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Notas de uma quarentena improvável (40)

7/5/2020

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Eu não quero regressar, quero é avançar!

Por Anabela Afonso

Fecho hoje o ciclo de notas diárias neste período de quarentena. A partir de hoje voltarei ao habitual ritmo de escrita do Lugar ao Sul. Quarenta dias depois de me ter colocado o desafio de escrever diariamente durante estes dias de confinamento.

​Foi, sobretudo, um exercício de auto-disciplina, mas também uma forma de deixar registados os assuntos, as preocupações ou as pessoas que, por qualquer motivo, iam marcando os meus dias. Dias houve em que isso era evidente, outros, porém, dava por mim a sentar-me ao computador sem a mínima pista do que dali sairia. 

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​Não sei ainda a utilidade deste exercício, se é que alguma terá, mas sei que estes são tempos fora do comum, e como alguém escreveu algures, num texto com o qual me cruzei no início do confinamento, daqui a uns anos, termos registos escritos destes dias, ajudar-nos-á a perceber melhor o impacto desta pandemia no quotidiano das nossas vidas.


​Chegada aos 40 dias da quarentena de escrita, fica-me a impressão de que estamos numa espécie de encruzilhada, que nos coloca perante o seguinte impasse: para onde queremos ir depois disto? A pergunta faz sentido, quando damos conta de haver uma espécie de divisão atual, entre os que estão ansiosos por regressar à dita "normalidade" e aqueles que viram nesta experiência extrema a oportunidade para avançar para algo melhor, ou pelo menos diferente.


A necessidade de regresso à normalidade é totalmente legítima, sobretudo quando ela parte daqueles que mais sofrem com os impactos negativos desta crise, por terem perdido trabalho, rendimento e forma de poder cumprir com os seus compromissos e arranjar forma de colocar comida da mesa. Já não a entendo tão bem quando ela parte daqueles que estão apenas ansiosos para voltar a explorar a voragem consumista em que nos estávamos a afundar e que, hoje, mais do que nunca, se tornou evidente que estava a causar enorme destruição ao nosso planeta. Se há apenas 2 meses, recuperar a camada de ozono parecia uma missão impossível, a paragem de muita da atividade humana (sobretudo aquela ligada aos vários tipos de consumos) veio demonstrar que afinal a solução é bem mais simples do que pensávamos, por mais que nos custe a ideia de prescindirmos de alguns dos nossos comodismos.


Não tenho dúvidas que desperdiçaremos uma oportunidade de ouro, se não aproveitarmos esta travagem brusca, que nos foi imposta, para avançar em vez de regressarmos aos erros de antes. E para os que acham que só pode pensar assim que não está a atravessar dificuldades, termino esta minha última nota, recorrendo, mais uma vez, aos livros. Neste caso a um livro que li não há ainda um ano, e do qual me tenho lembrado recorrentemente nestes dias: O Homem em busca de um Sentido, de Viktor E. Frankl, escrito em 1946, e onde, na primeira parte, o autor relata a sua experiência de luta pela sobrevivência numa situação extrema como a de um campo de concentração, e na segunda parte sintetiza, enquanto psicoterapeuta, o método que desenvolveu a partir dessa experiência, e que ficou conhecido como Logoterapia.


Neste seu relato, Viktor Frankl defende que, por mais extrema e dramática que seja a experiência que possamos atravessar, há sempre um limite que nos cabe a nós, enquanto seres humanos, decidir se atravessamos ou não, determinando de que modo passamos por essas experiências, tal como ilustra o excerto seguinte:


​«Nós, que vivemos em campos de concentração, podemos recordar os homens que iam de caserna em caserna para confortar os outros, oferecendo-lhes o último pedaço de pão. Podem ter sido poucos, mas constituem prova suficiente que tudo pode ser tirado a um homem, menos uma coisa: a última das liberdades humanas - a possibilidade de escolhermos a nossa atitude em quaisquer circunstâncias, de escolhermos a nossa maneira de fazer as coisas.
E havia sempre escolhas a fazer. Em cada hora de cada dia, havia oportunidades para tomar decisões, decisões essas que determinavam se iríamos ou não submeter-nos àqueles poderes que ameaçavam roubar-nos o nosso próprio eu, a nossa liberdade interior; que determinavam se íamos tornar-nos ou não um joguete das circunstâncias, renunciando à liberdade e à dignidade para nos deixarmos moldar e transformar no preso típico. [...]
[...]Portanto, de uma forma fundamental, qualquer homem pode, mesmo em tais circunstâncias, decidir o que será feito dele - mental e espiritualmente. Pode manter a dignidade humana mesmo num campo de concentração.»


​Passam hoje 75 anos da rendição da Alemanha nazi, e 80 anos da estreia do filme O Grande Ditador, de Charlie Chaplin, celebrizado com o seu discurso final, que vale a pena continuar a relembrar, sobretudo em dias em que, novamente, teremos que decidir que escolhas queremos fazer. Em cada dia, e a cada hora, que pequenas decisões iremos tomar, nas inúmeras oportunidades que se nos vão colocar. Mesmo quando a opção pela nossa liberdade interior, pareça, no momento, poder tirar-nos o chão, por estarmos a largar o conforto do que conhecemos, trocando-o por um desconhecido que não sabemos o que nos trará.

Desejo ao mundo coragem para avançar e para continuar a acreditar que #Vaificartudobem.

Obrigada por me lerem, ao longo destas Notas de uma quarentena improvável.

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Notas de uma quarentena improvável (39)

6/5/2020

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Quando o Quaresma disse tudo o que era preciso dizer

Por Anabela Afonso

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​Não sou grande aficionada do futebol, não porque não lhe reconheça a magia que muitos defendem ser o segredo que arrasta tantas multidões, mas mais por achar desmedida a visibilidade que é dada a assuntos laterais ao jogo, que acabam por dominar a agenda mediática e sobrepor-se a coisas bem mais importantes às quais se deveria dar atenção.

Acho também que essa dinâmica que alimenta as questões laterais é, em muitos casos, dissonante com o que deveria prevalecer em qualquer atividade desportiva, sobretudo de natureza coletiva, como é o futebol. O fairplay, a entreajuda e o trabalho conjunto onde todos lutam por um mesmo objetivo são, não raras vezes, suplantados pela competição desmedida, os discursos de ódio entre dirigentes e apoiantes, terminando, infelizmente, tantas vezes, em atos de violência. Esta violência física acaba por ser a expressão prática da violência discursiva dos inúmeros programas televisivos "desportivos" que, antes da pandemia, pululavam os canais de televisão portugueses. Esperemos que, pelo menos, esta overdose de informação sobre o vírus tenha ajudado os portugueses a perceber que esses programas, afinal, não nos estão a fazer falta nenhuma, e são uma excrescência das grelhas televisivas que deveria ser, de uma vez por todas, abolida (falo dos que programas que promovem a violência, disfarçados de programas desportivos, entenda-se).


​Feita esta introdução, é do mundo do futebol que vem o tema para a minha nota de hoje, pois foi de um de jogador português que ontem surgiu, talvez, o mais inspirado(r) texto que li durante estes dias de confinamento. Falo de Ricardo Quaresma, jogador da seleção portuguesa, que partilhou na sua página de Facebook, um texto em reação ao que terá sido uma proposta, daquele senhor que foi eleito para a AR e cujo nome, eu opto por não nomear. Parece que o dito cujo terá sugerido que se deveriam prever medidas específicas de confinamento para a etnia cigana. Proposta que, sem grande esforço, traz à memoria outras páginas, bem negras, da história mundial. 


​Quaresma reagiu à altura com um texto que merece ser lido por vários motivos: porque vindo do mundo do futebol demonstra que também há discursos positivos nesse meio, que precisam de ganhar visibilidade e sobrepor-se aos discursos de ódio; porque Quaresma é cigano, e são poucos os ciganos que têm a capacidade que ele tem de se fazer ouvir; e finalmente, porque há coisas que não se podem deixar passar em branco, tal como ele não deixou. 


​Por tudo isto, julgo que a reação de Ricardo Quaresma merece ser divulgada, e por isso a partilho aqui;

«Triste de quem tenta ser alguém na vida atirando os homens uns contra os outros.
Quando um homem se ajoelha na frente de Deus devia olhar para Deus com o mesmo amor com que Deus olha para nós, sem distinção de raça ou cor.
Triste de quem se ajoelha só para ficar bem na fotografia, para enganar os outros e parecer um homem de bem aos olhos do povo.
A seleção nacional de futebol é de todas as cores, pretos, brancos e até ciganos. Em todos bate no coração a vontade de dar a glória ao país e no momento de levantar os braços e celebrar um golo acredito que nenhum português celebre menos porque o jogador é preto, branco ou cigano.
Eu sou cigano. Cigano como todos os outros ciganos e sou português como todos os outros portugueses e não sou nem mais nem menos por isso.
Como homem, cigano e jogador de futebol já participei em várias campanhas de apelo contra o racismo, não porque parece bem mas porque acredito que somos todos iguais e todos merecemos na vida as mesmas oportunidades independentemente do berço em que nascemos.
O populismo racista do André Ventura apenas serve para virar homens contra homens em nome de uma ambição pelo poder que a história já provou ser um caminho de perdição para a humanidade.
Olhos abertos amigos, o populismo diz sempre que é simples marcar golo mas na verdade marcar um golo exige muita tática e técnica.
Olhos abertos amigos, o racismo apenas serve para criar guerras entre os homens em que apenas quem as provoca é que ganha algo com isso.
Olhos abertos amigos, a nossa vida é demasiado preciosa para ouvirmos vozes de burros...isto se queremos chegar ao céu.»


