Por André Botelheiro Quis o mês de dezembro lacrar o ano de 2018 com uma emotiva e justa homenagem a um dos maiores intérpretes deste lugar ao sul. Porém, não avisou, porque de nada serve avisar, para uma partida que é sempre prematura, sobretudo para quem ainda assim pensava, escrevia e dizia. O doutoramento Honoris Causa do Professor Joaquim Romero Magalhães, atribuído pela Universidade do Algarve, no passado dia 12.12.2018, foi o encore a uma vida plena, na academia, na política, na família, na amizade. No eloquente elogio que apadrinhou a distinção, proferido pela discípula ao seu mestre, colega e amigo, Maria Leonor Freire Costa, docente da Universidade de Lisboa, pugnou que: «a Joaquim Romero Magalhães, a região deve uma insubstituível história económica atenta». «Como mostrou nos milhares de páginas que sobre o tema escreveu, o Algarve revela-se efetivamente um espaço económico, separado do Alentejo e do resto do país por forças em parte ditadas pela geografia, sendo em 1700 mais rural que em 1500. Estão ainda por fazer monografias histórico-económicas semelhantes sobre outras regiões do país». Nesta derradeira cerimónia, Joaquim Romero Magalhães dedicou grande parte do seu discurso ao Algarve, a este lugar ao sul: «Sou algarvio por nascimento e por uma continuada vivência. Porém, nem regionalista, nem exclusivista. Tenho procurado instalar-me numa neutralidade que me permita ser justo e avaliar, com equilíbrio, aquilo com que me depreendo. Nem tudo no Algarve é bom, nem tudo aquilo que nos rodeia em Portugal deve ser desprezado». Este desprendimento, que só quem muito ama sabe e pode ter, nunca o deixou afastar-se da sua permanente inquietude pela busca incessante das melhores respostas às melhores perguntas: «Será o Algarve definível? Concentrado em meia dúzia de palavras, cristalizado nuns tantos conceitos e difundido em não menos preconceitos? A que metáforas há que recolher? O Algarve é uma história. Uma literatura. Uma paisagem. Uma tonalidade luminosa: é um viver e saber viver e é um conjunto daquilo que, afinal, nos rodeia e conforta. É tudo isso. O que se vê e o que não se vê. O que é material e o que paira acima dessa realidade. É um todo, não pode ser fragmentado. É algo que ainda hoje me desperta os sentidos». Para o sempre, ficamos com a lúcida e douta última lição do Professor Joaquim Romero Magalhães, na terra que escolheu como sua, e na universidade que ajudou a erguer. (Ver discurso a partir dos 37:20) Sobre Joaquim Romero Magalhães (1942 – 2018):
Nasceu em Loulé a 18 de abril de 1942. Fez a Escola Normal e o Liceu em Faro. Na cerimónia da sua jubilação, em 2012, referiu-se a esse seu percurso na cidade de Faro como tendo sido determinante na sua formação, designadamente pelo convívio que aí teve com as classes mais desfavorecidas da cidade. Licenciou-se em História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em 1967. Obteve o grau de Doutor, em 1984, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e integrou o corpo docente dessa Faculdade. Foi nomeado em 1994 professor catedrático daquela Universidade. Durante o seu percurso de docente universitário foi professor convidado da École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris (1989 e 1999), da Universidade de São Paulo (1991 e 1997) e da Yale University (2003). Coordenou o volume “Alvorecer da Modernidade”, vol. III da História de Portugal dirigida por José Mattoso (1993). Publicou recentemente “Vem aí a República! 1906-1910” (2009). Na Imprensa da Universidade está a reunir obra dispersa com o título genérico de Miunças, três volumes (2011-2012). Presidente do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (1963), Presidente da Associação Académica de Coimbra (1964); Deputado à Assembleia Constituinte da República Portuguesa (1975-1976); Secretário de Estado da Orientação Pedagógica dos governos presididos por Mário Soares (1976-1978); Presidente do Conselho Diretivo da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (1985-1989 e 1991-1993); Comissário-Geral da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1999-2002), e diretor da revista Oceanos (1999-2001). Membro da Comissão Consultiva das Comemorações do Centenário da República (2009-2011). Dirigia a revista “Anais do Município de Faro” A 18 de abril de 2012 jubilou-se, tendo proferido a “última lição” na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Joaquim Romero Magalhães colaborou com a Universidade do Algarve desde os seus primórdios, defendendo esta instituição num dos momentos mais difíceis da sua instalação. Nos Seminários organizados em 1982 e 1983, subordinados à temática “Portugal Mediterrâneo, o Algarve no contexto português” e destinados à melhor integração dos emigrantes portugueses em férias no Algarve, Joaquim Romero Magalhães foi uma das personalidades que proferiram lições no âmbito dos Programas dessas realizações. A sua colaboração estendeu-se posteriormente a algumas edições do Mestrado em “História do Algarve”, assegurando blocos temáticos da componente escolar desse grau. Participou em diversos júris de doutoramento que conduziram à qualificação do corpo docente da UAlg. Pode referir-se os casos do António Rosa Mendes ou do José Carlos Vilhena Mesquita, criando com o primeiro uma relação de enorme proximidade que foi bruscamente cortada com a morte deste professor da Universidade do Algarve. Na sessão de homenagem que a Universidade do Algarve dedicou a António Rosa Mendes, Joaquim Romero Magalhães foi um dos oradores. Promoveu, juntamente com Manuel Viegas Guerreiro, a publicação de duas descrições do Algarve do século XVI: Corografia do Reino do Algarve (1577), de Frei João de S. José, e História do Reino do Algarve (circa 1600), de Henrique Fernandes Sarrão. Dois textos fundamentais para compreender a história do Algarve. A sua bibliografia inclui inúmeros trabalhos sobre o Algarve Económico, centrando-se especificamente nos séculos XVI, XVII E XVIII. Faleceu em casa, na cidade de Coimbra, na madrugada do dia 24 de dezembro de 2018.
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Créditos Fotográficos: Tomás Monteiro Site de opinião Lugar ao Sul distingue pelo segundo ano consecutivo uma personalidade marcante do ano.
Uma personalidade ímpar que em 2018 cimentou a sua posição como um dos grandes músicos da nova geração da cena cultural nacional. Júlio Resende, pianista e compositor Algarvio, teve um ano de 2018 imparável e recebe agora a distinção de “Personalidade do Ano a Sul 2018” atribuída pelo segundo ano consecutivo pelo site de opinião “Lugar ao Sul”. Participou no Festival da Canção como compositor da música que Emmy Curl interpretou e teve a oportunidade de actuar, com Salvador Sobral, para uma audiência de milhões de pessoas em todo o mundo ao lado de um dos seus ídolos, Caetano Veloso, na final do Festival Eurovisão da canção em Lisboa. O palco tem chamado insistentemente por ele. Seja a solo, seja em dueto com Salvador Sobra, seja através do projecto comum de ambos, a banda Alexander Search, foram muitos os concertos que o apresentaram definitivamente ao país em 2018. Ainda em 2018 Júlio Resende volta a editar um novo álbum, "Cinderella Cyborg". O Jornal Público escreve que este “é um nome em que o pianista pretende reflectir não um choque, mas um encontro entre aquilo que há de mais inocente e poético – na vida e na música –, e o lado mais maquinal e frio associado à tecnologia.” Este seu novo álbum foi nomeado como melhor álbum português de 2018 pela plataforma Altamont e ficou ainda considerado entre os melhores discos pela equipa do Observador (jornal on-line). Os últimos anos tem sido intensos para Júlio Resende. Em 2007 grava o seu primeiro álbum – “Da Alma” - através de prestigiada editora de Jazz, Clean Feed, tornando-se o mais jovem músico português a editar um disco para esta editora, enquanto líder. Segue-se, em 2009, “Assim Falava Jazzatustra”, álbum que viria a ser considerado um dos melhores discos do ano pela crítica especializada. Em 2011 surge “You Taste Like a Song”, um disco em Trio, com a participação de grandes músicos tendi sido classificado com 5***** Estrelas pela Revista TimeOut. Em Outubro de 2013 lança Amália por Júlio Resende. O seu primeiro disco a solo, onde revisita algumas canções do repertório de Amália Rodrigues, iluminado pela memória e pela Voz da Diva, num dueto (im)possível no tema “Medo”. Este trabalho mereceu a melhor atenção por parte da crítica nacional e internacional. Da prestigiada Clássica francesa onde recebeu CHOC DISC***** à célebre Monocle, o consenso foi claro: este é um disco que marca e “está ao nível do que de melhor se faz pelo vasto Mundo”. Seguem-se “Fado & Further” e “Amália por Júlio Resende”. Pelo caminho ainda cria “Poesia Homónima” com o psiquiatra Júlio Machado Vaz onde apresentam poemas de Eugénio de Andrade e Gonçalo M. Tavares. De relevância assinalável é igualmente o cuidado que tem na escolha das vozes que acompanha ao piano, onde se destacam, a titulo de exemplo, para além de Salvador Sobral, Elisa Rodrigues e Sílvia Perez Cruz, com quem também já gravou. Mas Júlio Resende não se esgota na música. Assina uma coluna de opinião na Revista Visão onde aborda temas tão diversos. O também licenciado em Filosofia é pois alguém que reflete regularmente sobre si e sobre os outros. Quando questionado recentemente pela revista Blitz sobre a forma como a Filosofia o