Por Luís Coelho Faz quase dois anos que escrevi sobre o Brexit no nosso Lugar ao Sul. Nessa altura a discussão fazia-se em torno dos preparativos que haveriam de desencadear o processo negocial que permitirá concretizar a vontade dos Britânicos de sair da União Europeia (UE). Ora, como é sabido, o primeiro divórcio à séria no seio da UE tem data marcada: 29 de Março de 2019 pelas 11 horas. É pois altura de revisitar um dos temas mais importantes para o nosso futuro de curto-prazo. Infelizmente, basta abrir a televisão para perceber que, à data deste escrito, o assunto Brexit está longe de ser pacífico. De facto, apesar dos notáveis avanços na negociação entre a UE e o Reino Unido, vivem-se tempos de enorme incerteza. Vejamos alguns factos que ajudam a perceber esta afirmação. Primeiro, Theresa May, primeira-ministra dos Brits, viu sair pela porta do seu executivo quatro ministros, dois parlamentares e um dirigente do partido Conservador como consequência da aprovação do acordo preliminar de saída pelo Governo do Reino Unido. Segundo, pelo que se vai conhecendo, neste momento existe uma enorme divisão no seio do Partido Conservador que chega ao ponto de colocar em causa a liderança de May e, com isso, pôr termo às actuais negociações com vista ao Brexit. Terceiro, como se tudo isto não bastasse, ecos vindos de Londres sugerem que o documento negociado por Theresa May com a UE poderá ser liminarmente chumbado pela Câmara dos Comuns, algo que ditaria o fim (desta versão) do acordo.
Desenganem-se aqueles que pensam que este é um assunto dos britânicos e da UE. Pelo contrário: estamos a viver um momento historicamente importante para o Algarve. Em particular, valerá a pena recordar que 40% do Valor Acrescentado Bruto produzido na região advém dos sectores do comércio, transporte, restauração e hotelaria. Somem-se os 17% do imobiliário e, contas feitas, temos 57% da riqueza gerada no Algarve concentrada em torno do fenómeno turístico. É exactamente esta a razão pela qual o Brexit nos deve preocupar. E muito. Em particular, dados recentemente revelados pelo NERA mostram que 50% dos passageiros do Aeroporto de Faro são oriundos do Reino Unido. Estes representam 6 milhões de dormidas na região (40% do total de não residentes), com o seu consumo a justificar uma boa parte dos 2.600 Milhões de euros que os cidadãos britânicos deixam em solo nacional todos os anos. Face a esta realidade é fácil perceber que um Brexit mal conseguido terá, seguramente, consequências nefastas para a nossa economia regional. O mercado britânico é estruturante e, por isso mesmo, difícil de substituir no curto-prazo. Nesse sentido, tal como alerta o Nera, um problema com a procura britânica ditará uma diminuição do consumo de bens e serviços em geral (e não só dos mais diretamente ligados à oferta turística), o que levará à quebra da produção regional. Logo, a nossa capacidade para contribuir para o Produto Interno Bruto do País será (ainda) mais reduzida, algo que nos tornaria (mais) irrelevantes no contexto interno. Cumulativamente, será de esperar uma quebra no nível de investimento privado, o que levará a uma degradação das condições do mercado de trabalho da região. Temo, portanto, que o tema Brexit não seja um simples asterisco na vida do Algarve. Importaria pois ver as forças vivas da região engajadas com o tema para melhor defender o nosso interesse colectivo. Será que é/tem sido mesmo assim? Vocês dirão...
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