​Obrigada Ricardo Quaresma! Enquanto houver quem fale por quem não se consegue fazer ouvir, é possível acreditar que #Vaificartudobem.

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Notas de uma quarentena improvável (38)

5/5/2020

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A nossa língua já tem um dia

Por Anabela Afonso

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O dia 5 de maio - hoje, portanto - foi declarado pela UNESCO o dia mundial da Língua Portuguesa, que se celebra este ano pela primeira vez. Este dia pretenderá reconhecer o contributo da língua portuguesa para a civilização humana.

Não sei muito bem para que servem os dias das línguas que falamos, e se a criação destas efemérides terão verdadeiro impacto no cidadão comum. A partir de hoje, quem pensará de modo diferente sobre a língua que fala? Quem pensará, de todo, na língua que fala? 


​É certo que, por cá, desde o célebre Acordo Ortográfico, se há coisa que tem gerado apaixonadas discussões é a forma como se escreve o português, mas não sei se essa tem sido uma discussão proveitosa, ou apenas mais uma daquelas em que só se fala a partir da trincheira de cada um e, essas, parecem-me cada vez menos interessantes.


​O que me parece mesmo fazer sentido, num dia como este, é celebrar a nossa língua, nas palavras de um dos seus maiores mestres, num excerto que parece ter sido escrito para estes dias:

«A LIBERDADE é a possibilidade do isolamento. És livre se podes afastar-te dos homens, sem que te obrigue a procurá-los a necessidade do dinheiro, ou a necessidade gregária, ou o amor, ou a glória, ou a curiosidade, que no silêncio e na solidão não podem ter alimento. Se te é impossível viver só, nasceste escravo. Podes ter todas as grandezas do espírito, todas da alma: és um escravo nobre, ou um servo inteligente: não és livre. E não está contigo a tragédia, porque a tragédia de nasceres assim não é contigo, mas do Destino para si somente. Ai de ti, porém, se a opressão da vida, ela própria, te força a seres escravo. Ai de ti, se, tendo nascido liberto, capaz de te bastares e de te separares, a penúria te força a conviveres. Essa, sim, é a tua tragédia, e a que trazes contigo.»
Fernando Pessoa / Bernardo Soares, In Livro do Desassossego

#Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (37)

4/5/2020

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Leituras para o desconfinamento

Por Anabela Afonso

Um pouco por todo o mundo, apesar de ainda estarmos longe de ter vencido esta batalha contra o vírus, começa gradualmente o retomar de algumas atividades quotidianas que nos farão regressar, mais tarde ao mais cedo, à tão almejada "normalidade".

Ainda é cedo para podermos antever que marcas ficarão desta pandemia, e que alterações elas trarão ao sistema internacional que agora conhecemos, mas uma coisa é certa, a tensão entre o Ocidente e o Oriente, mais em concreto entre Estados Unidos da América e China irão manter-se na agenda mediática mundial.

Das variações de humor do presidente norte americano que já nos eram familiares antes da pandemia, quando uns dias não poupava nos rasgados elogios ao presidente chinês, para no dia a seguir dizer que a China era a origem de todos os males que afetavam a economia americana, passámos agora as declarações diárias de Trump, tentando fazer da China o bode expiatório para o falhanço do inexistente sistema de saúde norte-americano face à pandemia.

Claro que o Ocidente e o Oriente não se resumem aos Estados Unidos e à China, mas as relações entre estes dois protagonistas definirão muito do que será o equilíbrio mundial nos próximos anos.

A este propósito, deixo como sugestão um pequeno livro escrito por Kishore Mahbubani, A queda do Ocidente, uma provocação?, onde ele apresenta a tese de que o domínio do mundo por parte do Ocidente é considerado uma "anormalidade", se considerarmos os 1800 anos anteriores ao século XIX, durante os quais, segundo a sua argumentação, foram sempre a China e a Índia, as grandes potências do mundo.

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​Para quem não está com muita vontade de entrar no período de desconfinamento com leituras, pode perceber, de modo resumido, a sua tese, nesta Ted Talk de 22 de setembro de 2019, com o tema How the West can adapt to a rising Asia.

Claro que é apenas mais uma tese, das muitas que se vêm fazendo sobre o que será o mundo que nos espera, mas tem a vantagem de ser a tese de alguém que analisa o mundo sem ser exclusivamente pela perspetiva do ocidente, e só isso já merece que lhe prestemos atenção.

#Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (36)

3/5/2020

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Mães há muitas, mas nem todas têm dia.

Por Anabela Afonso

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Mães há muitas e, neste dia, pelas publicações nas redes sociais e pelas manifestações públicas que vemos, todas elas são maravilhosas, únicas, insubstituíveis e cheias de amor. Não sou eu que vou duvidar, até porque também pertenço ao grupo de pessoas que foram contempladas com a  melhor mãe do mundo.

Mas há uma coisa que me intriga: como é que um país que gosta tanto das mães que tem, deixa que morram tantas mulheres em contexto de violência doméstica? 

Espero que saibamos encontrar a resposta a esta pergunta, para podermos dizer, sempre, que para todas as mães também #Vaificartudobem.

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Notas de uma quarentena improvável (35)

2/5/2020

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5G: teoria da conspiração, ou nem tanto?

Por Anabela Afonso

Hoje arrisco entrar por um tema que, há algum tempo, me gera alguma inquietação mas que, confesso, sobre o qual não tenho conhecimentos e informação suficientes para sentir que consigo ter uma opinião devidamente fundamentada. Não quer isso dizer, que não tenha sobre ele uma opinião e ela não é, com a informação que tenho, e para já, favorável. Um dos problemas que sinto, em relação a esta matéria é, sobretudo, a falta de informação clara e de discussão transparente sobre o que está, realmente, em cima da mesa.

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​Falo da instalação da rede 5G em, Portugal. Rede que em alguns países de Europa e do mundo já está bastante estabelecida, mas que por cá ainda não foi atribuída, estando estabelecido, pela ANACOM a realização de um leilão para atribuir a respetiva concessão, conforme imagem abaixo:

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Fonte: https://adslfibra.pt/servicos-gestoes/cobertura/5g


Tendo em atenção o cronograma apresentado na imagem acima, estaremos agora no decorrer do leilão, que deverá estar concluído em junho, prevendo-se que os procedimentos de atribuição da rede terminem em agosto deste ano. Lendo a resolução do conselho de ministros que estabelece os termos do processo de implementação da rede no território nacional percebe-se que está prevista, no seu ponto 8, a criação de um grupo de trabalho que terá como função avaliar os riscos da rede 5G, mas, considerando o descrito na resolução, e as entidades a ter assento no referido grupo de trabalho, esta análise de risco cinge-se às questões da segurança no ciberespaço.

Acontece que as muitas dúvidas que tenho visto serem levantadas quanto a esta questão das redes 5G, prendem-se com o profundo impacto que elas poderão (ou não) ter na nossa saúde, mais do que com as questões de cibersegurança. Sei que esta matéria é sensível e que corremos o risco de entrar aqui em campo onde proliferam as teorias da conspiração, sobretudo em contextos a isso propícios, como o que agora vivemos, por força da pandemia, que sabemos ser terreno fértil para o aumento do medo e da paranóia coletivos. 


Ainda assim, não me parece que esta questão esteja a ser suficientemente explicada ao cidadão comum e parece-me ser este um processo que, mais uma vez, será concluído sem termos bem noção do que poderá estar em causa, em termos de saúde pública.
​Por isso considero tão importante partilhar um artigo do qual só hoje tomei conhecimento, e que foi publicado pelo Jornal de Negócios no passado dia 20 de janeiro, da autoria de um investigador e docente do Departamento de Física da Universidade de Évora, e no qual vejo, pela primeira vez, um esforço real de explicar de modo claro e acessível o tipo de implicações que, do seu ponto de vista, pode estar associado à instalação da rede 5G em Portugal.
​
No artigo O que é a tecnologia 5G e quais os seus perigos, o Prof. Hugo Gonçalves Silva levanta várias implicações, associadas às radiações eletromagnéticas, para a saúde humana. 
Tenho noção que,  por cada artigo deste género, que levanta estas questões, aparece outro de outro especialista a dizer precisamente o contrário, defendendo que não há evidências científicas suficientemente sólidas que demonstrem essas implicações, conforme refere este outro artigo do The Guardian, a propósito da discussão pública que no ano passado ocorreu no Reino Unido, precisamente a propósito da implementação da rede 5G naquele país.

Tenho 
Uma coisa é certa, o processo para a instalação da rede 5G em Portugal está a decorrer, podendo sofrer algum atraso devido à situação de pandemia que pode ter retardado algumas etapas do processo, e nós, cidadãos, temos direito a mais e melhor informação sobre o que realmente implicará esta mudança. São-nos apontadas como maravilhas do 5G podermos fazer downloads muito mais rápidos e podermos, finalmente, entrar na era da "internet das coisas", em que todos os equipamentos das nossas vidas poderão passar a ser comandados através de um smartphone. Será, enfim, a revolução que nos permitirá falar por whatsapp com o nosso frigorífico, o nosso aspirador, ou a máquina de lavar a roupa. Resumindo, mais uma ferramenta para fazermos cada vez mais coisas, mais depressa. Será isto assim tão bom? Tenho dúvidas.
E tenho dúvidas porque, se há coisa que me parece fazer bastante mais sentido,  é que, se há algo a aprender com esta pandemia é que a (r)evolução que parecemos estar verdadeiramente a precisar é aquela que nos fará parar, em vez de acelerar.