acompanha, afirmou que o “obriga a pensar em conceitos interessantes. E a trabalhá-los bem. E tento trazer essas reflexões para o mundo musical, ainda que a música seja outra coisa, que vem depois da reflexão. A reflexão faz-se para trás, a vida faz-se para a frente, como se costuma dizer em Filosofia. E a música também.” Júlio Resende é um profissional inspirador e os autores do site Lugar ao Sul entenderam distingui-lo, depois de em 2017 ter sido distinguido O Prof. Dr. João Guerreiro, ex-reitor da Universidade do Algarve, que foi o presidente da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias dos incêndios de 2017. Em 2018, Júlio Resende conseguiu impor a sua marca num pais que ainda vive profundamente centralizado. Além disso entendemos que a sua forma de olhar o mundo vai ao encontro do que temos vindo a defender no Lugar ao Sul: necessitamos de mais e melhor opinião. Sobre essa ideia, Júlio Resende, tem uma frase lapidar: “As pessoas que digam coisas! Mas tentem pensá-las antes de dizer, já não seria mau.” A data e local da cerimónia pública de atribuição desta distinção será anunciada em breve. Por André BotelheiroE se o Pai Natal fosse Algarvio e… ao invés de uma barba comprida e branca tivesse uma rala e escura; e se circulasse na sua Sachs V5 com um capacete (penico) no alto da encaracolada mona, e não no politicamente incorreto trenó, puxado a força animal, com o barrete enfiado na farfalhuda e grisalha cabeleira; e se transportasse os presentes, presos ao braço, na alcofa de praia feita em empreita de palma, em vez da mal-amanhada saca ao ombro; e se em comparação com a barriguda pança de Coca-Cola desfilasse, no sol de dezembro, a sua invejável barriga fit, trabalhada a café com cheirinhos de medronho? Mas o que nos poderia regalar este Pai Natal moreno, preocupado em satisfazer os sonhos dos paisanos deste Lugar ao Sul? Uma bem-intencionada arte natalícia de ilusionar, dentro do espírito “é Natal quando um Homem quiser”, neste caso, quando um algarvio quiser, e os outros deixarem. 1.º desejo: no reino dos céus há vida para além da Europa Nos últimos 50 anos a principal porta de entrada do Algarve continua a ser o Aeroporto Internacional de Faro, a tendência de crescimento não tem refreado. Em 1970 circulavam pouco mais de 300 mil passageiros pela gare mais a sul do país, em 2018 deverá manter-se a fasquia acima dos 8 milhões de passageiros. São números muito bons para o PIB. Ainda assim, a TAP insiste, desde sempre, em ligar única e exclusivamente Faro a Lisboa. Na análise regional do Algarve (setembro 2018) da plataforma TravelBi by Turismo de Portugal destaca-se, no Top10 das nacionalidades visitantes, os aumentos a dois dígitos dos mercados norte-americano (+27,4%) e canadiano (+18,1%). É verdade que cada um ainda representa uma pequena quota (1.5%) das dormidas, em comparação com os dominantes 38% do Reino Unido. Mas não deixa de ser uma agradável surpresa a intromissão destes países do outro lado do Atlântico Norte, num Top10 totalmente dominado pelo mercado europeu, leia-se União Europeia (ainda sem Brexit). Não se conhecendo, ainda, os lugares abaixo ao Top10, não será arriscado prever que no 11º lugar, ou muito próximo, surgirá o mercado brasileiro, que este ano começou a descobrir o Algarve como uma das paragens na vinda à “terrinha”, para além da já tradicional rota Lisboa » Fátima » Coimbra » Porto. A prenda do Pai Natal made in Algarve: A vinda de uma… para não abusar muito da generosidade natalícia, no máximo… de duas rotas transatlânticas para o Aeroporto de Faro. Face ao supramencionado, ligando os populosos EUA (325 milhões) e Brasil (200 milhões), respetivamente 5º e 7º mercados do TOP10 das receitas turísticas nacionais, com aumentos a dois dígitos em 2018: 20% (EUA) e 14% (Brasil). 2.º desejo: mais mobilidade, é mais liberdade, é mais justiça social Ainda ontem, por ocasião da cerimónia do 39º aniversário Universidade do Algarve, o Reitor Paulo Águas alertava: «Senhoras e senhores autarcas, presentes e ausentes, permitam-me que vos lance um repto. Creio que todos sentem a Universidade do Algarve como vossa. E sentem-no bem. A Universidade do Algarve é da região, não deixando de ser do país, naturalmente. Com propriedade, há quem diga, e são muitos, que há um Algarve antes da Universidade e um Algarve após a Universidade. Temos contribuído fortemente para a qualificação dos nossos jovens. Mas podemos fazer mais. 47% dos residentes do Algarve que frequentaram o ensino superior em 2017/18 estudavam em Faro. A percentagem atinge os valores máximos nos concelhos de Faro e de Olhão, superiores a 65%. À medida que nos afastamos a percentagem vai baixando. O que é que isto significa? Que os que estão mais distantes optam em maior proporção por outros locais para estudar? Sim, também. Mas significa essencialmente que os que estão mais distantes têm menos acesso ao ensino superior, têm menos acesso à Universidade do Algarve. A redução destas desigualdades, entre famílias dos mesmos estratos socioeconómicos, que não serão dos mais favorecidos, passa pelo aumento da oferta de transportes públicos, nomeadamente os rodoviários, com tarifários adequados. O futuro da região passa pela qualificação da população. Sem uma população qualificada estaremos a comprometer o futuro da região. Para os que já residem em Faro ou que passem a residir em Faro é urgente a criação de uma ciclovia que ligue os campi da Penha e das Gambelas ao centro da cidade». A prenda do Pai Natal made in Algarve: Ousemos insistir na redução dos custos cobrados aos utilizadores da única via (A22) que dá unidade à economia regional. Mas não menos importante, urge colocar em circulação novas carreiras de transporte público rodoviário, em modernos veículos, nos trajetos inter e intra concelhios, fazendo ligações expresso entre os principais pólos urbanos, com tempos de viagem próprios de um país desenvolvido, como é o nosso e competitivos face à viatura particular. Já o comboio, se pudesse circular sem cancelamentos, a tempo e horas, com máquinas a funcionar sem avarias, e carruagens mais modernas com ar-condicionado e, sem estarem grafitadas para os turistas, e os não turistas, conseguirem ir vendo as vistas maravilhosas que temos, para começar, neste Natal, não era nada mau! 3.º desejo: mais e melhor saúde… para TODOS Uma nota muito simples, num tema muito complexo, o Sistema Nacional de Saúde no Algarve, não pode continuar a ser o “saco de boxe” de interesses político-partidários e de interesses corporativos e económicos (públicos e privados). A perceção, mais ou menos factual, é que a saúde no Algarve não está de boa saúde, e com este diagnóstico ninguém ganha, só ganham uns muito poucos… mas ganham muito. A prenda do Pai Natal made in Algarve: A união dos atores e decisores regionais em torno deste desígnio – melhorar as condições, dos profissionais, dos equipamentos e das infraestruturas do Serviço Nacional de Saúde neste lugar ao Sul. Isto para que, quando mudar o ciclo político-partidário uns não vão dizer o mesmo que os outros agora dizem, e estes não passem a dizer o que os outros diziam, mas que agora passarão a negar o que antes diziam. Boas festas! António Gedeão cantava que o sonho é uma constante da vida. O Lugar ao Sul, agora com dois anos, conseguiu algo que pouco acreditávamos ser possível: ter uma vida longa e robusta. É certo que já teve os seus momentos menos participados mas nunca deixou de ter actividade constante e regular. Em dois anos de vida foram produzidas mais de trezentos artigos de opinião sobre os mais variados temas e das mais variadas formas. Tal como outros famosos e espartanos 300, marcam uma resistência. Ao alheamento, ao marasmo opinativo, crítico, reflectivo em torno do Algarve, mostrando que esta região tem pensamento e voz. Valerá o que vale, mas para nós é muito. Não só pelo empenho e carinho emprestado a esta ideia, mas fundamentalmente porque acreditamos que conseguimos criar um fórum de opinião que tem ganho o seu espaço no espaço público regional, conciliando gente de diferentes áreas, formações e ideologias em torno de um princípio comum: o Algarve e o Sul de uma forma geral como espaço de pensamento e debate. E, de forma imodesta, acreditamos, porque o vemos, tem vindo a conseguir contagiar a região, que hoje, mais do que há 2 anos, se olha, pensa e discute com outro vigor. Poderá não ser ainda o desejável, mas todo o caminho se inicia com o primeiro passo. Isto importa porque a continuidade deste projecto, contra a espuma dos dias, se deve mais aos leitores que assiduamente fazem do Lugar ao Sul um site com um volume de visitas invulgar para uma plataforma deste género – fora dos grande centros urbanos e longe dos grandes centros de poder – do que aos autores que o realizam todos os dias. É pois devido um grande agradecimento a todos vós que, pelas mais variadas razões, nos vão acompanhando, que nos lêem, que nos elogiam e nos partilham, mas também aquelas que opinando criticam. São todos vós a fasquia que nos ajuda a elevar o debate. Obrigado. Outro factor que tem contribuído para o sucesso do Lugar ao Sul é a capacidade que tem tido para chamar a si novos protagonistas. Em 2017 uma segunda vaga de “habitantes” assentou arraial neste “Lugar” e duplicou a nossa densidade de opinar. Agora, já com dois anos e uma curta mas importante história, é tempo de dar as boas vindas a uma terceira vaga de novos elementos.
