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Descentralização vs Regionalização suave

2/12/2019

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Por Anabela Afonso

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Foi publicada a 16 de agosto de 2018 a Lei Quadro de transferência de competências para as autarquias locais e para as entidades intermunicipais. Esta lei quadro, ao longo dos seus mais de 40 artigos identifica as áreas em que se têm verificado, e continuarão a verificar, as transferências de competências, bem como os mecanismos para a respetiva transferência de recursos financeiros e humanos, e determina, no número 3 do seu artigo 4.º, que «Todas as competências previstas na presente lei consideram-se transferidas para as autarquias locais e entidades intermunicipais até 1 de janeiro de 2021[...]». Quer isto dizer que, queiram os municípios/entidades intermunicipais ou não, as competências previstas na Lei Quadro, transitarão inevitavelmente para a sua gestão dentro de um ano e uns dias.

As áreas a transferir são as mais variadas, desde a ação social, à proteção civil, passando pela cultura, saúde, habitação, património, praias marítimas fluviais e lacustres, entre outras tantas.

O princípio não me parece mau, sendo eu uma regionalista convicta, e acreditando que somos um país que ainda deve muito à prática do princípio da subsidariedade - aquele que determina que aquilo que possa ser feito pela estrutura/entidade mais pequena e mais próxima, não deverá ser feito pela estrutura/entidade maior e mais distante - o qual gostamos muito de reclamar quando apontamos o dedo à União Europeia por lhe faltar proximidade com a realidade dos Estados Membros, mas que depois esquecemos de praticar internamente.

No entanto, é inevitável perguntarmo-nos porquê uma descentralização a ser concretizada em tão pouco tempo, e a deixar de fora a discussão que deveria recuperar-se sobre, porque não a regionalização? Mas parece que afinal, a discussão está aí, pelo menos a julgar pela edição deste sábado do expresso, com a peça Marcelo aceita metade do plano de Costa para uma regionalização suave, apontando para a ideia deste mecanismo da descentralização ser o compromisso possível num governo que co-habita com um presidente da República que se sabe ser, desde sempre, contra a ideia da regionalização. Assim, numa primeira leitura também me parece fazer sentido, havendo essa condicionante, e tendo em conta a capacidade do Presidente da República comunicar para o seu eleitorado - que sabemos ser vasto - ser este um sinal de que pelo menos se está a fazer um esforço de trazer mais para perto dos cidadãos, os níveis de decisão das matérias que mais diretamente os afetam. E isso é positivo.

O problema, está no passo seguinte, com vista a cumprir essa "regionalização suave"
 e que passará pela eleição indireta dos presidentes das CCDR (Comissões de Coordenação e Desenvolvimento Regional), à semelhança do que já acontece com os presidentes das Grandes Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, mas, e é aqui que nos devemos pasmar, segundo a versão em papel da edição de sábado do Expresso, e aquilo que consta no programa do governo, o que está pensado para as Grandes Áreas Metropolinas de Lisboa e do Porto é «que os presidentes se submetam ao voto dos eleitores, à semelhança do que acontece na Madeira ou nos Açores com os presidentes dos respetivos governos[...]. Como nas ilhas, passará a existir também uma assembleia metropolitana com 'deputados' eleitos diretamente. 'Democratizar as áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto, com uma assembleia metropolitana eleita juntamente com as eleições autárquicas de 2021, a qual aprovará por maioria a constituição de um executivo metropolitano.'» 

Ao que parece, e segundo a versão online da mesma notícia, já atualizada em relação à versão impressa, Marcelo Rebelo de Sousa, e bem, já se terá manifestado contra esta opção, dando conta, durante o Congresso da Associação Nacional dos Municípios Portugueses  da sua posição sobre a matéria, com a seguinte formulação: «[...] manifestou-se a favor de metade da regionalização 'soft' que Costa propôs: aceita a eleição indireta das CCDR mas chumba a eleição direta pelo povo nas áreas metropolitanas.»

