Por Luís Coelho Desde o início de 2018 que temos vindo a receber notícias menos boas no que toca ao número de turistas que visitam o Algarve. Uma peça recente da TVI dá bem conta desta realidade (ver aqui), dando nota da importante quebra de visitantes oriundos do Reino Unido, nosso principal mercado emissor turístico. Será esta uma mera flutuação conjuntural ou algo de estrutural? Vamos aos factos.
Os últimos números oficiais sugerem que Julho está a ser muito mau para a hotelaria regional no que concerne à procura vinda do Reino Unido. Em particular, estima-se já uma quebra homóloga face ao ano anterior na casa dos 17,3%, à qual correspondem cerca de 56 mil hóspedes (ver aqui). De forma algo surpreendente (pelo menos para mim), este fenómeno parece estar a afectar os destinos premium do Algarve, com Vilamoura e Quinta do Lago à cabeça. Os responsáveis regionais pelo Turismo avançam que a situação se fica a dever ao impacto do Brexit no mercado cambial (e têm razão: em Julho de 2015 uma libra comprava 1.44 euros; hoje a mesma libra compra apenas 1.12 euros) e à recuperação de destinos concorrentes com a Turquia, o Egipto e a Tunísia. Claro está, podemos sempre avançar explicações complementares. Por exemplo, poder-se-á argumentar que os britânicos já não apreciam tanto a hotelaria dita tradicional e, consequentemente, procuram cada vez mais soluções de alojamento alternativas que operam fora do radar das autoridades. Outros dirão que está muito frio e isso afasta os turistas. Há, também, o fenómeno da Páscoa, que este ano parece ter vindo cedo de mais. Os mais criativos dirão que tudo se deve ao Slimani ainda não ter assinado pelo Sporting… Enfim, diga-se o que se disser, o facto permanece: depois de um ano de 2017 repleto de recordes de afluência turística, 2018 promete ficar na história como um ano onde uma fatia importante do mercado britânico preferiu outros destinos para passar as suas férias. Quem trabalha em sectores conexos com o turismo tem, pois, boas razões para estar preocupado. De facto, ceteris paribus (palavrão equivalente a dizer que tudo permanece igual), restauração, bares e discotecas, empresas de transportes, garrafeiras e restante malha empresarial que dá corpo à dinâmica económica ligada ao turismo no Algarve sofrerá os efeitos de uma menor procura por parte dos seus principais clientes. No curto-prazo, tal pode levar a uma redução do volume de negócios que, a verificar-se, afectará o lucro das empresas e, muito provavelmente a cobrança de impostos (IVA e IRS) por parte do Estado. No longo-prazo, esta quebra de procura pode redundar em menos emprego e a um encerramento das empresas com menor capacidade competitiva. Há quem sugira que o problema ora exposto se pode resolver (ou minimizar) com mais investimento na promoção do destino Algarve. Nesse sentido, o anúncio recentemente feito pela Ana Godinho, secretária de estado do Turismo, deveria ser bem acolhido pela região. A mais alta responsável política por esta área no País referiu há dias numa entrevista ao Negócios que tem um “plano agressivo” de promoção do Algarve (e da Madeira…), o qual visa captar mais norte-americanos e alemães e deste modo fazer face à retoma da concorrência dos países do Médio Oriente (ver aqui). E quantifica: o plano de ação envolve um investimento de um milhão de euros com vista a antecipar a época baixa (i.e. o período entre outubro e março). Como Algarvio de adopção senti-me ultrajado com esta postura lamentável da Ana Godinho. Esta só pode estar a gozar com a região quando sugere que um “plano agressivo” de promoção do Algarve (e da Madeira) se faz com um milhão de euros. O pior é que a Ana não se fica por aqui: na mesma entrevista deixa subtilmente escapar que “(…) Não nos interessa crescer desmesuradamente em número de turistas, interessa-nos crescer de forma inteligente ao longo de todo o território e todo o ano (…)". Ora, se o combate à sazonalidade no turismo deve ser uma batalha sem quartel (em especial nos destinos sol e mar), enfatizar que o interesse nacional é fazer crescer o turismo em todo o território é abrir a porta para que o Algarve se torne cada vez mais irrelevante no contexto nacional dentro da área que é a sua (única) galinha dos ovos de ouro. O corolário deste texto só pode ser um. O Algarve precisa de pensar fora da caixa e perceber de uma vez por todas que não pode estar sentado em cima de uma única actividade económica para garantir a sua sustentabilidade de longo-prazo. Não podemos estar dependentes dos humores dos britânicos nem dos caprichos dos mercados cambiais. Não podemos claudicar sempre que uma companhia aérea vai à falência ou enfrenta uma disputa laboral (ver aqui o que vai acontecer com a Ryanair no mês de Julho). Não é possível estar nas mãos de (des)governantes que parecem não ter nenhuma noção do que é o verdadeiro mercado turístico mundial – só para terem uma ideia, o investimento em promoção de destinos turísticos no mundo em 2016 ascendeu aos 413 biliões de dólares (ver aqui). Em vez disso, precisamos de uma região a pensar no seu futuro, com uma estrutura de governo bem oleada e funcional e cujo sustentáculo económico esteja alicerçado no conhecimento, concretizado em várias actividades económicas de alto valor acrescentado e amigas do ambiente, que se completem e interpenetram de forma a materializar o verdadeiro potencial desta magnífica região.
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