Por Gonçalo Duarte Gomes
Corria o ano da graça do senhor (um qualquer) de 1502, quando um planisfério náutico foi surripiado de Lisboa para Itália, no bolso de um tal de Alberto Cantino. Nesse planisfério inscreviam-se a maior parte do mais importantes segredos da Coroa Portuguesa no que às navegações oceânicas e novas terras descobertas aos olhos europeus dizia respeito. Literalmente, lá constava o segredo que era a alma do negócio marítimo. Cantino, espertalhão, conseguiu tal proeza através do suborno de um cartógrafo português cujo nome a História apagou - e pena foi, porque tão vil criatura merecia ser arrastada na lama para todo o sempre - que, por 12 ducados de ouro (maquia avultada à data, reconheça-se), fez cair por terra a estratégia portuguesa de manter oculta dos gulosos olhos das potências estrangeiras concorrentes a informação amealhada à custa de tanto suor, sangue e lágrimas - estas chegando mesmo a salgar o mar, segundo Pessoa. Mais tarde, em 1652, é redigida em Portugal a seminal obra "Arte de Furtar" (furtar-me-ei à discussão da sua autoria, omitindo tal questão), que vê a luz cerca de um século depois. Aí, basicamente, com seriíssimo humor e sublime ironia, é exposta a generalizada roubalheira e corrupção que marcava o ritmo do reino de Portugal logo após a Restauração, altura em que se viveu uma espécie de PREC seiscentista. Há mesmo quem diga que não pede meças a uma "Arte da Guerra" ou ao maquiavélico "Príncipe". Mas como é tuga... Serve tão singelo par de exemplos apenas para que não sejam tão duros com vós próprios ou com o País, quando olharem para os dias que correm, e vos parecer que tantos e tão descarados gatunos, salgados ou insossos, correm livres por aí... E não se esqueçam que se há uma mão que estende, há outra que recolhe.
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