Parece-me óbvio, que avançar para uma solução em que os cidadãos das grandes áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto teriam a opção de escolher, por voto direto, os atores de um novo nível de administração regional, deixando os cidadãos do resto do país órfãos do mesmo direito e dever, seria de uma injustiça enorme, aumentando a perceção, que já é grande em todo o país que, de facto, Portugal é Lisboa e o Porto e o resto é paisagem.

Acontecerá na próxima terça feira, no Rivoli, no Porto, um debate sobre esta temática entre os presidentes das Câmaras das duas maiores autarquias do país.

É lamentável não ver grande esforço, seja por parte dos deputados eleitos pelo Algarve, seja pelos autarcas da nossa região, de promover o debate público sobre esta matéria, informando aqueles que os elegem e que deviam representar sobre o que verdadeiramente está em jogo. Tal como lamentável é ver os presidentes de Lisboa e do Porto serem os únicos protagonistas de uma matéria que, por definição, interessa de igual modo a todo o território nacional. Não é por terem mais eleitores, que as duas grandes áreas metropolitanas deverão ter mais direitos no que toca ao acesso aos serviços públicos e à qualidade de vida das suas populações. E assim sendo, nada justifica haver diferenças entre uns e outros, na forma como elegem os seus decisores regionais. Ora, interessa discutir se se prefere a eleição indireta ou a eleição direta, mas uma vez tomada a decisão, ela terá de ser a mesma para todos os cidadãos portugueses.

Falta vontade política de trazer esta discussão para junto dos cidadãos, ou a regionalização já não interessa ao Algarve?

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Novo dia, novo parlamento, nova geringonça

7/10/2019

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Por Anabela Afonso

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A poucas horas de sabermos os resultados de mais umas eleições legislativas, ainda muita coisa está por definir naquilo que poderá ser a solução governativa para os próximos quatro anos, mas há alguns aspetos que, a esta curta distância de análise, parecem merecer referência:

Entre várias outras coisas que a chamada “Geringonça” nos trouxe nos últimos quatro anos, uma das mais importantes, a meu ver pelo menos, foi finalmente ajudar a clarificar o facto das eleições legislativas não terem como propósito direto eleger um governo, mas sim, a composição do parlamento. É certo que tradicionalmente o resultado das eleições determina a figura que o Presidente da República indigita para formar governo, mas a nomeação do primeiro-ministro e do governo é uma competência do PR e não um resultado imediato da escolha do voto direto dos eleitores. É pena que os partidos políticos não se esforcem mais para clarificar estas regras do jogo (que não são novas), e contribuam muitas vezes para deixar avolumar equívocos que em nada beneficiam o funcionamento da democracia.

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​A única “força política” que pode reclamar vitórias consecutivas de ato eleitoral para ato eleitoral, chama-se abstenção e continua a crescer consistentemente no território nacional, e em particular no Algarve, onde passou de 48,62% em 2015 para 54,17%. Arrisco dizer que, pela primeira vez desde que somos livres de ir a votos em Portugal, mais de metade da população do Algarve optou por não exercer esse direito/dever. Julgo, por isso, que, os partidos que conseguiram eleger deputados pelo Algarve, antes de festejarem os resultados, deveriam dar algum sinal de que esta não é uma preocupação apenas dos dias que antecedem eleições, integrado nos discursos que todos os partidos fazem de mobilização do seu eleitorado (que não é mais do parte do esforço para ganharem votos para as suas forças políticas), mas que é um aspeto central do funcionamento do nosso sistema democrático que importa encarar de frente, logo no dia seguinte, pensando soluções em conjunto (e não em competição entre si), que possam ser testadas até se encontrar a fórmula que fará as pessoas regressarem à participação. Talvez uma das primeiras coisas a mudar seja perceber-se, de uma vez por todas, que se torna muito evidente que a maior parte dos partidos só se preocupam com a participação dos cidadãos na política quando chega a altura de lhes pedirem o voto, e isso é algo que contribui de forma determinante para a crescente desconfiança no sistema e nos seus atores.

