Por Nuno Beja (convidado) No Dia da Europa o Lugar ao Sul recebe um convidado especial com um texto inspirador sobre os tempos em que vivemos e sobre o futuro. Convidei o Nuno Beja a publicar este texto que é também sobre a condição humana. Boas leituras. (Bruno Inácio) Sobre o Nuno Beja, na primeira pessoa "Sou um moço que veio de Coimbra para os confins do reino (sim, para a malta lá de cima, "os Algarves", na altura dos noventas, eram muito, muito longe!) e estive a trabalhar como arqueólogo na Ualg e no Museu Municipal de Faro durante uns bons anos, até que a paixão pelas coisas das artes, mais concretamente do cinema (que me levou a integrar durante uns anos o Mítico! Cineclube de Faro) da música, do teatro, e o pilar disto tudo, a cultura na educação, falaram muito alto e levaram-me a deixar os "cacos" e a integrar a equipa da Divisão de Cultura da CM Faro onde adoro estar e trabalhar." O texto de Nuno Beja O que é o tempo? Um mistério: é imaterial e omnipotente. É uma condição do mundo exterior; é um movimento ligado e mesclado à existência dos corpos no espaço e à sua marcha. Mas deixaria de haver tempo se não houvesse movimento? Não haveria movimento sem o tempo? É inútil perguntar. Olhou o relógio de ouro, com tampa de mola e monograma, que, nessa solidão desolada, continuava a tiquetaquear, viva e lentamente, semelhante ao seu coração, o comovente coração humano a pulsar no calor orgânico do tórax... Thomas Mann, “A Montanha Mágica” Sonhar o sonho impossível, Sofrer a angústia implacável, Pisar onde os bravos não ousam, Reparar o mal irreparável, Amar um amor casto à distância, Enfrentar o inimigo invencível, Tentar quando as forças se esvaem, Alcançar a estrela inatingível: Essa é a minha busca. Miguel de Cervantes, “D. Quixote de La Mancha” Coragem, Esperança, Beleza e Liberdade! Voltámos a abraçar-nos! Timidamente, mas já nos conseguimos abraçar. Lembram-se? lembram-se daquele tempo, daquele ano de 2020 em que o outro era sinal de perigo? Em que todos os nossos alarmes de medo nos invadiam? O medo…Sim, pela primeira vez na vida tivemos medo. Medo por nós, pelos nossos filhos, pelos nossos pais, pelos nossos amigos, pelos nossos colegas de trabalho, pelos nossos vizinhos, pelas pessoas que víamos todos os dias no café, na mercearia, no quiosque, na rua… Nunca na vida tínhamos pensado estar em casa três meses seguidos! Sair para ir ao supermercado era de uma angústia quase sufocante, como se nos faltasse o ar ao entrar numa casa sem janelas nem portas! E as outras pessoas…fugir delas como se fossem a própria encarnação do mal. Sim…nunca mais fomos os mesmos, nunca mais a vida foi a mesma. A Europa, melhor, a União Europeia não é a mesma. Ficámos, naquele ano, novamente divididos entre os que estavam no olho do furacão e os outros que se fechavam, erguendo muralhas de palha contra um inimigo invisível. Não foi o nosso melhor momento. Mas que raios! Ainda assim a nossa União foi o melhor que conseguimos fazer em tantos séculos de desunião de nações, impérios hegemónicos e guerras inúteis. Ainda é! a nossa União continua, com algumas fissuras, mas cá continuamos juntos, com muitos a pensar e a agir como se fôssemos todos um só; e somos! Com as nossas identidades, histórias pesadas e outras não tão pesadas, com linguagens diferentes mas únicas na sua riqueza, com os nossos medos, singulares e agora comuns. É verdade! Foi muito difícil. As economias foram depauperadas, o desemprego abundava e subiram aos pódios aqueles que muito vociferavam contra a democracia e a solidariedade e que gostavam de acabar com a nossa União. Não conseguiram! Estamos em nossa casa, juntos, mais unidos que nunca, a cuidar de todos os que ficaram destruídos na luta. Nesta nossa casa, gostávamos que a nossa relação com a Natureza não fosse a mesma que até então tinha sido; já estava a mudar, mas, apesar de ainda termos um longo caminho pela frente, a nossa interação Humano/Natureza não mais será igual; assim como o olhar e a relação com o outro, que é diferente, que não conhecemos; queremos mesmo saber, pensar, quem é, quem são? É o nosso dever, é a nossa condição de seres humanos a viver na mesma casa. Fomos corajosos! Fomos tão corajosos a lutar diariamente contra o mal; fomos tantos a bater à porta de quem estava sozinho, desamparado, a perguntar, a saber a confortar. Foram tantos os que deram a sua vida para que outros vivessem. O que nos resta quando o medo do mal nos invade? O que fica quando um medo até então desconhecido, inconcebível e palpável se torna parte permanente das nossas vidas? O que temos quando a ignorância e a estupidez nos tentam dominar? A esperança e a beleza. Tantos dos nossos artistas, mulheres e homens da cultura estiveram, desde o início, na primeira linha de combate contra a desunião, o desânimo, a depressão, a desesperança. Uma luta sem quartel, levando no estandarte os símbolos da imaginação e da poesia. O mundo mudou. Não mais foi o mesmo. E o que é agora foi fruto das escolhas que então fizemos. Tínhamos, então, ao nosso alcance, dois caminhos que podíamos escolher para o futuro das nossas sociedades: um caminho de desunião onde a vigilância permanente de todos os cidadãos e o seu controlo por meios virtuais se tornaria permanente mesmo após a emergência, levando a totalitarismos; e outro onde a democracia, a formação e informação de todos os cidadãos, tornando-os ativos na defesa de uma sociedade de partilha, de valores, ética e solidariedade, fossem condições essenciais para o futuro. Graças à cultura é às artes, escolhemos o segundo. O mundo mudou. Nós mudámos. Mas trouxemos connosco a coragem, a esperança, e a beleza. Lembram-se? “Hoje o nosso tempo requer leveza, humor, encantamento e poesia. Não é mais a luta do bem contra o mal, representada por Guerra nas Estrelas, mas a utopia da vida bela. Descobrir o instante de beleza que a poesia nos dá, a inspiração que nos lembra que estamos na vida não só para trabalhar, lutar, brigar, mas também para amar, sorrir, dançar, abraçar, sonhar. Vivemos um tempo em que o mais revolucionário é ser poeta.” Marta Porto, “Imaginação. Reinventando a Cultura”. Nuno Beja
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Por Bruno Inácio A análise do resultado de umas eleições, sejam elas quais forem, implica a meu ver um olhar apurado dos números e uma dimensão qualitativa da dimensão política dos mesmos.
Posto isto, quero partilhar convosco alguns numero que me parecem interessante e que nos escapam no quadro geral.
Por Bruno Inácio Créditos fotográficos: Carlos Barroso / Lusa E agora algo invulgar: uma crítica ao Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.
Marcelo é hoje a principal (e já das poucas) barreira à concretização de um processo de regionalização em Portugal. A sua conhecida posição está a inquinar o debate sobre a matéria nesta campanha eleitoral e, não havendo alteração da sua posição, é provável que enquanto for Presidente esta reforma, fundamental para o desenvolvimento e a coesão territorial do pais, não avance. O Jornal de Noticias publicou muito recentemente um oportuno estudo de opinião de onde é possível retirar um interessante conjunto de ilações das quais destaco as seguintes:
Esta sondagem revela uma alteração no pensamento dos portugueses nos últimos 20 anos desde o referendo que deitou abaixo a possibilidade desta reforma acontecer. O então Professor Marcelo Rebelo de Sousa foi o principal ponta de lança na campanha pelo “não”. A sua influência foi importante para que o “não” tivesse mais votos. Hoje vivemos um tempo em que o actual Primeiro-ministro e candidato a novo mandato é claramente a favor da ideia. Em que o líder do principal partido da oposição evolui-o de uma posição em que estava contra para uma posição em que entende ser uma reforma fundamental para o desenvolvimento do país. Um dos acordos celebrados entre PS e PSD permitiu a concretização de uma comissão para estudar o tema, presidida por João Cravinho e que produziu um relatório equilibrado e muito bem estruturado que indica uma caminho para a concretização da reforma. Mas hoje vivemos um tempo em que Marcelo é um problema. O próprio António Costa o afirma de forma frontal: “Há que fazer uma avaliação sobre a oportunidade política da introdução do tema, sabendo-se que o atual Presidente da República foi o campeão do combate à regionalização“ e sublinha ainda que “A pior coisa que podia acontecer para quem defende a regionalização (…) era precipitarmo-nos numa confrontação com o Presidente da República, com um risco de comprometer por mais 20 anos” o processo. Fica claro que sem Marcelo a favor não existe regionalização. Não querendo tecer os juízos políticos que são óbvios, importa dizer que Marcelo irá, como tudo indica, ser recandidato a novo mandato nas eleições de Janeiro de 2021, no mesmo ano das eleições autárquicas. Importa pois, que o ano e pouco que nos resta até lá, seja possível desenvolver acções que sensibilizem o Presidente Marcelo para esta importante reforma. Se tal não for possível espero que os 55% de Algarvios que são defensores desta medida, saibam dar a devida resposta. Existam para isso alternativas que o permitam fazer! Por Bruno Inácio Querer colar um eventual fecho da unidade de neonatologia do Hospital de Faro ao actual Governo tem tanto de populista como este governo dizer que a culpa é do governo anterior. E dizer uma coisa ou outra não resolve o problema apenas nos deixa em banho-maria, onde de resto, esta região tem estado nos últimos anos.
