esta uma das grandes ideias que o Professor Doutor João Guerreiro deixou a uma plateia de cerca de meia centenas de convidados que assistiram no passado dia 05 de Fevereiro a entrega da distinção “Personalidade do Ano a Sul – 2017” organizada pela primeira vez pela plataforma de reflexão “Lugar ao Sul”.

Numa intervenção pautada pela necessidade de afirmação regional do Algarve, a proposta de João Guerreiro visa a concretização de um conjunto de investimentos regionais de base supramunicipal, não dependentes de ciclos políticos autárquicos ou legislativos. A ideia, segundo explicou, seria criar um fundo que pudesse levar a efeito projetos de investimento que por um lado são estruturantes mas também outros que possam esbater as assimetrias existentes dentro da própria região. Seria um fundo que teria de beneficiar adicionalmente da participação de recursos nacionais e comunitários.
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Com diversos presidentes de câmara na plateia, com o Reitor da Universidade do Algarve, com diversos dirigentes regionais, com um conjunto de pessoas de referência em diversas áreas da vida da região e ainda com o presidente da AMAL, Jorge Botelho, ao seu lado, o ex-reitor da universidade do Algarve interpretou a distinção que lhe estava a ser atribuída como uma necessidade de debater mais a região mas ao mesmo tempo de criar pontes que permitam que possamos ser mais concretizadores.
A plataforma de reflexão “Lugar ao Sul” que numa base regular produz textos de opinião no site www.lugaraosul.pt entendeu atribuir esta distinção ao Professor João Guerreiro não apenas através do trabalho realizado nos diversos cargos de responsabilidade que ocupou no passado, desde a presidência da então Comissão de Coordenação Regional do Algarve à Reitoria da Universidade do Algarve, mas também pelo seu pensamento e ação enquanto cidadão. De resto foi esta amplitude de pensamento que norteou a intervenção de Idálio Revés, jornalista do Público, que fez uma resenha da vida do Professor João Guerreiro.

Em 2017, na sequência dos dramáticos fogos da zona de Pedrógão e também dos incêndios de Outubro, João Guerreiro foi a pessoa a quem foi atribuída a missão de coordenação da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias e também pela elaboração de propostas para o futuro da organização institucional, territorial e operacional do País.
Este inequívoco reconhecimento a nível nacional da capacidade e competência do Prof. João Guerreiro constitui uma nota de prestígio para o Algarve, e também mote para uma reflexão interna, pois é de uma das regiões mais carenciadas ao nível do ordenamento e competitividade territorial que é escolhida a pessoa a quem incumbe uma das mais profundas e graves tarefas nesse capítulo, quando as suas ideias nem sempre têm a merecida e devida atenção a Sul.

A cerimónia contou com o apoio da Câmara Municipal de Tavira e na ocasião o seu presidente, Jorge Botelho, enalteceu a ideia desta distinção defendendo a ideia da necessidade de termos mais reflexão regional pois só assim conseguimos criar as condições para o crescimento e desenvolvimento do Algarve.
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O Lugar ao Sul faz 1 ano!

1/10/2017

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365 dias. 52 semanas.

​Mais de 300 publicações. Mais de 190.000 visitantes únicos. Mais de 330.000 visualizações de página.

Ou, como preferimos dizer, um bom começo.

O Lugar ao Sul completa hoje um ano de existência. Obrigado a todas as pessoas que fazem dele um ponto de encontro, reflexão e participação.

André, João, Filomena, Cristiano, Bruno, Luís, Dália, Pedro, Sara, Hugo, Joana e Gonçalo
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Vozes antigas do Algarve chamam por nós!

10/8/2017

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Por Dália Paulo

Nosso querido mês de Agosto! Tempo de descanso para muitos e de rumar a sul para umas merecidas férias. Nós por cá gostamos muito de vos receber e, como bons anfitriões, queremos que visitem o que de melhor temos para vos mostrar. A nossa História, os nossos Monumentos e a nossa Cultura são aquilo que nos distingue e que temos imenso orgulho em partilhar. Faço-o aqui como um convite a viver e sentir o nosso Património, assim como a (re)descobrir alguns dos locais mais emblemáticos da história nacional - a Fortaleza de Sagres, entre muitos outros de Aljezur a Alcoutim!
De uma das nossas vozes algarvias de maior relevo, Nuno Júdice  num poema belíssimo sobre nós (algarvios), dito por Afonso Dias e inspirado nos Monumentos do Algarve, leva-nos numa viagem de sentidos e sensações através das gentes que ao longos dos séculos aqui viveram .
Estas vozes do Algarve,  de hoje e de ontem, desejam-vos umas ótimas férias e bons momentos com o património natural e cultural algarvio.


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Em tempo de férias e de feiras do  livro...                                                   “Visita Guiada ao ofício do Ator: um método” de António Branco

27/7/2017

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Por Dália Paulo

Nos meses de verão um pouco por todo o Algarve há feiras do livro, e, por outro lado, temos mais tempo para o prazer da leitura nos dias de férias. Por isso resolvi dedicar este apontamento ao livro Visita Guiada ao ofício do Ator: um método de António Branco.

Proponho partilhar a minha visita guiada à obra, porque como Manuela de Freitas nos interpela no posfácio “há mais coisas para além do que se mostra” e que a visita depende “sempre do guia”. Mais do que um livro sobre um método, eu diria que é um livro sobre opções de vida, sobre ética e sobre política. Um livro escrito por um professor, um ator, um homem implicado com o seu tempo, que revela uma profunda generosidade na partilha de um método. Um livro de memória futura e de agradecimento à mestre - Manuela de Freitas, situando-nos a sua atuação numa longa duração. Um livro de novidade mas com a profunda humildade de valorizar os que contribuíram para que hoje este seu método seja uma realidade. Uma obra que nos mostra um autor profundamente Humanista, de uma entrega à vida e de gratidão para com os outros.

Nas palavras de José Trindade dos Santos, que realiza o prefácio, começamos a sentir o que vai ser a leitura do livro com perguntas como “Como pode a minha autenticidade tolerar a intrusão da diferença?”. Esta questão essencial – a da autenticidade - é o tema central do livro, a mesma é aqui entendida como “expressão explícita da verdade individual, sem a descoberta da qual, na tradição em que me revejo (…) o contrato teatral não se cumpre”. São duas maneiras de fazer teatro, de ser ator e de estar implicado na vida, no fundo dois modos de vida que têm como base uma opção ética e estética.

Na linhagem em que o autor se insere fui, ao longo do livro, revisitando as minhas referências pessoais, quando se cita a carta de Shchepkin a uma jovem atriz que diz “para essa pessoa tudo o que interessa ao homem lhe importa” imediatamente me veio à memória a frase de André Malraux no livro Museu Imaginário (um clássico de 1947) quando afirma “o museu é um dos locais que nos proporciona a mais elevada ideia do homem”, posso dizer que esta linha comum ao livro e ao ser museólogo (que sou) me acompanhou em toda a leitura. Até porque o conceito de autenticidade é, igualmente, um conceito muito caro aos museólogos e historiadores, para nós este está definido na Carta de Cracóvia (2000) como “o somatório das características substanciais, historicamente provadas, desde o estado original até à situação actual, como resultado das várias transformações que ocorreram no tempo.” E este método assente na autenticidade que António Branco nos ensina também ele se baseia num somatório de características e nas suas transformações que ocorrem no tempo, o tempo longo desta linha da autenticidade é uma marca que o autor nos quer mostrar e vincar em toda a obra.

Continuando na visita guiada à obra, uma frase que não nos deixa indiferentes “A criação artística não se compadece com consensos e conciliações (…) é na radicalidade das escolhas éticas, estéticas e técnicas do artista (…) que assenta a possibilidade de criação” mais importante quando estamos perante um método para estudantes de teatro não atores.

Há dois conceitos ainda não abordados e que se relacionam com a terceira parte deste livro e com a experiência desenvolvida pelo grupo de teatro A PESTE: comunidade e cidadania, ou seja “o teatro como partilha comunitária e prática cívica em benefício da comunidade”. Um grupo que nasce a partir da Academia, pelo que se impõe recorrer a Steiner “Ensinar com seriedade é lidar no que existe de mais vital num ser humano” e isso percebe-se na seriedade do autor, quer ao longo do livro quer acompanhando o seu trabalho d’A PESTE.

Uma ideia forte que António Branco passa em todo o livro “fazer teatro desse modo é escolher um modo de estar na vida” e o “teatro como instrumento de análise da sociedade”, dando a conhecer um método implicado com o seu tempo, de questionamento, de partilha, de autenticidade, de fazedores de teatro, de coletivo. Tudo isto nos vai sendo contado na longa duração da linhagem e, depois, no pormenor do hoje, da prática em contexto académico e na prática de um grupo teatral, que ao fazer uma peça está a “apresentar um testemunho comprometido com a realidade”.

Quero terminar com uma citação de Steiner, incluída na obra, que diz “Os mais afortunados entre nós conheceram Mestres genuínos” e creio que posso afirmar, sem ter sido aluna (no sentido formal do termo) de António Branco que estamos perante um professor excecional e um mestre genuíno e que somos mais felizes por isso.

Boas leituras e boas férias!