Segundo os dados publicados no site da Administração Interna, no caso do Algarve, PS, PSD, BE e CDU perdem, em conjunto, 135.000 votos em relação a 2015. Eu sei que para os partidos o que conta é os votos que cada um teve, e se algum de entre os enumerados cresceu é o que interessa. Mas se nos abstrairmos de uma análise clubística dos resultados, o que estes números mostram é que no Algarve houve uma redução muito significativa dos votos nos partidos tradicionais do sistema. E isso deveria ser o suficiente para uma reflexão conjunta do fenómeno da abstenção, já que muito provavelmente ilustra a perceção crescente que os deputados eleitos pelo Algarve, não representam os interesses da população que os elege, mas sim, em primeira instância, os interesses partidários, que, infelizmente, em muitos casos, não coincidem com os da região.

Por fim, e para terminar com uma nota positiva, hoje acordámos com uma perspetiva de um parlamento mais diverso, mais plural, que representa diversas visões de como nos devemos organizar enquanto sociedade e mais equilibrado em termos do que somos enquanto país. Sabendo que isto pode trazer mais tensão aos próximos quatro anos de vida parlamentar, estou em crer que será um retrato mais fiel daquilo que é a vida de cada um de nós. Resta-nos esperar que isso também se reflita na solução governativa para os próximos quatro anos.

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Júlio Resende é a Personalidade do Ano a Sul 2018

1/1/2019

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Créditos Fotográficos: Tomás Monteiro ​
Site de opinião Lugar ao Sul distingue pelo segundo ano consecutivo uma personalidade marcante do ano. 

Uma personalidade ímpar que em 2018 cimentou a sua posição como um dos grandes músicos da nova geração da cena cultural nacional. Júlio Resende, pianista e compositor Algarvio, teve um ano de 2018 imparável e recebe agora a distinção de “Personalidade do Ano a Sul 2018” atribuída pelo segundo ano consecutivo pelo site de opinião “Lugar ao Sul”.

Participou no Festival da Canção como compositor da música que Emmy Curl interpretou e teve a oportunidade de actuar, com Salvador Sobral, para uma audiência de milhões de pessoas em todo o mundo ao lado de um dos seus ídolos, Caetano Veloso, na final do Festival Eurovisão da canção em Lisboa.

O palco tem chamado insistentemente por ele. Seja a solo, seja em dueto com Salvador Sobra, seja através do projecto comum de ambos, a banda Alexander Search, foram muitos os concertos que o apresentaram definitivamente ao país em 2018. Ainda em 2018 Júlio Resende volta a editar um novo álbum, "Cinderella Cyborg". O Jornal Público escreve que este “é um nome em que o pianista pretende reflectir não um choque, mas um encontro entre aquilo que há de mais inocente e poético – na vida e na música –, e o lado mais maquinal e frio associado à tecnologia.”  Este seu novo álbum foi nomeado como melhor álbum português de 2018 pela plataforma Altamont e ficou ainda considerado entre os melhores discos pela equipa do Observador (jornal on-line). 

Os últimos anos tem sido intensos para Júlio Resende. Em 2007 grava o seu primeiro álbum – “Da Alma” - através de prestigiada editora de Jazz, Clean Feed, tornando-se o mais jovem músico português a editar um disco para esta editora, enquanto líder. Segue-se, em 2009, “Assim Falava Jazzatustra”, álbum que viria a ser considerado um dos melhores discos do ano pela crítica especializada. Em 2011 surge “You Taste Like a Song”, um disco em Trio, com a participação de grandes músicos tendi sido classificado com 5***** Estrelas pela Revista TimeOut. Em Outubro de 2013 lança Amália por Júlio Resende. O seu primeiro disco a solo, onde revisita algumas canções do repertório de Amália Rodrigues, iluminado pela memória e pela Voz da Diva, num dueto (im)possível no tema “Medo”. Este trabalho mereceu a melhor atenção por parte da crítica nacional e internacional. Da prestigiada Clássica francesa onde recebeu CHOC DISC***** à célebre Monocle, o consenso foi claro: este é um disco que marca e “está ao nível do que de melhor se faz pelo vasto Mundo”. Seguem-se “Fado & Further” e “Amália por Júlio Resende”. Pelo caminho ainda cria “Poesia Homónima” com o psiquiatra Júlio Machado Vaz onde apresentam poemas de Eugénio de Andrade e Gonçalo M. Tavares. De relevância assinalável é igualmente o cuidado que tem na escolha das vozes que acompanha ao piano, onde se destacam, a titulo de exemplo, para além de Salvador Sobral, Elisa Rodrigues e Sílvia Perez Cruz, com quem também já gravou.