Foi noticiado a possibilidade da unidade de urgência de neonatologia do Hospital de Faro encerrar já em Setembro. Segundo esclarecimento da administração do Centro Hospitalar do Algarve isso é fazer “futurologia” e que a acontecer tal se deve a um conjunto de circunstâncias (“profissionais que se encontram de baixa, por motivos de doença, licenças de maternidade e ainda apoio à família”) a que a administração e por conseguinte a tutela são alheias. Certamente isso é verdade. Tal episódio é no entanto contrastante com um discurso que vimos acentuar no último ano, mas que tem sido tónica nos últimos 4, de que Portugal é um caso de sucesso e que a governação da Geringonça (convém lembrar que foi o PS o Bloco de Esquerda e o PCP) é um oásis no deserto europeu. O Algarve sofre, e não é de agora, de um défice de investimento crónico na área da saúde. A administração do centro hospitalar ou da ARS podem ser melhores ou piores mas a questão não está ali, está acima, no governo e na distribuição de verbas pelo SNS. O Algarve não foi prioridade nem tão pouco relevante nesta legislatura. Foi preterido para outras regiões por meras geometrias partidárias e políticas cujo argumento de decisão foi apenas o da manutenção do poder e não o do interesse das populações. Só isso explica que o governo, sem qualquer razão, tenha preterido a construção de um novo hospital no Algarve em relação a outras áreas dos pais quando existia um estudo técnico que indicava o Algarve como prioritário. Vivemos no tempo em que as coisas são o que se diz que são e não o que são realmente. Só isso pode explicar que tenhamos um Primeiro-Ministro que diz o que entende sem que isso tenha qualquer adesão à realidade. Que se passeia pela EN2 a vangloriar do sucesso da governação mas quando o governo é questionado sobre os inúmero casos graves que temos assistido na saúda na região a resposta é inócua ou cinzenta: “há mais 8 milhões para a saúde no Algarve”. É caso para perguntar: onde? Nada realidade nada têm para dizer. A Ministra da Saúde chegou a afirmar, perante as camaras de televisão e sem se rir, que a urgência pediátrica em Portimão foi a determinada altura assegurada por um médico que estando aposentado se teria disponibilizado a ajudar. E ninguém acha isto fora do normal!? Isto leva-nos a uma questão maior: são demasiadas as semelhanças que estamos a viver com o período que antecedeu a última grande crise. Na altura com o PS de José Sócrates no Governo (que é o mesmo de agora, com as mesmas pessoas), o que não faltavam era inaugurações pomposas, anúncios de sucesso orçamental, aumento dos funcionários públicos. O país vivia momentos de grande prosperidade. Quando a crise internacional se instalou foi o que se viu. Ora os sinais são claros: a guerra comercial mundial o desacelerar da Alemanha. Tudo isto pode trazer uma crise. E quando ela chegar a Portugal? Será o que já sabemos. E porque? Porque as pequenas folgas que tivemos nos últimos anos foram utilizadas apenas em políticas que apelam ao consumo e nada de estrutural foi feito para alterar o nosso modelo económico. Mas vamos cantando e rindo com um Governo que navega a grande velocidade para uma maioria absoluta e um Presidente da República que ajuda a montar a festa. Ser enganado uma vez pode ser engano. Duas vezes em tão pouco tempo é porque merecemos. Nota final: como muitas pessoas eu também receio o avanço dos populismos na Europa e em Portugal. Aqueles que pensam que estamos a salvo dessa tormenta não podem estar mais enganados. Perceber a raiz desse problema não é só olhar para a extrema-direita e o discurso populista que cola facilmente na mesa do café. É também perceber que esta forma de estar na política (a que descrevo neste artigo), procurando agradar a tudo e todos e a trabalhar apenas para as eleições, gera cada vez mais descrédito e desencanto no eleitor que se refugia nos extremos por afinal “são todos iguais”. Créditos Fotográficos: Tomás Monteiro Site de opinião Lugar ao Sul distingue pelo segundo ano consecutivo uma personalidade marcante do ano.
Uma personalidade ímpar que em 2018 cimentou a sua posição como um dos grandes músicos da nova geração da cena cultural nacional. Júlio Resende, pianista e compositor Algarvio, teve um ano de 2018 imparável e recebe agora a distinção de “Personalidade do Ano a Sul 2018” atribuída pelo segundo ano consecutivo pelo site de opinião “Lugar ao Sul”. Participou no Festival da Canção como compositor da música que Emmy Curl interpretou e teve a oportunidade de actuar, com Salvador Sobral, para uma audiência de milhões de pessoas em todo o mundo ao lado de um dos seus ídolos, Caetano Veloso, na final do Festival Eurovisão da canção em Lisboa. O palco tem chamado insistentemente por ele. Seja a solo, seja em dueto com Salvador Sobra, seja através do projecto comum de ambos, a banda Alexander Search, foram muitos os concertos que o apresentaram definitivamente ao país em 2018. Ainda em 2018 Júlio Resende volta a editar um novo álbum, "Cinderella Cyborg". O Jornal Público escreve que este “é um nome em que o pianista pretende reflectir não um choque, mas um encontro entre aquilo que há de mais inocente e poético – na vida e na música –, e o lado mais maquinal e frio associado à tecnologia.” Este seu novo álbum foi nomeado como melhor álbum português de 2018 pela plataforma Altamont e ficou ainda considerado entre os melhores discos pela equipa do Observador (jornal on-line). Os últimos anos tem sido intensos para Júlio Resende. Em 2007 grava o seu primeiro álbum – “Da Alma” - através de prestigiada editora de Jazz, Clean Feed, tornando-se o mais jovem músico português a editar um disco para esta editora, enquanto líder. Segue-se, em 2009, “Assim Falava Jazzatustra”, álbum que viria a ser considerado um dos melhores discos do ano pela crítica especializada. Em 2011 surge “You Taste Like a Song”, um disco em Trio, com a participação de grandes músicos tendi sido classificado com 5***** Estrelas pela Revista TimeOut. Em Outubro de 2013 lança Amália por Júlio Resende. O seu primeiro disco a solo, onde revisita algumas canções do repertório de Amália Rodrigues, iluminado pela memória e pela Voz da Diva, num dueto (im)possível no tema “Medo”. Este trabalho mereceu a melhor atenção por parte da crítica nacional e internacional. Da prestigiada Clássica francesa onde recebeu CHOC DISC***** à célebre Monocle, o consenso foi claro: este é um disco que marca e “está ao nível do que de melhor se faz pelo vasto Mundo”. Seguem-se “Fado & Further” e “Amália por Júlio Resende”. Pelo caminho ainda cria “Poesia Homónima” com o psiquiatra Júlio Machado Vaz onde apresentam poemas de Eugénio de Andrade e Gonçalo M. Tavares. De relevância assinalável é igualmente o cuidado que tem na escolha das vozes que acompanha ao piano, onde se destacam, a titulo de exemplo, para além de Salvador Sobral, Elisa Rodrigues e Sílvia Perez Cruz, com quem também já gravou. Mas Júlio Resende não se esgota na música. Assina uma coluna de opinião na Revista Visão onde aborda temas tão diversos. O também licenciado em Filosofia é pois alguém que reflete regularmente sobre si e sobre os outros. Quando questionado recentemente pela revista Blitz sobre a forma como a Filosofia o acompanha, afirmou que o “obriga a pensar em conceitos interessantes. E a trabalhá-los bem. E tento trazer essas reflexões para o mundo musical, ainda que a música seja outra coisa, que vem depois da reflexão. A reflexão faz-se para trás, a vida faz-se para a frente, como se costuma dizer em Filosofia. E a música também.” Júlio Resende é um profissional inspirador e os autores do site Lugar ao Sul entenderam distingui-lo, depois de em 2017 ter sido distinguido O Prof. Dr. João Guerreiro, ex-reitor da Universidade do Algarve, que foi o presidente da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias dos incêndios de 2017. Em 2018, Júlio Resende conseguiu impor a sua marca num pais que ainda vive profundamente centralizado. Além disso entendemos que a sua forma de olhar o mundo vai ao encontro do que temos vindo a defender no Lugar ao Sul: necessitamos de mais e melhor opinião. Sobre essa ideia, Júlio Resende, tem uma frase lapidar: “As pessoas que digam coisas! Mas tentem pensá-las antes de dizer, já não seria mau.” A data e local da cerimónia pública de atribuição desta distinção será anunciada em breve. Por Bruno Inácio Este é último texto que vos escrevo em 2018. Pensei em retomar um texto que escrevi no final de 2017 onde encarnei um de leitor da sina ou de bola de cristal e procurava prever o 2018. Hoje estive a reler e confesso que é trágica a sensação de que a ironia foi tão certeira que só nos pode deixar tristes voltar aquelas palavras.
No escrito preconizava um avanço significativo no processo de descentralização, a conclusão da requalificação da EN125, a colocação do Hospital Central no seu devido local de concretização (ou seja, betão no chão) e requalificação da oferta turística. Não vos peço para ler isto porque quero que passem umas festas felizes e com esperança no futuro. Quero falar de coisas boas, de coisas frescas. Nesta fantástica região, plena de defeitos e de concretizações adiadas existem aqueles (que acredito serem muitos) que lutam contra a inércia que a espuma dos dias nos impõe. Aqueles que olham com amor para um mar sem fim e que descobrem nas nossas gentes, no nosso passado mas também no nosso futuro, um raio de sol que nos ilumina de esperança mas que também nos enche de vaidade de sermos quem somos. Falo-vos da Maria Manuel Valagão, da Nídia Braz e do Vasco Célio cuja força do amor pelo Algarve os levou a concretizar mais uma obra literária magnífica e fundamental para o nosso presente e futuro: “Vidas e Vozes do Mar e do Peixe” é um guia magnífico da nossa identidade que merece ser folheado e que serve para muito, mas muito mais do que ocupar um lugar de lombada em estante. A Maria Manuel Valagão e o Vasco Célio, então acompanhados pelo sempre genial Chef Bertílio Gomes, já nos haviam emprestado o seu saber e o seu trabalho na obra “Algarve Mediterrânico - Tradição, Produtos e Cozinhas”. Para mim, este trabalho foi, é, e dificilmente deixará de ser, a melhor testemunho contemporâneo daquilo que é a nossa identidade. O fresquíssimo “Vidas e Vozes do Mar e do Peixe”, já nas bancas, é um testemunho riquíssimo de histórias e estórias de gente que viveu ou vive o mar. É um retracto bem pintado da nossa paisagem e da nossa maritimidade. É um filme retrospectivo da nossa memória colectiva embalada em imagens das nossas gentes. Não as imagens que estamos habituados, mas imagens com gente lá dentro que saltam cá para fora num discurso fluido e regado de sabores. É também uma mesa posta de produtos do mar que combinam com os produtos da terra mas é também a voz da modernidade que vê no amanhã o que o mar tem para nos dar. O “Vidas e Vozes do Mar e do Peixe” é uma obra certeira para podermos olhar para nós próprios neste fim de ano e, ao contrário do texto que escrevi o ano passado, nos encher de esperança e orgulho neste Algarve de todos nós. A si, que faz o favor de nos ler, nos comentar e nos partilhar, mas também aos outros, nossos concidadãos deste “Reino”, os meus sinceros votos que passem umas Festas Felizes. Bom Natal e um 2019 com saúde e concretizações pessoais e profissionais. Por Bruno Inácio A tragédia de Borba devia envergonhar todo um Pais. Falhámos mais uma vez enquanto sociedade e enquanto Estado. Falhámos a concidadãos nossos que perderam a sua vida porque nós, o nosso conjunto, não teve a capacidade de antecipar uma tragédia que, ao que parece, estava anunciada.