É também tempo de dizer até já a outros, que deixaram de escrever, pelo menos regularmente. Sem a sua disponibilidade e a sua entrega, este projecto que, recorde-se, nada mais é que um acto de cidadania activa sem qualquer propósito comercial, não seria possível. Por isso, ao Pedro Pimpão, à Dália Paulo, ao João Fernandes e à Joana Cabrita Martins, o nosso muito obrigado por terem acedido fazer esta viagem connosco. E, sempre que a queiram continuar, as portas deste vosso Lugar ao Sul estarão sempre abertas para vos receber. Aos novos elementos, damos as boas vindas e dizemos que contamos com eles para continuar a inquietar mentes, agitar águas e criar ideias e novos pensamentos. Entram em cena a Patrícia de Jesus Palma, a Anabela Afonso, a Luísa Salazar, o Paulo Patrocínio Reis, a Vanessa Nascimento, a Ana Gonçalves, o Dinis Faísca e a Sara Fernandes. Conheçam um pouco mais sobre todos, carregando aqui. O restante muito que há a descobrir, conhecerão através dos seus textos. Esta é a nova vida do Lugar ao Sul. O propósito é o de sempre: um sentido a Sul, contribuindo para o debate e crescimento deste território. Por Lugar ao Sul
O Lugar ao Sul completa hoje 2 anos de existência. São 2 anos a tentar contribuir para uma reflexão crítica em torno do Algarve, das suas dinâmicas, dos seus problemas, do seu tremendo potencial, de tudo o que permita a construção do seu futuro, em moldes de maior prosperidade, equilíbrio e, acima de tudo, felicidade para todos os que aqui vivem, trabalham e nos visitam. Este esforço nem sempre é fácil, e nem sempre o conseguimos. Mas não paramos. Nem desistimos. E porque não há 2 sem 3, iniciamos este novo ano preparando novidades que em breve serão partilhadas. Entretanto, boas leituras! Por Lugar ao Sul Dando continuidade àquela que é já uma tradição, o Lugar ao Sul voltou a marcar presença no ciclo de conferências “O Algarve, Portugal e o Futuro”, organizado e dinamizado pela editora algarvia Sul, Sol e Sal, e pelo Rotary Club de Faro. Desta vez, a nossa Dália Paulo, tal como a nossa convidada Lídia Jorge, fez parte do painel que discutiu as perspectivas e desafios que se colocam à Cultura no Algarve, no sentido da sua plena afirmação como pilar fundamental da identidade da região e alicerce para a construção do seu futuro. E, claro está, com o apoio dos restantes a partir da bancada. No Dia Internacional da Mulher, a Dália promoveu uma excelente representação das mulheres deste nosso Lugar, que demonstram e afirmam (para os muito distraídos que ainda possam ter dúvidas), no seu dia-a-dia, nos seus diferentes papéis sociais, a mais-valia indispensável que é poder contar com a participação feminina no pleno usufruto dos seus direitos, livre de preconceitos e injustiças, em autêntica equidade. Também uma saudação muito especial à organização, pela iniciativa que em boa hora materializaram e que claramente vai conquistando o seu espaço como acontecimento de referência no panorama do debate do carácter, momento e devir algarvio. Até à próxima! O Lugar ao Sul interrompe-se pela dor e pela consternação.
Hoje o nosso sal é de lágrimas, no adeus a Carlos Silva e Sousa, o Presidente da Câmara Municipal de Albufeira. Servidor público, voz crítica numa região que sonhou e defendeu, com convicção política de regionalista. Neste Algarve, que lhe corria nas veias, plantou vinha, semeou valores e simplicidade. Parte, e deixa a colheita e os ensinamentos, em favor de um território e de uma família que sempre valorizou. À família, a equipa do Lugar ao Sul endereça sentidas condolências. Ao Carlos, um abraço, e até um dia. Presidente da comissão técnica independente que analisa os incêndios do ano passado, recebeu a distinção de “Personalidade do Ano a Sul – 2017” atribuída pela plataforma de reflexão “Lugar ao Sul” Um fundo de coesão regional para o Algarve, criada pelas autarquias e absorvendo parte das receitas do Imposto Municipal sobre as Transmissões de Imóveis. Foi esta uma das grandes ideias que o Professor Doutor João Guerreiro deixou a uma plateia de cerca de meia centenas de convidados que assistiram no passado dia 05 de Fevereiro a entrega da distinção “Personalidade do Ano a Sul – 2017” organizada pela primeira vez pela plataforma de reflexão “Lugar ao Sul”.
Numa intervenção pautada pela necessidade de afirmação regional do Algarve, a proposta de João Guerreiro visa a concretização de um conjunto de investimentos regionais de base supramunicipal, não dependentes de ciclos políticos autárquicos ou legislativos. A ideia, segundo explicou, seria criar um fundo que pudesse levar a efeito projetos de investimento que por um lado são estruturantes mas também outros que possam esbater as assimetrias existentes dentro da própria região. Seria um fundo que teria de beneficiar adicionalmente da participação de recursos nacionais e comunitários. Com diversos presidentes de câmara na plateia, com o Reitor da Universidade do Algarve, com diversos dirigentes regionais, com um conjunto de pessoas de referência em diversas áreas da vida da região e ainda com o presidente da AMAL, Jorge Botelho, ao seu lado, o ex-reitor da universidade do Algarve interpretou a distinção que lhe estava a ser atribuída como uma necessidade de debater mais a região mas ao mesmo tempo de criar pontes que permitam que possamos ser mais concretizadores. A plataforma de reflexão “Lugar ao Sul” que numa base regular produz textos de opinião no site www.lugaraosul.pt entendeu atribuir esta distinção ao Professor João Guerreiro não apenas através do trabalho realizado nos diversos cargos de responsabilidade que ocupou no passado, desde a presidência da então Comissão de Coordenação Regional do Algarve à Reitoria da Universidade do Algarve, mas também pelo seu pensamento e ação enquanto cidadão. De resto foi esta amplitude de pensamento que norteou a intervenção de Idálio Revés, jornalista do Público, que fez uma resenha da vida do Professor João Guerreiro. Em 2017, na sequência dos dramáticos fogos da zona de Pedrógão e também dos incêndios de Outubro, João Guerreiro foi a pessoa a quem foi atribuída a missão de coordenação da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias e também pela elaboração de propostas para o futuro da organização institucional, territorial e operacional do País. Este inequívoco reconhecimento a nível nacional da capacidade e competência do Prof. João Guerreiro constitui uma nota de prestígio para o Algarve, e também mote para uma reflexão interna, pois é de uma das regiões mais carenciadas ao nível do ordenamento e competitividade territorial que é escolhida a pessoa a quem incumbe uma das mais profundas e graves tarefas nesse capítulo, quando as suas ideias nem sempre têm a merecida e devida atenção a Sul. A cerimónia contou com o apoio da Câmara Municipal de Tavira e na ocasião o seu presidente, Jorge Botelho, enalteceu a ideia desta distinção defendendo a ideia da necessidade de termos mais reflexão regional pois só assim conseguimos criar as condições para o crescimento e desenvolvimento do Algarve. Por André Botelheiro
E já lá vão doze No último domingo, dia 1 de outubro, realizaram-se as décimas segundas eleições autárquicas em Portugal, após 43 anos de democracia. No ano passado festejou-se o 40º aniversário das primeiras eleições autárquicas livres (1976). Nunca é demais relembrar, porque se 41 anos sugere uma idade adulta e plena de energia, 41 anos de idade democrática não nos garante, por si só, uma democracia sólida e saudável. Há que estimá-la e “cuidar-lhe da saúde”, para não vermos por aí mais fenómenos como a reinserção eleitoral de Isaltino Morais ou a aclamação do estilo popularucho de André Ventura. E o vencedor foi... a Abstenção Se é de registar a ténue descida da abstenção a nível nacional, menos 2 pontos percentuais relativamente às eleições de 2013, a nível regional, leia-se Algarve, foi o inverso, ou seja, para pior. Com uma ténue subida da abstenção, mais 0,13 pontos percentuais, alcançou-se o resultado mais elevado da história eleitoral autárquica deste lugar ao sul. 52,56% dos eleitores algarvios não foram votar, ou seja, dos 380.811 inscritos só 180.662 foram às urnas. Este recorde do Algarve não se fica por aqui: entra, novamente, no Top 3 nacional da abstenção, só ultrapassado pelo distrito de Setúbal (54,45%) e perseguido de perto pelo distrito de Lisboa (51,33%); e, assim, faz parte do restrito grupo de distritos em que mais de metade dos eleitores preferiu abster-se. Esmiuçando os concelhos algarvios verificamos que, em quase metade destes, os abstencionistas ultrapassaram os votantes: Albufeira (60,71%), Portimão (58,84%), Olhão (56,05%), Loulé (55,41%), Lagos (55,08%), Faro (52,08%) e Lagoa (50,67%). Em equipa que ganha, não se mexe Parece que esta máxima futebolística serviu de inspiração na hora de votar nos burgos mais a sul de Portugal. Todos os presidentes das câmaras municipais do Algarve foram reeleitos, mesmo em Vila Real de Santo António, apesar de concorrerem candidatos estreantes, foi o partido que já estava no poder a ganhar.. Diz-se, muitas vezes, que não é a oposição que ganha as eleições, é quem está no poder que as perde. As escolhas podem ter recaído na estabilidade, nos méritos governativos ou no receio da mudança, mas a verdade é que, por cá, foi o poder que ganhou. Vêm aí 4 anos sem desculpas Dos 16 executivos municipais do Algarve só um vai