Uns concordarão, outros não, mas deixo públicas as minhas dúvidas, e se alguém souber explicar um pouco melhor o que implica afinal esta rede 5G, todos os contributos são bem vindos.

Perguntar é preciso, e informar também. Também assim se garante que #Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (34)

1/5/2020

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Maio, maravilhoso Maio

Por Anabela Afonso

Não, há, acredito, mês mais vibrante que este maravilhoso mês de maio. Tudo floresce, e a natureza brinda-nos em todo o seu esplendor, mostrando-nos como é poderosa na sua capacidade de renovação, regeneração e renascimento.

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Os campos completam-se de matizes coloridas, formas de florescer variadas, e vida de todos os tamanhos a esvoaçar, rastejar ou saltar. Entre pássaros, abelhas, pequenos e grandes insetos, que garantem também  uma banda sonora de ritmos e sonoridades que involuntariamente compõem uma fantástica partitura primaveril.

Este pulsar de vida, ignora se nós, humanos, estamos ou não confinados. E hoje, neste primeiro dia de maio, merece leitura, um texto que li logo a começar o dia, e que julgo ser inspirador o suficiente, para enquadrar o início do mês mais maravilhoso do ano: ​https://www.filmsforaction.org/articles/why-i-stopped-protesting-and-started-a-garden/?fbclid=IwAR3HqVj57k7AcYwdG_PjBU5GidF6oacwg4V3aVu-pTZh3XEYx0cR40yVDks#.XqveGTXMhjV.facebook

#Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (33)

30/4/2020

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A Europa vista de casa

Por Anabela Afonso

Foi hoje lançado, numa conferência de imprensa online, o projeto #Europeathome, uma plataforma digital que conta com a participação de 14 cidades de 14 países europeus diferentes, que desafiaram artistas a dar a conhecer o que tem sido esta experiência de confinamento, através do texto e da fotografia.

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Homepage do projeto Europe At Home


​Antes de continuar a falar sobre o projeto, tenho que deixar um aparte: agora que já se percebeu que as distâncias deixam de ser um obstáculo, com a proximidade permitida pelos meios digitais, pode ser que os meios de comunicação nacionais já consigam dar mais visibilidade à produção cultural que se faz fora de Lisboa e do Porto. Pelo menos, neste caso em concreto, parece ter dado resultado, já que o público fez notícia do lançamento do projeto, com o artigo Faro entre 14 cidades europeias que integram projeto artístico "Europe at Home".


​Findo o aparte, foi da cidade de Faro que surgiu a ideia, e é a Faro que cabe a coordenação do projeto, enquanto parte do processo de candidatura a Capital Europeia da Cultura, com a estrutura Faro2027.  No caso de Faro, as imagens são da objetiva do fotógrafo Vasco Célio, e as palavras são da autoria de Sandro William Junqueira.


​Fica, assim, à nossa disposição, uma verdadeira galeria de arte virtual, com diferentes olhares e versões do que tem sido esta experiência de confinamento por toda a Europa. Ao que parece, esta galeria pode crescer, dado parecer haver vontade de outras cidades aderirem ao projeto.


​Parabéns à estrutura da candidatura Faro 2027, com mais este passo, que mostra para além de capacidade de reação às condições do momento, capacidade de mobilização à escala europeia, para projetos colaborativos e participados. 


​Boa sorte à candidatura de Faro, e que continue a acreditar que #Vaificartudobem, e que #Ganhar2027 é possível!

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Notas de uma quarentena improvável (32)

29/4/2020

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A dança também vai curar o mundo!

Por Anabela Afonso

Hoje assinala-se o dia mundial da dança. Pessoalmente não tenho grande entusiasmo por estas efemérides que servem para alguns de nós fazerem de conta que se interessam por qualquer temática, à qual se deixa de prestar atenção logo no dia seguinte. Mas reconheço que estas datas têm a vantagem de, nem que seja por um dia, trazer à discussão as mais variadas matérias, e hoje, como disse, é dia de falar de dança.

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Gregory Maqoma


​ Todos os anos, nesta data, o Comité Internacional da Dança (CID) da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) convidam uma personalidade da área da dança a criar uma mensagem alusiva à efeméride com o objetivo de destacar a importância desta arte universal. Este ano, essa tarefa coube ao coreógrafo Sul Africano Gregory Vuyani Maqoma, e pode ser ouvida neste vídeo entretanto partilhado nas redes sociais, e que brevemente se resume de seguida:

“Vivemos tempos de tragédias inimagináveis, que melhor se podem descrever como uma era pós-humana. Mais do que nunca, precisamos de dança com sentido de missão para lembrar ao mundo que a humanidade ainda existe”. Para Gregory Vuyani Maqoma, “o sentido de propósito e empatia devem prevalecer sobre anos e anos de dor universal que estão para vir, e conquistar essa tristeza da dura realidade de morte, rejeição e pobreza”. “A dança deve, mais do que nunca, dar um forte sinal aos líderes mundiais – e a todos os que garantem a melhoria das condições da vida humana – que somos um furioso exército de pensadores, e o nosso propósito é mudar o mundo passo a passo”, escreve ainda, na mensagem.
​
Tenho que sublinhar na sua mensagem a força do excerto que se segue: 
"Dança é liberdade, e através da nossa liberdade descoberta, precisamos libertar os outros das armadilhas que enfrentam nos vários cantos do mundo. A dança não é política, mas torna-se política porque transporta em si a fibra da conexão humana, e é assim que responde às circunstâncias na sua tentativa de restaurar a dignidade humana”
Remata a sua mensagem falando do enorme poder curativo que os corpos que dançam em conjunto representam e do qual precisamos tão desesperadamente, para concluir que, o que precisamos, então, é dançar, mais e mais!!! 

Curiosamente, a edição deste ano dos Encontros do Devir, integrados na programação da 4.ª edição do 365 Algarve, tinha prevista duas apresentações de uma peça de Gregory Maqoma, nos dias 3 e 4 de março, no Cine-teatro Louletano e no Centro Cultural de Lagos, respetivamente, não fora a suspensão de toda atividade cultural por força da pandemia. Essa peça, um solo intitulado Beautiful Me, é uma reflexão sobre essa condição de ser artista, ser africano, e do que significa essa procura de identidade através da dança e de uma estética, assim como sobre que visão tem o ocidente (e sobretudo os media ocidentais) sobre esse continente tão diverso em cultura, tradições e identidades, como o próprio explica neste vídeo, aquando da sua apresentação em Barcelona em 2011.


​ Deixo a quem possa estar interessado, a mensagem original, em inglês:

«It was during an interview I had recently that I had to think deeply about dance, what does it mean to me? In my response, I had to look into my journey, and I realized that it was all about purpose and each day presents a new challenge that needs to be confronted, and it is through dance that I try to make sense of the world. We are leaving through unimaginable tragedies, in a time that I could best describe as the post-human era. More than ever, we need to dance with purpose, to remind the world that humanity still exists. Purpose and empathy need to prevail over years and years of undeniable virtual landscape of dissolution that has given rise to a catharsis of universal grief conquering the sadness, the hard reality that continues to permeate the living confronted by death, rejection and poverty. Our dance must more than ever give a strong signal to the world leaders and those entrusted with safeguarding and improving human conditions that we are an army of furious thinkers, and our purpose is one that strives to change the world one step at a time. Dance is freedom, and through our found freedom, we must free others from the entrapments they face in different corners of the world. Dance is not political but becomes political because it caries in its fibre a human connection and therefore responds to circumstances in its attempt to restore human dignity. As we dance with our bodies, tumbling in space and tangling together, we become a force of movement weaving hearts, touching souls and providing healing that is so desperately needed. And purpose becomes a single hydra-headed, invincible and indivisible dance. All we need now is to dance some more!!!!»

E para quem quiser "perder" um pouco mais de tempo, para conhecer mais do seu trabalho enquanto coreógrafo, ficam mais dois vídeos, um deles, um pequeno excerto de uma versão do Bolero de Ravel - Requiem of Bolero's Ravel, e outro, uma absolutamente incrível Ted Talk, mais uma vez dedicada a esse paradoxo  que é, por um lado, a forma como se olha para África, como um continente de miséria, guerras e desgraças, e por outro, o mundo de oportunidades que a sua diversidade cultural e o seu enorme potencial criativo representam. Por amor à dança, ou apenas por amor ao mundo, que seja, não deixem de ver este Beyond the euphoria of movement!

Sim, a dança também vai curar o mundo, por isso sei que #Vaificartudobem!

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Notas de uma quarentena improvável (31)

28/4/2020

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Nota para experimentar o futuro

Por Anabela Afonso

Ao que parece, as 24 horas do próximo dia 2 de maio marcarão o fim deste ciclo de estados de emergência a que estivemos sujeitos nas últimas semanas, o que não quererá dizer que está a chegar o fim do confinamento, porque poderá estar em cima da mesa a aplicação do estado de calamidade, que em si não difere muito do que é um estado de emergência.