Tenho sempre a resistência em tomar casos como estes para assumir posições públicas que acabam por ter um significado político. No entanto, este caso especialmente, é paradigmático da forma como o Pais está mal-organizado e de como essa organização pode, em situações como estas, ser infelizmente fatal. Em Borba assistimos ao pior dos dois mundos. Por um lado, a falta de capacidade do Estado central, através das suas direcções gerais (e por consequência dos políticos que as tutelam), em fiscalizar uma exploração comercial e sobre ela exercer o poder regulatório que se lhe era exigido. Adicionalmente (e infelizmente, de forma recorrente) esse mesmo Estado central aceitou desclassificar a estrada em causa sem, certamente, garantir a capacidade financeira da nova entidade que sobre ela iria ter competências. Assim como quem diz: sabemos que não vão cuidar convenientemente, mas deixa de ser nosso problema. Por outro lado, temos uma autarquia cuja volatilidade dos meios financeiros não lhe permitem ter um quadro de pessoal adequado a quantidade e tipo de competências que lhe são atribuídas. Não se trata certamente de má fé. Estamos perante um caso em tanto semelhante a outras dezenas (centenas?) de autarquias que não conseguem ter o corpo técnico adequado à prevenção, actuação e fiscalização de um conjunto cada vez mais amplo de atribuições. Perante tudo isto emerge a necessidade de fortalecer a presença do Estado no território, vinculando o mesmo a decisões populares empoderadas pelo voto e dotando-o de competências que as autarquias tem hoje dificuldades em cumprir e da capacidade financeira que uma gestão de proximidade gere melhor. Não temos que inventar nada, apenas temos que olhar para a grande maioria dos países europeus e perceber que a criação de governos regionais traz evidentes melhorias na vida das populações e consequentemente uma equidade territorial que urge acontecer neste Portugal que hoje vive a duas ou três velocidades. Por Bruno Inácio … ou então vai apenas aumentar o seu custo! É assim, mais ou menos no meio desta amplitude que encontraremos a resposta para aqueles que ainda se vão questionando sobre o futuro das portagens na Via do Infante. Entre aqueles partidos que suportam o Governo e dão corpo a uma geringonça e aqueles que governam o país e nos prometem o céu para logo depois a realidade os desmentir, não será fácil perceber ao certo com o que podemos contar. Perdoem-me. O leitor tem toda a razão. É claramente fácil perceber com o que podemos contar: com portagens durante muito tempo. Já o escrevi aqui várias vezes que é um tema que não me seduz particularmente. Entendo que o estado tem um conjunto de encargos assumidos e que os custos de eliminação, actualmente suportados pelo utilizador pagador seriam difíceis de acomodar no orçamento de estado. Assumir esta realidade actual parece-me de elementar bom senso para que possamos partir para outras discussões nomeadamente sobre a possibilidade de descriminações positivas para áreas de baixa densidade, para áreas periféricas ou até para determinadas classes de veículos ou de população por determinados períodos de tempo. Existe um leque vasto de discriminações que não tendo o impacto que a abolição teria podem trazer benefícios importantes para determinadas regiões ou grupos populacionais. Todos sabemos no entanto que é mais fácil dizer que somos contra e que queremos que acabem com as portagens. Podemos até querer acreditar no conto da carochinha que bastava “acabarem com uns carros e uma mordomias do Estado e isso chegava para acabar com as portagens”. Toda esta história vive na retórica política como uma espécie de bola quente que se atira de um lado para o outro conforme se está no poder ou na oposição. Nada de novo tendo em conta o tempo que esta história já leva. O que no entanto me causa maior urticária é a retórica deste governo que depois se traduz num modos operandi que tem tanto de falso como de perigoso. Nós que gostávamos tanto de apontar o dedo aos “trumps” e aos “bolsonaros” deste mundo, também nos ficaria bem recusarmos um discurso que deliberadamente nos tenta enganar entre discursos de fantasia e promessas de paraíso. Para que não me acusem de ser sectário (vá, para que não me acusem muito!), vou transcrever a novela dos últimos dias sobre esta matéria. São manchetes de jornais entre finais de Setembro e o início de Novembro do presente ano. Um mês e pouco portanto separam estas notícias. 29-09-2018: Esquerda insiste na abolição de portagens em antigas SCUT 30-10-2018: "Este ano pela segunda vez na legislatura vamos reduzir as portagens no interior" (Ministro Pedro Siza Vieira) 31-10-2018: Portagens nas auto-estradas deverão aumentar 1% em 2019 31-10-2018: Portagens sobem pelo 3.º ano consecutivo 03-11-2018: Secretário de Estado defende abolição de portagens para zonas mais pobres do interior No dia 30 de Outubro o Ministro, o recém-reforçado Ministro, Pedro Siza Vieira, anuncia que pela segunda vez na legislatura vão reduzir as portagens no interior. No dia seguinte, repito, no dia seguinte, são noticiados aumentos de 1% nas portagens. Também no dia seguinte, repito, também no dia seguinte, é noticiado que as portagens sobem pelo terceiro ano consecutivo. Bem sei que o Senhor Ministro não mentiu. Mas o Senhor Ministro saberia melhor do que ninguém que da soma entre o deve e o haver a conta final seria de aumento e não de redução do valor a pagar pela população. Mas ainda assim o disse convictamente sabendo no entanto que as portagens iriam subir, lá está, pelo terceiro ano consecutivo. Esta forma de estar é de resto replicada um pouco por todo o Governo. Veja-se o flagrante caso da passagem do Infarmed para o Porto. O Primeiro-Ministro, em plena Assembleia da República disse cinco vezes, sim, disse cinco vezes que o Infarmed iria para o Porto. O Infarmed não foi para o Porto. Outro caso é o do preço dos combustíveis. O governo anuncia pomposamente que os impostos sobre os combustíveis vão descer. Depois começamos a perceber que afinal é só a gasolina que desce e depois começamos a perceber que a taxa de carbono vai absorver parte dessa descida. Ficamos na mesma ou ficaremos pior. Mas o governo lá vai dizendo que vai baixar os impostos sobre os combustíveis. É este discurso perigoso que devemos rejeitar. Porque assenta em bases demasiado fragueis para serem ditas por alguém que representa um órgão de soberania. "Eu não revogo aquilo que disse, eu suspendo aquilo que disse". Uma pérola dita de viva voz pelo nosso primeiro-ministro. Em tempos em que a palavra dada é cada vez menos honrada, sejamos capazes de rejeitar este tipo de discurso, venha ele de onde vier porque é são também (não só, mas também) estas ilusões que vão minando a crença nas instituições e forjando os discursos anti-sistema que vão ganhando lastro por todo o mundo. E nós não estamos infelizmente imunes. António Gedeão cantava que o sonho é uma constante da vida. O Lugar ao Sul, agora com dois anos, conseguiu algo que pouco acreditávamos ser possível: ter uma vida longa e robusta. É certo que já teve os seus momentos menos participados mas nunca deixou de ter actividade constante e regular. Em dois anos de vida foram produzidas mais de trezentos artigos de opinião sobre os mais variados temas e das mais variadas formas. Tal como outros famosos e espartanos 300, marcam uma resistência. Ao alheamento, ao marasmo opinativo, crítico, reflectivo em torno do Algarve, mostrando que esta região tem pensamento e voz. Valerá o que vale, mas para nós é muito. Não só pelo empenho e carinho emprestado a esta ideia, mas fundamentalmente porque acreditamos que conseguimos criar um fórum de opinião que tem ganho o seu espaço no espaço público regional, conciliando gente de diferentes áreas, formações e ideologias em torno de um princípio comum: o Algarve e o Sul de uma forma geral como espaço de pensamento e debate. E, de forma imodesta, acreditamos, porque o vemos, tem vindo a conseguir contagiar a região, que hoje, mais do que há 2 anos, se olha, pensa e discute com outro vigor. Poderá não ser ainda o desejável, mas todo o caminho se inicia com o primeiro passo. Isto importa porque a continuidade deste projecto, contra a espuma dos dias, se deve mais aos leitores que assiduamente fazem do Lugar ao Sul um site com um volume de visitas invulgar para uma plataforma deste género – fora dos grande centros urbanos e longe dos grandes centros de poder – do que aos autores que o realizam todos os dias. É pois devido um grande agradecimento a todos vós que, pelas mais variadas razões, nos vão acompanhando, que nos lêem, que nos elogiam e nos partilham, mas também aquelas que opinando criticam. São todos vós a fasquia que nos ajuda a elevar o debate. Obrigado. Outro factor que tem contribuído para o sucesso do Lugar ao Sul é a capacidade que tem tido para chamar a si novos protagonistas. Em 2017 uma segunda vaga de “habitantes” assentou arraial neste “Lugar” e duplicou a nossa densidade de opinar. Agora, já com dois anos e uma curta mas importante história, é tempo de dar as boas vindas a uma terceira vaga de novos elementos.