governar sem maioria (Castro Marim). Este facto invulgar, vem colocar à prova os 15 presidentes reeleitos que apelaram por maiorias governativas, advogando ser imprescindível, para cumprirem as suas promessas eleitorais, poderem usufruir de oposições minoritárias. Assim, ficamos a saber que, nos próximos 4 anos, deixa de valer a justificação de que as oposições foram as forças de bloqueio, que impediram a tomada de decisões, e a sua execução, em prol dos munícipes. Para as televisões Portugal é Lisboa, Porto, Oeiras e Telenovelas A noite eleitoral veio demonstrar um preocupante desinteresse dos três principais canais de televisão, em sinal aberto (RTP, SIC e TVI), pelo país real. Às 20h00, quando passou a ser possível divulgar as projeções, com base nas sondagens à boca das urnas, os milhões de telespectadores nacionais foram prendados com um país muito mais pequeno do que aquele que conhecem. Tudo se resumia a Lisboa, Porto e Oeiras. Projeções, diretos, entrevistas, comentários, tudo omitia um país muito mais vasto do que esses três concelhos. Mesmo sabendo do indiscutível peso político das duas principais cidades portuguesas e do caricato caso ocorrido em Oeiras, nada justifica o esquecimento a que foram votadas as restantes regiões. No caso da RTP ainda se torna mais flagrante a omissão dos deveres a que está obrigada enquanto televisão pública. Não se pode entender como não foram mobilizados os meios das delegações regionais para dar conta do que se ia passado nessas mesmas regiões. Num país, como o nosso, em que as televisões ainda dominam o consumo informativo, tratar as eleições autárquicas com base em critérios de audiência, é muito perigoso! Se assim não fosse, como se justifica que a SIC e a TVI pelas 22h00 já estivessem a exibir as suas habituais telenovelas, quando os resultados ainda não estavam apurados? Ver mais artigos aqui 365 dias. 52 semanas.
Mais de 300 publicações. Mais de 190.000 visitantes únicos. Mais de 330.000 visualizações de página. Ou, como preferimos dizer, um bom começo. O Lugar ao Sul completa hoje um ano de existência. Obrigado a todas as pessoas que fazem dele um ponto de encontro, reflexão e participação. André, João, Filomena, Cristiano, Bruno, Luís, Dália, Pedro, Sara, Hugo, Joana e Gonçalo Por André Botelheiro.
Assunto: E se os municípios também financiassem a Universidade do Algarve? Senhores(as) Candidatos(as), O início do mês de setembro, e começo do ano letivo, trouxe melhores notícias para a Universidade do Algarve (UAlg) e, por conseguinte, para a região que lhe dá o nome. Primeiro, ficou-se a saber que a academia algarvia entrou para o ranking mundial das universidades, organizado pela publicação Times Higher Education (THE), colocando-a entre as posições 601 e 800, e no 6.º lugar entre as nove universidades portuguesas que estão incluídas numa lista de mais de 1000 instituições de 77 países. Para a elaboração deste ranking são tidas em conta as seguintes valências das instituições: ensino, investigação, citações, projeção internacional e transferência de conhecimento. Dentro da excelente notícia, a melhor parte é que a UAlg, na primeira vez que entrou neste ranking, obteve o melhor resultado nacional no capítulo da projeção internacional e obteve resultados muito interessantes quanto à transferência de conhecimento e ao número de citações. Depois, a Universidade do Algarve continua a afirmar-se como uma das instituições de ensino superior mais internacionais. Neste último ano letivo, um número recorde de cerca de 1250 estudantes estrangeiros, de mais de 80 nacionalidades, representando 16% da população estudantil, escolheu “Estudar Onde É Bom Viver” (sobre este tema ver mais aqui). Para este ano, as estimativas apontam para um novo crescimento de alunos estrangeiros, motivado sobretudo pelo ingresso de mais 240 brasileiros que virão frequentar, na íntegra, um curso de licenciatura ou de mestrado integrado, de mais de 150 candidaturas internacionais para frequência de um curso de mestrado e de mais de 500 alunos em mobilidade por um semestre ou um ano. Finalmente, com a divulgação dos resultados da 1ª fase do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, confirmou-se a tendência de crescimento da UAlg: 1165 alunos colocados (+8% que em 2016/17), dos quais 976 em 1ª opção (+10% que no ano anterior), uma redução de 28% das vagas sobrantes e a manutenção como a primeira escolha dos candidatos algarvios, cerca de 60% dos alunos colocados vieram de uma escola desta região. Estes dados, que constituem os melhores resultados dos últimos sete anos, são indicadores animadores para a Universidade – e logo para o Algarve. Ou seja, a instituição acompanhou e até se destacou no crescimento de candidatos ao ensino superior verificado, este ano, a nível nacional. Uma das razões para explicar este aumento nacional deve-se à chegada ao ensino superior dos primeiros alunos que foram abrangidos pela escolaridade obrigatória até ao 12º ano e a outra, eventualmente, o clima de confiança e aumento dos rendimentos disponíveis nas famílias portuguesas. Senhores(as) Candidatos(as), Apesar destas boas notícias para o futuro do país e, em particular, para este lugar ao sul, que assim pode perspetivar o contínuo aumento e fixação de população mais qualificada, seria errado achar que não há nada mais a fazer porque tudo parece estar a correr bem. A verdade é que o Ensino Superior português foi um dos setores onde mais se sentiu o desinvestimento do Estado nos últimos anos. Segundo o Presidente do Conselho de Reitores, António Cunha, «entre 2010 e 2015, o ensino superior perdeu mais de 400 milhões de euros de transferências do Estado». No caso da UAlg, segundo o Reitor, António Branco, «em 2010 a dotação orçamental foi de 40 milhões de euros, em 2016 foi de 33 milhões, sete milhões menos". Obviamente que esta situação colocou todas as instituições de ensino superior num sufoco financeiro, em especial as academias mais pequenas e periféricas como a UAlg. Afastadas dos maiores polos populacionais e empresariais (Lisboa e Porto), onde a capacidade de gerar receitas próprias é maior, confrontaram-se com a impossibilidade de investirem, de se modernizarem, de renovarem os seus quadros de pessoal, bastante envelhecidos. E, não raras as ocasiões, com dificuldades de tesouraria para se candidatarem ou executarem projetos estratégicos, financiados pela União Europeia, cujo impacto é essencial para o futuro dessas mesmas instituições e, também, para o desenvolvimento económico e social das regiões onde estão implantadas. Ora, segundo a Constituição da República Portuguesa uma das funções prioritárias do Estado é a de garantir que todos os cidadãos têm direito a aceder aos graus mais elevados do ensino e da investigação científica e que, para tal, «as universidades gozam, nos termos da lei, de autonomia estatutária, científica, pedagógica, administrativa e financeira». Para operacionalizar esta missão, a Lei de bases do Financiamento do Ensino Superior, estabelece, entre outros, o princípio da responsabilização financeira do Estado, «entendido no sentido da satisfação dos encargos públicos exigíveis para garantir o funcionamento de uma rede pública de estabelecimentos de ensino de qualidade». Isto não quer dizer que o Estado assuma o compromisso de financiar a 100%, e sem reservas, os orçamentos das instituições de ensino superior, o princípio da complementaridade, previsto na mesma norma, estabelece que «as instituições devem encontrar, no âmbito da sua autonomia financeira, formas adicionais de financiamento, dando lugar a receitas que serão consideradas pelo Estado como receitas próprias das instituições, como tal não afetando o financiamento público». Senhores(as) Candidatos(as), Aqui chegados, convém recordar que a Universidade do Algarve, fundada em 1979, é um caso paradigmático no seio das academias públicas. O “nascimento” da UAlg resultou, não de uma decisão governativa, mas sim, e após uma longa e persistente “batalha”, de diversos líderes políticos regionais e da própria sociedade civil, culminando na primeira e única vez que a Assembleia da República aprovou a criação de uma universidade. Sendo legítimo afirmar que, a UAlg resultou de uma aspiração regional. Ao longo destas, quase, quatro décadas de existência, a academia mais a sul do país afirmou-se na história recente do Algarve como uma das forças mais dinamizadoras e transformadora da região, quer em termos económicos, quer em termos socias, não só por formar quadros especializados, mas também pelos efeitos colaterais que gerou na competitividade e modernização da sociedade algarvia. A mero título de exemplo, porque muitos outros poderia mencionar, refiro o reconhecido trabalho desenvolvido pelo CRIA – Divisão de Empreendedorismo e Transferência de Tecnologia da Universidade do Algarve junto das empresas, dos empreendedores, das associações, das autarquias ou da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve. Mas para que esta história recente, e confluente entre a UAlg e a sociedade algarvia, perdure por muitos e muitos anos, convém que a unanimidade em torno deste projeto, que começou por ser regional, depois nacional e agora internacional, ganhe novas dimensões e ambições. Senhores(as) Candidatos(as), Em pleno período de campanha eleitoral para as eleições autárquicas de 2017, surgem novidades nos discursos que não devemos ignorar. Pela primeira vez, pelo menos que tenha dado conta, um candidato, no caso à Presidência da Câmara Municipal de Lisboa, assumiu a promessa eleitoral de «criar um fundo de cinco milhões de euros para as universidades de Lisboa atraírem talentos através de programas de investigação e bolsas de doutoramento». Atendendo ao que escrevi acima, lanço a questão/desafio: e se os municípios também financiassem a Universidade do Algarve? Bem sabendo que o poder local nunca foi chamado a intervir neste domínio, e perante a inexistência de um órgão de poder regional intermédio, entre o local e o central, podem os municípios do Algarve, através da sua Associação AMAL, implementar um fundo destinado a financiar projetos de investigação e bolsas de doutoramento da UAlg, sempre que se verifique que estes terão um impacto direto na região. Se cada um dos municípios aprovar uma pequena percentagem do seu orçamento anual, por exemplo entre os 0,50% e os 0,25%, que se destinaria a dotar este fundo, anualmente haveria verbas disponíveis para colocar, ainda mais, a Universidade do Algarve ao serviço da competitividade, da inovação e da afirmação regional. Faro, 21 de setembro de 2017 Com os melhores cumprimentos, André Botelheiro Por André Botelheiro