 
 
 
 
 
NA: Este texto é o resumo da apresentação da obra que realizei na Biblioteca da Universidade do Algarve.


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Cidades e sonhos: uma nova ferramenta participada para orientar políticas nacionais, regionais e municipais

13/7/2017

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Cultural and Creative Cities Monitor

Por Dália Paulo

Em Portugal, num período em que as cidades estão em ebulição com as campanhas eleitorais autárquicas, é frequente que muitas propostas para as cidades assentem apenas num conhecimento empírico, faltando amiúde dados concretos sobre o real impacto das medidas a propor e sobre as oportunidades a desenvolver. Na área cultural essa é uma realidade gritante, no nosso país essa carência aumentou com a incompreensível decisão do anterior Governo de extinção do Observatório das Atividades Culturais em 2013.

É comummente aceite que a cultura e a criatividade desempenham um papel económico e social forte na sociedade, desde o tão falado estudo do professor Augusto Mateus (2009) até aos estudos mais recentes Cultura 2020 (2013). Contudo, a nível local têm faltado dados concretos para influenciar as políticas locais. Em período de refletir sobre as cidades atente-se na chamada de atenção do professor Pier Luigi Sacco (especialista em Economia da Cultura, Universidade de Harvard):

[…] culture and creativity indeed play a role in promoting local prosperity at many levels, and it probably could not be other­wise in knowledge-intensive economies and societies like the ones of today, and not only in Europe. This seems to be particu­larly true […] for cities in transition that are currently re-thinking their local development model.

Numa altura em que as cidades se redesenham e repensam os seus modelos de governação é importante conhecer a nova ferramenta que a Comissão Europeia, através do Joint Research Centre, disponibiliza para monitorizar as cidades - Cultural and Creative Cities Monitor - que tem como objetivo “promover a troca de experiências entre cidades para impulsionar o desenvolvimento liderado pela Cultura” de modo a orientar as políticas locais, regionais e nacionais. Nesta 1.ª edição foram analisas 168 cidades de 30 países, sendo 93 Capitais Europeias da Cultura, 22 Cidades Criativas da UNESCO e 53 cidades que acolhem festivais internacionais de cultura. Portugal participa com 4 cidades – Lisboa, Porto, Guimarães e Coimbra. A performance das cidades é medida através de dados quantitativos e qualitativos e abrange três áreas:
- Vibração Cultural – mede o “pulso” da cidade em termos de infraestruturas culturais e participação cultural;
- Economia Criativa - verifica como o sector cultural e criativo contribuiu para o emprego na cidade e a criação de emprego, assim como capacidade de inovação;
- Ambiente Favorável – identifica os ativos materiais e imateriais que ajudam as cidades a atrair talentos criativos e a estimular o compromisso cultural.


Com o objetivo de apoiar os decisores políticos, esta nova ferramenta identifica as forças e as oportunidades das cidades e proporciona o benchmarking entre cidades, possibilitando que se tornem mais competitivas e complementares, bem como promovendo boas práticas. Pela primeira vez teremos indicadores (a nível de cidade) para medir o valor e o impacto da cultura e da criatividade de uma forma sistemática e comparável na Europa (uma vez que não existiam métricas partilhadas, nomeadamente ao nível de cidade).

Quando se desenham programas eleitorais, também para as cidades de pequena e média dimensão, importa conhecer esta nova ferramenta, proporcionando novas abordagens e novas formas de conhecimento, pensamento e gestão da cidade, tendo como polo dinamizador a Cultura. Dos dados conhecidos da edição de 2017, verifica-se que em 50 países, cidades de média dimensão (que não são as capitais) apresentam uma melhor performance, nomeadamente no grupo “Vibração Cultural”; este dado possibilita a criação de estratégias de longo prazo, visões de futuro para as cidades que as transformem a partir da cultura e da criatividade. Exige-se planeamento, ação, resiliência e tempo(s)!

Esta nova ferramenta deve tornar-se um instrumento de trabalho útil, continuado e questionador para autarcas e gestores culturais de cidade, permitindo que a sua ação possa ser (con)testada, experimentada e avaliada, possibilitando uma gestão mais implicada, eficaz e eficiente, assim como uma gestão integrada num quadro Europeu e de globalização. Nesse sentido o Cultural and Creative Cities Monitor apresenta-se como uma ferramenta “viva” que em 2018 vai lançar uma aplicação móvel para cidadãos nacionais e turistas para que possam dar a sua opinião sobre o potencial criativo e cultural da cidade, de forma a completar os dados qualitativos e, acima de tudo, para dar voz aos cidadãos. A atualização dos dados da primeira edição terá lugar em 2019.

Este medidor pretende inspirar e promover o estudo sobre o papel da cultura e da criatividade nas cidades, assim como dar relevância à questão do emprego, contribuindo para promover o trabalho nas áreas cultural e criativa.

Para quem estuda, gere e gosta de cidades é um instrumento fundamental para acompanhar, usar e contribuir para a sua melhoria!


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Estamos a crescer

12/7/2017

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NA ALMA ALGARVIA: O ENCONTRO COMO PATRMÓNIO

29/6/2017

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Dália Paulo convida António de Freitas  

O Lugar ao Sul iniciou em Dezembro a publicação de um conjunto de textos de autores convidados. Hoje cabe-me a mim fazer mais um convite. Convidei o padre António de Freitas, como voz ativa e atuante junto das populações, como um pensador que nos questiona e que contribui para derrubar barreiras e preconceitos, ajudando-nos a construir um Algarve mais tolerante. Estamos gratos pela colaboração e por tornar este Lugar ao Sul mais abrangente.

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Se há coisas (e há muitas certamente) que dão sentido à vida, enriquecendo-nos como seres humanos, uma delas é, sem sombra de dúvida, o encontro: encontrar quem amamos, encontrar os outros, encontrar o que desejamos; deixarmo-nos encontrar por quem nos quer descobrir, abrindo a nossa vida à tensão da hospitalidade de quem deseja abrir a sua existência ao outro, mas suspende-se esperando a sua reação; encontrarmo-nos a nós mesmo na trama da vida, às vezes tão dispersiva e caótica. Encontrar, encontrar-se, deixar-se encontrar…
O Algarve é, precisamente, essa terra de milenares encontros. Terra que nasce e se recria constantemente dos e com os encontros e reencontros – a História narra-o com clarividência. Tem sido nesta cultura de encontros que se vem lavrando e fazendo germinar o modo de ser do Algarve e das suas gentes. E tem sido nesta cultura de encontros que se vem rasgando sempre e de novo, entre ondas e tempestades, a esperança de novas eras para a nossa região. Civilizações, culturas, gentes, religiões encontraram-se aqui. Mas, sobretudo, encontraram no Algarve e nas suas gentes um espaço de encontro para si e entre si. Nós somos fruto destes encontros (nem sempre fáceis e nem sempre compreendidos), mas, antes de mais, temos sabido ser hábeis artífices de encontros: entre nós mesmo e com os demais. E é isso que faz também o mundo encantar-se há muito pelo Algarve que somos nós. Hoje (um hoje que já leva algumas décadas), o mundo, a que antes já tínhamos ido ao encontro, encontrou-nos e encontrou-se no Algarve.
Hoje, o mundo mudou muito e o Algarve também mudou bastante. Hoje, o mundo tem uma capacidade de compra e investimento nunca vista e o Algarve recriou um património imenso que pode vender a todo o mundo. Mas o encontro de alma abertura, daquilo que somos, com os que nos visitam não se mercantiliza: esse partilha-se, implica-nos, compromete-nos. Não é algo que se dá fora de nós mesmos, mas dá-se-lhes dando-nos.
Tenho tido a possibilidade de percorrer alguns países e nestes últimos dois anos vivi longe do Algarve. A verdade é que, sempre que regresso por breves períodos, experimento a beleza do encontro com as nossas gentes: o sorriso, o acolhimento, a hospitalidade, a partilha das coisas mais simples e mais essenciais da vida… sinto-me encontrado e encontro o que me faz sentir ser eu mesmo. O calor do sol sente-se nas relações, nos braços abertos, nas vidas recontadas e cúmplices. A brisa marítima sente-se no acolhimento, no aconchego, no sorriso que nos refresca e refaz a alma. Além disso, quem faz a experiência de viver fora e ouve falar do Algarve, por gentes que o visitou, orgulha-se de perceber que de entre muitas coisas, o que mais encantou foi o modo como acolhemos, a simpatia, o trato delicado, o tempo que foi dado e não apenas vendido, o conhecer alguém que até lhes abriu a porta de casa… é o encontro como património que não se vende, nem se mercantiliza nalgum pacote de férias, mas que vai na bagagem da vida e do coração dos que nos visitaram. Porque, afinal, como escreveu alguém, «Aqueles que passam por nós, não vão sós, não nos deixam sós. Deixam um pouco de si, levam um pouco de nós».
É este Algarve que eu amo e é este Algarve que espero reencontrar sempre: este Algarve com alma, a alma de uma gente que, criativamente, se faz encontro e onde o encontro, com o que se é, é o seu maior património que originou outros patrimónios e tesouros. Como afirmou há pouco tempo Doug Lansky, referindo-se às gentes de outro país: «Eles não tem todas as melhores praias do mundo ou o melhor clima do mundo. O que eles têm é a identidade […] Eles têm aquela atitude um pouco protecionista da sua identidade e as pessoas vão lá para estar perto isso».
Hoje, como nunca (e ainda bem), trata-se de dar a conhecer e explorar o património cultural, o património religioso, o património ecológico, o património arquitetónico, o património gastronómico, etc. Mas a base de tudo isto não será o património humano, isto é, a alma das gentes? Que os primeiros, no nosso caso algarvio, nunca apaguem este último. É preciso cuidar sempre do património humano que somos e da identidade que temos. É urgente passar e sensibilizar as gerações vindouras, porque como afirmou Pedro Crisólogo: «os que passaram viveram para nós, nós para os vindouros e ninguém para si».
O que temos para dar pode ser o ponto de partida. Contudo, o que somos para partilhar, na essência dos encontros, deve ser sempre o ponto de chegada.