É também tempo de dizer até já a outros, que deixaram de escrever, pelo menos regularmente. Sem a sua disponibilidade e a sua entrega, este projecto que, recorde-se, nada mais é que um acto de cidadania activa sem qualquer propósito comercial, não seria possível. Por isso, ao Pedro Pimpão, à Dália Paulo, ao João Fernandes e à Joana Cabrita Martins, o nosso muito obrigado por terem acedido fazer esta viagem connosco. E, sempre que a queiram continuar, as portas deste vosso Lugar ao Sul estarão sempre abertas para vos receber. Aos novos elementos, damos as boas vindas e dizemos que contamos com eles para continuar a inquietar mentes, agitar águas e criar ideias e novos pensamentos. Entram em cena a Patrícia de Jesus Palma, a Anabela Afonso, a Luísa Salazar, o Paulo Patrocínio Reis, a Vanessa Nascimento, a Ana Gonçalves, o Dinis Faísca e a Sara Fernandes. Conheçam um pouco mais sobre todos, carregando aqui. O restante muito que há a descobrir, conhecerão através dos seus textos. Esta é a nova vida do Lugar ao Sul. O propósito é o de sempre: um sentido a Sul, contribuindo para o debate e crescimento deste território. Por Bruno Inácio Existe em Olhão um restaurante, o Bioco, que utiliza na sua promoção uma frase recorrentemente: Mais Amor Por Favor. Todos sabemos que nas bandas do sul, numa versão muito nossa da visão europeia dos eurocépticos do norte, somos convocados para um modo de vida menos agitado e mais propício ao sentimento maior.
Já pela capital do centralismo, Lisboa, que coitada tem de acolher os que com falta de visão periférica combatem diariamente a descentralização, o amor é mais um sinal do quanto nós algarvios (e o resto do país) somos cada vez mais paisagem e Lisboa é cada vez mais Lisboa. "Descobriram, ao fim de 30 anos, que sou incompatível com a minha mulher", exclamou Pedro Siza Vieira quando confrontado com o facto da sua esposa dirigir a Associação de Hotelaria de Portugal, uma área que o agora ministro da Economia tutela. (Curiosamente não vi nenhum tweet da Fernanda Câncio a se insurgir por esta forma possessiva de um ministro tratar a sua esposa. Devia estar distraída, graças A Deus!). O tom jocoso, muito ao jeito do nosso Primeiro-ministro, que nos vai levando neste embalo do engraçadinho, é neste caso bem conseguido, mas coloca a nu, mais uma vez, um dos problemas estruturais deste País: existe cada vez mais Amor por Lisboa, onde tudo está e onde tudo está cada vez mais, e existe cada vez menos amor pela paisagem, ou seja, por tudo o resto que não é Lisboa. Talvez por isso, uns divórcios (figurativamente falando – fica a ressalva, não vá alguém pensar que desejo o mal matrimonial a alguém!) fizessem bem ao processo de igualdade territorial que o País tanto precisa. Tome-se o exemplo do Ministro Pedro Siza Vieira porque ele é bem paradigmático do que é hoje a concentração de poder, a todos os níveis, em Lisboa. Pedro Siza Vieira, enquanto Ministro-adjunto terá reunido com a empresa chinesa China Three Gorges (maior accionista da EDP, que entretanto lançou uma OPA sobre a eléctrica), apesar da empresa ser assessorada pela Linklaters, sua antiga sociedade de advogados, onde era managing partner. Os casos não se ficaram por aí. Empresas de áreas tão distintas como a TAP, Fertagus, Metro do Sul, Metro do Porto, ou hospitais do grupo chinês Fosun, são outras que o ministro acabaria por fazer saber que não deveria acompanhar processos ou tomar decisões pois estas haviam sido suas clientes. Hoje como Ministro de Economia, e depois da pasta da energia ter passado para outro ministério (hoje fazem-se ministérios à medida da pessoa quando se deveria escolher pessoas à medida dos ministérios), surge a polémica com a sua esposa (é assim Fernanda Câncio, certo? Obrigado!) que para além de liderar a Associação de Hotelaria de Portugal foi adjunta da presidência do Conselho de Administração da Amorim Turismo e directora-geral do Turismo. Estão a acompanhar toda esta teia? Efectivamente não é fácil. Não quero com todo este texto particularizar a questão de Pedro Siza Vieira. Quero antes generalizar uma prática que mostra de forma clara que todo o poder político, económico e social vive e se alimenta em torno da capital. Naturalmente que o Ministro não tem culpa da sua esposa ter sido o que foi ou ser o que é, mas a concentração de poder em todas as áreas é tanta na capital que porventura seria preciso fazer um casting (será que aqueles novos especialistas do amor da SIC não podiam dar uma ajuda!?) para os ministros, secretários de estado, directores gerais, etc. etc. etc. não serem incompatíveis com qualquer pessoa. Esta oligarquia e este nepotismo, como Miguel Morgado acusava há dias este Governo de ser (mas que não é só deste governo, apesar do acentuado número de casos que o envolvem), tem terreno fértil para crescer e fazer caminho. E quanto mais a teia se adensa maior é a desfaçatez e o descaramento, empurrando cada vez mais os limites para o campo do inaceitável. O caso recente da legislação aprovada para o alojamento local é um bom exemplo da falta de visão periférica de quem povoa os gabinetes das decisões. Uma lei feita exclusivamente à imagem e necessidade de Lisboa para servir Lisboa. Nem o Porto parece querer avançar para a aplicação das chamadas zonas de contenção. A realidade do turismo existe no Algarve e na Madeira há décadas e estas regiões aprenderam a viver com as suas vicissitudes. Nunca antes houve a preocupação em legislar para acautelar os problemas de habitação de quem vive nestes duas regiões. Exemplos não faltam. A palavra Algarve é praticamente inexistente na proposta de Orçamento de Estado para 2019, o que seria de estranhar não fosse esse um padrão dos últimos anos, notava, e bem, há dias, o Deputado José Carlos Barros. Resta-nos procurar dirimir, onde for possível e onde estiver ao nosso alcance, este “monstro” que se auto-sustenta. #maisamorporfavor é o que se pede aqueles que têm o dever de gerir um país e não apenas uma metrópole, Mas que tantas vezes se esquecem disso. Por Lugar ao Sul
O Lugar ao Sul completa hoje 2 anos de existência. São 2 anos a tentar contribuir para uma reflexão crítica em torno do Algarve, das suas dinâmicas, dos seus problemas, do seu tremendo potencial, de tudo o que permita a construção do seu futuro, em moldes de maior prosperidade, equilíbrio e, acima de tudo, felicidade para todos os que aqui vivem, trabalham e nos visitam. Este esforço nem sempre é fácil, e nem sempre o conseguimos. Mas não paramos. Nem desistimos. E porque não há 2 sem 3, iniciamos este novo ano preparando novidades que em breve serão partilhadas. Entretanto, boas leituras! Por Bruno Inácio A pintura surrealista "La trahison des images" (1928/1929) em que René Magritte nega o que estamos a ver. Na realidade não estamos a ver um cachimbo mas a representação de um cachimbo. 26 de Julho de 2018
“Hospitais do Algarve, Évora, Coimbra e Lisboa Central com maior número de vagas para médicos” 30 de Julho de 2018 “O Algarve precisa de 67 médicos para o Verão mas ainda não conseguiu nenhum” 30 de Julho de 2018 “Ministério da Saúde procura anestesistas a todo o custo, para suprir carências no Algarve” 30 de Julho de 2018 “Ministério da Saúde admite rever atrativos para colocar médicos no Algarve” Quatro títulos de noticias do jornal Público em apenas quatro dias mostram uma realidade que todos conhecemos, que alguns procuram ignorar, que outros querem pintar de cor-de-rosa e que outros usam como arma de arremesso. Olhemos para o problema com as lentes que quisermos mas só por falta de honestidade intelectual é que diremos que não temos um problema. Não sendo de agora, é um problema que também existe agora. Identificado o problema, reconheça-se que os últimos governos têm procurado encontrar soluções para o minimizar. Seja através de trabalho extraordinário, contratação externa, autorização para médicos aposentados regressarem ao serviço, incentivos para a fixação de médicos. De uma forma geral, as soluções tiveram um efeito anestesiante e não resolveram a questão de fundo que, por força da lógica, se acentua profundamente no verão. Chegamos pois a um ponto em que temos um desequilíbrio brutal entre a quantidade de médicos em Lisboa, no Porto e em Coimbra relativamente ao Algarve (e ao resto do território). Será qualquer coisa como o dobro. Ou seja, em Lisboa, Porto e Coimbra existem mais do dobro dos médicos por habitante do que existe no Algarve. Também este fenómeno se explica por várias razões mas se as formos esmiuçar encontraremos os mesmos factores que levaram (e levam!) a um desequilibro territorial que existe no país entre o litoral e o interior e entre os centros urbanos e as periferias. Está visto e comprovado, várias vezes comprovado, que não são os incentivos e as outras medidas anestesiantes que vão fazer mudar a situação. E sim, é uma situação preocupante porque falamos do bem principal que devemos ter a capacidade enquanto Estado (todos nós!) de providenciar de forma generalizada e tendencialmente gratuita. Urge pois medidas de carácter estrutural, radicais (se preferirem o termo!) e consequentes. Seja a construção de um hospital central, seja a obrigatoriedade de colocação na região por determinado tempo, seja a rotatividade que obrigue ao serviço em determinado local do território. Não podemos continuar a formar médicos e continuar com falta de médicos. É claro que não têm de ser os médicos a resolver os problemas que cabe à gestão política, portanto cabe à gestão política implementar medidas, eventualmente impopulares, que se impõe na resolução do problema. Posto isto, e tendo em conta o conto de fadas que temos vivido neste país nos últimos quatro anos, estamos todos (mesmo aqueles que dizem que não e que pintam o país de rosa) certos que isso não vai acontecer. Portanto, por cá, cada um que se amanhe! Por Bruno Inácio No último texto que escrevi para o Lugar ao Sul entrei por campos pouco desbravados (no caso, até era sobre o desbravamento de campo) por mim no que respeita a opinião escrita e publicada. Uma alarvidade ambiental que ocorreu em Cacela Velha levou-me as palavras para o ambiente o que me valeu umas críticas valentes mas onde também me senti alinhado com um conjunto de vozes que, tendo muito mais peso do que eu para o fazerem, criticaram a acção ocorrida naquela que é uma das localidades mais bonitas do Algarve. Como escrevi, “a coisa passará rapidamente como de resto o tempo liquido que vivemos trata de fazer desaparecer.”. E assim foi. Resta-nos esperar que alguma investigação (será que existe!?) nos dê respostas a questões que ficaram no ar.