Mas Júlio Resende não se esgota na música. Assina uma coluna de opinião na Revista Visão onde aborda temas tão diversos. O também licenciado em Filosofia é pois alguém que reflete regularmente sobre si e sobre os outros. Quando questionado recentemente pela revista Blitz sobre a forma como a Filosofia o acompanha, afirmou que o “obriga a pensar em conceitos interessantes. E a trabalhá-los bem. E tento trazer essas reflexões para o mundo musical, ainda que a música seja outra coisa, que vem depois da reflexão. A reflexão faz-se para trás, a vida faz-se para a frente, como se costuma dizer em Filosofia. E a música também.”

Júlio Resende é um profissional inspirador e os autores do site Lugar ao Sul entenderam distingui-lo, depois de em 2017 ter sido distinguido O Prof. Dr. João Guerreiro, ex-reitor da Universidade do Algarve, que foi o presidente da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias dos incêndios de 2017.

Em 2018, Júlio Resende conseguiu impor a sua marca num pais que ainda vive profundamente centralizado. Além disso entendemos que a sua forma de olhar o mundo vai ao encontro do que temos vindo a defender no Lugar ao Sul: necessitamos de mais e melhor opinião. Sobre essa ideia, Júlio Resende, tem uma frase lapidar: “As pessoas que digam coisas! Mas tentem pensá-las antes de dizer, já não seria mau.”
​

A data e local da cerimónia pública de atribuição desta distinção será anunciada em breve.
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Trabalhar até suar a Alma!

19/11/2018

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Por Anabela Afonso
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«[…]A cultura é qualquer coisa de extremamente elitista, e Goethe diz: “A verdade pertence a muito poucos.” Verifica-se que, neste planeta, noventa por cento dos seres humanos preferem (e estão no seu pleno direito) a televisão mais idiota, a lotaria, a Volta a França, o futebol, o bingo a Ésquilo e a Platão. Durante toda a vida esperamos estar enganados e mudar esta percentagem por meio do ensino, da disseminação dos museus – o sonho de  Malraux – as casas de cultura, mas não! Mas não! O animal humano é muito preguiçoso, provavelmente muito primitivo nos seus gostos, ao passo que a cultura é exigente, é cruel, por força do trabalho que reclama.
Aprender uma língua, aprender a resolver uma função  elíptica, não é nada divertido. São coisas que só se aprendem com o suor da alma.[...]»
George Steiner
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​​Na sexta-feira passada juntaram-se, ao final do dia, uma mão cheia de pessoas, em torno do tema Democracia e Participação. Éramos poucos, sem grande surpresa. O assunto não tem, pelos vistos, suficiente sex apeal, e apesar de um dos intervenientes ser uma "figura nacional", não é já uma presença constante nas nossas televisões, e todos sabemos que o que (ou quem) não está na televisão não existe. Quer dizer, já não é bem assim, porque parece que agora o que está a dar é estar nas redes sociais, mais do que na televisão, mas isso seria tema para outra crónica.
 
Também sabemos que a uma sexta-feira à noite a concorrência é grande e não faltam espetáculos, eventos, encontros, palestras, e tantas outras coisas para fazer por todo o Algarve. E isso é bom. Mas sortudos daqueles que, na sexta, se deram ao trabalho de ir até ao auditório da Escola Secundária João de Deus, em Faro, sobretudo para ouvir a intervenção do Professor António Branco. 
 