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escrytos

17/6/2017

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O Lugar ao Sul pretende ser um espaço de partilha, de reflexão, de (des)encontros mas, acima de tudo, um lugar de  criação de pensamento a Sul. Por isso, convidámos Ana Isabel Soares, professora da Universidade do Algarve, para escrever sobre o livro  escrytos de Paulo Pires, que reúne crónicas escritas na imprensa regional desde 2013 a 2017.

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Por Ana Isabel Soares

A editora Arranha-Céus, recente contraponto da Abysmo, lança o terceiro volume da coleção Doença Crónica. Escrytos: Crónicas e ensaios sobre cultura contemporânea (2013-2017) reúne ensaios e crónicas que Paulo Pires tem vindo a publicar, desde 2013, em jornais da região. A recolha em livro tem vantagens visíveis. Permite, por exemplo, a imediata continuidade dos ensaios mais longos (que, por imposição de espaço, saíram parcelados nas publicações periódicas) - e só isso bastaria para saudar o acréscimo de clareza à leitura destes textos já de si lúcidos, fluídos e clarividentes. É o estimulante pensamento de um cronista que transparece neste livro: mas de um cronista de espécie singular, pois escreve nas condições de programador cultural, que desde há anos assume no Algarve, e de criador. De 2002 para cá, Paulo Pires tem trabalhado intensamente junto de instituições como o Museu do Traje, em S. Brás de Alportel, o Centro de Estudos Ataíde Oliveira da Universidade do Algarve, a Fundação Manuel Viegas Guerreiro, ou o Município de Silves, e é o atual programador, na área das artes performativas, do Município de Loulé. Esta ligação profunda à programação cultural, quer como agente dinamizador, quer como criador (de música, teatro, ou microficção, para referir apenas algumas das áreas em que já desenvolveu projetos) faz de Paulo Pires uma das mais autorizadas vozes na reflexão sobre as questões que se colocam à ação cultural, nomeadamente numa região fora dos grandes centros de decisão. Mas a autoridade que lhe é reconhecida não lhe remete a voz para um lugar de conforto, para estabilidade nenhuma: em vez disso, a leitura dos textos Escrytos revela um desassossego constante, instigador e frequentemente provocatório - característico, afinal, das desinquietas almas que têm a cultura como razão de ser (pobres almas, que a si mesmas se açoitam com a ironia que Paulo Pires recorda, através do poema de Rui Pires Cabral, que oferece como epígrafe do livro).

São três as secções pelas quais se distribuem as crónicas: “Artes Performativas”, “Bibliotecas, Livros, Leituras” e “Cultura, Programação, Sociedade”. Sendo mais uma das vantagens de estarem assim coligidos os textos, esta arrumação apenas ilude o teor transversal de cada texto. Em todos eles se escreve, afinal, porque se pensou, de uma maneira abrangente, sobre cultura contemporânea. O eixo a partir do qual se pensaram e se escreveram estas crónicas é o Algarve: o que faz a cultura, na época da globalização, num lugar restrito? Como se constrói, num lugar concreto, a atual cultura do global? No fundo, as reflexões de Paulo Pires resultam do lema “Pensar globalmente, agir localmente”. Isto é, o seu interesse não é a mera deambulação conceptual ou filosófica, nem só o intelectual entretém - o que, a ser, teria já o grande valor de um exercício da maior das faculdades humanas; ultrapassado esse deleite, por causa dele e paralelo a ele, a insatisfação da alma procura modos de aplicar o que o pensamento permitiu. É assim que os olhares universais de Gilles Lipovetsky, Paulo Freire ou George Steiner se articulam com o modo como José Afonso, Sophia de Mello Breyner, Amália, ou Miguel Torga (para referir apenas alguns dos “forasteiros”) entenderam e viveram o Algarve, e com as propostas concretas para a região. Exemplo deste raciocínio rizomático, de ligações e de redes que a leitura tece, é a insistência na necessidade de parcerias e de maior aproximação entre os vários municípios algarvios, na tentativa de projetos comuns. No entender de Paulo Pires, essa união fará a grande força cultural do Algarve: a conclusão, a que chega em muitas das crónicas que agora se podem (re)ler, não resulta apenas do seu olhar crítico para o que lhe está quotidianamente próximo: é o licor destilado desse olhar com o alcance maior que reconhece nas leituras de quem, não estando necessariamente familiarizado com a realidade algarvia, faz mister do pensamento sobre o que é humano. 

 Escrever, fixar o vocabulário do pensamento, é uma atitude de resistência ao adormecimento cultural ou à aceitação das sucessivas crises (que sempre vêm). Paulo Pires, escrytor, oferece aqui o seu contributo para contrariar aquilo a que, em “Vocabularies of the economy”, Doreen Massey chamou a “hegemonia do neoliberalismo”, nas pérfidas consequências que impõe às várias formas de manifestação cultural dos povos.

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LOULÉ. Territórios, Memórias e Identidades

15/6/2017

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Por Dália Paulo

Quando se inicia um período de férias Loulé inaugura, a 21 de junho, no Museu Nacional de Arqueologia uma exposição com mais de sete mil anos de história!

Neste apontamento podia escrever sobre vários aspetos da exposição, mas escolhi apenas enfatizar dois: as relações centenárias entre o Museu Nacional de Arqueologia e Loulé e como uma exposição de arqueologia pode ser contemporânea.

O Algarve sonhou desde cedo, pela mão de Estácio da Veiga, criar um Museu Archeologico do Algarve. Ideia concretizada em 1881 com a abertura do Museu Archelologico do Algarve mas em Lisboa, numa dependência da Sociedade Nacional de Belas Artes. Museu de curta vida mas de muita luta de Estácio da Veiga, até à sua morte em 1891, para trazer a coleção de volta ao Algarve e fundar o Museu Archeologico do Algarve em Faro, tendo para isso criado o Instituto Arqueológico do Algarve, mas esse desiderato não viria a concretizar-se. E, assim, a coleção do Museu Archeologico do Algarve foi uma das coleções fundacionais do Museu Nacional de Arqueologia fundado por José Leite de Vasconcelos, tendo integrado o seu acervo em 1894, dessa coleção faziam parte vários bens patrimoniais de Loulé.

A segunda ligação entre o Museu Nacional de Arqueologia e Loulé acontece numa data histórica, 25 de Abril de 1974 quando o etnógrafo Manuel Viegas Guerreiro, natural de Querença, assume o cargo de Diretor do Museu Nacional de Arqueologia, tendo sido um dos colaboradores mais próximos de José Leite de Vasconcelos e um dos mais proeminentes estudiosos e continuador da sua obra.

Anos mais tarde, quando se inicia o processo de constituição do Museu Municipal de Loulé, para o núcleo de Arqueologia, são cedidos, em meados da década de 90 do século XX, pelo Museu Nacional de Arqueologia alguns desses objetos arqueológicos, que ainda permanecem em depósito em Loulé.

E já neste milénio, a 30 de maio de 2015 inaugura a exposição Quem nos escreve desde a Serra? e a instalação da artista Ângela Menezes, na entrada do Museu Nacional de Arqueologia, na Praça do Império e dá-se inicio ao projeto que deu origem à exposição LOULÉ. Territórios, Memórias e Identidades.

O outro aspeto que quero partilhar é a ideia de como uma exposição de arqueologia pode ser contemporânea ou contribuir para a nossa vida hoje. É contemporânea na forma como está pensada, na museografia que irá certamente impressionar uns, cativar outros e, ainda, inquietar outros tantos. É contemporânea porque trabalhou as questões da acessibilidade para chegar a diferentes públicos. É contemporânea porque permite trabalhar o Património Cultural na sua relação com o desenvolvimento local, com a criação de conhecimento, com a valorização patrimonial, como ativo para potenciar o Turismo Cultural no território ou como põe em valor o papel dos louletanos que ao longo dos tempos e hoje ainda preservam o património cultural, como factor identitário, de memória mas, acima de tudo, de pertença, de vida e vivência. É precisamente neste ponto que está, em nosso entender, o aspeto que pode ser o que torna a exposição LOULÉ. Territórios, Memórias e Identidades verdadeiramente contemporânea, porque nos põe em confronto com mais de sete mil anos de história, com uma longa diacronia que nos impele a posicionar, a questionar e a pensar a evolução dos lugares, dos territórios e da relação entre as pessoas quebrando preconceitos do eu e do outro, percebendo os contactos milenares entre povos, relativizando mudanças e pondo em foco transições e continuidades.