F – essa Letra que fazendo parte do nome da capital deste lugar ao sul, hoje volta a entrar no vocabulário dos farenses e dos que irão inundar a Vila Adentro de Faro. F – de Festival: foi em 2014 que teve a sua primeira edição, e desde logo se revelou um sucesso. Pelo conceito, com a aposta na música portuguesa, cantada em português ou de músicos portugueses. Mas sem se restringir a concertos, estendeu-se a tertúlias, exposições, performances, comida de rua… Mas sobretudo, e não menos importante, por se realizar na zona mais bonita e antiga de Faro, e ao mesmo tempo a mais esquecida e desaproveitada, conhecida por Vila Adentro. O cuidado com a decoração do espaço denunciou logo o estilo e filosofia do evento, dirigido a um público eclético e de todas as idades. Ao assumir-se como “o último grande festival de verão”, procurou primar pela diferença para ganhar espaço no preenchido calendário da efervescente indústria de festivais portugueses. Inaugura hoje a quarta edição, cresce em dias, três em vez de dois, e promete continuar a aumentar o espaço disponível para os visitantes. Independentemente da subjetividade com que o cartaz e programação é acolhido pelo público, a verdade é que o Festival F já entrou no mapa dos grandes festivais de música de Portugal, ganhando Faro e o Algarve. F – de Fenómeno: cada terra tem as suas idiossincrasias e Faro não é exceção. A sua população vivia com o orgulho ferido de um lugar que se sente especial, pela sua localização, património, história e gentes, mas que tardava em assistir a algo grande, que trouxesse muitas pessoas de fora e a quem pudessem dizer, com o peito cheio, que são deste lugar e que aquele festival também é seu. É evidente a efemeridade deste tipo de eventos, cujos benefícios e real retorno não devem ser sobrevalorizados, como o “ovo de Colombo”, para o crescimento e desenvolvimento sustentável de uma cidade. Mas se o F trouxe, e traz, muitos ganhos a este lugar ao sul, julgo que um dos principais, e daí chamar-lhe fenómeno, foi a sua imediata adoção pelos farenses. Ao invés da crítica infértil de que nada aqui acontecia, imediatamente e de forma numerosa preferiram enaltecer e participar. Não é que nada acontecesse em Faro, o que acontecia é que, em regra, os farenses eram sempre os mais reticentes em participar e aceitar o desafio de experimentar eventos culturais, que ao longo de décadas, têm ocorrido em Faro. F – de Joaquim Guerreiro: falar de F é falar de Joaquim Guerreiro. Um projeto desta envergadura é obviamente obra e resultado do trabalho de uma grande equipa, porém a génese do F deve-se ao espírito fazedor, “fora da caixa”, criativo e sofisticado de Joaquim Guerreiro. O currículo deste louletano, natural do Barranco do Velho, é perentório quanto às suas capacidades em fazer acontecer diferente e com sucesso. Para tal, é inegável o seu instinto para se rodear de bons conselheiros e parceiros. Ninguém “muda o mundo” sozinho, mas é necessário que alguém dê o primeiro passo. E Joaquim Guerreiro, por mais do que uma vez, deu o primeiro passo, transformando o que antes parecia difícil no que depois parece óbvio. Falar do Festival Med, da Noite Branca, da programação do ALLGARVE, no concelho de Loulé, com destaque para a utilização inédita da Mina de sal-gema ou do Palácio de Fonte da Pipa para exposições de arte contemporânea, da marca LC - Loulé Concelho, e não falar de Joaquim Guerreiro é impossível e injusto. Em Faro, assumiu os destinos do Teatro Municipal a partir de 2014 e, independentemente da discussão ideológica em torno da escolha da programação, a verdade é que o número de espetadores cresceu e são recorrentes os espetáculos esgotados. Mas Joaquim Guerreiro, no seu estilo low profile é um homem inquieto e ambicioso, sendo capaz de colocar a barreira mais alta quando se tem de pensar no futuro, exemplo disso mesmo foi a sua intervenção no projeto de candidatar Faro (e o Algarve) a Cidade Capital Europeia da Cultura de 2027. Podemos não chegar a levar avante este auspicioso desígnio, mas a meta que Joaquim Guerreiro idealizou obriga-nos, enquanto comunidade, a sermos melhores e a trabalharmos por uma causa comum se a quisermos alcançar. Em tom de brincadeira, mas não isenta de realismo, costumo dizer entre amigos que, a maior obra da coligação que gere os destinos de Faro, há quase 8 anos, chama-se Joaquim Guerreiro. ![]() Por André Botelheiro Esta semana fica marcada por um momento que se pode revelar histórico para Portugal. No meio de tantas notícias tristes, dos incêndios por cá e do terrorismo em Espanha ou do extremismo racial nos EUA, quase passou despercebida a notícia do início da discussão sobre a proposta de jurisdição do país sobre os fundos marinhos para lá das 200 milhas marítimas. A 14 de agosto de 2017, oito anos depois, nas Nações Unidas em Nova Iorque, começou a discussão técnica sobre a proposta portuguesa de extensão da sua plataforma continental. Quiçá estejamos perante um dos maiores momentos de transformação da história de Portugal, só comparável com as campanhas dos Descobrimentos. Ainda assim, este processo tem recebido uma anormal indiferença por parte da opinião pública e da maioria dos órgãos de comunicação social, perante a dimensão do impacto que daí poderá resultar. Este pequeno lugar ao sul da Europa poderá tornar-se num enorme país com soberania por quase meio Atlântico Norte. Portugal espera vir a ter jurisdição sobre um espaço marítimo total que poderá ultrapassar os 3,8 milhões de quilómetros quadrados, ou seja mais de 41 vezes a área do território emerso, uma área com sensivelmente o mesmo tamanho da União Europeia. Mas o que é então a extensão da plataforma continental? Ao abrigo Convenção das Nações Unidas sobre o Mar (ou Lei do Mar da ONU), os países costeiros têm a oportunidade de alargar, pacificamente, o seu território no mar. No caso português, trata-se de aumentar a jurisdição sobre o solo e o subsolo marinhos a partir das 200 milhas marítimas. Ao contrário da zona económica exclusiva (ZEE), que pode ir até às 200 milhas e cuja jurisdição é tanto sobre a coluna de água como sobre o fundo do mar, o alargamento da plataforma dá jurisdição “unicamente” sobre o solo e subsolo marinhos. Mas do que estamos a falar exatamente quando nos referimos à plataforma continental? É a crosta da Terra que se estende, desde o território que está fora de água, mar adentro. Em dado momento, a crosta por baixo dos oceanos adquire características geológicas, geofísicas e morfológicas diferentes das da crosta emersa. Determinar onde se verifica essa transição, entre a crosta continental e a crosta oceânica, é o busílis da questão. Um país que queira aumentar de forma pacífica a sua jurisdição para lá das 200 milhas tem, deste modo, de determinar até onde vai, no oceano, a continuidade geológica da crosta emersa do seu território. Para isto, há que juntar um manancial de dados sobre o fundo do mar, e tem sido esse o trabalho técnico-científico desenvolvido, desde 2005, pela Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC). E qual a importância desta jurisdição? Não se trata de aumentar a nossa área de pesca, já que só tem a ver com os fundos marinhos, e com o que lá se encontra, que poderá um dia vir a ser explorado, desde petróleo e gás natural até recursos minerais (como ferro, manganês, cobalto, níquel, patina e terras-raras…) e recursos biológicos e genéticos (como bactérias para novos produtos de biotecnologia e medicamentos). Depois existe uma questão muito mais vasta que entra na esfera da geopolítica e nossa maior capacidade de influência no mundo. A extensão da plataforma continental de Portugal é um desígnio superior que nos deve unir e empolgar muito mais que qualquer outro feito do Portugal contemporâneo. A confirmar-se a notícia, este lugar ao sul passará a um grande lugar cuja imensidão transformará este pequeno país periférico numa centralidade impossível de ignorar. O Portugal futuro poderá ser muito diferente do que conhecemos nos últimos cinco séculos. Fontes: Estrutura de Missão para a Extensão da Plataforma Continental (EMEPC) e Jornal Público Por André Botelheiro.