Na semana em que foi notícia o caso em que o rápido disseminar de um boato pelas redes de Whatsapp levou uma pequena multidão a tirar um jovem de 21 anos e o seu tio de 43 do interior de uma esquadra (ao que parece tinham sido detidos por causar distúrbios), arrastá-los para a rua, regá-los com gasolina e pegar-lhes fogo enquanto outros tanto garantiam, de telemóvel em punho, que o mundo podia assistir a tudo com um sempre oportuno "direto" para as redes sociais, eu precisava de ouvir alguém que me fizesse acreditar que, apesar de todos os sinais, ainda há quem não se deixe ir na onda da superficialidade, do imediatismo, da ligeireza, e do juízo fácil que ao mínimo sinal, mesmo que inventado, nos faz condenar o outro e fazer justiça pelas próprias mãos.
 
O caso referido acima aconteceu no México, um país com índices de violência alarmantes e onde acredito que seja cada vez mais difícil acreditar nas instituições. Mas não sejamos ingénuos, não somos assim tão diferentes dos mexicanos. Aliás, não somos, também, assim tão diferentes dos americanos, dos ingleses, dos brasileiros, dos húngaros ou dos italianos. E o que estamos a observar em alguns destes países, onde através de processos democráticos perfeitamente legítimos são eleitos responsáveis com discursos eles próprios incendiários, não é algo que esteja assim tão distante de nós. As redes sociais não têm fronteiras e contêm em si material altamente combustível que não reconhece línguas ou geografias e que facilmente se propagará por todo o lado, sem haver razão nenhuma para acreditar que Portugal e o Algarve estão a salvo.
 
Na sua intervenção António Branco chamou a atenção para alguns dos fenómenos que também nos deviam deixar alerta na nossa própria casa, como os «faladores intensivos» e o «clubismo político» que, não explicando tudo, dão um contributo importante para que também por cá se acredite cada vez menos nas instituições e nos escolhidos para nos representarem, e comece a disseminar-se de forma ostensiva a crença de que os políticos “são todos iguais”. E aqui, não posso deixar de concordar com António Branco quando diz: a sensação mais mortal para a Democracia exprime-se através da frase: «são todos iguais.». Mortal porque simplifica um processo que é por natureza complexo; porque nos manipula levando-nos a crer que os nossos problemas enquanto comunidade se resolvem com soluções fáceis; e porque faz a coisa mais perigosa de todas que é encontrar um “culpado” que rapidamente se tornará um alvo a abater.
 
Ora a Democracia é tudo menos um processo fácil e de resultados imediatos e requer muito trabalho da nossa parte, como bem responde George Steiner quando, numa entrevista conduzida por Antoine Spire em 1977, é questionado sobre a dualidade entre superficialidade e profundidade na resistência aos fantasmas de destruição e aniquilação que poderão conduzir-nos à idade animal e à barbárie:
[…]A cultura é qualquer coisa de extremamente elitista, e Goethe diz: “A verdade pertence a muito poucos.” Verifica-se que, neste planeta, noventa por cento dos seres humanos preferem (e estão no seu pleno direito) a televisão mais idiota, a lotaria, a Volta a França, o futebol, o bingo a Ésquilo e a Platão. Durante toda a vida esperamos estar enganados e mudar esta percentagem por meio do ensino, da disseminação dos museus – o sonho de  Malraux – as casas de cultura, mas não! Mas não! O animal humano é muito preguiçoso, provavelmente muito primitivo nos seus gostos, ao passo que a cultura é exigente, é cruel, por força do trabalho que reclama.
Aprender uma língua, aprender a resolver uma função  elíptica, não é nada divertido. São coisas que só se aprendem com o suor da alma.
 

Arrisco o crime de roubar esta ideia a Steiner - que passados mais de 40 anos se mantém tão atual - e adaptá-la para: Aprender a Democracia não é nada divertido. É uma coisa que só se aprende com o suor da Alma!
 