Aqui somos confrontados com os cuidadores de património e percebemos que ser louletano não é só por nascimento mas por opção, que quem veio de fora cuida, conserva e vive tão intensamente as paisagens culturais louletanas como quem vive há gerações neste território.

LOULÉ. Territórios, Memórias e Identidades são as estórias de mais de sete mil anos contadas através de meio milhar de objetos e dos seus doadores e guardiões.

Boa visita!


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Novas tendências e onde fica a administração pública?

1/6/2017

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Por Dália Paulo

Estamos num momento em que parece comummente aceite que as palavras – colaborativo, transversal, intersectorial, redes – são a chave para o sucesso do desenvolvimento territorial. Por outro lado, confrontamo-nos com orgânicas administrativas que (ainda) na sua maioria não se adaptaram a estas novas dinâmicas, mais fluidas, de geometria mais variável, que se moldam a projetos e não a uma rigidez organizativa e/ou administrativa.

No momento em que as autarquias se repensam para eleições, em que a descentralização já não é uma miragem mas está a ser analisada pela ANMP (Associação Nacional de Municípios Portugueses) seria muito bom que houvesse um movimento inovador, disruptivo e, porque não, também criativo que pensasse novas orgânicas para a administração local, mais horizontais, que permitissem uma mais fácil adaptação às prioridades e necessidades das pessoas e que as colocassem no centro da decisão, através de um processo participativo que as implicasse e “empoderasse” na decisão e na vida das cidades. Estou a falar de um verdadeiro aprofundamento da cidadania, não estou a referir-me aos OP (Orçamentos Participativos) que são importantes mas a processos de co-decisão, por bairro, em que de forma partilhada se coloca no centro da governança a proximidade da ação e da decisão.

No sistema atual existem vários Conselhos Consultivos de diversas áreas – Juventude, Cultura, Desporto, Social – que têm na sua maioria uma eficácia diminuta e perpetuam relações de poder entre a administração e os cidadãos. É preciso repensar estes órgãos e torna-los mais ágeis, mais transversais e, acima de tudo, mais participados.

A Cultura pode ser o motor para esta transformação de modos de fazer, de pensamento transversal da cidade, de criação de novos olhares e de múltiplas centralidades. Não se trata de instrumentalizar a Cultura mas colocar as suas ferramentas ao serviço do desenvolvimento integrado de um território. Da criação de curadores de cidade (de bairro, de rua) que possam, em conjunto com urbanistas, paisagistas, arquitetos, sociólogos, arqueólogos, geógrafos, museólogos, artistas, cidadãos e decisores políticos, intervir na cidade com conhecimento, com proximidade e com tempo. Isto implica uma visão estratégica e um alinhamento funcional para gerir o território, implica saber ouvir, construir coletivamente, aprofundar o conhecimento e sair da zona de conforto.

Convocar o olhar da cultura e da arte para planear a cidade é inovação, é criatividade mas acima de tudo é ganhar ferramentas que permitem construir soluções diferenciadoras, ágeis e que proporcionam, ao mesmo tempo, bem-estar social e paisagens culturais mais humanizadas, cuidadas e seguras. Este tipo de abordagens é pouco comum em Portugal mas faz-se na Europa e aqui bem perto de nós Bota Filipe do Centro ZEFA (Almancil) tinha um projeto pioneiro, inovador e valioso para a melhoria do ambiente urbano, que consistia em criar equipas pluridisciplinares que com o olhar de um artista fizessem uma radiografia aos bairros, ruas, aldeias e cidades e com pequenas equipas de intervenção fossem olhando aos pormenores que, normalmente, fazem a diferença e que fossem transformando a cidade numa cidade cuidada e com Arte.

Estas notas soltas pretendem ser contributos para as muitas reflexões que por estes dias se fazem (ou devem fazer) para as cidades e concelhos, porque são precisas propostas que vão para além do visível ou do expectável.

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Hoje é Dia Internacional dos Museus, vivam os Museus!

18/5/2017

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Por Dália Paulo

Hoje é Dia Internacional dos Museus, celebração promovida desde 1977 pelo Conselho Internacional de Museus (ICOM). Este ano o tema para celebração e reflexão é Museums and Contested Histories: Saying the Unspeakable in Museums, que foi traduzido para português como: Museus e histórias controversas: dizer o indizível em museus.

Há sempre histórias que ficam e ficarão por dizer. Por medo. Por pudor. Por desconhecimento. E isso é mau? Tudo poderá ou deverá ser dito? Se sim porque o museu holandês Rijksmuseum está a refazer legendas e a ocultar palavras como “negro”, “mouro”, “escravo”? Respeito pela diversidade, pela humanidade não espartilhada ou apagamento da memória? Este é um tema controverso e não consensual entre os profissionais de museus. As palavras ditas ou escritas importam, marcam, têm significado e criam significados. E quando temas controversos têm (devem) de ser trabalhados na atualidade, a escravatura, a homofobia, a igualdade de género, os refugiados, o terrorismo, a pobreza, que palavras utilizamos, eufemismos? Não são os museus casas da resiliência, da transformação e tolerância mas também de interrogação e de permanente inquietação. Devem ser!

Contudo, mais do que a reflexão neste dia privilegia-se a parte da comemoração, para criar relevância, porque, como lembra Nina Simon no livro The Art Of Relevance, isso significa criar compromisso e criar valor. Assim, as equipas estão em festa e abrem as portas do museu a diversas atividades, com dia aberto, gratuito, visitas orientadas a coleções e patrimónios, visitas orientadas a bastidores, passeios descoberta, palcos de música, dança ou teatro são a principais ofertas. Estas ações permitem um engajamento, uma maior aproximação e envolvimento, derrubar resistências e diminuir alheamentos, e a criação de afeto entre os museus e as suas comunidades.

Uma feliz coincidência de datas!

No Dia Internacional dos Museus e no ano em que a Rede de Museus do Algarve completa 10 anos (a 16 de outubro) a região quer tornar-se inteligente e organiza, através da AMAL e CCDR Algarve, nestes dois dias (18 e 19 de maio) o Next.Mov – Smart Region Summit. De forma inovadora este desafio de transformação alimenta um sentimento de grande esperança para modificar o pensamento e a ação da região e torná-los partilhados, integrados e participados. Conceitos e práticas que os museus começam a usar na década de 70 do século XX, com a Declaração de Santiago do Chile, e que pelo Algarve começaram a ganhar novas formas em 2006.

Hoje começa a ouvir-se muito a expressão Economia Colaborativa, como aconteceu na sessão de abertura do Next.Mov – Smart Region Summit, a Rede de Museus do Algarve foi pioneira nessa prática que implica uma partilha de recursos, que exige inovação no fazer, inovação na forma de relacionamento entre instituições, na capacitação das equipas técnicas, que necessita de geometrias variáveis de atuação, que exige confiança entre os parceiros, que exige mais horizontalidade, agilidade e competências de gestão. Nesta feliz e disruptiva ideia de região inteligente podem e devem as instituições promotoras contar com a experiência dos museus, dos teatros e dos arquivos, assim como de forma integrada, inovadora e inteligente trabalhar o Plano de Mobilidade Urbana Sustentável também a partir do conhecimento e ferramentas da área Cultural.

Neste dia de celebração quero terminar, dedicado este apontamento a Sul às equipas dos museus que de forma indizível e resiliente vão sabendo dizer “eu não vou por aí”…

Hoje é Dia Internacional dos Museus, vivam os Museus, os seus profissionais e os públicos!


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Financiamento colaborativo – uma oportunidade (ainda) por explorar!

11/5/2017

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Por Dália Paulo
Já dizia o poeta que o mundo é composto de mudança. O novo milénio traz-nos uma nova forma de financiamento colaborativo ou crowdfundig. Na primeira década dos anos 2000 foi instituída, em vários países europeus, regulamentação para esta nova forma de democratização financeira, a título de exemplo a Alemanha, em 2006, e a França em 2008. Em Portugal a legislação é mais recente, remontando ao ano de 2015. A Lei n.º 102/2015, de 24 de Agosto, regulamentada pela Portaria n.º 344/2015, de 12 de Outubro e, no ano passado, a Comissão de Mercado de Valores Imobiliários aprova o Regulamento da CMVM n.º 1/2016 para o Financiamento Colaborativo de capital ou por empréstimo. Leis que regulamentam a forma de fazer a oferta através de comunidades on-line, depois há todo um trabalho a fazer por quem quer “vender” o seu projeto e uma mudança de atitude e implicação da sociedade nestes novas formas de economia.

Num estudo de 2015 da Universidade de Cambridge - Moving Mainstream, The European Alternative Finance Benchmarking Report, realizado por Robert Wardrop, Bryan Zhang, Raghavendra Rau and Mia Gray - apresenta uma radiografia de como tem vindo a evoluir esta nova forma de economia partilhada. Referindo-se a um período que medeia entre 2012-2015 verifica-se que o crowdfunding se torna um instrumento económico importante e válido.  Daniel Oliver, Presidente da Associação de Crowdfunding espanhola diz-nos que “a perda de relevância nas instituições tradicionais faz com que aumente a confiança na economia partilhada”, acrescentaria eu que a mudança de necessidade do consumidor final também. Aliás estes novos processos trazem associados mais-valias que os cidadãos consumidores hoje valorizam: transparência, rapidez, mensagens claras e diretas, capacidade de envolvimento e de compreensão desse envolvimento, capacidade de escolha e de construção de projetos que possam ser socialmente mais próximos das pessoas. 