O final do ano escolar, que coincide com o início do verão, trouxe boas noticias, se por um lado o Algarve antevê um dos melhores anos para as atividades económicas ligadas ao turismo, por outro lado a Universidade do Algarve (UAlg) continua a afirmar-se como uma das instituições de ensino superior mais internacionais. Tal como a região que lhe serve de lugar ao sul de Portugal, neste último ano letivo, um número record de cerca de 1250 estudantes estrangeiros, de mais de 80 nacionalidades, representando 16% da população estudantil, escolheram “Estudar Onde É Bom Viver”. Não sendo necessariamente coincidentes as razões e os factos geradores destas duas boas notícias, não deixa de ser importante verificar que o Algarve, sendo a região portuguesa com maior percentagem de população estrangeira residente (13,2% em 2015 – Fonte: Pordata), acolha uma das mais internacionais universidades portuguesas. Não é inusitado que, cada vez mais, estudantes internacionais escolham a UAlg para frequentarem um programa de mobilidade ou de intercâmbio, vulgarmente designado por Erasmus. Desde 1993 que a academia mais a sul de Portugal continental recebe (e envia) alunos para realizaram um período de estudo ou de estágio além-fronteiras. Nos últimos 20 anos a Universidade do Algarve estabeleceu mais de duas centenas de acordos bilaterais com universidades em todo o mundo, permitindo que, só na última década, mais de 5 mil alunos tenham passado pelo Algarve em mobilidade ou intercâmbio académico, numa média anual superior às 5 centenas. As ruas da cidade de Faro há muito tempo que se habituaram a ser percorridas por jovens estrangeiros, durante todo o ano, quando ainda nem se imaginava o recente boom turístico da capital do Algarve. Como se verifica, a internacionalização da Universidade do Algarve não é um fenómeno recente. Só um trabalho coletivo, duradouro e estável pôde permitir a construção de uma instituição cada vez mais global. Se os últimos anos têm sido marcados pelo crescimento exponencial da procura turística em todo o país e, em particular no Algarve, paralelamente as instituições de ensino superior portuguesas e, em particular a UAlg, são cada vez mais o destino escolhido por estudantes internacionais para obterem um diploma de licenciatura, mestrado ou doutoramento. Para o acentuar desta realidade foi determinante a publicação, em 2014, de um diploma que veio regular o Estatuto do Estudante Internacional, criando um concurso especial de acesso ao ensino superior para candidatos que não tenham nacionalidade portuguesa, ou de um Estado Membro da União Europeia, ou não residam legalmente em Portugal, e de forma ininterrupta, há mais de dois anos. No preâmbulo do Decreto-lei n.º 36/2014, de 10 de março, podemos encontrar o espírito do legislador que, pelo seu interesse, não resisto a transcrever: (...) A captação de estudantes estrangeiros permite aumentar a utilização da capacidade instalada nas instituições, potenciar novas receitas próprias, que poderão ser aplicadas no reforço da qualidade e na diversificação do ensino ministrado, e tem um impacto positivo na economia (...). Importa realçar que este novo estatuto veio, também, dotar as instituições de ensino superior (universidades e politécnicos) da capacidade para estipularem e cobrarem valores de propinas diferentes entre os estudantes nacionais/comunitários e os internacionais. Representando assim, idealmente e na prática, um “balão de oxigénio” para um ensino superior estrangulado financeiramente nos últimos anos, e em especial com passagem da Troika pelas terras lusas. Logo no ano letivo seguinte à criação deste novo concurso de acesso e ingresso para estudantes internacionais, ou seja em 2015/16, matricularam-se na UAlg meia centena de novos alunos, tendo-se candidatado várias centenas. No ano letivo de 2016/17 o número de inscrições aproximou-se das duas centenas, e as candidaturas passaram para os quatro dígitos. Para o próximo ano lectivo, 2017/18, as matrículas já roçam as duas centenas e meia de novos estudantes internacionais, quase esgotando as vagas disponibilizadas. Na sua maioria estes novos inquilinos do campus académico do Algarve cruzaram o Atlântico para, neste lugar ao sul, levarem avante o seu sonho e projeto académico, seja numa licenciatura ou num mestrado-integrado. Na verdade, as vagas abertas pela Universidade do Algarve têm sido esmagadoramente ocupadas por candidatos provenientes do Brasil. Esta crescente procura é reflexo de um trabalho continuado no tempo, na verdade os alunos brasileiros já haviam descoberto a UAlg nos últimos dez anos, assumindo-se como a maior comunidade de estudantes estrangeiros (com a frequência de mais de 500 estudantes brasileiros em 2017). Mas para esta nova janela de oportunidade foi decisiva a assinatura de um protocolo entre a UAlg e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), organismo dependente do Ministério da Educação brasileiro e que, entre outras responsabilidades, operacionaliza o Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), que equivale aos nossos exames nacionais do ensino secundário e acesso ao ensino superior. Para que se tenha uma ideia da escala deste imenso universo de potenciais candidatos, pense-se que em 2017 mais de 6 milhões de brasileiros inscreveram-se para a realização destes exames! A academia algarvia ao se adiantar como uma das três primeiras instituições do ensino superior português que passaram a reconhecer as notas do Enem como válidas para o Concurso Especial de Acesso e Ingresso do Estudante Internacional, posicionou-se estrategicamente para receber um inédito fluxo de jovens brasileiros que procuram ampliar as suas qualificações num contexto internacional. A internacionalização da UAlg é beneficiada com o crescimento da sua maior comunidade de alunos estrangeiros, que com muita rapidez se integram e têm sucesso académico. A Universidade afirma a sua multiculturalidade e os alunos portugueses têm a oportunidade de conviver com colegas de todo o mundo, nomeadamente do país irmão. São vários os motivos para esta nova vaga das terras de Vera Cruz. No caso da Universidade do Algarve os alunos referem que a sua decisão se deveu à qualidade de ensino e investigação da instituição algarvia, bem como a qualidade de vida na cidade de Faro e na região do Algarve, que apelidam de “Califórnia da Europa”. A segurança e custo de vida também são muito referidos. A facilidade de integração, atendendo à história e língua comum, e o facto de a UAlg ser uma das universidades portuguesas mais internacionais, o que se traduz num ambiente muito cosmopolita, tornam a Universidade do Algarve bastante atrativa para quem procura uma formação universitária de qualidade na Europa, reconhecida internacionalmente, ao mesmo tempo que permite a vivência e a circulação no espaço europeu. Para que estas boas notícias o continuem a ser por muitos anos, em paralelismo com o que se exige ao turismo, necessitam que saibamos receber estes novos cidadãos de Faro e do Algarve, e quiçá assim estaremos a mitigar o saldo demográfico negativo dos últimos anos, ao mesmo tempo que engrossamos as gerações mais qualificadas, que tanto têm contribuído para este lugar ao sul. Por André Botelheiro