Não diria que lhe ganhei o gosto mas hoje volto ao ambiente. Porque existem bons exemplos que nos devem motivar a acreditar que será possível um novo paradigma de investimentos no que respeita a forma como olham para o meio ambiente que os rodeia não com a necessidade de desbravar para cimentar (no sentido do cimento da obra) mas numa lógica ponderada entre os habitats naturais, as densidades populacionais locais e o contexto económico das áreas onde se inserem. Falo-vos do Ombria Resort, no interior do concelho de Loulé, entre as freguesias de Querença e Tôr. Aquele que é provavelmente um dos projecto de investimento turístico mais escrutinados em termos ambientais no nosso país. A história é longa, vinte e muitos anos, e no início não trazia novidade: um grupo de investidores finlandeses quis na década de 90 fazer um resort num local onde ninguém queria fazer nada. Compraram terrenos, lançaram projectos e começaram os problemas. Uma autoestrada que depois de já estar construída ainda tinha um desenho que impedia o avançar do projecto; os medos (alguns justificados, sublinhe-se) de uma intervenção do género junto de um sítio classificado; umas lontras que por lá pouca gente tinha visto; morcegos que foram estudados, expondo a intimidade dos animais; tomilhos que não cresciam em mais lado nenhum… foram muitas as razões que levaram a queixas em diversos organismos nacionais e internacionais. Os promotores venceram umas, perderam outras e o projecto foi ficando permanentemente adiado. Honra seja feita a quem tanto combateu o projecto. Mas honra seja também feita, e muita, a quem nunca desistiu dele. Isto porque os anos de tantos avanços e recuos fizeram o projecto ser alterado de tal forma que hoje o que está em marcha é uma pequena parte do que estava inicialmente previsto e existe uma consciência ambiental, do meio que o rodeia que, especulando, diria que não existiria no seu início. E porque é que eu acredito que existiu efectivamente essa mudança? Não me parece que tenha sido uma epifania ambientalista que tenha varrido os investidores (que sejamos justos sempre a apregoaram). Julgo sim que hoje, a exigência do cliente, mais maduro, mais informado, obriga a que investimentos desta natureza tenham que seguir o caminho eco amigo para garantir uma efectiva e real prosperidade do seu negócio e assim garantir o retorno de investimento. Tudo isto porque nos últimos dias o investimento em causa anunciou um projecto pioneiro e ambicioso com vista a instalar um dos maiores sistemas de geotermia da península ibérica. Ou seja, através de um sistema devidamente testado e comprovado, são realizados um conjunto de perfurações no solo que através de um sistema de circuitos fechados, um fluido inócuo circula, transportando o calor e o frio para bombas de calor geotérmicas que permitem a redução das emissões de gases com efeito de estufa, permitindo um consumo mais sustentável. Estando certo que esse é um bom investimento para o empreendimento, não deixa igualmente de ser uma boa noticia pois vai contribuir para uma melhor eficiência energética dos espaços poupando assim o meio ambiente circundante. Adicionalmente a Direcção-Geral da Energia e Geologia olha para este projecto de forma interessada e acompanha-o por forma a verificar como será aplicado e os resultados que vai alcançar, admitindo até que possa utilizar esta experiência para moldar a legislação existente a este tipo de intervenções. Não coloco em causa que ainda vamos assistindo a algumas aberrações pela região fora. Não coloco em causa que existe ainda caminho a trilhar naquilo que é a relação entre os poderes públicos e os poderes privados. No entanto, não deixa de ser igualmente relevante que seja um concelho como o de Loulé, que tem sido pioneiro na implementação de uma estratégia de adaptação as alterações climáticas, a receber um investimento desta natureza. Que estes bons exemplos possam ser utilizados para criar e replicar em boas práticas, devidamente legisladas, controladas e auditadas. Também é assim que se constrói um destino turístico diferenciado. Por Bruno Inácio Foto de Teresa Patrício retirada do Sul Informação Para os mais destemidos ou afoitos que possam pensar que vou escrever um texto com rasgos de erotismo, lamento desiludi-los. Mas, já que aqui estão, vão até ao fim não vá a minha imaginação de um verão-não-verão me levar para essas bandas.
Feito o primeiro ponto prévio quero deixar mais dois. Um sobre o receio que normalmente tenho de escrever sobre matérias sobre as quais não tenho muito conhecimento, correndo o risco de ser incorrecto ou injusto para alguém, seja uma pessoa ou uma organização. Ainda assim, vou arriscar, dado o simbolismo que o exemplo que vos quero falar tem na minha singela opinião. O terceiro e último ponto prévio, para dizer que o pelouro do ambiente é coisa que pouco visito e que de resto o Gonçalo Duarte Gomes representa (ás vezes com a minha total discordância) aqui no Lugar ao Sul, à sua singular maneira. Vou pois lhe passar uma finta e me antecipar naquele que podia ser tema de um próximo texto seu. Não tenho a sua capacidade mordaz de chamar bois aos bois mas a intenção também não é essa. Porque existem bois que se sentiriam ofendidos com alguma sugestão comparativa. Posto isto, vamos ao que vim. Ali para os lados do paraíso, ou como quem diz em Cacela Velha, alguém entendeu que seria boa ideia colocar a nu um terreno, em frente à Ria Formosa, desbravando vegetação como se não houve amanhã ou como se o Armagedão tivesse chegado hoje. Não sei, porque a noticia que li sobre o assunto não o dizia, o porque de tanta sofreguidão no desbaste da coisa. O proprietário lá terá as suas razões, e vamos presumir que serão validas – pelo menos para ele – porque mesmo não sendo, o ICNF – Instituto de Conservação da Natureza e Floresta, entendeu que era mesmo e lá terá licenciado o desbaste. Ao que chamaram alegremente de limpeza. E a dita limpeza terá sido realizada ao abrigo do famoso Sistema de Defesa da Floresta contra Incêndios. Famoso porque colocou o país todo em polvorosa (pólvora aqui não será o termo mais empático para usar neste tema) com a necessidade de limpar as matas como forma de prevenção de incêndios. Se existia um terreno com vegetação, se existe uma licença do ICNF, então o que está errado? Provavelmente legalmente, nada. A questão centra-se no entanto nesta nossa capacidade de podermos usar as leis ao belo proveito e não haver o discernimento institucional para se perceber que tal pode não ser uma boa ideia. As tantas até é, mas desconfio que não será. E porque tantas vezes é exactamente ao contrário ao que exponho que actua o ICNF. Com um rigidez tão inflexível, firme e hirta, que nem o Alexandrino quebra. O ICNF que é tão lesto a meter luzes vermelhas em tantos projetos e ideias, que é tão lesto e cego a proibir tanta coisa, devia ser igualmente lesto a olhar para o que autoriza com olhos de ver e não se escondendo atrás de legislação que dá jeito para muita coisa. Muita coisa boa certamente, mas depois também para disparates, que é o que na realidade este caso aparenta ser. A gravidade maior deste ato é acentuada porque o terreno em causa está em pleno Parque Natural da Ria Formosa e como tal sujeito a legislação especifica ditada pelo sistema nacional de áreas protegidas. Que é como quem diz, ali não dá para ficar nu. Por muito bonito que possa ser o que está por baixo – não é claramente o caso-, convém que se mantenha alguma cobertura de decoro. Porque o ato de ficar nu é muito diferente de naturalismo e de naturismo. Mas as vezes dá jeito confundir. A questão que se coloca é pois legítima por parte de outros que tenham terrenos nas mesmas condições, seja no Parque Natural da Ria Formosa, seja em qualquer outra área do território nacional sujeita a tais protecções: dá para dar um jeito e fazer igual? Não dá, pois não?. Ai onde entra a igualdade de tratamento que o ICNF invoca em tantas situações? Não entra. Fica a porta. A silly season esta a chegar e portanto a coisa passará rapidamente como de resto o tempo liquido que vivemos trata de fazer desaparecer. Nota final: desculpem, efectivamente a minha imaginação de um verão-não-verão não me levou para outras bandas. Por Bruno Inácio A novela da organização do território ao nível das freguesias é como aquelas telenovelas mexicanas: o drama nunca mais tem fim e são milhares de episódios. Nunca se sabe bem como vai acabar. Ou se vai acabar.
Já aqui escrevi sobre este tema em Novembro de 2016 (pode ler aqui: E as freguesias? (xiuuu, não falem nisso pá! leitura que recomendo para contextualizar toda esta questão). Na altura procurei fazer um historial do processo e tecer algumas considerações que basicamente desaguavam numa tremenda falta de consideração de alguns políticos pelas populações, a quem impingiram promessas populistas e demagógicas. Chegamos a Maio de 2018 e o cenário não mudou muito. Em Janeiro deste ano, no congresso da Associação Nacional de Freguesias, o Ministro da Administração Interna, voltou a puxar das promessas para cima da mesa: “que o Governo vai entregar “neste semestre” uma proposta ao parlamento para a reorganização territorial das freguesias, que permita a criação ou modificação destas autarquias locais, para um “regresso à normalidade democrática”. “Aquilo que iremos fazer é uma lei-quadro que colocará cada coisa no seu plano e que dará a voz aos autarcas. É essa proposta que, neste semestre, apresentaremos na Assembleia da República para que se volte nesta matéria à normalidade democrática, isto é regras estáveis que definam como é que organizamos o território” Nada de muito concreto mas suficientemente claro para ganhar mais seis meses desta discussão. Pois bem, os seis meses estão a terminar e é tempo do governo mostrar trabalho e por mãos à obra. O Partido Socialista gerou muitas expectativas sobre este tema nas eleições legislativas de 2015. A promessa de ter a questão resolvida para as autárquicas de 2017 falhou como de resto o ministro assumiu. Resta agora saber se irá cumpri a promessa de, passo a citar: “este ano (2018), que é o primeiro ano de mandato autárquico, dar passos significativos que depois serão desenvolvidos nos próximos anos”. Neste debate não tem faltado e continuará a não faltará quem procure tapar o sol com a peneira procurando contaminar o discurso público e político com a acusação simplista de que foram os promotores da agregação das freguesias que agora estão a defender a reversão da medida. Como se de resto isso fosse relevante para o futuro da questão. Servirá certamente para avaliação política dos eleitores mas não servirá para desculpar uma eventualmente falha da palavra dada. É caso pois, para colocar a questão: será esta uma palavra honrada? Espero, sinceramente, que sim. Aguardemos as cenas dos próximos capítulo. Por Bruno Inácio Galeria de Meinke Flesseman. Imagem utilizada na ilustração do artigo a que se refere este texto. Créditos Fotográficos Ann Abel “The Capitalist Tool” (em português, qualquer coisa como "A ferramenta capitalista"), é a forma como a famosa revista Forbes se descreve. O seu core business são artigos e análises sobre finanças, indústria, investimento e marketing. É pois um marco do capitalismo global, sendo famosas as suas listagens das pessoas mais ricas, mais influentes, mais tudo e alguma coisa, que realiza.