Uma pergunta impera: o que leva as pessoas a escolher apoiar um projeto de forma colaborativa? Dos vários estudos, sigo o de Elizabeth Gerber da Universidade de Northwestern: Crowdfunding: Why People Are Motivated to Post and Fund Projects on Crowdfunding Platforms, neste seu artigo aponta 4 motivos para a implicação dos doadores: simpatia e empatia, culpa, felicidade e identidade.

Em Portugal, as plataformas de crowdfunding remontam ao início desta década. Duas das principais plataformas existentes iniciam atividade em 2011. Na vertente Cultural a música tem sido a área com mais projetos colocados em plataforma de financiamento colaborativo, seguida da Dança, Cinema e Teatro e com muito menor expressão, diria mesmo quase residual, temos as Artes Plásticas. Na PPL - uma das maiores plataformas portuguesas de crowdfunding -  há dois projetos culturais na lista de recordes de campanhas: o filme Por Ela com um apoio angariado de 40 563 € realizado por 1879 pessoas está em primeiro lugar e o projeto Ó brigada - discografia completa da Brigada Victor Jara - 40 anos, apoiado em 23 643 € por 512 pessoas.

Estes dados levantam várias questões: o que implica na transformação dos projetos culturais? Que impacto tem hoje este novo tipo de financiamento? Como se redimensiona o papel do Estado? Que novas relações de poder e de influência esta forma de participar vai gerar?  Que competências se exige aos promotores dos projetos para atrair financiamento? Faltam, ainda, estudos em Portugal para que possamos ter uma ideia mais concreta sobre o real impacto do financiamento colaborativo.

Esta verdadeira democratização financeira está associada ao que hoje o cidadão consumidor está predisposto a participar e a implicar-se quando acredita num projeto, de uma forma direta, sem intermediários. Se por um lado estamos perante um processo de relação mais direta, esta é também uma relação com impacto maior porque, sendo feita on-line, chega a mais pessoas, permitindo que o impacto dos projetos seja maior.

Este tipo de alternativa a financiamento tradicional permite a construção de projetos que têm impacto social, cultural e ambiental, que são próximos das pessoas e que se enquadram num quadro conceptual e mental mais largo de colaboração, de partilha e de implicação. A maior modificação com este financiamento colaborativo será a necessidade de criar relações mais diretas e bilaterais entre quem apoia e quem é apoiado. Assim como de implicar de forma mais prolongada quem quer o financiamento, na preparação da campanha como na sua divulgação. Não se trata apenas de preencher um formulário e esperar o resultado! Trata-se de criar envolvimento, interesse, de tornar a campanha viral. Para ter sucesso creio que o crowdfundig exigirá profissionalização na área da comunicação pela parte dos promotores.

A utilização das plataformas para financiar projetos é uma forma de concretizar sonhos como muitos promotores identificam. Exigente do ponto de vista da relação, o financiamento colaborativo permite a impressão digital de cada um de nós nos projetos que financia e marca este novo milénio onde o cidadão é decisor ativo e direto da sociedade e dos valores comuns que quer construir.


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Somos (uma espécie de) contentamento descontente!

4/5/2017

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Por Dália Paulo

Uma característica que faz parte do ADN do povo português é o nunca estar contente: se fazemos é porque fazemos (ou fazemos mal) e se não fazemos é porque não fazemos, isto a propósito do último artigo do meu colega de pena Gonçalo Duarte Gomes, Algarve em animação suspensa.

Esse assunto faz-me voltar a uma ideia que já qui expus quando falei sobre a necessidade de tempo
(apontamento de 23.03.2017) e de como a sensação que fica é que na região não temos tempo para lançar a semente à terra e deixa-la germinar e ganhar vida. Na área Cultural há uma tendência em comparar o incomparável – Lisboa e Porto – e depois a frustração que daí advém, de sermos diferentes. De perceber que os caminhos têm de ser distintos mas que para consolidá-los, para criar lastro, é necessário uma atuação e intervenção continuada.

Contudo, voltando ao que impeliu este apontamento, quero começar por mapear cinco premissas:
1. Há um preconceito muito grande, para o qual nós algarvios (de coração ou nascimento) concorremos para manter, de que no Algarve durante os meses de outubro a maio não se passa nada;
2. Há também, não nego, uma realidade cultural ( frágil, com uma comunidade criativa a necessitar de investimento, de consolidação, de estratégia e de densificação;
3. Há, por outro lado, uma confusão constante entre animação cultural e/ou turística de Verão e do grande evento e uma prática cultural regular, continuada, que alia cultura e educação, cultura e formação de públicos, cultura e criação, cultura e conhecimento e que esta, apesar de necessitar de novos desafios e investimentos, acontece nesta tal época onde a animação está suspensa. E acontece muito por persistência de equipas de “fazedores” de cultura;
4. Há uma necessidade de promover e difundir hábitos culturais na região;
5. Há uma necessidade de articular agendas e de construir programações complementares entre Municípios.

Por outro lado, voltando à ideia inicial, recorrentemente ouvimos que existe programação a mais ou não existe nada. Há muitos matizes e nuances e não é preto ou branco. Pelo que, nesta suspensão do grande evento, existe o que gosto de chamar a Cultura pela Cultura - a Cultura da formiguinha - aquela que quotidianamente é feita pelas associações culturais, pelas bibliotecas, pelos museus, pelos Teatros e Cineteatros, pelas Galerias, pelos Centros Culturais e que existe, sem ser subsidiária, como elemento central para a vida das comunidades algarvias. Cultura que necessita de um olhar atento, de ser trabalhada de forma articulada, de se lhes dar a possibilidade de encontros com gente de fora para criar contaminações no fazer. Região aberta e cosmopolita como o Algarve, deve refletir-se na sua prática e hábitos culturais, e, para isso, é necessário um trabalho cada vez maior em rede. Nesse sentido, só a sua existência permite que a região possa ter uma oferta cultural de qualidade para usufruto turístico.

Este trabalho tem sido reforçado pela ação das redes de Museus, Arquivos e Cineteatros que têm contribuído, ainda que de forma ténue, para uma programação complementar, para qualificar a capacidade técnica e para ter uma oferta mais qualificada. Fazer o exercício de consultar as Agendas Municipais permite perceber a oferta quer na Educação para a Leitura e Literacias várias, quer na Educação para o Património e para a Arte, assim como uma oferta regular de programação (embora desigual) dos seus equipamentos culturais, que se reinventaram na crise e que são ofertas que acontecem sobretudo nestes meses de suspensão; veja-se mais especificamente a programação de Teatros e Cineteatros que começam as temporadas no final de setembro e terminam em junho/julho.

Há muito caminho a percorrer, mas bem dizia o poeta que não há caminho, o caminho faz-se a andar! Nesse sentido, o caminho da Cultura deve ser um caminho de resiliência, de transformação, de oferta diferenciadora, de escutar o que por cá se faz e de possibilitar que também pelos nossos palcos passe o que de melhor se cria no país e no Mundo. Só este caminho longo, continuado, longe dos holofotes permite densificar a oferta, criar comunidades criativas e formar públicos. E este é o caminho diferenciador e disruptivo que a região precisa também para se afirmar como destino Cultural.

Este nosso contentamento descontente, que significa que por um lado há a ideia por cá somos muito bons e não precisamos dos de fora, - ideia completamente contrária ao que a região sempre foi uma plataforma de contactos com o exterior e completamente contrária ao modus faciendi atual de criação, onde a contaminação externa acrescenta valor, tanto ao criador como ao espetador. Descontente ainda, porque temos dificuldade em somar, em dar valor ao que por cá se faz. Já diz o ditado popular se eu não gostar de mim quem gostará? Enquanto nós algarvios não gostarmos de nós, no sentido de transformar as nossas fragilidades em forças não será um eterno lá longe e lá fora (expressão de Eduardo Lourenço) que nos salvará.

Façamos por somar, por construir em conjunto e, acima de tudo, por quebrar preconceitos e por aumentar a autoestima de ser algarvio.

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A vida associativa: um grito claro para uma sociedade livre                       A propósito do 10.º aniversário da Tertúlia Farense

27/4/2017

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"Paisagem", Manuel Baptista (Artadentro ), um dos tertulianos da Tertúlia Farense

Por Dália Paulo

Faro tem uma história de cidadania atuante desde os tempos do regime salazarista. Nessa época, como forma de oposição ao regime, o grito pela liberdade dava-se através da transformação de ações e pensamentos pela Cultura e pela Educação. Foram um verdeiro oásis para algumas gerações neste Sul; umas organizadas formalmente, outras em forma de tertúlia.