​Contudo, percebe-se que vamos encetar um período de espaçadas experiências de reabertura da nossa economia, a começar pela reabertura do pequeno comércio, sujeita às devidas adaptações dessas novas práticas que se vieram instalar e que implicam guardarmos distância uns dos outros, utilizarmos máscaras e estarmos preparados para estar em longas filas.

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Se há coisa que não parece falar-se muito, mas que parece certa para este novo tempo que estamos a viver é a alteração que sofrerá a nossa relação com o tempo. Só quem não teve ainda que sair para ir às compras, ou aviar uma receita numa farmácia, é que não percebeu que coisas que antes fazíamos em breves minutos, podem agora demorar algumas horas. Estaremos nós preparados para isso?


Não deixa de ser com alguma ironia que nos damos conta que os centros urbanos, que sempre foram apontados como os locais onde tudo acontece, e onde a vida tem mais ritmo, sobretudo por aqueles que olham para a vida no campo como uma coisa muito parada, são agora os locais onde tudo é muito mais demorado. No campo, nas pequenas aldeias, nesse interior onde se achava que nada acontecia, é, apesar de tudo, onde ainda conseguimos manter alguma normalidade, nas breves idas à pequena mercearia, ou à pequena farmácia. É aí que estão os locais onde sempre houve tempo para fazer as coisas com tempo.


Talvez esta crise possa servir para se olhar para o enorme potencial que o interior do país, e do Algarve em particular, podem representar nesse esforço de reinvenção - mais do que recuperação - a que nos devemos propor, assim que possível.


Talvez seja tempo se de pensar num estilo de vida com um tempo diferente do que tivémos até aqui, aproveitando recursos que temos menosprezado paulatinamente. 


​A ilustrar esta ideia, vale a pena ler este artigo publicado pelo suplemento do Público, Ípsilon, dedicado ao relato da experiência do coreógrafo Rui Horta, desde o momento em que deixou as grandes capitais como Frankfurt, Munique ou Nova Iorque, para se fixar no interior alentejano, em Montemor-o-Novo, com um dos mais estimulantes espaços de residência artística do país, procurado por criadores de todos os pontos da Europa e do mundo. Neste artigo Rui Horta: antes de salvar o corpo o campo salva a alma, o coreógrafo fala do que implica essa opção de deixar as grandes cidades e do impacto que essa mudança teve em si enquanto ser humano e criador. Mas deixa um aviso, que me parece esclarecedor:

«Aos 63 anos acabados de fazer não tem dúvidas de que é hoje um criador diferente por causa do lugar a que escolheu chamar casa, embora agora, por motivos pessoais, se desloque mais vezes a Lisboa do que era hábito. “O campo para mim foi um refúgio, o lugar onde me encontrei comigo. E digo isto porque ele antes de salvar o corpo salva a alma. Traz-nos um tempo de esvaziamento, de vagueza, que é bom para reflectir, para mudar.”
​A quem estiver a pensar trocar a cidade pelo campo em virtude da pandemia (esta e as futuras), deixa o conselho: “Para vir é preciso que se imaginem diferentes do que são hoje. É preciso que pressintam que querem ser outra coisa.”»

É este aviso que Rui Horta deixa, sobre a opção de escolher o campo para viver que me parece encerrar o potencial de mudança que será necessário encarar no mundo pós-COVID que precisamos construir.

Aqui mais perto, falando do extremo oeste do Algarve, o mesmo suplemento do Ípsilon, relata também a experiência da dupla de criadores e programadores Giacomo Scalisi e Madalena Victorino que desde há cerca de 4 anos se estabeleceram de modo mais permanente em Aljezur, a partir de onde têm desenvolvido esse especialíssimo projeto que é o Lavrar o Mar, centrado nos territórios de Aljezur e Monchique.


​Sou, obviamente, suspeita por falar neste último exemplo, dado tratar-se de um dos projetos que integra a programação do 365 Algarve, no qual tenho estado intensamente envolvida nos últimos anos. Mas é também desta experiência intensa, de correr todo o Algarve até aos locais mais afastados das praias e cidades algarvias, para acompanhar uma programação cultural muito diversificada, que tenho vindo a consolidar esta perspetiva sobre as enormes potencialidades que tem esse "outro" Algarve tantas vezes esquecido e descurado. Já tive oportunidade de dar testemunho dessa minha convicção neste Lugar ao Sul, no texto Uma ideia de Europa (e de Algarve) por cumprir, que passado tão pouco tempo, mas com uma tão grande alteração de contexto, me parece fazer ainda mais sentido.

Como também demonstra o relato de Madalena e Giacomo à procura da resposta "mais humana", estar no interior ou nas zonas mais periféricas não quer dizer que não se possa desenvolver um trabalho cosmopolita e não se possam alimentar relações de trabalho internacionais, mas signica, com certeza, fazê-lo com um outro tempo, e um outro olhar: 

«[...]De cada projecto na costa vicentina nascem outros. Neste momento, com o quarto ciclo do Lavrar o Mar (Outubro de 2019 a Maio de 2020) suspenso por causa do coronavírus, estão a trabalhar em candidaturas para outro projecto, com a Islândia (e apoio dos EEA Grants), que aproxima as realidades portuguesa e islandesa num encontro feito de semelhanças e diferenças. Não sabem se os apoios se concretizarão. Os projectos poderão ter que ser redimensionados. Mas não vão deixá-los para trás. As ideias têm vida própria. Neste momento estão apenas a viver mais devagar porque “uma lentidão maior pode ser uma densidade maior”. Como diz Madalena: “Sabemos que temos que esperar, escutar, ser muito sensíveis a tudo o que acontece para podermos responder da forma mais correcta, mais humana, mais certa.”»

Este é um recurso que o Algarve tem. O espaço, a paisagem, e a qualidade no acolhimento que podem favorecer o estabelecimento de projetos direcionados para o setor artístico e criativo. Há muito que defendo que essa deveria ser uma aposta estratégica, sobretudo dos territórios de interior e considerados de baixa densidade da região. Podem não ser projetos que consigam apresentar folhas de excel com taxas de rentabilidade financeira muito apelativas (pelo menos no curto e médio prazo), mas serão com certeza, projetos que garantirão um retorno em termos de transformação e regeneração social, de fixação de jovens, e de qualificação da comunidade, que me parecem bem mais apelativos.

Gostava muito que se experimentasse este futuro, para o Algarve.

#Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (30)

27/4/2020

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Ainda o embrutecimento

Por Anabela Afonso

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Já a chegar à hora em que o dia de hoje vira o dia seguinte, sem tema que me empurrasse para a escrita, e já sem energia para continuar, ainda, em frente a um ecrã, eis que dou pelo final do jornal das 23h00 da SIC Notícias, com a sua elegante pivot, a anunciar, triunfante, que aquela estação televisiva se tinha mantido na liderança das audiências em Portugal com, nada mais, nada menos que, um reality show para ver quem quer namorar com um agricultor.


​Depois disto, ocorre-me que saber que o tempo de muitos dos portugueses que estão em confinamento, é utilizado para dar estes resultados em termos de audiências televisivas, torna mais difícil o meu exercício de otimismo diário do que muitas outras notícias, à primeira vista mais "pessimistas". 


​O combate ao embrutecimento e ao alheamento é um dos mais difíceis. Muito depois de se encontrar a vacina para o COVID'19, ainda andaremos às voltas para tentar perceber como se combate tal mal, e como se vence esse outro inimigo invisível, ainda mais subtil.


​Ainda assim, porque para mim o otimismo é uma atitude pro-ativa, não uma cedência à inércia, vou continuar a acreditar que, apesar das audiências, #Vaificartudobem.

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Notas de uma quarentena improvável (29)

26/4/2020

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Os olhos com que vemos o mundo

Por Anabela Afonso

Por esta altura em vamos ser inundados com previsões, mais ou menos catastrofistas, sobre o que está por vir. Seremos confrontados com toda a série de números, dados, estatísticas, mapas, gráficos e quadros de tudo e mais alguma coisa. Na maior parte dos casos, informação que servirá para justificar porque estaremos a atravessar a maior crise das últimas décadas, e porque seremos todos chamados a fazer sacrifícios, e "apertar o cinto". Não nos iludamos, pode não ser para já, mas não tardará o dia em que mais uma vez retornará em todo o seu esplendor a famosa fórmula do "vamos fazer mais com menos". Mas será mesmo esse o caminho a seguir?

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​A propósito do que nos espera, pode ajudar tentar colocar o nosso contexto em perspectiva. Por mais dolorosa que seja toda esta experiência relacionada com o COVID'19, talvez não seja mau lembrar-nos que temos a sorte de passar por ela num dos locais mais privilegiados do planeta, já que o fazemos na pequena parte de países do mundo que tem condições de saúde, educação, alimentação e segurança, muito acima dos demais. Por mais que gostemos de dizer que não, a verdade é que não nos faltam recursos para fazer frente às mais diversas adversidades. Falta-nos talvez, pensar em novas soluções para os novos problemas que enfrentamos, em vez de os tentar resolver com as mesmas fórmulas de sempre.


