Por Filomena Pascoal Sintra
O nosso lado mais poético e sonhador, leva-nos à assumpção de rituais e tradições, capazes nesse imaginário, redireccionar os nossos destinos. É o caso das 12 passas, com as doze badaladas, para os 12 desejos, no fim de cada ano. De um rápido e superficial balanço do ano que passou, e à escala da região, nada do colectivo, extraordinariamente mau, registámos. Felizmente! Pelo contrário, lembramos um forte desempenho do sector turístico e o fim da saga da exploração no petróleo. Ao pensar naquilo que queremos para um novo ano, ninguém esquece as debilidades da região e as dificuldades sentidas por quem cá vive, muitas vezes com a sensação de que somos uns indígenas engraçados, que servem os turistas. Assim, e telegraficamente, como se ainda fosse a tempo das doze badaladas, em 2017, mantendo tudo o que de bom acontece, gostaria pelo menos... 1. Melhor Serviço Nacional de Saúde. E aqui há tanto por onde concretizar. Não orgulha ninguém, o estado em que o sistema de saúde do Algarve chegara. Noticias como “centenas de doentes são encaminhados para Lisboa”; “doentes prioritários esperam oito meses; “INEM sem ambulâncias”; “80% dos médicos em formação, não ficam na região”; “Hospital Central, uma prioridade nacional”; “demissões em bloco”; ”saída de dezenas de especialistas da região”... Se resultasse, para cada passa apelaria ao mesmo desejo! 2. Eleições Autárquicas com elevado sentido democrático, respeito e verdade. Comemorados os 40 anos das primeiras eleições autárquicas, a 12 de Dezembro de 2016, importa continuar a reflexão e reforçar os poderes autárquicos. Sendo que estes, terão também que reforçar a sua credibilidade. 3. Reforço da Universidade do Algarve, enquanto projecto estruturante para a qualificação da região. Atenção à perigosa equiparação de resultados, e em sequência, os financiamentos, com os tais critérios transversais ao país. É indubitável a importância da Universidade do Algarve, na estrutura social, empresarial e cultural da região. Centenas de docentes rumaram ao sul, milhares de alunos, perfilaram-se nas instituições e nas empresas, radicando por cá novas famílias, e até criando novas empresas. Há uma nova procura cultural e um rejuvenescimento da população. 4. Medidas de discriminação positiva, para a região, que por força do alargamento da União Europeia, corre riscos, sérios, do aumento da assimetria regional. Contrariamente ao consenso político sobre a redistribuição dos fundos estruturais, sou da opinião, que deveriam ser alocados em razão à desproporcionalidade concelhia. 5. A requalificação da EN 125. Please! Aplaudindo as boas notícias para o Barlavento, das obras em curso, angustia o processo, que ainda nos espera para o Sotavento. 6. Redução dos preços das portagens. Pagamos caríssimo; o tipo de fluxos de mercadorias e pessoas é distinto do resto do país; o contributo da região para a economia e prestigio nacional é determinante; as alternativas não existem; as condições do piso, no sotavento, são vergonhosas e perigosas; a EN 125 não é uma alternativa... Passados estes anos, seria sério, uma análise crítica dos resultados de cobrança, face aos objectivos e afinar o modelo... 7. Criação urgente, de medidas cautelares, para os efeitos do imposto extraordinário sobre o património, na génese lançado pela menina Mortágua. No Algarve, temo um descalabro com o efeito deste imposto. Muitos loteamentos, parcelas e propriedades, sem alvará válido, sem promotor para os relançar no mercado, a acumular dividas, essencialmente fiscais... como pagarão ainda uma sobretaxa desta natureza?! E que importa a sua penhora, se quem os compra, no filão do bom negócio, muitas vezes estará amarrado a processos urbanísticos infindáveis?! 8. Reforçar e valorizar MAIS e MAIS, a cultura e o património da região, como garante de um turismo diferenciado e sustentável. Cito, uma recente entrevista da Directora Regional da Cultura “o Algarve precisa desta estratégia sedimentada, em torno da cultura e do património e o esforço de coordenação e complementaridade tem que ser feito por todas as entidades”. 9. Reduzir a pegada ecológica de cada algarvio, de cada português, de cada cidadão do mundo. Recomendo o documentário Leonardo Di Caprio, “Before the Flood”, para uma maior consciencialização individual e colectiva. Temos tanto por onde intervir: naquilo que comemos; no lixo que produzimos; na reciclagem; na reutilização; na racionalização da água... Um sem fim de pequenas coisas, que serão um grande contributo. 10. Mais e melhor Ordenamento, nesta nova geração de planos directores municipais e na incorporação da Nova Lei de Bases de Ordenamento. Uma revolução do pensamento na área do ordenamento, que se irá transpor forçosamente em 2017. O modelo parece-me interessante, teoricamente pelo menos. É necessário que muitos empresários, proprietários, autarcas, técnicos, o interiorizem... 11. Menos sazonalidade e mais emprego, o que depende da concretização destes e outros desejos, mas sem dúvida, um desígnio de décadas para o Algarve. Passará pela diversificação da base económica e um regresso às origens, agricultura, pescas e industria, a potenciar, também, o turismo. 12. Não o menos importante, mas aquele que é aglutinador de todos os desejos: paz! Paz interior, e paz neste mundo louco onde deambulamos. Acabadas as 12 passas, espero que o preciosismo do momento, fora de tempo, não ponha em crise, a concretização destes pequenos e justos ensejos. Risos! Temos passado as passinhas do Algarve, em muitos momentos desta nossa caminhada. Ficaríamos mais felizes com o degustar dos figos secos, cheios, estrela, ou outros passas do género, num Algarve mais harmonioso, magnético e sempre deslumbrante, em cada casa caiada, platibanda, eira ou chaminé conservada. Levo-te emoldurada na retina, Terra que Portugal sonhou e sonha ainda, Que imagina depois de conhecer. Só na retina poderei reter Um mar que é outro mar, Um sol que é outro sol, Gente que é outra gente, E casas que parecem de repente Albornozes de pedra. Magias naturais como a paisagem Aberta à luz do dia, Sempre real e sempre uma miragem Táctil e fugidia... Miguel Torga
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