Quero aqui recordar três exemplos que nos permitem sentir o fervilhar da cidade ou da sua elite intelectual, conjunto de pessoas que tinha eco fora da região e que por cá foi a porta de muitos para a Cultura e a Arte:
1. O Círculo Cultural do Algarve (1940) que teve um forte impacto na vida cultural da cidade e da região. A ele estiveram associados nomes como Joaquim Magalhães e Campos Coroa, entre tantos outros. Neste momento, o Círculo Cultural do Algarve pela mão e entusiasmo juvenil de João José da Ponte e Castro, aprovou novos estatutos e está em fase de reativação, pretendendo dar um contributo importante para a valorização cultural e patrimonial e para a dinamização da dimensão associativa da região, como agregador de vontades e dinamizador de uma rede cultural da cidade e/ou da região.

2. O grupo que se junta em torno de António Ramos Rosa quando este regressa a Faro em 1951, com a fundação da revista Árvore e quatro anos depois da revista Cassiopeia (1955) ou dos Cadernos do Meio-Dia inseridos na Coleção A Palavra (1958), dirigida por Casimiro de Brito. A Biblioteca Municipal de Faro, que tem o nome do poeta, celebrou, no passado dia 21 de abril, 16 anos de inauguração do atual edifício com a organização da Primavera Literária, onde se teve o privilégio de escutar Gastão Cruz que generosamente partilhou connosco a sua relação com o poeta e com a obra, dizendo-se “discípulo de Ramos Rosa”, tendo afirmado que “abriu-me os horizontes, fez-me ver mais além”.

3. O Cineclube de Faro (1956) com um forte impacto na promoção da cultura cinematográfica no Algarve, foi (continua a ser) um pólo cultural de referência e excelência na região. Com o Cineclube de Faro aprendeu-se através do cinema a refletir sobre a sociedade, a resistir pelo pensamento, a ter contacto com realidades distintas e distantes, a promover os valores da tolerância, acima de tudo com esta instituição cultural difundiu-se cinema de qualidade e aprendeu-se a amar cinema.

Neste novo milénio novas formas de cidadania associativa se foram construindo. Aqui quero partilhar três exemplos que contribuem significativamente como “palcos” onde se convida a exercer o direito de cidadania ativa e atuante e que, com o seu empenho e criatividade, dão um significativo contributo para Faro.

1. A constituição da CIVIS, Associação para o Aprofundamento da Cidadania (1997), pioneira e inovadora a trabalhar estas matérias na região e no país, relacionando-as igualmente com a educação, tendo iniciado projetos como o Encontro de Partilhas de Práticas Educativas de Cidadania (ENPAR), hoje da responsabilidade da Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares - Direção de Serviços da Região Algarve; ou o ciclo de conferência “Património, Memória e Cidadania” (2013); ou no último ano (abril 2016 a abril de 2017) quando organizou - conjuntamente com a Associação 25 de Abril, a Universidade do Algarve e os Municípios de Faro e Loulé - as comemorações dos 40 anos da Constituição da República Portuguesa e que marcaram a agenda regional das comemorações nacionais.

2. A Tertúlia Farense, uma organização informal - que comemora hoje o seu 10.º aniversário - que pela força, empenho, notável organização e iniciativa de Fernando Leitão Correia tem vindo a desenvolver o sentido crítico dos farenses, a ajudar a pensar a cidade, a reivindicar, a constituir-se como massa critica e a impelir os poderes públicos a agir. Vigilantes e resilientes os tertulianos, destes permitam-me que destaque Fernando Grade, têm dado, na última década, um forte contributo para a construção da cidade e para cumprir a cada dia os valores de Abril. Um espaço plural, em que convergem diferentes opiniões; em que se aprende a ouvir, a escutar o outro, a refletir e a divergir. Um espaço que quebra barreiras de comunicação, que (des)une, um espaço que não pretende consensos mas que discute abertamente vários temas que afetam a vida da cidade e que concorre para a solução de várias matérias de gestão da cidade.

3. Faro à Conversa, um grupo informal, que nasceu este ano, tem vindo a dinamizar e a congregar diferentes gerações de farenses e sensibilidades políticas e sociais em torno do pensar a cidade e o concelho, realizando ações concretas sobre temas como a Mobilidade, entre outros. Um grupo que quer influenciar as decisões mas, acima de tudo, quer exercer o seu papel cidadão e a liberdade de construir um projeto para a cidade. Um projeto de cidadania em primeiro lugar, de capacitação das pessoas, ousado e que provoque alguma rutura, para que a transformação seja efetiva.

Escolhi este tema para dar os parabéns e desejar longa vida à Tertúlia Farense e  porque acredito que, nesta semana que se comemora Abril, a democracia e a liberdade se conquistam, a cada dia, se existirem projetos fortes, impactantes e disruptivos na (dita) sociedade civil. Hoje, se queremos afirmar as cidades e a região precisamos de densificar o conhecimento, o pensamento e os níveis de ação, para que possamos chegar mais longe e construir territórios inclusivos e felizes.

Porque estamos em ano de eleições autárquicas, é preciso que as propostas de pensamento e de projeto para as cidades sejam capazes de, por um lado, utilizar o pensamento produzido pela sociedade civil, e, por outro, de prospetar as múltiplas realidades, sensibilidades e que possam inspirar-se no conceito de Michel Foucault, Heterotopia - indica que as realidades não são homogéneas – para a construção de um projeto de cidade onde tenham presente a integração das diferenças e as contaminações de que deve ser feita a pólis e, a partir daí, desenvolver um projeto de futuro (e presente) alicerçado nas pessoas e na inovação dos territórios.


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Viva a LIBERDADE!  Conquiste-se a CIDADANIA.

20/4/2017

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Por Dália Paulo

Dedico este espaço à LIBERDADE, pela data que se aproxima – 25 de Abril – quase sem palavras, apenas com um apontamento poético de Sophia de Mello Breyner Andresen:
És tu a Primavera que eu esperava,
 A vida multiplicada e brilhante,
 Em que é pleno e perfeito cada instante!

Este pleno e perfeito depende de não esquecermos que a liberdade é um valor que se conquista a cada dia. É um valor que está, igualmente, neste mundo a perigar a cada dia, veja-se, a título de exemplo, os Estados Unidos da América ou a Turquia.

Que hoje saibamos ir defendendo e vivendo Abril e acredito que para isso há um lugar a conquistar para termos uma sociedade melhor: o da cidadania!

Mas hoje como nos lembra o poeta António Ramos Rosa “não é tempo de afirmar nada” é tempo de cada um de nós refletir, ser resiliente, celebrar, implicar-se e contaminar com atitudes contra o medo, o outro e aquilo que nos cerceia o direito de viver em democracia e liberdade!


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E a Sul, que instituição cultural podemos beneficiar com a apresentação do IRS 2016?

6/4/2017

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Por Dália Paulo

Como aqui escrevi a 12 de janeiro, este ano, podemos, pela primeira vez, como contribuintes descontar 0,5% do nosso IRS diretamente para uma instituição cultural. Volto ao assunto para divulgar as entidades na região do Algarve que podemos escolher apoiar:
Casa da Cultura de Loulé Casa do Povo do Concelho de Olhão Cineclube de Faro Orquestra de Jazz do Algarve R.C.L. Rádio Clube de Loulé Sociedade da Banda de Tavira Sociedade Artística e Recreativa Farense Todas as instituições culturais nacionais podem ser consultadas em
http://www.gepac.gov.pt/irs-lista-de-entidades-culturais-beneficiarias-da-consignacao-ja-disponivel.aspx

Muitos interrogar-se-ão sobre esta lista, lembrando-se de tantas instituições culturais da região e que nela não constam. Esta questão prende-se com as instituições elegíveis de acordo com a Portaria n.º 22/2017, de 12 de janeiro, que vem regulamentar a Lei n.º 7-A/2016, de 30 de março e, por isso, este apontamento tem duplo destinatário: todos os contribuintes e as instituições culturais de utilidade pública, para que possam inscrever-se e ter a oportunidade de beneficiar desta possibilidade em 2018.

Estas são instituições culturais de utilidade pública da região algarvia que se inscreveram para beneficiar desta oportunidade de criar novas formas de envolvimento dos cidadãos na vida associativa. Esta é uma oportunidade para, nós cidadãos, exercermos um direito de escolha e decidirmos para onde vai 0,5% do nosso IRS; exige mais de nós, exige atenção, escolha, responsabilidade, disponibilidade e construção coletiva da área Cultural. Com esta opção promove-se a democratização da escolha cultural, uma cidadania ativa e possibilita-se que o contribuinte “desenhe” o seu mapa cultural e reforce a sua partilha com os outros, ao incentivar uma instituição cultural a criar novas formas de comunicar, de envolver e de inovar.

Importa, ainda, divulgar junto das instituições culturais de utilidade pública que têm até 30 de setembro de 2017 para junto do Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais (GEPAC) do Ministério da Cultura - através do endereço eletrónico –
cultura.irs@gepac.gov.pt – inscrever-se e fazer prova que desenvolvem a sua atividade predominantemente de natureza e interesse cultural, enviando os estatutos e relatório de atividade do ano anterior e requerer a atribuição do benefício fiscal. Este passo é fundamental, porque caso não o façam impossibilitam qualquer cidadão de escolher a instituição cultural para consignar os 0,5% do seu IRS 2017.