Começa hoje a 36ª Concentração Internacional de Motos de Faro, o maior evento do género em Portugal e um dos mais concorridos da Europa, que durante três dias fará aumentar exponencialmente o número de motas a circular neste lugar ao sul. A fama internacional que conquistou enche os Farenses de orgulho, mérito da perseverança do coeso Moto Clube de Faro e do trabalho voluntarioso dos seus associados. Tal reconhecimento foi eternizado num monumento construído, em 2007, na principal entrada da cidade, que se autointitulou: “Faro Capital do Motociclismo”. Mas será que somos mesmo? E nos restantes dias do ano, será Faro uma cidade “moto friendly”? A primeira questão é muito mais vasta e de âmbito nacional: porque razão quando visitamos uma qualquer cidade de países do Sul da Europa como Espanha, França ou Itália, encontramos as ruas e estradas repletas de motas, ao contrário do que se verifica nas cidades portuguesas, onde a meteorologia favorável faria supor uma utilização quase quotidiana? Entre várias razões estará, em primeiro lugar, o menor rendimento disponível dos portugueses, agravado por uma tributação elevadíssima dos veículos motorizados de duas rodas. Ou seja, não há uma política fiscal de incentivo à aquisição de um veículo de transporte menos poluente, mais económico e que ocupa menos espaço público. Portugal não é “moto friendly”! Os municípios, dentro dos seus limites de administração, podem e devem fazer a diferença na forma como a utilização deste tipo de veículo, mais amigo do ambiente, é incentivada. Alguns exemplos recentes: A Câmara Municipal de Lisboa anunciou este mês que até setembro os motociclistas poderão circular nas faixas BUS, destinadas aos transportes públicos, num total de 42 quilómetros. Ao mesmo tempo que criará 1.450 novos lugares de estacionamento para motas, que vêm aumentar os 2.500 já existentes. A Câmara Municipal do Porto foi pioneira quando em 2016 decidiu alargar a todos os corredores BUS a autorização de circulação de motociclos. Estando ainda longe das urbes dos países acima mencionados, onde as motas têm espaço reservado na primeira fila dos semáforos ou quando ruas inteiras são interditas ao estacionamento automóvel para dar lugar ao estacionamento de motos, podemos considerar que o Porto e Lisboa começam a ser “moto friendly”! É certo que a coabitação dos veículos de duas rodas motrizes com os automóveis e com os peões nem sempre é pacífica e isenta de culpas de parte a parte. No mea culpa motociclista existem vários exemplos de ocupação abusiva do espaço público, a começar no estacionamento. Uma das vantagens de andar de mota é a rapidez das deslocações e a facilidade com que se pode estacionar, usufruindo de uma tácita tolerância ao (in)cumprimento do código da estrada. Na verdade, a regra é de que as motas não podem parquear em cima dos passeios, exceto se existir sinalização que o permita. Mas o Código da Estrada permite que as motas ocupem os lugares de estacionamento reservados aos carros, algo raramente utilizado pelos motociclistas, porque o bom senso da maioria tem imperado. Porém, se a tolerância era uma realidade, nos últimos tempos tem sido posta em causa com sucessivas ações de fiscalização e de autuação por parte das autoridades policiais. Faro não foi exceção e foram vários os motociclistas a serem autuados por estacionarem em locais que tradicionalmente serviam para este fim. Simultaneamente, a Câmara Municipal de Faro criou algumas bolsas de estacionamento destinadas em exclusivo às motas, o que à primeira vista é positivo, ainda que insuficiente. Mas esta alteração, que revela uma inédita ação da “Capital do Motociclismo” quanto à utilização das motas no espaço público, denuncia uma estratégia que inquina a boa intenção que possa ter estado na base da decisão. Ora, criar zonas de estacionamento exclusivas para motas de modo a ordenar o parqueamento das mesmas é correto, mas fazê-lo ocupando zonas destinadas aos peões revela a contínua primazia do automóvel face a todos os demais ocupantes da via pública. Mais facilmente se rouba espaço do peão nos passeios para estacionar motas do que se retiram lugares de estacionamento automóvel para ordenar o parqueamento das mesmas. É assim que Faro quer afirmar-se como “moto friendly”? Nota final: o autor declara-se condutor de uma moto, sem registo de autuações por parqueamento irregular. Por André Botelheiro
Por André Botelheiro Falar do sofrimento alheio, seja de uma pessoa ou de mil, deve-nos obrigar a tento nas palavras que escolhemos. Opinar sobre o pouco que sabemos deve-nos exigir, sempre, autocensura e recato no discurso. A revolta e a cólera são naturais, mas más conselheiras.
O que importa já está irremediavelmente perdido – vidas humanas. Tudo o resto é acessório quando uma vida se perde. Catástrofe é pouco para definir o terror vivido nos últimos dias, desde sábado (hoje já é quinta feira e ainda não terminou), em Pedrógão Grande e nos concelhos vizinhos. A empatia para com o sofrimento de um compatriota faz parte do ADN de um povo. Não lidamos da mesma forma com a tragédia que ocorre num país distante face àquela que agora nos assola. Portugal contemporâneo, seja pela sua pequenez demográfica e geográfica, seja pela sua pouca influência no contexto internacional, ou seja, pela sua, como gostamos de acreditar, sorte lusitana, por comparação com outras nações, felizmente, tem pouca experiência em vivenciar estados coletivos de choque e de comoção. Só para exemplificar, pense-se em Espanha que nas últimas décadas vivenciou o terrorismo interno e, mais recentemente, o do autoproclamado Estado Islâmico. Independentemente das causas e motivos, cada ato perpetrado gerou inúmeras vítimas inocentes e, como tal, repetidos sentimentos de tragédia nacional. Esta (boa) falta de hábito para gerir situações limite, tem óbvios inconvenientes, bem patentes em setores com demasiada responsabilidade e impacto na construção da narrativa coletiva deste funesto acontecimento. Logo num primeiro momento, o Presidente da República veio elogiar a postura da comunicação social, parecendo prever o que estava para acontecer. Como que em jeito de reforço positivo, dissimuladamente, tentava sensibilizar os media para o necessário refreamento e respeito pelas vítimas e suas famílias. O imediatismo do jornalismo televisivo, que em Portugal é consumido abusivamente face aos demais meios disponíveis, com rapidez cedeu ao histerismo, o imperativo decoro dissipou-se nos diretos intermináveis e na prematura e ávida vontade de encontrar as causas, as falhas, os responsáveis e de fazer “rolar cabeças”. Há um tempo para “enterrar os mortos e cuidar dos feridos” e há um tempo para encontrar as respostas que se impõem. A comunicação social é essencial para estes dois tempos, mas não os deve sobrepor. No lado oposto, os responsáveis políticos dos partidos da oposição ao governo têm resistido a esta tentação de avançar já para o debate que se impõe fazer. Pode não ser ingénuo ou desinteressado este “sentido de estado”, sendo certo que todos têm muitas responsabilidades na matéria, mas demonstram maior habilidade em gerir situações de crise. Este trágico acontecimento ficará inevitavelmente na história pelos piores motivos. Mas saibamos, coletivamente, aprender com os erros, e à imagem do já citado Marquês de Pombal, aproveitemos para transformar não só a desorganizada e abandonada floresta e os esquecidos territórios rurais, de modo melhorar o combate à sina dos incêndios mediterrânicos. Mas impõe-se também maior protocolo no trabalho de quem nos ajuda a informar em momentos críticos como o atual. É que este fogo arde sem se ver. Por André Botelheiro
Entrámos em junho, mês de início do verão e o nosso lugar ao sul entra na fase mais intensa da sua principal atividade económica. Todos os que vivem no Algarve, de forma mais ou menos permanente, conhecem bem o que esta altura do ano significa. Sou dos que defendem e desejam que as nossas vidas, de residentes, quanto mais “afetadas” forem, melhor. Sinal que o verão turístico correu bem, com inegáveis ganhos, diretos ou indiretos, para todos. Mas não é sobre o verão que quero escrever, começa o verão e apetece-me escrever sobre o inverno. Não por um qualquer saudosismo bucólico ou por ser de termóstato sensível ao esquentamento estival, mas porque o inverno algarvio merece mais respeito, sendo um desperdício a forma como usamos a marca Algarve no inverno. A consabida sazonalidade turística da região é agravada por um falso demérito do inverno algarvio no imaginário dos que nos visitam. Não quero com isto dizer que o nosso verão não tenha mérito próprio, tem e em excesso. Mas o desaproveitamento crónico com que a marca Algarve, desde os primórdios do turismo algarvio, tem lidado com a época menos quente do ano, muito tem vindo a contribuir para este pesado período de vazio no sector e, por arrasto, em todos os correlacionados. É verdade que surgiram novas áreas mais segmentadas, como o turismo de natureza, de saúde, desportivo, ecoturismo, enoturismo, académico/científico, entre outros, cuja capacidade de atração fora da dita época alta já é uma realidade. É também verdade que os animadores e crescentes números da dita época