O Lugar ao Sul conta hoje com a opinião de mais uma convidada especial. A convite da Sara Luz, hoje, no Lugar ao Sul, escreve Ana Nascimento. É Enfermeira no Centro Hospitalar Universitário do Algarve, EPE, e integra a equipa da Unidade de Hospitalização Domiciliária na Unidade de Faro. Mais apresentações podem ler-se aqui. “Cuidar em Casa” tem-se evidenciado como um modelo de assistência hospitalar com claros ganhos em saúde quer a nível internacional, quer nacional (e aqui saudar o trabalho desenvolvido pelos profissionais de saúde do Hospital Garcia de Orta!). E, portanto, quando em setembro de 2018 foi publicado um Despacho a prever a implementação e dinamização de Unidades de Hospitalização Domiciliária nos estabelecimentos hospitalares do Serviço Nacional de Saúde, enquanto estratégia promotora da modernização e reorganização dos serviços de saúde, não faltou vontade em escrever sobre o assunto. Esse desejo tornou-se ainda mais premente quando o próprio Centro Hospitalar Universitário do Algarve, EPE, assumiu o compromisso em criar uma dessas unidades. A esta altura considerei, porém, ser mais pertinente dar voz a um dos principais rostos envolvidos neste projeto inovador em desenvolvimento na região algarvia, o que justifica o desafio lançado à Ana Nascimento para nos falar sobre o assunto. Boa leitura! A Hospitalização Domiciliária surgiu pela primeira vez em 1947, nos Estados Unidos da América, com a experiência “Home Care”, na sequência da Segunda Guerra Mundial com o intuito de descongestionar os hospitais, assim como, criar um ambiente psicológico mais favorável à pessoa em situação de doença. Na Europa, a primeira unidade surgiu em 1957, no Assistance Publique – Hôpitaux de Paris, em França. Seguiram-se outros países como a Suíça, a Alemanha, o Reino Unido e o Canadá. Em Espanha, este modelo assistencial foi implementado pela primeira vez há 38 anos, no Hospital Universitário de Gregório Marañón.
As unidades de Hospitalização Domiciliária em Espanha e em França fizeram um importante caminho de desenvolvimento e modernização. Segundo a Sociedade Espanhola de Hospitalização Domiciliária, em 2011, Espanha já contava com 101 unidades registadas. Em França, a Federação Nacional de Estabelecimentos de Hospitalização Domiciliária, em 2010, tinha 300 estabelecimentos de hospitalização domiciliária registados. Em Portugal, a experiência dos Enfermeiros na Unidade Funcional de Cuidados Continuados do Hospital Garcia de Orta, desde 1998, foi essencial para que este hospital avançasse com a primeira Unidade de Hospitalização Domiciliária em novembro de 2015. No seguimento desta experiência positiva, foi delineada uma Estratégia Nacional para a Hospitalização Domiciliária, que contempla a sua disponibilização em 25 Hospitais/Centros Hospitalares do país até ao final de 2019, até ao final de maio encontravam-se em funcionamento 16 Unidades. A hospitalização domiciliária, enquanto modelo de prestação de cuidados em casa, afigura-se como uma alternativa ao internamento convencional, uma vez que dá resposta à pessoa, em idade adulta, com situação de doença aguda ou doença crónica agudizada com necessidade de admissão hospitalar para internamento (Despacho n.º 9323-A/2018 de 3 de outubro de 2018 - Modelo de Deliberação de criação e de Regulamento da Unidade de Hospitalização Domiciliária). Podem integrar estas unidades as pessoas que cumpram um conjunto de critérios clínicos, sociais e geográficos (Norma da DGS 020/2018 de 20/12/2018 - Hospitalização Domiciliária em idade adulta) em consonância com a realidade concreta de cada instituição e das necessidades locais da população. Desta forma, este modelo da prestação de cuidados deslocaliza a pessoa das instituições hospitalares para o domicílio, não se sobrepondo a nenhum dos serviços já existentes na comunidade, privilegiando a articulação com os Cuidados de Saúde Primários e a Rede Nacional de Cuidados Continuados Integrados para assegurar a continuidade dos cuidados. A hospitalização domiciliária permite envolver o doente e a