A este propósito, vale a pena ver o filme "O menino que prendeu o vento". Baseado na história real de um jovem adolescente, William Kamkwamba, que com o seu engenho, conseguiu, no início dos anos 2000 salvar a sua aldeia da fome, ao encontrar uma solução para regar os campos que alimentavam a sua população. Esta história marca a estreia do ator Chiwetel Ejiofor, mais conhecido pelo seu papel em 12 Anos Escravo, na realização. Este é um filme que, para além de nos colocar em perspectiva o que são verdadeiramente as dificuldades porque possamos estar a atravessar, nos mostra também como por vezes as soluções vêm, precisamente, quando temos a capacidade de cortar com os padrões habituais e abrimos espaço àqueles que propõem novos caminhos, por mais absurdos que nos possam, por vezes, parecer.

.Para isso, também precisamos de ter a capacidade de perceber que a perspetiva que temos do mundo, está muitas vezes enviesada, contaminada até, por uma série de preconceitos e ideias préconcebidas sobre as realidades que estão mais distantes de nós, e sobre aqueles sobre quem tão pouco sabemos. Sobre isso, vale também sempre a pena revisitar a Ted Talk de Chimamanda Ngozi Adichie, "The Danger of a Single Story"

Ao ouvi-la, damos conta do ridículo com que muitas vezes nos colocamos por entendermos que, apesar de nos sabermos seres tão complexos em todas as nossas dimensões, podemos presumir que os "africanos", ou os "refugiados", ou seja, os outros, sejam eles quem forem, são seres a quem podemos retirar essa complexidade.

Entender o mundo, e portanto, entender também que lugar é o nosso, no mundo, também passa por reconhecermos que somos tantas vezes manipulados pela informação que nos chega, que serve ela própria, sempre, interesses que muitas vezes não são desvelados na passagem dessa informação. Vale, por isso, também perceber como os números, dados e estatísticas que tantas vezes nos são fornecidos para "percebermos" em que situação nos encontramos, podem ter tantos níveis de leitura e graus de sistematização que podem, literalmente, servir para dizer coisas complemente diferentes, conforme a fórmula com que nos são revelados. Neste caso, fica como sugestão esta outra Ted Talk com o sugestivo título "Let my dataset change your mindset", do especialista sueco em saúde pública, Hans Rosling (1948-2017), onde demonstra que os dados estatísticos que muitas vezes utilizamos para olhar para o mundo, escondem realidades muito diversas, impedindo-nos assim de ver o que é, verdadeiramente, a realidade com que temos que lidar.

Apurar a nossa capacidade crítica é um passo fundamental para garantirmos que, no final, #Vaificartudobem.

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Notas de uma quarentena improvável (28)

25/4/2020

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A liberdade que está nas pequenas coisas

Por Anabela Afonso

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Hoje não cantei a Grândola à janela, nem tive um cravo à lapela.

​Mas não me esqueci por um segundo, como não me esqueço nunca, do privilégio que é ser uma mulher livre.

Livre, até, de optar por não dizer nada que faça deste dia mais do que ele já é. O dia que me permitiu ser livre de estar aqui, só para dizer que sou livre de não querer dizer mais nada.

#Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (27)

24/4/2020

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Regresso ou recomeço?

Por Anabela Afonso

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​Ao aproximar-se o início do mês de maio, tudo parece apontar para que cheguem, finalmente, por toda a Europa, Portugal incluído, as primeiras medidas de aligeiramento das restrições a que todos fomos sujeitos nas últimas semanas, devido à pandemia do Coronavírus.

No caso de Portugal e se tudo correr como até aqui, podemos entrar nesse novo ciclo, sem nunca termos passado pelas experiências mais dramáticas que tiveram lugar em Itália ou Espanha. Resta-nos agora perceber o que significará esta nova fase.

Não deixa de ser estranho que, em praticamente todos os países, se fale no mês de maio para esta espécie de regresso a alguma normalidade, quando se percebe que a pandemia chegou em momentos diferentes a cada um deles e que, portanto, também nesse caso o levantamento das medidas de restrições deveria replicar esse desfasamento temporal.

Sendo apontado no caso de Portugal, como um dos motivos por termos tido tão boa capacidade de reação ao fenómeno, o facto de termos tido mais tempo para reagir, dado o vírus ter cá chegado com semanas de atraso em relação a outros países da Europa, deveria, este pequeno detalhe, levar a que tivéssemos particular atenção no levantamento dessas medidas. Vamos ver se não deitamos fora o menino com a água do banho, na ânsia de estarmos agora, também, na linha da frente, dos que regressam ao "normal", em particular por isto ir acontecer na altura em que se aproximam os dias de sol e de calor, que tornarão muito difícil resistir às praias, esplanadas, e às noites que convidam a que fiquemos na rua até mais tarde.

Por outro lado, todos sabemos que esta situação não será sustentável por muito mais tempo, e que é preciso devolver às pessoas a possibilidade de voltarem ao trabalho, e de poderem ganhar a sua vida, garantindo que conseguem por comida na mesa, todos os dias. Isto é o mínimo. Mas seria bom não deixar que esta necessidade, que todos reconhecemos ser imperiosa, nos impedisse de perceber que o que é preciso não é regressar à "normalidade", mas sim recomeçar, para que se possa construir qualquer coisa nova.


Muitos empregos se vão perder, e muitas atividades dificilmente conseguirão regressar com a vitalidade que se lhe conhecia. Mas por mais dramático que isso possa parecer no imediato, porque implica sofrimento concreto na vida de muitas pessoas, esperemos que isso represente uma verdadeira mudança de paradigma que venha a ter como resultado, um estilo de vida mais sustentável para todos. Até porque, seguramente, novas atividades e oportunidades surgirão, como sempre acontece com as mudanças, por mais dramáticas que sejam.


Neste caso, o Algarve será um exemplo a ter em conta, na forma como irá ultrapassar os próximos meses e anos. Não há ninguém que não reconheça que a excessiva dependência que a região tem do Turismo, apesar desta ser a atividade que, nas últimas décadas,  tem garantido o sustento para uma enorme fatia da população residente no Algarve, é também a sua principal debilidade, como agora se veio a comprovar com a situação do COVID'19, que nos obrigará a ter que repensar como iremos sobreviver se nos próximos tempos ao ficarmos sem a receita que habitualmente tem origem naqueles que todos os anos nos visitam, dormem nos nossos hotéis, comem nos nossos restaurantes e consomem nos nossos estabelecimentos comerciais.


​Não será fácil é certo, mas pode ser a oportunidade de finalmente se fazer a transformação de que há tantos anos tanta gente fala.

Tem sido muitas vezes referido como, em alguns aspetos, esta pandemia terá efeitos semelhantes aos da devastação das duas grandes guerras, na sociedade europeia. E isto leva-me a um exemplo de mudança, pela qual se vinha a lutar antes desses dois momentos traumáticos, mas cuja evolução acabou por se dar de modo mais acelerado, precisamente por causa desses dois momentos trágicos da história europeia. Falo da presença da mulher no mercado de trabalho, e por consequência, a consolidação da sua trajetória de emancipação.

Não tivessem sido esses dois momentos em que os homens foram arrastados para as frentes de batalha e terem sido as mulheres a ter que assegurar os postos de trabalho que antes eram quase exclusivamente ocupados por eles, e provavelmente teríamos levado bastante mais tempo a perceber que o lugar das mulheres não era exclusivamente a cozinha e as lides domésticas e familiares.

Este será o momento para, mais do que estarmos preocupados em regressar à normalidade, nos dedicarmos a pensar um novo recomeço, a partir do que percebemos que, afinal, as coisas não estava a funcionar assim tão bem, a não ser para muito poucos. 

Por mais que nos custe a mudança que aí vem, no final #Vaificartudobem.

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Notas de uma quarentena improvável (26)

23/4/2020

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Os livros que, afinal, não li

Por Anabela Afonso

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Hoje é o dia mundial do livro e são várias as entidades do setor a assinalar a data com as mais diversas medidas, conforme se pode ver neste apanhado que o Público faz, no artigo Para um dia mundial do livro (bem) passado em casa.

Já eu, só consigo pensar em todos os livros que, afinal, não li, durante estes já mais de 30 dias que levo por casa. Afinal, não há assim tanto tempo para leituras, em quarentena. E eu a pensar que ia por as leituras em dia.

Ainda assim, quero deixar como sugestão, um autor que descobri há relativamente pouco tempo (há coisa de 4 ou 5 anos), e que recomendo. Falo de J. Rentes de Carvalho, escritor português há muitos anos radicado em Amsterdão.

Comecei com Ernestina, primeiro, e depois O Meças. E descobri, através destes livros, um Portugal do norte profundo, dos tempos em que tudo em Portugal era cinzento e a vida doía nos corpos e nas almas. E era sempre mais dura para as mulheres, a vida desse Portugal.

A ver se consigo, ainda, voltar aos livros, nestes dias por casa.

Boas leituras e continuem a acreditar que #Vaificartudobem.

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Notas de uma quarentena improvável (25)

22/4/2020

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O problema do isolamento físico

Por Anabela Afonso

A expressão "isolamento" ou "confinamento social", entrou de vez no nosso vocabulário quotidiano, mas não será, provavelmente, em muitos casos, a expressão mais acertada para descrevermos aquilo que se está a passar com muitos cidadãos por todo o mundo, onde as medidas mais extremas de combate à pandemia, se estão a aplicar.