Em tempos da ditadura do entretenimento imediato e do soundbite clicável, resta saber quem está disponível para o trabalho…
 
NOTA: O conjunto de entrevistas de Anoine Spire a George Steiner está publicado em livro, com o título George Steiner, Atoine Spire, Barbárie da Inorância, editora Fim de Século, 2004.
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Chegou a Terceira Vaga ao Lugar ao Sul

4/11/2018

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António Gedeão cantava que o sonho é uma constante da vida.

O Lugar ao Sul, agora com dois anos, conseguiu algo que pouco acreditávamos ser possível: ter uma vida longa e robusta. É certo que já teve os seus momentos menos participados mas nunca deixou de ter actividade constante e regular. Em dois anos de vida foram produzidas mais de trezentos artigos de opinião sobre os mais variados temas e das mais variadas formas.

Tal como outros famosos e espartanos 300, marcam uma resistência. Ao alheamento, ao marasmo opinativo, crítico, reflectivo em torno do Algarve, mostrando que esta região tem pensamento e voz. Valerá o que vale, mas para nós é muito.

Não só pelo empenho e carinho emprestado a esta ideia, mas fundamentalmente porque acreditamos que conseguimos criar um fórum de opinião que tem ganho o seu espaço no espaço público regional, conciliando gente de diferentes áreas, formações e ideologias em torno de um princípio comum: o Algarve e o Sul de uma forma geral como espaço de pensamento e debate.

E, de forma imodesta, acreditamos, porque o vemos, tem vindo a conseguir contagiar a região, que hoje, mais do que há 2 anos, se olha, pensa e discute com outro vigor. Poderá não ser ainda o desejável, mas todo o caminho se inicia com o primeiro passo.

Isto importa porque a continuidade deste projecto, contra a espuma dos dias, se deve mais aos leitores que assiduamente fazem do Lugar ao Sul um site com um volume de visitas invulgar para uma plataforma deste género – fora dos grande centros urbanos e longe dos grandes centros de poder – do que aos autores que o realizam todos os dias. É pois devido um grande agradecimento a todos vós que, pelas mais variadas razões, nos vão acompanhando, que nos lêem, que nos elogiam e nos partilham, mas também aquelas que opinando criticam. São todos vós a fasquia que nos ajuda a elevar o debate.

Obrigado. 
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Outro factor que tem contribuído para o sucesso do Lugar ao Sul é a capacidade que tem tido para chamar a si novos protagonistas. Em 2017 uma segunda vaga de “habitantes” assentou arraial neste “Lugar” e duplicou a nossa densidade de opinar. Agora, já com dois anos e uma curta mas importante história, é tempo de dar as boas vindas a uma terceira vaga de novos elementos.

É também tempo de dizer até já a outros, que deixaram de escrever, pelo menos regularmente.

Sem a sua disponibilidade e a sua entrega, este projecto que, recorde-se, nada mais é que um acto de cidadania activa sem qualquer propósito comercial, não seria possível.

Por isso, ao Pedro Pimpão, à Dália Paulo, ao João Fernandes e à Joana Cabrita Martins, o nosso muito obrigado por terem acedido fazer esta viagem connosco. E, sempre que a queiram continuar, as portas deste vosso Lugar ao Sul estarão sempre abertas para vos receber.

Aos novos elementos, damos as boas vindas e dizemos que contamos com eles para continuar a inquietar mentes, agitar águas e criar ideias e novos pensamentos.

Entram em cena a Patrícia de Jesus Palma, a Anabela Afonso, a Luísa Salazar, o Paulo Patrocínio Reis, a Vanessa Nascimento, a Ana Gonçalves, o Dinis Faísca e a Sara Fernandes.

Conheçam um pouco mais sobre todos, carregando aqui. O restante muito que há a descobrir, conhecerão através dos seus textos.

Esta é a nova vida do Lugar ao Sul.

O propósito é o de sempre: um sentido a Sul, contribuindo para o debate e crescimento deste território. 
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“Sou algarvio
​e a minha rua tem o mar ao fundo”
 

​(António Pereira, Poeta Algarvio)

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