família/cuidador no plano de cuidados, capacitando-os através do ensino personalizado em função das necessidades e dos recursos individuais. Uma abordagem centrada na pessoa, constituindo uma importante mudança face ao paradigma atual dos cuidados hospitalares, uma transição do cuidar “de” para o cuidar “com”. A evidência científica internacional tem demonstrado que existem vantagens para todas as partes envolvidas, designadamente, a redução do risco de complicações, como quedas, úlceras de pressão, desorientação ou confusão, a diminuição dos reinternamentos hospitalares, a redução da taxa de infeção hospitalar, a redução dos custos de internamento (comparativamente ao internamento convencional) e elevado nível de satisfação do doente e família/cuidador. Apesar de todas as vantagens que este modelo apresenta, importa valorizar o esforço e a capacidade de adaptação, que a implementação e o desenvolvimento destes projetos exigem a todos os profissionais que de alguma forma são implicados no processo. Em particular, o dos profissionais de saúde envolvidos na prestação de cuidados, uma vez que, todo o modelo de prestação de cuidados em internamento hospitalar estava pensado para a pessoa dentro das instalações hospitalares. Precisamos de firmar uma estratégia de médio-longo prazo para os cuidados de saúde em Portugal, em particular, no Serviço Nacional de Saúde, onde as Unidades de Hospitalização Domiciliária podem dar um forte contributo.
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O post desta semana é diferente. Em particular, decidi construir um pequeno questionário na tentativa de perceber o que os Algarvios (sejam de nascença ou, como eu, de adopção) querem para a sua região. Assim, convido-vos a aceder ao instrumento que preparei para este efeito aqui (se tudo correr bem abrir-se-á uma página do google forms) e a responder às questões que coloco. Demora cerca de três minutos a completar o exercício, sendo que se abordam temas que vão desde matérias económicas até a aspectos de organização política. Nenhuma das questões identifica o respondente, sendo que a informação recolhida será tratada com a garantia de total anonimato. Fica a promessa de publicar os resultados numa futura oportunidade sempre e quando se consiga atingir a meta de um mínimo de 50 respostas completas.
Muito Obrigado! Luís Coelho Por Gonçalo Duarte Gomes
A mitologia grega tornou famosa a ilha de Creta, à conta de uma pequena falcatrua levada a cabo pelo rei Minos relativamente a Poseidon, deus dos mares, que levou a que este fizesse com que a esposa do rei tivesse uma fraqueza das carnes e se enamorasse de um lindo toiro, da qual nasceria uma bicheza de mau-feitio conhecida como o Minotauro. Teve entretanto que entrar em cena Dédalo, empreiteiro de renome, que lá fez um labirinto para conter a mítica criatura. Com medo que o mestre-de-obras fosse contar mais do que devia, o rei Minos aprisionou-o. Mas nas veias de Dédalo corria sangue de MacGyver, e mesmo sem canivete suíço, o homem lá construiu umas asas de cera e penas de pássaros para si e para o seu filho, Ícaro, de forma a que pudessem escapar. Na altura do voo, o ancião avisou o fervoroso filho para ter cuidado. Deveria voar a uma altura média, evitando demasiada proximidade do mar (sob pena de humedecer em demasia as asas) e alturas que em excesso o aproximassem do Sol (derretendo os úteis apêndices). Uma metáfora para a oscilação entre a indulgência e o hubris, dizem-nos. Ícaro ignorou o último conselho e, voando bem alto, viu as suas asas transformarem-se em líquido depilatório, mergulhando a la tijolo no Mar Egeu. Diz quem viu que, no entanto, o lançamento do voo foi coisa linda, e a partir de um rooftop. Mais ou menos do mesmo ponto de onde Faro pretende lançar parte do seu futuro… Por Gonçalo Duarte Gomes
Moisés voltou a descer do monte! Mas, em vez do Monte Sinai, foi do Cerro de S. Miguel. E, em vez do Decálogo, trouxe uma pendrive. E nessa pen… vinha o Plano! Por Anabela Afonso
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