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Na realidade, a interação social, em muitos casos até poderá estar a aumentar. Com certeza muitos casos haverá em que esta situação levará pessoas a reatar contactos há algum tempo adormecidos, a falar mais regularmente com amigos, vizinhos ou familiares, ou até, a fazer novos contactos, por via das plataformas digitais, por força de interesses comuns que entretanto se descobrem, nestes tempos que, apesar de tudo, acabam por permitir explorar novos caminhos.

Mas não é assim para todos, e mesmo quando esse contacto social à distância se mantém, ou até se intensifica, é o distanciamento físico que acaba por custar mais a suportar. Lá está, nada substitui a sensação de se estender a mão e tocar naqueles de quem gostamos. Por mais horas que passemos ao telefone ou em video chamadas, o calor e o cheiro dos outros não tem ainda substituto à altura. E esta é apenas a desvantagem mais sentimental, ou emocional desta situação.


​O isolamento físico traz consigo desvantagens mais complicadas de gerir, identificar e resolver, que é preciso ter em atenção. E são situações que afetam, sobretudo os mais fragilizados, como os idosos que vivem sozinhos, e ficam sujeitos aos burlões, e aos amigos do alheio que se aproveitam desta situação, sabendo que agora estão mesmo sozinhos em casa; ou como aqueles que enfrentam situações de alguma fragilidade emocional ou mental, como as pessoas com predisposição para as depressões, para as adições, ou com distúrbios mentais, que precisam de uma estabilidade emocional que nestes dias deve ser difícil de manter.


​Porque pode ser difícil aos serviços competentes identificarem todas esta situações e a todas acorrerem, é importante que cada um de nós continue a olhar para a casa do vizinho, mesmo aquele com quem nunca antes falámos, mas que sabemos que vive sozinho na casa do fundo da rua, ou no cimo do monte. Estar atentos, mais do que nunca, aos que provavelmente nunca antes reparámos que estavam ali tão perto.

Fazer a nossa parte, para que continuemos a poder dizer que #Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (24)

21/4/2020

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Um desafio para a quarentena

Por Anabela Afonso

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​Hoje quero aproveitar a oportunidade para fazer chegar, também aos leitores do Lugar ao Sul, o desafio que hoje foi lançado pelo Programa Cultural 365 Algarve, nas suas redes sociais. Falo do #365AlgarveChallenge, que se estreou com este vídeo feito pela equipa do projeto Lavrar o Mar.


​Conforme se explica no texto que enquadra este primeiro vídeo, «Dada a situação de pandemia que atravessamos e que nos afastou do ato social que é nos juntarmos para assistir ao trabalho dos artistas ao vivo, mas não nos impede de perceber como, mesmo confinados aos espaços das nossas casas, a cultura continua a ter uma dimensão fundamental nas nossas vidas. É nessa premissa que assenta o #365AlgarveChallenge, que hoje lançamos, desafiando todos os que direta ou indiretamente têm estado envolvidos nesta edição do #365Algarve, a fazer uma sugestão cultural para estes dias de cofinamento, ou a falar de uma experiência cultural que tenha sido transformadora para alguém, em algum sentido. Os primeiros a responder foram a equipa do Lavrar o Mar, que nos deixa aqui excelentes sugestões de propostas culturais para esta quarentena. Quem quiser aderir a este desafio, é só gravar um pequeno vídeo com uma breve sugestão ou testemunho (com um máximo de 2 minutos), e enviar-nos para o email 365algarve@turismodoalgarve.pt, fazendo referência ao #365AlgarveChallenge. Se quiserem, no final, desafiem alguém que conheçam para fazer o mesmo. Vamos fazer este desafio correr o mundo!»


​Fica, assim, também lançado o desafio aos leitores deste Lugar ao Sul que também acham que a arte é uma imprescindível companheira nos momentos difíceis, para enviarem o seu vídeo para a equipa do 365 Algarve. Para os mais tímidos, um simples comentário na página de Facebook do Lugar ao Sul também serve.

Falem do livro que mais vos comoveu, da música que vos faz recuar no tempo, do espetáculo que jamais esquecerão ou do filme que veem sempre como se fosse a primeira vez, e expliquem-nos porque sem esses momentos, a vossa vida não faria o mesmo sentido.

Vou ficar à espera, sempre a acreditar que #Vaificartudobem

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Nota de uma quarentena improvável (23)

20/4/2020

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Poesia erótica roubada

Por Anabela Afonso

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​Hoje fui de tudo um pouco.
Sobretudo mãe, é certo, mas derramando-me daí para outros eus:
​
Teletrabalhadora e telefonista
Teletrabalhadora e mulher de limpeza
Teletrabalhadora e conselheira
Teletrabalhadora e engomadeira
Teletrabalhadora e amiga
Teletrabalhador e cozinheira
Teletrabalhadora e assistente de estudo da telescola portuguesa
Teletrabalhadora e técnica de apoio às novas plataformas informáticas de ensino
Teletrabalhadora e engomadeira
Teletrabalhadora e mulher

Hoje, fui de tudo um pouco
Só não fui poeta
E amante já agora
que é coisa que fica bem a uma mulher completa.

Por que hoje, a minha casa foi lar, escola, cantina, trabalho, e ainda conseguiu ser o refúgio de sempre
Como consigo?
Como vamos conseguir?
Não sei
Mas sei que só não fui poeta
e amante
E por isso me torno ladra de uma poeta
e amante
que põe em palavras certas
essa outra mulher que somos
mas sobre a qual nunca escrevemos.


IMPREVISTO
Que surpresa
a dos dedos
quando percorrem o corpo

ou espalham os cabelos
pelas costas despidas

Em breve será o ventre
e em seguida

as pernas lentas
mansamente erguidas

O VENTRE
Repositório do corpo
e taça dos seus líquidos
é o ventre o repouso sobre a cama

Mas é também o acto
e o motivo
ternura lenta que a língua planeia

É a chama do corpo 
é o susto   é aquilo
é tudo o que inventar se possa na vontade

Tão depressa mármore
como vidro
tão depressa mar como ansiedade

BEBER-TE
Bebo-te a boca
com o seu manso sabor
a tangerina

​Gulosamente
a comer o mel
no favo da abelha
​

Maria Teresa Horta, In As Palavras do Corpo, Antologia de Poesia Erótica

Que esta minha ousadia sirva para haver mais gente a ler a poesia erótica escrita pelas poetas portuguesas. E ler a poesia erótica de Maria Teresa Horta é um excelente começo.

#Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (21)

18/4/2020

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O otimismo é preciso, sim!

Por Anabela Afonso

Começa a circular a partilha de textos de pessoas indignadas com aqueles que estão a fazer o exercício de passar por tudo isto com um espírito otimista, fazendo o esforço para, entre as dificuldades por que todos passamos, conseguir encontrar alguma beleza e esperança nas pequenas coisas que nos vai trazendo o quotidiano. Quem tem seguido estas minhas notas da deve já ter percebido que sou das que faz parte desse grupo de "otimistas irritantes".

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O Espanto (a)Anabela Afonso


​Argumentam esses críticos do otimismo que a situação é tão grave que não há como sair bem de tudo isto, e que não devemos romantizar a pandemia, porque ela só traz tragédia, e a tragédia não deixa lugar à beleza.  Que é um absurdo andar por aí a dizer aos sete ventos que vai ficar tudo bem.

Vou ter que discordar. O otimismo é um ato de coragem, e é sempre preciso, mesmo quando a tragédia nos bate à porta. E é preciso não esquecer, que a tragédia e a morte não tiram dias de folga. Há até lugares no mundo onde elas batem à porta mais vezes, e às vezes insistem em bater na mesma porta com alguma insistência (e sei que já devo ter dito algo parecido numa outra nota qualquer). 

Basta-nos andar para trás 3 ou 4 meses e provavelmente muitos destes críticos do otimismo eram, eles próprios, pessoas cheias de esperança no mundo que se avizinhava. Portugal estava na moda, os números da economia não andavam mal, e aguardávamos todos mais um verão cheio de atividade a quebrar contínuos recordes de turismo e consumo.  Mas mesmo nessa altura sem pandemia, tragédias e morte não faltavam noutros pontos do mundo, Não faltavam sequer em Portugal e, no entanto, Portugal era um país cheio de gente otimista.


​Significa isto que o otimismo implica ignorar as dificuldades ou virar a cara aos problemas? Não, muito pelo contrário, essa energia positiva será um aliado importantíssimo para esse trabalho, sobretudo quando começarmos a reerguer-nos de tudo isto.


Esta semana assisti a um dos debates online que a Acesso Cultura está a promover dedicados ao tema "Em que pensas? Reflexões sobre o futuro da participação cultural." Neste caso, era o jovem maestro Martim Sousa Tavares a partilhar a sua visão sobre o tema, e a dada altura referia precisamente esta questão. Referia ele, que também era dos que acreditava na máxima do Vai ficar tudo bem, e que isso não era o mesmo que dizer que íamos todos ficar bem. É óbvio que não, como é óbvio que uns serão mais afetados que outros, e que uns terão mais condições (das mais variadas ordens) para conseguir recuperar, do que outros. Mas o otimismo será fundamental, tal como fundamental será a capacidade dos mais afortunados saberem olhar para o lado, e estender a mão, sempre que necessário, àqueles a quem a tragédia lhes calhe a bater à porta.