Uma medida há muito sonhada e que agora possibilita que cada um de nós se implique e possa escolher apoiar uma instituição cultural contribuindo desse modo para consolidar e densificar o tecido cultural através de uma relação de proximidade e de impacto(s), bem como para criar lastro e transformar os territórios e as pessoas pela criatividade.

Agora é só escolher! para que, como muito bem disse Sophia de Mello Bryener Andresen no texto “A Cultura é cara, a incultura é mais cara ainda”, é preciso “construir o mundo de outra maneira” e esta maneira é a da cidadania, da decisão que está nas nossas mãos, na possibilidade de construção coletiva de territórios culturais e criativos.


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Dar tempo a projetos que nos (trans)formam

23/3/2017

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Salvador Dalí, A Persistência da Memória, 1931

Por Dália Paulo

Neste nosso sul da vagueza, impressionista e mole ou sonhadora nas palavras do poeta João Lúcio, há um fator que tendemos a menosprezar: o tempo, mais concretamente o de dar tempo aos projetos para que se concretizem, densifiquem e cresçam sustentados. Quando há resiliência e se dá tempo, temos projetos que nos transformam como pessoas (e como coletivo) que nos questionam e que modificam aqueles que por eles são tocados.

Miguel Torga  dizia que o tempo  era a “definição da angústia” e a falta de tempo neste sul deve-se às nossas idiossincrasias regionais, relacionadas com a nossa história de isolamento, afastamento e, a partir dos meados do século XX, deslumbramento, encantamento e (quase) perdição! Chegados ao século XXI, falta-nos tempo porque queremos (agora) um modelo diversificado de desenvolvimento que assente em várias áreas de saber e para isso precisamos de criar projetos duradouros e de futuro. Mas (muitas vezes) não sabemos esperar! E as sementes que se lançam à terra precisam de paciência e saber para se transformarem num bonito jardim. Mas a nossa sede de fazer acontecer, de transformar agora, de ganhar o tempo para ombrear com outras regiões, impede-nos (amiúde) a concretização de projetos mais consistentes.

Todavia há projetos que no seu labor de formiga, de persistência e de crença, conseguem ir criando lastro e transformando este nosso Algarve num lugar melhor. Hoje partilho dois projetos culturais que se deram tempo e que tenho acompanhado, tendo tido a oportunidade de estar esta semana com cada um deles. Dois projetos que em comum têm - para além de serem artísticos - a necessidade e a oportunidade de trazer olhares exteriores para o Algarve criando diálogos e interseções com o outro para, por oposição ou espelho, nos conhecermos melhor e ganharmos uma maior capacidade crítica e de transformação, em suma, da Cultura contribuir para fazer um melhor Algarve hoje e amanhã.

Parceria ACTA, Companhia de Teatro do Algarve e APATRIS 21, Associação para Portadores de Trissomia 21 – um projeto de inclusão pela Arte, eu diria mesmo de integração para pessoas com Trissomia 21, perturbações do espectro do autismo, hiperatividade e défice de atenção que funciona desde 2011 e que em 2015 integrou o projeto europeu “Display your abilities” que contou com 4 parceiros - STRANAIDEA S.C.S. Impresa Sociale Onlus de Torino  (líder do projeto); ACTA- A Companhia de Teatro do Algarve/ APATRIS 21- Associação para Portadores de Trissomia do Algarve, Portugal; ALFA Association, de Espanha e Theaterwerkplaats Tiuri Foundation, da Holanda. Um projeto que liga arte, educação e deficiência, que tem como objetivo capacitar jovens portadores de Trissomia 21 para serem co-formadores, conferindo-lhes competências. Esta semana foi realizado o Encontro Internacional do projeto na Universidade do Algarve, tendo sido importante verificar o processo, as metodologias, os progressos relacionais quer dos portadores de deficiência quer dos outros alunos adolescentes, assim como a possibilidade de trabalhar a acessibilidade, não só ao acesso à fruição cultural mas também à possibilidade de integração como profissionais na área cultural. Sairá no próximo mês o Manual com a metodologia do projeto, que permitirá a disseminação de boas práticas e a possibilidade de contaminar outros projetos. É um caminho que tem de continuar e que rapidamente deve transformar-se numa autoestrada de contaminação para uma sociedade mais humana.

Encontros do Devir 2017, DeVir/ CAPa, Centro de Artes Performativas do Algarve – um projeto (iniciado em 2012) disruptivo, diferenciador, questionador e que deveria  chegar a todos os algarvios (de coração ou nascimento); e porquê? Por diversos motivos mas principalmente porque nos inquieta (da inquietação nasce a luz) e ajuda a conhecer melhor: como nos vemos, como nos vêm e como nos damos a ver. Neste ano, partindo do olhar de criadores nacionais e internacionais sobre as cidades de Faro, Loulé, Quarteira e São Brás de Alportel, com uma programação de março a maio que deve ser vivida, sentida, discutida, conversada e que pode ser consultada em
www.encontrosdodevir.com
No editorial do projeto ele é apresentado como: “só o desenvolvimento territorial equilibrado, atento à realidade, às fragilidades e às potencialidades, permitirá não hipotecar mais o que ainda temos e somos.” Um projeto positivo que a partir do real acredita que é possível (ainda) um futuro promissor para estes territórios.
Deixo aqui um desafio aos organizadores dos Encontros do Devir: que numa próxima edição os diálogos não se façam somente “entre nós” ou seja, aqueles que já estão sensíveis para o questionamento dos territórios, que falam a nossa linguagem; confrontem-se os gestores do território e os criadores; questione-se tudo para que a transformação do pensamento e da ação sobre o território possa ser afetiva e efetiva.

Dois projetos que nos fazem acreditar em nós e que quando na base há pensamento e criação (de conhecimento ou artística) que exige tempo, os outputs têm mais impacto, ganhando a região e os seus cidadãos e visitantes. Dando tempo para ganhar tempo!


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Do gueto à partilha nos museus do Algarve*... 10 anos depois!

16/3/2017

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Por Dália Paulo
No dealbar deste milénio a museologia portuguesa fervilhava de esperança, com a criação ainda nos anos 90 do século XX do Instituto Português de Museus e da Rede Portuguesa de Museus (2001), assim como com a tão esperada Lei-Quadro dos Museus Portugueses, saída a 19 de Agosto (Lei n.º 47/2014). No Algarve, os profissionais estavam atentos e participavam destas reflexões e quatro museus integraram em anos consecutivos a RPM: Tavira e Portimão (2001), Faro (2002) e Albufeira (2003).
 
Nesta revolução e renovação silenciosa que se fazia nos museus portugueses, no Algarve toma forma uma rede regional de Museus, que foi considerada a nível nacional como pioneira e inovadora, tendo servido de modelo a muitas outras redes que entretanto se formaram e ganho o Prémio Inovação e Criatividade 2011 pela Associação Portuguesa de Museologia. Formalmente constituída a 16 de outubro de 2007, a Rede de Museus do Algarve (para saber mais sobre a rede
https://museusdoalgarve.wordpress.com/) comemora este ano 10 anos e realiza amanhã, em Loulé, as 1.ª Jornadas da Rede de Museus do Algarve. 
 
Neste apontamento as questões que se impõem e que podem interessar, também, os não profissionais são: 10 anos depois qual o impacto interno e, sobretudo, externo da Rede de Museus do Algarve? E que perspetivas para o futuro? O impacto interno repercute-se externamente também, a rede possibilitou a criação de pensamento, de formação e qualificação das equipas técnicas (que conseguiram nos últimos tempos – de diminuição de meios humanos e financeiros - ultrapassar com maior sucesso as dificuldades devido à rede) proporcionando um melhor serviço público, de partilha e de conhecimento sobre a realidade, nomeadamente pelo excelente trabalho de diagnóstico dos grupos de trabalho de Arqueologia e de Conservação e Restauro, sobre as reservas de arqueologia e sobre a área da conservação. A realização de projetos de geometria variável permitiu construir conhecimento sobre a região e proporcionar aos públicos novos olhares sobre a evolução do território.
 
Os impactos diretos externos da Rede de Museus do Algarve são ainda ténues, pode afirmar-se como os mais significativos, a abertura da discussão sobre a realidade museológica regional, envolvendo, técnicos e decisores políticos e o aumentar da visibilidade regional dos museus juntos dos públicos, pelas ações conjuntas realizadas.
 
Que futuro? Há muito caminho, sobretudo, a nível de impacto externo e de diálogos intersectoriais a realizar, assim como de afirmação da rede junto dos decisores políticos para que os trabalhos de diagnóstico produzidos tenham consequência prática nas linhas estratégicas na área museológica regional, bem como para que a oferta museológica regional possa ser complementar e contribuir para a afirmação do território, a inclusão social e o pensamento regional.
 
A nível mais prático a Rede de Museus do Algarve está a preparar um Guia de Museus do Algarve (a editar este ano) que contribuirá para a divulgação e valorização dos museus da região, que deve articular-se com a possibilidade de bilhetes/entradas conjuntas e de atividades que levem o visitante a percorrer o território e a(s) sua(s) história(s).
 