baixa, nos últimos anos, têm mitigado esse fosso, mas não chegam, a diferença entre uma e outra fase do ano é por demais evidente. Para contrariar esse abandono a que ao longo de décadas o inverno tem sido votado no imaginário coletivo, temos vários argumentos de peso. Começando pelo registo das médias climatológicas dos meses de inverno do Algarve que se aproximam dos valores médios do verão da maior parte dos principais países emissores de turistas para o Algarve. Por exemplo: Em Londres ou em Berlim a temperatura média no mês mais quente do ano, julho, é de 19 °C, mas a temperatura mais baixa de todo o ano é em janeiro com uma média de 5 °C e de -1 Cº, respetivamente. Até a acalorada Paris, que em julho tem uma temperatura média a rondar os 20 °C, durante o mês de janeiro tem uma temperatura média de 3 °C. Ora Faro, que no mês de julho tem uma temperatura média de 24 °C, tem no mês mais frio do ano, janeiro, uma temperatura média de 12 °C. Não é, por isso, um lugar-comum afirmar que o nosso clima temperado é uma mais-valia. Os restantes argumentos são os mesmos que validam a época alta do turismo: boa hotelaria, restauração, património, paisagens, praias (sim, praia no inverno!), cultura, acessibilidades, desporto, natureza, segurança, preço, etc., etc., etc. Se olharmos para o turismo como um produto e pensarmos que o verão é um segmento que se aproxima da sobreexploração e, por oposição, o inverno é o segmento com maior potencial na margem de crescimento, qual a decisão a tomar? Imaginemos que se usavam os mesmos meios e recursos, que habitualmente se usam para comunicar e promover o verão algarvio, mas desta feita para “vender” o inverno algarvio. Façamos um exercício ainda mais radical, imaginemos que para promover o verão, deixávamos de o comunicar e a aposta se centrava só no inverno. É que quando enaltecemos o nosso inverno, inerentemente está lá o nosso verão. Podíamos, simplesmente, passar a dizer-lhes que: “o nosso inverno é o vosso melhor verão”! ![]() André Botelheiro junta-se à equipa do Lugar ao Sul e publica hoje o seu primeiro artigo. Semana sim, semana não poderá encontrar os seus artigos à quinta-feira. Quem é André Botelheiro? Nascido a 15 de maio, acabou de entrar para o incrível segmento dos “entas”. Licenciado em Direito pela Universidade Lusíada de Lisboa, passou pela Universitá degli Studi di Firenze (Itália) como estudante ERASMUS. Mais tarde, ingressou na pós-graduação em Direito Penal Económico Europeu na Universidade de Coimbra e, mais recentemente, no Mestrado em Sociologia na Universidade do Algarve. Cumprindo um sonho de criança, em 2001, passa a exercer advocacia mas interessou-se sempre por construir um percurso profissional diversificado: integrou a equipa de voluntários da Expo'98, como assistente de produção no Palco SONY; coordenou equipas de recenseadores nos CENSOS de 2001; inaugurou o gabinete de apoio jurídico para o associativismo juvenil do IPJ-Faro; geriu as equipas de voluntários no Media Center do Estádio Algarve durante o Euro’2004; presidiu à Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência de Faro, sob a alçada do IDT; e assessorou o Reitor da UAlg. É na comunicação que encontra a sua paixão e, atualmente, é coordenador do Gabinete de Comunicação e Protocolo da UAlg e diretor executivo da rádio RUA FM. Farense convicto desde 1977, acredita no poder da cidadania livre e participada. Faz das viagens os seus escapes, da sua moto a sua fiel companheira, da família e dos amigos o seu suporte básico de vida. Interessa-se por tudo o que resulte no debate saudável de ideias, em particular, política, história, música, desporto e, claro está, este tão afamado Lugar ao Sul! ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Que Educação tem Lugar ao Sul? Por André Botelheiro
O começo não foi fácil e ainda não o está a ser, no momento em que começo este pedaço de texto. Comecei por me surpreender quando, seguramente sob efeito da toma excessiva de amizade, a Dália Paulo me telefonou e em jeito de desafio, de alto risco para a própria, convidou-me para integrar este espaço de encontro que tem o Sul como norte para a prosa. Comecei por procurar razões, objetivas, para, em auto-negação, declinar o amistoso convite. Encontrei imensas e as suficientes. Mas não o fiz... afinal, há sempre “Lugar ao Sul” para mais um. Para começar, havia que escolher. E decidi começar, como não podia deixar de ser, pelo Sul. Mas pelo que julgo ser o alicerce de um qualquer outro ponto cardeal... a Educação. E o que tem a Educação a ver com o Sul? Tudo e Nada. Nada, porque objetivamente havia a necessidade imperiosa de, simplesmente, começar. Nem que fosse para corresponder ao compromisso assumido. Tudo, porque, sem exageros, acredito que é na Educação que Tudo começa! É o maior valor que uma sociedade pode construir para garantir um futuro, digno desse ideal. A resposta, inquietante, foi confirmada em alguns dados que o mais recente relatório “Estado da Educação 2015”, publicado pelo Conselho Nacional da Educação em 2016 (www.cnedu.pt ), revela sobre este nosso lugar ao Sul de Portugal. Sem pretensões, e por manifesta incompetência para uma análise mais aprofundada, decidi partilhar alguns dados avulsos que, como tal, não respondem a todas as inquietudes que levantam, mas impõem surpresa e uma reflexão conjunta da sociedade que decidiu como sendo seu este lugar ao Sul, vulgo Algarve. Assim, sem mais demoras, observa-se que em 2014/2015: - O Algarve é região do continente com maior taxa de retenção e desistência nos ciclos do ensino básico regular: no 1º ciclo com 6%, 2 pontos percentuais acima da taxa nacional (4%); no 2º ciclo com 11,2%, mais 2,8 pp que a taxa nacional (8,4%) e no 3º ciclo atinge 15,4%, mais 3,4 pp que a taxa nacional (12%). - O Algarve tem o pior registo no continente (23,1%) quanto à taxa de retenção e desistência nos cursos científico-humanísticos do 10º, 11º e 12º ano, são 4,8 pp acima da taxa média nacional (18,3%). - O Algarve, com 87%, apresenta a taxa de conclusão do ensino básico regular (9º ano) mais baixa do continente (-2,3 pp que a taxa média nacional). Os resultados não são melhores quando analisada a taxa de conclusão do 12º ano no ensino secundário regular. Com 62,9%, revela a taxa de conclusão mais baixa no continente, com menos 7,1 pp que a taxa média nacional (70%). Acresce que, no distrito de Faro menos de 80% dos diplomados em cursos científicos-humanísticos do 12º ano (em 2013/14) ingressaram no ensino superior (em 2014/15), sendo o pior resultado do continente em comparação com os mais de 90% registados nos distritos de Coimbra e Bragança. Obviamente, estes dados escondem muito mais do que aquilo que numa primeira análise percepcionamos. Ainda assim, podemos concluir que, em 2014/2015, o Algarve é a região do continente com os indicadores de retenção, de desistência e de conclusão mais negativos em todos os ciclos de estudo do ensino básico e do ensino secundário regular, com a agravante de ser a região em que menos alunos prosseguiram os seus estudos após conclusão do 12º ano. As assimetrias da própria região, a sazonalidade das atividades económicas, o apelo do “emprego fácil na praia”, poderão indicar algumas pistas para eventuais respostas. O cenário futuro ilumina-se quando verificamos que o Algarve tem uma das maiores concentrações de população residente em idade escolar (0-24 anos) do país (112.024 no ano de 2015), deixando para trás distritos como o de Aveiro e de Coimbra. Esta população jovem é cada vez mais multicultural, enriquecida pela mais alta percentagem do número de alunos de nacionalidade estrangeira que frequentam o ensino básico e secundário (10%), muito acima da média nacional (3,7%). No presente ano letivo, a Universidade do Algarve irá atingir o número record de estudantes de nacionalidade estrangeira, já serão 15% dos alunos da academia algarvia. Matéria-prima não nos falta. Mas o assunto é sério demais para ser alvo de descobertas às apalpadelas. Exige mobilização regional de todos os atores, autárquicos, académicos, empresariais e agentes educativos para, em conjunto, se aprofundar a questão: que Educação tem Lugar ao Sul? |
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