​O otimismo será, com certeza, uma melhor forma de trazer a luz suficiente aos muitos problemas que temos pela frente, evitando que andemos demasiado tempo a tropeçar na escuridão das muitas tragédias que vamos viver.


​Por estes dias, tenho andado a ler o livro de José Tolentido Mendonça, Uma beleza que nos pertence, do qual já ontem aqui deixei um pequeno registo, e ao qual hoje vou regressar com um novo apontamento, desta vez dedicada à Perda:

«Temos de aprender a cuidar da dor e a minorá-la, mas não só com comprimidos: também com o coração, com a presença, com os gestos silenciosos, o respeito, com uma expectativa de coragem. Os doentes não estão à procura de indulgência.
[...]
Bem-aventurados aqueles que vivem uma história e a podem contar. Bem-aventurados os que colocam as flores na jarra e depois param extasiados. O pior que nos podia acontecer é ter uma vida em que vamos fazendo coisas, que até são boas e necessárias, mas onde se perdeu a capacidade do espanto, da contemplação, da delícia.»


​E insisto, é preciso ter coragem para continuar a acreditar que #Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (20)

17/4/2020

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Mais uma despedida

Por Anabela Afonso

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A Espera. (c) Anabela Afonso

Hoje, o dia é marcado por mais uma despedida no mundo das artes, desta vez mais próxima de nós. Filipe Duarte, um dos mais talentosos atores portugueses da sua geração, parte aos 46 anos, após um enfarte de miocárdio. Tornou-se conhecido do grande público enquanto Dr. Valença na grande produção Equador, inspirada no livro com o mesmo nome, de Miguel Sousa Tavares. Mais recentemente, participou no filme Variações. 


​Esta sequência de despedidas faz-nos perceber como é fugaz esta nossa presença, e como nos prendemos, tantas vezes, a coisas que não merecem a nossa atenção. 

«Não temos tempo a perder. E, contudo, precisaríamos talvez de dizer a nós próprios e uns aos outros que esperar não é necessariamente uma perda de tempo. Muitas vezes é o contrário.
José Tolentino Mendonça, In Uma beleza que nos pertence.
​

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Notas de uma quarentena improvável (19)

16/4/2020

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Um escritor nunca morre

Por Anabela Afonso

Hoje o dia acordou para a notícia da morte do escritor Luís Sepúlveda que, por coincidência, terá tido a sua última participação num ato público precisamente em Portugal, na edição deste ano do Festival Correntes d'Escrita.
Por isso, hoje, este espaço, dará lugar à sua escrita, partilhando um texto publicado no livro Uma História Suja (2004), que resultou de uma seleção dos muitos textos que regularmente escrevia nos seus cadernos. O texto que escolhi é o que tem por título Acerca da Luz.

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Por AmonSûl - Dal vivo, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=656737


​Acerca da Luz

Nas ruínas da cidade maia de Chichén-Itzá erguem-se várias pirâmides orientadas de acordo com a deslocação solar, e todas elas têm esculpida uma serpente que desce da cúspide até à base da construção. Pelo lombo da serpente deslizou a Luz durante centenas de anos, e quando esta tocava no solo os Maias davam então por iniciado o dia. Todo o seu labor estava determinado pelo momento exacto em que a Luz e a terra se uniam fugazmente. Esse minúsculo momento de união entre o indiscutível, o inacessível, o incorpóreo, a Luz, e o mundo, era para eles a única eternidade possível, e assim o afirma o Popol-Vuh, o livro sagrado dos Maias: «A Luz desce pelas costas da serpente, deixa para trás o feito, já em sombras, e ao incendiar-lhe as fauces indica-nos o que faremos. Assim será até ao fim do tempo, que é o fim da Luz.»
Na Austrália, parei um dia para contemplar as estranhas figuras estáticas de dois aborígenes. Era a hora do crepúsculo e eles olhavam o horizonte mas o sol punha-se por detrás deles. Os corpos imóveis, uma perna levantada, com a planta do pé apoiada no joelho da outra, a que sustinha todo o corpo e os unia à terra argilosa. A cabeça altiva parecia ser o centro do equilíbrio, as mãos agarradas à longa lança e os olhos fixos num ponto indefinível do horizonte. De repente vi-os mergulhar num profundo sono, um primeiro, depois o outro, sem mudar de posição e sem mover um músculo. Dias mais tarde soube que no fim do dia cada aborígene escolhe um ponto incerto do horizonte e espera que a luz solar projecte a sua sombra até ele. Por essa razão param de costas para o poente, ignoram a singular beleza do ocaso australiano e esperam que sua longa sombra toque o pormenor da paisagem sobre o qual centram a sua atenção. Quando isso acontece, quando a sombra o cobre, é porque escureceu o universo, a Luz se cansou de nomear tudo o que existe, porque, garantem os aborígenes, a Luz convida a dar um nome ao que se vê e a soma dos nomes é a canção da Luz.
O Inverno passado, em Turim, assisti como convidado a um espectáculo de Luz e luminotecnia. Vários artistas italianos e de outras nacionalidades tinham iluminado as belas praças turinenses com os mais imaginativos jogos de luz e sombra. Junto do presidente da câmara, esperava pelo momento em que, da central de comandos, accionariam o prodígio, a força eléctrica correria pelas veias de arame e, como nos evangelhos, «far-se-ia Luz». Chegou o momento. Numa praça, a Luz desenhava arabescos sobre o empedrado, noutra, a Luz escrevia versos de Dante, Leopardi e outros grandes poetas, noutra ainda, a Luz criava realidades hologrâmicas, fontes, cascatas, blocos de gelo navegando num mar de ar. As pessoas aplaudiam, manifestavam a sua admiração e agrado, mas de repente algumas crianças irromperam sob os focos e reflectores para brincar com a Luz e, aí sim, o espectáculo teve por fim a esperada magnificência. Essas crianças, que abriam os braços e com os olhos fechados se banhavam de arabescos, versos e água virtual, outorgavam à arte luminotécnica a ingenuidade natural da Luz, porque a Luz é lúdica e ingénua. Não há espaço para o Mal sob o seu império.
No Japão conheci alguns idosos sobreviventes de Hiroshima. Eram todos cegos e quis saber se se lembravam do instante exacto em que rebentou a bomba, quando se consumou um massacre desnecessário para castigar a população civil de um país vencido. Um deles recitou qualquer coisa e mais tarde soube que eram uns versos de Kenzaburo Oe: «Alguns dizem que vimos uma grande Luz / Mas é mentira / Vimos a morte da Luz.»
No deserto de Atacama, muito perto do Valle de la Luna, erguem-se uns promontórios que de longe parecem menires, mas não são construções fruto do génio humano. Trata-se de restos tão antigos como o mundo, de vestígios erguidos como dedos indicadores que pedem a palavra para dizer algo de enorme transcendência. Pela manhã são pretos, quando o sol está no zénite adquirem um tom acobreado e, ao entardecer, com o sol, o velho deus Inti mergulhando no Pacífico, espalham uma luminosidade multicor, palpitante e violenta a princípio e que depois se vai mitigando até à total obscuridade.
 É o discurso da Terra, dos milhares de diferentes minerais que se foram formando no decurso de milhões de anos, e lembra-nos que a vida é efémera, frágil, e que este planeta é de todos e não dos donos do dinheiro. Ouvi esse discurso e fi-lo meu, graças à Luz, que é a cor da Vida.


​Os escritores nunca morrem. Vivem nos muitos mundos que as suas palavras nos ajudaram a descobrir e nos tantos outros que ainda temos por desvendar. Tantos quantos todos os livros que nos faltam ler.

​Boa viagem e que a Luz te acompanhe.

#Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (18)

15/4/2020

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A overdose digital

Por Anabela Afonso

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O mundo visto da árvore


​Hoje, se pudesse, escrevia-vos uma carta. Regressaria ao exercício de deixar as palavras saírem do ondular do pulso sobre a caneta que, enquanto dançava, as deixaria ficar no papel, ganhando um significado outro, que não este, que sai hoje dos dedos que teclam nos botões.


​São muitas horas frente a um ecrã com os problemas na ponta dos dedos. São muitos dias em que os outros só nos chegam digitalmente.


​Hoje, se pudesse, escrevia-vos uma carta, porque hoje só anseio pelo dia em que o digital volte a ser apenas uma alternativa possível, não o modo único de nos encontrarmos.


​Até lá, tenho a sorte de, pelo menos, abraçar os meus filhos, e as árvores do meu bonito "quintal". O que já é muito!


​Há-de chegar o dia em que vamos, finalmente, poder fazer a desintoxicação desta verdadeira overdose digital. Até lá, é continuar a acreditar que #Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (17)

14/4/2020

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Os novos velhos vizinhos

Por Anabela Afonso

Um exercício interessante que estes tempos nos vão permitir, é perceber a capacidade de previsão que especialistas, curiosos, ou adivinhos profissionais, vão ter para perceber que mundo nos espera, depois da pandemia. Não têm faltado teses e textos sobre o futuro, uns mais interessantes que outros, e também, uns mais otimistas que outros. Eu prefiro, como não podia deixar de ser, os otimistas, desde que, com a mínima colagem à realidade.
​

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​Um dos mais interessantes que li, é o que o historiador e investigador Yuval Noah Harari, autor dos best sellers Sapiens e Homo Deus, publicou no Financial Times, a 20 de março, com o título The world after coronavirus. De salientar, nesta sua análise, o alerta para as opções que teremos pela frente, em termos de cedências a fazer ao nível da salvaguarda da nossa privacidade e proteção da vida pessoal, face à tentação que os estados terão de, sob pretexto de nos proteger contra a propagação da doença, introduzirem níveis cada vez mais subtis e poderosos de vigilância dos seus cidadãos. Um "pormenor" ao qual convém estarmos muito atentos.