E o que é que isto interessa para esta nossa região paradisíaca no canto oeste da Europa? Para o meu artigo de hoje, interessa tudo. Especialmente porque uma senhora chamada Ann Abel resolveu escrever um artigo com as sete razões para amar Olhão, Portugal. Esta coisa de terem que enumerar tudo não é nova e até gosto. O que não gosto tanto é que entre a virgula após a palavra Olhão não exista a palavra Algarve que muito bem iria anteceder a palavra Portugal. Mas são isso são details, darling, details, e não prejudica o sentido elogioso que quero dar ao artigo. As sete razões que a Ann encontrou para amar Olhão foram as seguintes: a Casa Fuzetta, os recentes murais de arte pública, a fabulosa gastronomia do mar, a Re-Creativa, a Casa Modesta, os estúdios de artistas e os restaurantes. A razão que chamo a atenção para este artigo, que pode ler on-line aqui, é que não é o sol e a praia a principal razão da paixão de Ann. Não são os maravilhosos hotéis que temos. Não são as esplanadas a beira-mar. Das sete razões que a Ann invoca para se ter apaixonado por Olhão, Algarve, Portugal, a cultura associada a nossa identidade é o fio condutor comum entre todas. Isto faz vir a tona, mais uma vez, a importância que o factor “cultura” tem hoje nas escolhas que os turistas fazem. Apostar nas múltiplas vertentes que culturalmente podem ser incentivadas é hoje um imperativo que um destino turístico tem que realizar. Permitam-me pois que resuma o que procuro elogiar, transcrevendo o primeiro parágrafo do artigo a que me refiro: “The Algarve region of southern Portugal is beloved for its stunning beaches, buzzing resorts and sleepy fishing villages. So it comes as something of a surprise to discover the vibrant art scene. But international creatives have settled in here in a serious way, giving the whitewashed, sun-drenched city an air of bohemian sophistication that makes it a dreamy destination for those whose idea of a vacation doesn’t begin and end with lying in the sun. Here are seven reasons to visit now.” (Ann Abel, Forbes, 07 Maio 2018) Ou numa tradução (minha) livre será qualquer coisa como: A região do Algarve no sul de Portugal é amada pelas suas praias deslumbrantes, resorts movimentados e calmas aldeias de pescadores. Por isso, é uma surpresa descobrir a vibrante cena artística. Mas criativos internacionais instalaram-se aqui de uma maneira séria, dando à cidade banhada pelo sol um ar de sofisticação boémia que faz dela um destino de sonho para aqueles cuja ideia de férias não começa e termina no sol. Isto foi escrito sobre Olhão, Algarve, Portugal. Mas vale para todos aqueles “Algarves” que têm batalhado por transformar a nossa região, num destino culturalmente apelativo. A tal de Ann Abel é uma galardoada escritora/jornalista de viagens que escreve para várias publicações, inclusive a dita Forbes. E como a mesma gosta de se auto-intitular é uma “girlie badass”. E que badass artigo tu escreveste, Ann. Thank you! *O titulo deste artigo é uma adaptação da frase “É a economia, estúpido!” , da autoria de James Carville, assessor da campanha de Bill Clinton para as presidenciais norte americanas em 1992. Por Bruno Inácio Hoje é dia 25 de Abril. Data fundamental da história de Portugal. Existe um antes e um depois do 25 de Abril de 1974 e claramente o depois é melhor que o antes. Não quero deter este texto num conjunto de frases feitas que ouvimos muitas vezes por ocasião desta efeméride, não sei se vou conseguir, mas vou tentar.
No scroll que o meu polegar (e as vezes o indicador) vai fazendo pelas redes sociais encontrei um post do Professor António Branco, ex-reitor da Universidade do Algarve, que chamava a atenção para uma citação de Mussolini encontrada num recente livro de Madeleine Albright, intitulado “Fascism: A Warning”. O ditador, Mussulini, terá dito o seguinte: “Se depenarmos uma galinha pena a pena, ninguém dará conta.”. Esta frase é de uma força, de uma brutalidade e, infelizmente, de uma actualidade incrível. Vivemos tempos que de tão acelerados que são, não nos permitem parar, olhar e pensar sobre o que se passa a nossa volta. A ansiedade do amanhã, a necessidade da inovação tornou-se um facto não passível de discussão. Todos temos que ser inovadores ou não existe lugar para nós no mundo moderno. Associada a esta efervescência de modernidade, somos inundados por dois grandes males: a intolerância e a ansiedade. O respeito pelo próximo deixou de ser uma pedra angular dos valores humanos para se tornar um acessório utilizado conforme dá mais jeito. Sobre esta frenética necessidade de fazermos tudo hoje, tudo bem feito hoje, tudo muito bem feito hoje, a superior escritora Lídia Jorge nos deixou um texto no Lugar ao Sul em Fevereiro do ano passado, intitulado "Algarve da Lentidão" Mussulini sabia do que falava. Sabia que a forma de eliminar a democracia e os contrapoderes era criar condições para que gradualmente eles fossem renegados pelo povo até surgir a “necessidade” de os eliminar. Hoje vivemos situações que nos devem obrigar a parar para pensar se a nossa democracia não estará a ser descascada camada por camada como uma cebola que vai perdendo a sua vitalidade. O exemplo mais paradigmático veio da rede social que surgiu como uma forma de dar voz popular aos invisíveis. A forma e força que o Facebook ganhou é de tal forma gigante que hoje é possível mentir (sim, mentir!) e milhares (ou milhões!?) de pessoas acreditarem nessa mentira por mais estapafúrdia que possa parecer. Veja-se este exemplo: no dia 01 de Abril, dia das mentiras, um português publicou um texto no facebook, com uma foto montagem, a informar que nas próximas semanas o nível da maré entre a Ilhas do Faial e a Ilha do Pico, no arquipélago dos Açores, atingiria uma cota mínima que permitiria uma travessia a pé entre ilhas. A publicação vai nas 10 mil partilhas e se algumas entenderam o gozo da coisa a verdade é que muitos comentários são de gente que efectivamente acreditou que seria possível percorrer 10kms no meio do oceano atlântico porque a maré iria baixar. Não nos admiremos pois que escândalos como o da Cambridge Analytica, que terá adquirido dados ao facebook para manipular a opinião pública norte-americana na eleição para a presidência do país e que o terá alegadamente feito em outros locais do globo, sejam cada vez mais recorrentes. Esta ameaça é real e tenho sérias dúvidas que sejamos passíveis de a travar. Acredito pois que a solução para este gigante problema não passará só por maior regulamentação mas acima de tudo por mais educação. Nos grandes momentos de crise a educação foi sempre a resposta mais eficaz. Deve ser esse o nosso foco: educarmos melhor para termos melhores cidadãos que sejam cada vez mais capazes de colocar em causa o que lêem e o que vêem. Apostar numa educação cada vez mais virada para a capacidade de formar opinião de forma correta, contrapondo o que por vezes parece óbvio, é essencial para garantir o que o 25 de Abril nos trouxe. Por Bruno Inácio Em Lisboa tudo é resolvido. O resto do país é paisagem. Não é novo, não é de agora, não é novidade. É apenas recorrente, descarado e injusto.
