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Cartão vermelho de Boris Johnson: e agora Algarve?

7/7/2020

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Por Luís Coelho

​Na passada sexta-feira rebentou o equivalente a uma bomba atómica no Algarve: o governo britânico decidiu colocar Portugal na lista negra dos países inseguros para as férias dos turistas ingleses. A consequência é simples: todos os que viajarem para esse espaço geográfico a partir do nosso País terão de fazer uma quarentena de 14 dias. Do ponto vista económico tal gera dois efeitos de curtíssimo-prazo: 1) o efeito substituição, com uma parte da procura turística originada a partir do Reino Unido a passar a preferir outros destinos concorrentes (Espanha, por exemplo, é nesta fase considerada segura pelo governo britânico); 2) o efeito reputacional o qual oblitera a narrativa de que Portugal é um destino seguro neste mundo covid (algo que, aliás, já vinha acontecendo desde o início de Junho com vários países como a Grécia e Finlândia a desaconselhar desde essa altura viagens de e para Portugal).
Este quadro levanta sérias preocupações para a economia do Algarve pois, como todos sabemos, a região depende quase exclusivamente do turismo. Em particular, cerca de metade da nossa riqueza é produzida directamente por sectores ligados a este fenómeno, os quais são responsáveis por aproximadamente 40% do emprego na região. Os efeitos indirectos do fenómeno turístico na região são, no entanto, bem mais profundos já que com a excepção de alguma agricultura o Algarve não produz quase rigorosamente mais nada de significativo. Por exemplo, o peso do sector industrial na riqueza da região fica-se pelos 2.2%, valor que compara (pessimamente) com os 13.8% verificados no caso nacional.

Há, depois, que ter em consideração que a nossa operação turística tem duas características muito vincadas. Apesar de algumas melhorias esta continua a ser altamente sazonal já que, nos últimos anos, 65% da procura continua a materializar-se entre Junho e Setembro. Por outro lado, o Algarve depende de forma acentuada do mercado externo com 75% das dormidas a serem geradas por não residentes. É exactamente por isto que o cartão vermelho mostrado por Boris Johnson é altamente penalizador para a nossa região: em 2019, o Reino Unido representou 37.3% da nossa procura externa, tendo inclusivamente crescido 2.6% face a 2018.

Não tenhamos pois qualquer ilusão: o futuro do Algarve joga-se nas próximas 6 a 8 semanas pelo que se nada de significativo mudar no muito curto-prazo perderemos a última oportunidade para compor os números de 2020. As consequências desta situação são absolutamente imprevisíveis mas antecipáveis. Em particular, não é difícil prever a existência de níveis galopantes de desemprego no Algarve a partir de Outubro, muitas falências de empresas (com a restauração, as rent-a-cars, o comércio e a pequena hotelaria à cabeça) e alguma convulsão social. Soma-se um rombo nas contas públicas já que os impostos gerados no ano passado a partir dos 1.2 mil milhões de euros de rendimento captado pelos estabelecimentos classificados se vão pura e simplesmente esfumar.

A reacção imediata passa por tentar activar os mercados que estão mais disponíveis com ênfase no nacional. Infelizmente, o clima de incerteza que já se vive no País combinado com os magros rendimentos da maioria dos nacionais e a competição intensa de outras regiões sugerem que este será mais um paliativo do que outra coisa qualquer. Podemos também olhar para a Andaluzia, região de 8 milhões de habitantes que está já aqui ao lado e tem relações milenares com o Algarve. Estimular esse mercado de proximidade é importante e neste capítulo poderíamos ter um sinal de interesse por parte do governo ao nível da suspensão das portagens na A22. Seria mais um argumento de comunicação e mostraria algum compromisso de Lisboa para com uma região que pode ser das que mais tem a perder com os efeitos da COVID19. Há depois o mercado da saudade que, tradicionalmente, pende mais para o norte do País mas que pode eventualmente ser mobilizado se a relação qualidade/preço for ajustada à sua curva de preferência.

É também preciso trabalhar para  que a percepção externa melhore de forma a atrair algum mercado internacional. Aqui o esforço é no combate à pandemia pois, na verdade, temos de reconhecer que a situação em Lisboa e  Vale do Tejo não é a mais simpática quando o tema é promover o turismo nacional nos palcos além fronteiras. Dir-me-ão que o Algarve não é Lisboa. Concordo. No entanto, quem tem de perceber esta mensagem não somos nós: são os que nos visitam e, sobretudo, aqueles que tomam decisões sobre que conselhos dar às suas populações no que toca à segurança dos destinos de férias.

No mais longo-prazo a conversa é outra: o Algarve tem de fazer um esforço sério para diversificar a sua base económica. Apesar de ser possível manter o modelo que temos tido até agora tal não se mostra avisado. Os Algarvios devem exigir uma região com outras competências e negócios que permitam garantir a nossa auto-sustentabilidade (alimentar e energética), acrescentar valor, gerar melhores salários e concentrar massa humana com saberes diferenciados e inovadores. Falhar este objectivo é colocar as nossas vidas e as dos nossos filhos nas mãos de uma próxima catástrofe que pode vir sobre a forma de um vírus, falta de água ou algo mais sério como sejam os efeitos previsíveis das alterações climáticas.
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