Ao nível da reflexão produzida pelos nossos académicos, o artigo que saiu ontem no Público, Pedimos desculpa pela interrupção: as (novas) cidades voltam dentro de momentos, levanta várias questões que merecem atenção, mas há uma em particular que me parece ser já bastante evidente: a forma como nos relacionamos com os nossos vizinhos. Ficarmos reduzidos ao nosso lar enquanto espaço único para o desempenho das várias dimensões das nossas vidas, leva-nos, inevitavelmente, a ter que lidar mais de perto (ainda que mantendo a distância social imposta) com os que vivem na porta ao lado. Citando o artigo:
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«O presente, sublinha Virgílio Borges Pereira, decorre já com uma maior “vinculação ao espaço de residência”, uma realidade que ia esmorecendo, apesar de, já antes da pandemia, alguns movimentos colocarem em causa os actuais modelos de progresso, pedindo novas cidades e outras formas de vivência. “Ao confinar as pessoas ao espaço doméstico, esta crise está a obrigar à descoberta de quem vive ao nosso lado”, afirma o sociólogo. E esse “aguçar do engenho” perante o desconhecido, capaz de estreitar relações entre quem vivia próximo mas não se olhava, manter-se-á? “A minha expectativa é que possa ficar e não seja apenas um fenómeno passageiro”, deseja o sociólogo.»


​Esta é uma mudança que, quer queiramos quer não, irá alterar o modo como experienciamos a nossa vida coletiva, e poderá, findas as medidas de afastamento, trazer novas e vibrantes dinâmicas de relacionamento aos nossos bairros e às nossas cidades. Mais um sinal que me faz acreditar que, no final, #Vaificartudobem.

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Notas de uma quarentena improvável (16)

13/4/2020

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As indispensáveis coisas inúteis

Por Anabela Afonso

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Qual a utilidade de um beijo?

Que produtividade tem o abraço que nos aquece?

E o olhar, do qual não conseguimos desviar-nos, vale quanto?

Quanto mede a beleza do tranquilo sono dos nossos filhos?

Para que serve o arrepio provocado pela música que nos entra pela pele?

O livro que nos faz esquecer que o tempo existe, tem preço?

​A peça de teatro que nos faz o coração querer saltar pela boca, é uma despesa?

A lua que faz a noite parecer dia, é rentável?

Quem faz estas contas? Quem dá estas respostas? Quem decide o valor do que não é mensurável?

Não sei. Mas sei que algumas destas coisas me ajudam a respirar todos os dias!
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Sugestão de leitura a propósito do tema:
A utilidade do inútil, Manifesto, de Nuccio Ordine
​
Curiosamente, este livro foi uma oferta de uma enfermeira especial, que por esta altura está, como muitos outros, no olho do furacão. Também ela precisa de algumas coisas "inúteis" para continuar a enorme tarefa que tem pela frente. Um obrigado muito especial à Ana!

Às coisas inúteis que nos ajudam a acreditar que #Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (15)

12/4/2020

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A guerra mais difícil de travar não vai ser contra o vírus.

Por Anabela Afonso

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Vandana Shiva. Física, doutorada em Filosofia e ativista ambiental


​A minha nota de hoje nasce da informação que é partilhada no Facebook, rede social que os mais novos não utilizam, por ser a rede social dos cotas, mas que continua a ser, para mim, a que permite uma maior interação com as pessoas de quem gostamos, e onde consigo, também, obter informação, seguindo as páginas noticiosas, ou as mais especializadas dedicadas a temáticas sobre as quais me interessa estar atualizada. 


​Tal como qualquer outra rede social (assim como na vida), o que ela nos dá diariamente, depende daquilo que procuramos, e também daquilo que nós próprios lá colocamos. É pelo menos esta a minha experiência. E tal como em muitas outras situações na vida, de lá podemos retirar coisas muito positivas, mas também podemos, por vezes, ver-nos confrontados com o lado mais sombrio do que representa uma rede social (seja ela virtual ou real).


​Porque quero guardar a parte positiva desta nota para o fim, começo pelo lado sombrio do que hoje significou aceder ao Facebook. Começou cedo a aparecer um post de uma senhora muito indignada com os algarvios, pelas reações oficiais, e não só, relativas à vinda de pessoas de outros locais do país, para as suas casas de férias no Algarve, durante o fim de semana da Páscoa. Os termos com que a senhora se dirigia a nós, algarvios, não eram simpáticos, e eu própria comentei, em tom de brincadeira, num post partilhado por uma amiga. 


​​Umas horas passadas o que parecia uma brincadeira, tornou-se uma partilha viral, acrescentada de comentários violentíssimos sobre a senhora, incluindo partilha da morada da casa de férias no Algarve, e inúmeras ameaças. A agravar tudo, até na página de um jornal local se dava destaque a este acicatar viral que inundava as redes sociais, publicando os posts da senhora e vários posts que mostravam a casa em questão (portanto a preservação da privacidade aqui é coisa que não conta para nada, e divulgar ao mundo a morada de uma pessoa contra quem inúmeras vozes se estavam a levantar, também é, pelos vistos, um pormenor sem importância). Não consigo entender como há jornais que acham que as redes sociais são "fontes" de notícias, e pior, que este tipo de coisas devem ser amplificadas para causar ainda mais estragos do que os que já causam sem essa "preciosa" ajuda dos órgãos de comunicação social. E, infelizmente, não faltam no mundo, exemplos trágicos de como este tipo de situação pode facilmente descambar.


​Algumas das coisas que li sobre este caso, seja de algarvios, seja dos que, vindos de fora, acharam que por serem proprietários de casa na região tinham todo o direito a vir (questão que, para mim, não está aqui em discussão), são de uma violência verbal incrível. Nada disto é novo. Ocorre-me, a propósito, a série documental de Steven Spielberg, Why we Hate, que ao longo de seis episódios explica, entre outras coisas, como a manipulação da informação e a exploração de medos primários conduz, tão facilmente, ao exercício da violência sobre o "outro". Outro que até há pouco tempo poderia ser o nosso vizinho, o nosso colega de trabalho, ou até, às vezes, um pai, uma mãe, ou um irmão.


​Coincidência irónica (ou talvez não), é isto ocorrer no domingo de Páscoa, talvez a data mais importante no calendário religioso dos católicos. Surpreende-me sempre, enquanto agnóstica num país maioritariamente católico, e que por isso deveria defender (e sobretudo praticar!) o perdão - que se bem me recordo deve ser praticado mesmo para quem "nos tem ofendido" - , a forma como, quando a ofensa nos toca mais pessoalmente, mandamos o "amor ao próximo" às urtigas. Onde fica o princípio de oferecer a outra face, nisto tudo? 

​Para compensar, como disse no início, hoje também tive a oportunidade, devido a uma partilha muito positiva, de ver um pequeno vídeo onde Vandana Shiva refere que a principal guerra que travamos é a guerra contra a estupidez. Acho que a ideia não poderia vir mais a propósito. Apesar do vídeo ser datado de Agosto de 2018, ele tem hoje uma atualidade assustadora. Para quem não conhece o trabalho de Vandana Shiva, ela é uma ativista ambiental, formada em física e doutorada em filosofia e é possível encontrar no Youtube e no Google inúmeras intervenções dela sobre a nossa relação com o planeta, que valem bem a pena acompanhar.

Além do vídeo que já disponibilizei acima, recomendo também uma sua entrevista para uma excelente série que passou no canal 2 da RTP em 2012, com o título O Tempo e o Modo. Aproveito para dizer que todos os episódios valem a pena.
Neste caso em concreto, no site da RTP onde se encontra o episódio sobre Vandana Shiva, pode ler-se o seguinte texto:
​
"Vandana Shiva alia a física quântica ao ativismo social para resistir pacificamente a um sistema que considera ter colonizado a terra, a vida e o espírito. Conta-nos como começou a defender a floresta, as sementes e os modos de vida e produção locais contra o controlo e o registo de patentes feitos pelas multinacionais.
A análise de Shiva vai mais além: remete-nos para as profundas implicações que o sistema capitalista patriarcal tem na construção de um mundo desigual, com consequências dramáticas, como a fome ou as alterações climáticas, que, para Shiva, são sintomas de implosão de uma civilização que falha material e espiritualmente. A nossa civilização, para sobreviver, terá de rever o seu modelo de compreensão e de interação com o mundo, tendo como exemplo o conhecimento holístico das civilizações chinesa e indiana, que, para Shiva, sobreviveram à História essencialmente porque diferem do Ocidente na relação que estabeleceram com a natureza."


​Aqui podem encontrar essa entrevista, que tem apenas uns breves 30 minutos, e que vos garanto, valem todo o tempo que lhe possamos dispensar.

De facto, quando a ouvimos, percebemos que a principal guerra que travamos, não é a guerra contra o vírus, mas sim aquela que todos os dias somos convocados a travar contra a ignorância, origem de toda a estupidez humana.
​

É preciso não desistir, para garantir que #Vaificartudobem.

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