O problema da habitação é algo com que os Algarvios aprenderam a conviver nos últimos 40 anos. Gerações após gerações sofreram o efeito turístico na região. A inflação que o metro quadrado das habitações teve é um dos mais significativos. Os Algarvios souberam-se adaptar. Souberam encontrar em locais menos turísticos zonas residenciais. Quando tal não era possível assumiram que teriam de pagar esse valor extra, que a procura turística pela nossa região nos trouxe. Não é novo, não é de agora, não é novidade que existe um conjunto de problemas associados ao incremento da procura turística. Uma espécie de efeitos secundários que como qualquer bom paciente, procuramos atenuar tendo em conta que o problema é derivado, à partida, por um bem maior. Recentemente o “Observador” (esse órgão de comunicação social que aquela elitezinha da esquerda caviar lesboeta adora desdenhar) fez um trabalho muito interessante sobre o custo da habitação em Portugal. Podem ver a sua totalidade aqui. Transcrevo somente uma parte: “É nos municípios do distrito de Faro que os preços e as rendas das casas estão mais desfasados dos salários locais.” “No terceiro trimestre de 2017, os alojamentos familiares vendidos em Albufeira registaram um preço mediano de 1.524 euros por metro quadrado, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), o que significa que uma casa de 101 metros quadrados custa perto de 154 mil euros. Porém, em 2015, o vencimento mensal bruto dos albufeirenses rondava 884 euros, de acordo com o Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social. Uma habitação custa, assim, o equivalente a 15 anos de trabalho. Arrendar pode não ser mais fácil. Em 2017, os novos contratos de arrendamento em Albufeira tiveram um valor mediano de 5,78 euros por metro quadrado, o que representa uma renda de 584 euros para uma casa de 101 metros quadrados. Isto quer dizer que seria preciso aplicar mensalmente 66% do ganho bruto médio de um trabalhador. Para o Governo, existe uma sobrecarga das despesas com arrendamento quando as rendas ultrapassam 40% dos rendimentos líquidos do agregado familiar.” Estes dois parágrafos demonstram claramente que o problema está mais do que identificado. Todos nós que aqui nascemos, crescemos ou escolhemos esta região para viver sabemos que é assim desde sempre (ou desde que o fenómeno turístico se intensificou). Em Lisboa não sabiam. Alguém se esqueceu de os avisar que o turismo tem efeitos secundários. Um dia acordaram e perceberam que as casas para os lisboetas estavam a ficar mais caras, que as zonas nobres da cidade estavam a ficar ocupadas pelo sector turístico e que as zonas históricas eram cada vez mais difíceis de ser habitadas por naturais da cidade. Uma sacanagem. Foi isso que aconteceu. Uma sacanagem não ter havido aviso aos inocentes responsáveis pela cidade, pelo governo e pelos pais de que tal ia acontecer. Mas, como em tantas outras coisas e outros sectores, se o problema é em Lisboa, então é urgente, o que quer dizer que é preciso resolver. Ao contrário do resto do país em que convém estudar, pensar, planear e nunca executar. Veja-se em mais detalhe os acontecimentos dos últimos dias. O Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, anunciou que iria concretizar um protocolo com a Segurança Social (esse instituto NACIONAL) no sentido de disponibilizar habitação a cerca de 1100 pessoas das classes médias e a preços acessíveis. Ou seja, a Segurança Social, paga por habitantes de todo o pais, tem um conjunto de prédios em Lisboa, pagos por todos nós, que agora irá disponibilizar através de protocolo com a Câmara Municipal de Lisboa, para as pessoas de Lisboa poderem ter habitação acessível para a sua classe média devido aos efeitos que o turismo tem provocado na cidade. Leia-se as declarações de Fernando Medina: “Talvez com mais significado, porque é um processo em que estamos a mobilizar tudo o que conseguimos mobilizar na cidade, é o trabalho que estamos a fazer com a Segurança Social no sentido de assegurar que vamos conseguir disponibilizar à cidade habitação para mais de 1100 pessoas, entre habitação permanente e residências universitárias, quartos para estudantes universitários. A Segurança Social e a Câmara estão a trabalhar em conjunto para que o património da SS na cidade - os prédios da SS onde estavam e ainda estão instalados serviços que vão ser relocalizados num novo edifício que foi destinado para esse fim - possa ser mobilizado para o programa de renda acessível. É uma iniciativa muito importante, um sinal muito claro também da Segurança Social de querer participar neste projeto, que vai significar conseguirmos disponibilizar habitação nas zonas nobres da cidade de Lisboa; (…) Assim, no global, dez prédios nas zonas nobres e centrais de Lisboa vão permitir que tenhamos mais de 200 apartamentos e cerca de 200 quartos para estudantes universitários. Estamos a falar de um universo global de mais de 1100 pessoas que vão ter acesso à habitação. Contamos fechar o protocolo que nos permita a utilização desses fogos muito em breve; a seguir vamos requalificar esses fogos.” (veja a totalidade da entrevista aqui) Não se pasme senhor leitor. Se está a ler este texto, se nasceu, cresceu ou escolheu o Algarve para viver estou certo que se recorda das inúmeras vezes que a Segurança Social (ou a Administração Pública Central e o Governo) colocou um conjunto de habitações a preços controlados para a classe média no Algarve. Não se recorda? Pois, é normal, isso no Algarve não acontece. Por Bruno Inácio Eu também não. Pelo simples facto de que este não existe.
E sim, deveria existir um canal de televisão dedicado ao Algarve ou ao sul de Portugal. A criação de espaço público deve ser nos dias de hoje uma das nossas preocupações tendo em conta a dimensão e força que outras plataformas sociais ganham. Ter hoje um conjunto de pessoas e um conjunto de meios que nos fazem chegar informação fidedigna e que levem às grandes massas o debate e o contraditório é um imperativo das democracias ocidentais. De um ponto de vista territorial e da sua coesão, um canal televisivo dedicado às questões do sul seria uma óptimo instrumento de reforço da nossa identidade e de aumento do escrutínio público por parte da população para com os seus eleitos e o “seu” estado. O simples facto de conseguirmos promover lideranças, pela sua capacidade de liderança e não pelo seu poder económico, seria per si uma vitória importante. Vem esta questão a propósito de um texto que escrevi aqui no Lugar ao sul onde defendia um jornal diário no Algarve e depois de ter assistido a uma conferência da editora Sul Sol e Sal moderada por Rosa Veloso, a nova responsável da RTP no Algarve. Nesta conferência a jornalista defendia que os autarcas deveriam exigir a administração da RTP um centro de retransmissão (não sei se era exactamente este o nome, sendo que a ideia geral passava por uma maior capacidade da RTP ter meios para transmitir a partir de Faro) para o Algarve. A jornalista afirmou ainda que já tentou variadas vezes propor especialistas do Algarve para comentar diversas questões mas sem sucesso. Ora bem, o que o Algarve precisa não é uma RTP mais forte, o que no Algarve urge concretizar é um canal de televisão próprio, transmitido via cabo, que seja produzido no Algarve, por gente com conhecimento regional que, sem perder o seu lugar no país e no mundo, seja um potenciador da realidade local. Poderíamos percorrer o mundo e a Europa para referir centenas de exemplos de canais televisivos de base regional que servem o propósito que acima vos descrevi mas não precisamos ir mais longe do que o nosso próprio território. Em primeiro lugar a RTP Madeira e Açores que funcionam quase como um canal autónomo e com conteúdos próprios. A dimensão ultraperiférica dos dois arquipélagos é atenuada por conteúdos informativos próprios que estes dois canais produzem numa base diária. A norte, em 2006, surgiu o Porto Canal. Um bom exemplo de como a força de uma região, nomeadamente a Universidade do Porto, as empresas da região, as autarquias e um conjunto alargado de entidades, pode potenciar a criação de um espaço público mais amplo e democrático. Temos todas as condições para levar a efeito um projecto desta natureza. A RTP podia até assumir aqui um papel fundamental a ser um dos accionistas do projecto e potenciar a criação e lançamento do canal. Termino da mesma forma que o fiz com anterior artigo referido no início deste texto: Fica o desafio, o estímulo, o que entenderem chamar. Nem que seja, fica para memória futura. Por Bruno Inácio Sebastiaan Bremer (Dutch, b. 1970). Jump Into the Fire, 2008. ©Sebastiaan Bremer/Courtesy of Edwynn Houk Gallery. Conulsa neste link Projecto megalómano. Foi assim que Lídia Jorge descreveu a necessidade do Algarve olhar para Sagres e o seu património material e imaterial. O contexto não era pejorativo como podem eventualmente pensar. O que a escritora nos quis transmitir é que existe ali um potencial tão grande, maior que a região e que o país, que merecia ser alvo de uma profunda intervenção e potenciação internacional. De resto foi esta a tónica do encontro que a editora Sul Sol e Sal e o Rotary Club de Faro levaram e efeito no passado dia 08 de Março em Faro sob o tema “O Algarve, Portugal e o Futuro – A cultura, perspectivas e desafios”.