Projetos comuns em torno da acessibilidade, da cidadania, do futuro da região, da Europa e do Mundo e projetos com outras redes deverão ser objetivos da rede, porque importa intervir na sociedade e preparar o seu futuro, estas casas seguras onde se podem discutir assuntos inseguros e que devem ser casas de inquietação (expressão feliz de Pedro Ferré), devem inspirar-se no desafio de Mia Couto que se referiu, na 23.ª Conferência Geral do ICOM 2013 no Rio de Janeiro, aos museólogos como aqueles que devem “criar a ousadia dos amanhãs”, é um desafio imenso este da Rede de Museus do Algarve mas 10 anos depois pode afirmar-se que juntos muitos caminhos se continuarão a desenhar e que os desafios serão mais facilmente concretizáveis, pelo que pode não saber-se o caminho mas sabe-se que o caminho de cerzir a rede é para continuar porque ganham os técnicos, os públicos e a região!

 

* título retirado de artigo científico de PAULO, D. “Do gueto à partilha nos museus do Algarve”, Cadernos de Sociomuseologia n.º 41, p. 245-285, Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.

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Porque só defendemos o que conhecemos: um ciclo de inclusão à distância de um clique…

9/3/2017

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Por Dália Paulo

Os profissionais da cultura ao longo das últimas décadas têm vindo (mesmo que a diferentes ritmos) a integrar as questões de acessibilidade e inclusão nas suas práticas profissionais. Para isso têm contribuído, primeiro, o Grupo Acessibilidade em Museus e, desde 2013, a Acesso Cultura. Do Sul, o Museu de Faro chegou a participar em meados da primeira década deste milénio nos seminários do GAM com a apresentação dos projetos na área da acessibilidade.

A Acesso Cultura tem concentrado os seus esforços em três áreas principais: formação de profissionais; consultadoria e organização de fóruns de discussão (seminários, debates, conferências) levando a sua ação a todo o país e a todo o tipo de instituições culturais, tendo chegado a milhares de profissionais (veja-se o balanço dos três anos
Acesso Cultura 2013-2016: o que mudou?). Também a Sul se têm feito vários cursos de formação e debates (estes últimos desde dezembro de 2014), permitindo uma maior responsabilização dos profissionais e a abertura do debate à sociedade civil, porque quanto mais conhecedores e despertos para estas matérias os cidadãos estiverem mais exigentes se tornam e, assim, contribuem de uma forma ativa para a mudança de modos de fazer e de mentalidades.

A acessibilidade como forma de permitir a qualquer cidadão o acesso à cultura tem consequência na área da cidadania e da felicidade coletiva e permite garantir o direito constitucional de acesso. É um trabalho que nestes últimos anos ganha uma face visível com exemplos de boas práticas que têm de ser disseminadas por outros espaços e por outras regiões do país; referimo-nos à audiodescrição nas Marchas Populares de Lisboa, as sessões descontraídas no Teatro Maria Matos, em Lisboa ou no Teatro Nacional S. João, no Porto ou, ainda, ao teatro com recurso a Língua Gestual Portuguesa, uma sessão por cada espetáculo nesta temporada no São Luiz, em Lisboa. Um caminho que está a ser trilhado e que necessita de cada vez mais exemplos e, sobretudo, de capacitar (e aqui volta-se à cidadania) as pessoas com necessidade especiais para exercerem o seu direito a exigir o acesso à Cultura, impelindo as instituições a agir e a criar essas condições.

Para cumprir o que a Acesso Cultura colocou como a sua visão – tornar a acessibilidade mainstream – para além da capacitação dos profissionais, da realização de boas práticas de acesso, como algumas acima identificadas, é necessário que a acessibilidade esteja na agenda das instituições e das pessoas e, por isso, o projeto que aqui se quer destacar, permite chegar a qualquer pessoa e despertá-la para estas questões, possibilitando densificar a cidadania em torno da acessibilidade e isso pode contribuir para fazer a diferença. Trata-se de um projeto, de uma instituição que tem colaborado com a Acesso Cultura, o Instituto Politécnico de Leiria. O UP2U Cursos On-line de acesso gratuito Masssive on-line Courses  com 20 cursos e que têm um Ciclo Inclusão com 11 cursos de 59 minutos:  Normas de Acessibilidade Web e validação automática de websites; Tecnologias de Apoio; Vamos Falar de Inclusão; Comunicação Aumentativa; Descrição de Imagens em Contexto Web e Digital; Documentos Acessíveis no MS Word; Como Interagir com uma pessoa cega; vamos falar de dificuldades de aprendizagem específica; Algumas curiosidades cobre o cão-guia; Vídeos acessíveis no youtube e Conteúdos acessíveis no Wordpress, que permitem a gestão do tempo de cada formando ao longo de 30 dias, sem requisitos de acesso. Nós a Sul também podemos aceder a estes cursos para que, cada um de nós, possa, no seu dia-a-dia, contribuir para que as questões da acessibilidade sejam trabalhadas de forma integrada, continuada e com impactos maiores do que os sentidos a Sul até agora.
 
Um bom exemplo de uma instituição académica que é um parceiro incontornável na área da acessibilidade e que promove projetos com impacto na sociedade, na sua transformação e na valorização das pessoas. Porque estamos a falar de um direito constitucional de acesso à cultura para todos, todos ainda somos poucos!

E a Sul precisamos de projetos integrados e de rede - museus, cineteatros… - para que consigamos, em conjunto, fazer a diferença na vida das pessoas e permitir que a Cultura seja efetivamente fruída por todos.


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GERINGONÇA®, MARCA EUROPEIA 2017

6/3/2017

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Por João Fernandes
A “Geringonça”, ou se preferirem, aparelho ou mecanismo de construção complexa, ameaça tornar-se a salvação da Europa.
O ano em curso será decisivo para o rumo da Europa e o seu desfecho tem o potencial de produzir uma crise profunda no projeto europeu. Desde as eleições legislativas na Holanda, já no próximo dia 15 de março, às na Alemanha no final de setembro, passando pelas presidenciais e legislativas em França (abril/maio e junho, respetivamente), o cenário é preocupante.
Comum a estes importantes sufrágios é o crescimento das frentes de extrema-direita, com os respetivos discursos profundamente xenófobos e as posições eurocéticas. Questões como as desigualdades sociais são colocadas em contraponto com a imigração e a integração das minorias, sobre a capa do “nós primeiro”. Os nacionalismos exacerbados aparecem acompanhados de ameaças de referendos sobre a permanência na União Europeia. E…estão bem presentes as amargas surpresas em plebiscitos recentes (Grã-Bretanha, Itália)…
 
Geringonça NL
Na Holanda, apesar da recuperação do VVD nas últimas semanas, de Mark Rutte (conservador-liberal, atual primeiro-ministro), o Partido de Geert Wilders (Partido da Liberdade, de extrema-direita) lidera a maioria dos barómetros.
Vá lá que a vitória de Wilders dificilmente lhe permitirá um lugar no governo! Há mais de cem anos que a Holanda forma governos compostos por mais do que um partido e os principais partidos oponentes afastaram declaradamente a possibilidade de viabilizarem soluções de coligação com o “Trump Holandês”. Solução mais provável – uma Geringonça Holandesa.
A concretizar-se, este resultado da extrema-direita, não deixará de reforçar a motivação dos movimentos nacionalistas em França e na Alemanha.
 
Geringonça FR
Em França, a campanha tem sido marcada pela incerteza. Fracionamento à esquerda, sucessivos candidatos fragilizados por escândalos à direita e a sombra de uma (im)possível vitória da extrema-direita. Emmanuel Macron, centrista que todos consideravam "uma bolha político-mediática”, acaba por estar a ser o grande beneficiário do descontentamento com os partidos tradicionais. Marine Le Pen está bem colocada para garantir um lugar na segunda volta das presidenciais e, pela primeira vez em quase 60 anos, os partidos tradicionais da França devem ficar fora do governo.
Benoît Hamon, o candidato socialista, andou por Lisboa a pedir conselhos a António Costa sobre como unir as esquerdas francesas…
Macron lidera as intenções de voto mas não dispõe de uma base partidária tradicional. Se for eleito, o candidato que se apresenta ao eleitorado como sendo de “esquerda e de direita” ao mesmo tempo, terá pela frente um desafio interessante: Como governar sem a maioria de deputados e senadores resultantes da eleição legislativa do mês seguinte?
 
Geringonça DE
Na Alemanha, de acordo com as últimas sondagens, a AfD deverá conseguir 11% das intenções de voto, assegurando presença no Bundestag.
Com Martin Schulz (sociais-democratas), antigo Presidente do Parlamento Europeu, a liderar as intenções de voto, o SPD surge pela primeira vez um ponto à frente da CDU da chanceler Angela Merkel (democratas-cristãos).
Uma vitória do SPD pode gerar na Alemanha um governo de coligação de esquerda, que se diz contaria ainda com os Verdes e o Die Linke.
 
Geringonça WORLD
Depois de deputados finlandeses terem demonstrado curiosidade pela Geringonça Portuguesa, o Centro de Estudos Europeus da Universidade de Harvard vai organizar um simpósio em que um dos temas em análise será a solução governativa portuguesa. O Trump que se cuide!
 
Portugal terá mesmo que registar a marca! Há fortes probabilidades de internacionalização e o AICEP já deveria estar atento! Até já estou a ver… Jerigonza, Briquebalante, knarrende Wagen, Krakende Wagen, Contraption


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