Por Bruno Inácio No próximo domingo venham a Querença – aldeia plantada no coração do barrocal Algarvio - e desfrutem das melhores chouriças. É assim que se anuncia, que o anunciamos, nas últimas duas décadas desde que a Festa em Honra de São Luís passou a ser também, e hoje principalmente, a Festa das Chouriças em Querença.
Num brilhante passo de comunicação, basicamente começou-se a se dizer que naquele dia em que aquele povo presta homenagem ao Santo protector dos animais - a quem pediam bênçãos de saúde e prosperidade para as suas criações - existe muita chouriça, assada e entalada em pão, crua e embalada, comprada a quilo ou em leilão. E a coisa pegou e Querença passou a ser visitada por muitas centenas ou milhares de pessoas no dia em que faz a sua festa em Honra de São Luís, ou melhor, a sua Festa das Chouriças. Um pouco por todo o lado temos assistido nas ultimas décadas à hipervalorização dos conceitos, dos produtos e inevitavelmente das pessoas. É fácil encontrar o “melhor marisco”, a “melhor sardinha”, a “melhor batata doce”, entre tantos outros “melhores” exemplos. Alguns anos atrás passei lado de um concelho no centro de Portugal que anunciava ser o município com a melhor chanfana do mundo. Recordo bem esse momento porque poucos quilómetros depois, já em outro concelho, um grande painel publicitário garantia que ali havia a melhor chanfana do universo. É o que fazemos hoje em dia. Hipervalorizamos o que consideremos que temos de bom. Imaginem o que seria se neste exemplo que acabo de dar a indicação fosse “a chanfana aqui é boa” e no concelho ao lado “aqui a chanfana também não é má”. Não nos soa bem, não é? Sendo assim, desta forma, importa, pois, que possamos tomar esta hipervalorização dos conceitos e utilizá-la para melhorar os produtos, os serviços e em final de linha as pessoas. Que pelo menos nos sirva de leitmotive para valorizarmos melhor (não necessariamente mais) o que é nosso, o que fazemos e o que somos e assim reforçarmos a nossa identidade enquanto povo. Estas breves notas são apenas uma pequena reflexão sobre a nossa necessidade de hipervalorizarmos muito do que nos rodeia. É fácil atribuir um grau qualitativo quando sabemos que tal não é comprovado. E é fácil que essa atribuição facilmente se transforme numa corrente de comunicação que transforma algo atribuído em algo que efectivamente é. É este o momento em que vivemos que sendo pleno de defeitos não deixa de ser também, como foram os outros, momentos interessantíssimos. Termino como comecei e em jeito de convite: agora que as dietas e o exercício físico que chegaram com as resoluções de ano novo se encontram em velocidade de cruzeiro, e como se diz por aí “um dia não são dias”, no próximo domingo, vão a Querença, garanto-vos que vão lá encontrar a melhor chouriça. Mesmo.
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