Precisamos ganhar a mania das grandezas na nossa região. Não basta o discurso de que somos quem tem mais turistas de quem tem as melhores praias. Sim, tudo isso é importante e significativo mas o Algarve precisa que olhemos para a região com a vontade de concretizar ideias e projectos que nos extravasem, que vão para além da “coisinha” (com todo o respeito pelas “coisinhas”) e que consigam nos surpreender, pasmar e finalmente que exortem o nosso sentimento de orgulho por aquilo que é nosso. Não é pouco importante isto que vos escrevo. O Algarve vive neste contexto permanente de “wannabe”, em que suspiramos e elogiamos os que os outros lá fora fazem e parece que existe sempre qualquer coisa que nos impede de ser e fazer tão bom ou melhor. Parece que nos fixamos numa crise de meia-idade em que temos tudo para ser brilhantes mas nos falta um desbloqueador. Digo que não é pouco importante porque essa megalomania que precisamos seria a melhor arma para lutarmos contra um statu quo centralizador que se instalou em Portugal, que depois de centrar tudo em Lisboa ganha ares de bipolarização com duas grande metrópoles em Portugal a sugar tudo para si. Prova disso foi esta sessão referida no início deste texto. A tónica ambiciosa que me referia foi centrada em duas das convidadas, Lídia Jorge, a qual já fiz referência, e a Dália Paulo. Ambas pessoas do Algarve. O terceiro convidado, o ex-ministro da cultura João Soares, que já foi deputado pelo Algarve duas vezes, deu razão a tudo o que em tempos o saudoso pensador algarvio António Rosa Mendes disse para o descrever e que me abstenho de transcrever perante a sua genialidade. Do Algarvio, claro está. São pessoas como estas, o ex-ministro, que pensam que o Algarve está muito bem servido de uns teatro e como tal não precisamos de mais. Pior, ainda utilizam essa rede de infraestruturas para nos acusar de termos como fazer e de não o fazermos. Ou seja, de sermos incapazes. Vivemos nesta encruzilhada. Ainda por estes dias o Ministro do Ambiente veio ao Algarve dizer que tinha contabilizado 250 mil euros em prejuízo do temporal que nos assolou. Ora, só em Faro, as estimativas aponta para 7 milhões de prejuízos. É esta a forma que nos olham, o cuidado e o carinho que nos têm. É este pensamento bacoco que temos de combater com megalomanias. É esta forma de como nos olham que temos de combater com projectos diferenciadores. É este sentido de falta de coesão territorial que temos de romper com a nossa capacidade de irmos mais além. Por isso quando vejo qualquer responsável do Algarve a anunciar o que muitos podem achar uma megalomania, só tenho que me levantar e aplaudir de pé. Nota sobre outro tema A AMAL fez publica uma comunicação em que aprovou a intenção política de implementação de uma taxa turística na região. Só a CM Silves terá não concordado. Agora o processo passa para discussão municipal, nomeadamente para os executivos camarários numa primeira fase e para as assembleias municipais posteriormente. Aqui no Lugar ao Sul já tivemos essa discussão e já expressei a minha opinião pouco simpática para taxas deste género. Não posso no entanto ignorar o facto de a região ser permanentemente secundarizada e isso nos poder deixar sem alternativas para financiarmos as megalomanias que aqui defendo. Não querendo perder a coerência, este é um assunto que vale a pena debater. Por Lugar ao Sul Dando continuidade àquela que é já uma tradição, o Lugar ao Sul voltou a marcar presença no ciclo de conferências “O Algarve, Portugal e o Futuro”, organizado e dinamizado pela editora algarvia Sul, Sol e Sal, e pelo Rotary Club de Faro. Desta vez, a nossa Dália Paulo, tal como a nossa convidada Lídia Jorge, fez parte do painel que discutiu as perspectivas e desafios que se colocam à Cultura no Algarve, no sentido da sua plena afirmação como pilar fundamental da identidade da região e alicerce para a construção do seu futuro. E, claro está, com o apoio dos restantes a partir da bancada. No Dia Internacional da Mulher, a Dália promoveu uma excelente representação das mulheres deste nosso Lugar, que demonstram e afirmam (para os muito distraídos que ainda possam ter dúvidas), no seu dia-a-dia, nos seus diferentes papéis sociais, a mais-valia indispensável que é poder contar com a participação feminina no pleno usufruto dos seus direitos, livre de preconceitos e injustiças, em autêntica equidade. Também uma saudação muito especial à organização, pela iniciativa que em boa hora materializaram e que claramente vai conquistando o seu espaço como acontecimento de referência no panorama do debate do carácter, momento e devir algarvio. Até à próxima! Por Bruno Inácio Carlos Silva e Sousa, um Senhor É inevitável começar o meu texto quinzenal com uma referência a Carlos Silva e Sousa, falecido Presidente da Câmara Municipal de Albufeira. O “Lugar ao Sul” já aqui fez uma bonita nota de pesar mas não posso deixar de escrever umas linhas sentidas sobre o homem que conheci e de quem gostava. Não me irei alongar em muita adjetivação porque não era propriamente visita de casa do Carlos, mas desde que as lides políticas nos aproximaram sempre o tive como amigo. Apreciava acima de tudo o seu sentido de humor. Era um humor inteligente, discreto mas fatal. Sabia ser engraçado sem ser engraçadinho. Sabia nos fazer sorrir sem ser brejeiro ou perder a compostura. Refiro esta qualidade porque para mim é das mais importante que qualquer um de nós pode ter: apesar das responsabilidades, dos encargos e da pressão, é fundamental encontrarmos espaço para sorrir para a vida e percebermos que assim também podemos ser pessoas melhores. De resto, os seus mais próximos, já tiveram a humildade de partilhar connosco as suas qualidades de gestor, de advogado, de agricultor, de político… de Homem Bom. Guardarei com carinho e com o sentimento de sabedoria que ele me quis transmitir as últimas (longas) conversas que tivemos, aquando da preparação do processo eleitoral autárquico do qual ele saiu vencedor. Era um Senhor. Honremos a sua memória. O Algarve Unido Já aqui o escrevi e não quero quebrar a minha coerência. Não tenho uma opinião formada sobre a exploração de petróleo no Algarve pois nunca estudei o assunto de forma suficiente para o entender de forma clara. Posto isto, prefiro não emitir juízos de opinião simplistas só “porque sim” ou porque é politicamente correto. Também já aqui escrevi, muito pela rama, me parece que a exploração de hidrocarbonetos parece mais prejudicial do que benéfica para a região, mas, volto a frisar, é uma opinião pela rama. Remonto a este tema para enaltecer o acontecimento do dia 22 de Fevereiro de 2018. Como não se via há bastante tempo, autarcas, associações empresariais, entidades descentralizadas do estado e movimentos da sociedade civil, juntaram-se para falar a uma só voz. Não foi apenas mais um dia, apenas mais um momento. Este momento é um momento-chave. Esta iniciativa demonstra que, quando existe a disponibilidade de envolvimento e de união, é possível o Algarve falar a uma só voz sem que necessite de “uma só voz”. Neste caso tratou-se de uma questão ambiental mas devemos aproveitar este movimento para outras ações que são tão ou mais importantes: a descentralização, o ordenamento do território, a diversificação da economia regional e a qualificação do turismo. Existe coragem? Valemos 6 mil milhões. O Hospital custava “apenas” 250 milhões.
O Banco de Portugal divulgou no passado dia 21 de Fevereiro as contas finais de 2017 do turismo. Portugal gerou mais 15 mil milhões de euros com o sector do turismo. Esta subida, na ordem de quase 20%, representa a maior subida do sector desde a Expo 1998. Se tivermos em conta que o Algarve representará cerca de 4,5% do PIB nacional e cerca de 40% do sector do turismo nacional (e estamos a jogar por baixo), então, grosso modo, estamos a falar de um valor na ordem dos 6 mil milhões de euros. Só para colocarmos em perspectiva os valores enunciados: a requalificação de toda a EN125 terá um custo a rondar os 125 milhões de euros; o novo Hospital Central do Algarve representará (um dia longínquo….) um investimento na ordem dos 250 milhões de euros. Posto isto, não será legítimo o Algarve e os Algarvios reivindicarem uma maior dimensão política nas escolhas de investimentos para a região? E acompanhado dessa maior dimensão política, não é mais do que legítimo reclamar mais investimento público na região? É certamente, mas precisamos que todos, em uníssono o apregoem. O Lugar ao Sul interrompe-se pela dor e pela consternação.
Hoje o nosso sal é de lágrimas, no adeus a Carlos Silva e Sousa, o Presidente da Câmara Municipal de Albufeira. Servidor público, voz crítica numa região que sonhou e defendeu, com convicção política de regionalista. Neste Algarve, que lhe corria nas veias, plantou vinha, semeou valores e simplicidade. Parte, e deixa a colheita e os ensinamentos, em favor de um território e de uma família que sempre valorizou. À família, a equipa do Lugar ao Sul endereça sentidas condolências. Ao Carlos, um abraço, e até um dia. Por Bruno Inácio
A entrega da distinção de “Personalidade do Ano a Sul – 2017” pelo Lugar ao Sul, ao Professor João Guerreiro potenciou o encontro de dirigentes e influenciadores de várias áreas da vida pública do Algarve. Foi igualmente uma oportunidade para trocar ideias, conversar sobre o Algarve e projectar futuro. Vale o que vale mas cada vez mais me convenço que a nossa capacidade de construirmos um futuro melhor para o Algarve e para o Algarvios passa necessariamente pelo diálogo intersectorial, interpolitico e interpartidário. E é nesta base que quero expressar três ideias, que terminam com três questões, que me parecem fundamentais. Presidente da comissão técnica independente que analisa os incêndios do ano passado, recebeu a distinção de “Personalidade do Ano a Sul – 2017” atribuída pela plataforma de reflexão “Lugar ao Sul” Um fundo de coesão regional para o Algarve, criada pelas autarquias e absorvendo parte das receitas do Imposto Municipal sobre as Transmissões de Imóveis. Foi esta uma das grandes ideias que o Professor Doutor João Guerreiro deixou a uma plateia de cerca de meia centenas de convidados que assistiram no passado dia 05 de Fevereiro a entrega da distinção “Personalidade do Ano a Sul – 2017” organizada pela primeira vez pela plataforma de reflexão “Lugar ao Sul”.
Numa intervenção pautada pela necessidade de afirmação regional do Algarve, a proposta de João Guerreiro visa a concretização de um conjunto de investimentos regionais de base supramunicipal, não dependentes de ciclos políticos autárquicos ou legislativos. A ideia, segundo explicou, seria criar um fundo que pudesse levar a efeito projetos de investimento que por um lado são estruturantes mas também outros que possam esbater as assimetrias existentes dentro da própria região. Seria um fundo que teria de beneficiar adicionalmente da participação de recursos nacionais e comunitários. Com diversos presidentes de câmara na plateia, com o Reitor da Universidade do Algarve, com diversos dirigentes regionais, com um conjunto de pessoas de referência em diversas áreas da vida da região e ainda com o presidente da AMAL, Jorge Botelho, ao seu lado, o ex-reitor da universidade do Algarve interpretou a distinção que lhe estava a ser atribuída como uma necessidade de debater mais a região mas ao mesmo tempo de criar pontes que permitam que possamos ser mais concretizadores. A plataforma de reflexão “Lugar ao Sul” que numa base regular produz textos de opinião no site www.lugaraosul.pt entendeu atribuir esta distinção ao Professor João Guerreiro não apenas através do trabalho realizado nos diversos cargos de responsabilidade que ocupou no passado, desde a presidência da então Comissão de Coordenação Regional do Algarve à Reitoria da Universidade do Algarve, mas também pelo seu pensamento e ação enquanto cidadão. De resto foi esta amplitude de pensamento que norteou a intervenção de Idálio Revés, jornalista do Público, que fez uma resenha da vida do Professor João Guerreiro. Em 2017, na sequência dos dramáticos fogos da zona de Pedrógão e também dos incêndios de Outubro, João Guerreiro foi a pessoa a quem foi atribuída a missão de coordenação da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias e também pela elaboração de propostas para o futuro da organização institucional, territorial e operacional do País. Este inequívoco reconhecimento a nível nacional da capacidade e competência do Prof. João Guerreiro constitui uma nota de prestígio para o Algarve, e também mote para uma reflexão interna, pois é de uma das regiões mais carenciadas ao nível do ordenamento e competitividade territorial que é escolhida a pessoa a quem incumbe uma das mais profundas e graves tarefas nesse capítulo, quando as suas ideias nem sempre têm a merecida e devida atenção a Sul. A cerimónia contou com o apoio da Câmara Municipal de Tavira e na ocasião o seu presidente, Jorge Botelho, enalteceu a ideia desta distinção defendendo a ideia da necessidade de termos mais reflexão regional pois só assim conseguimos criar as condições para o crescimento e desenvolvimento do Algarve. |
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