Por Dália Paulo
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Por Bruno Inácio
Quem não conhece aquela sensação de saber que está a chegar a sequela de um filme que nos marcou? Saber que a película vai ter continuação é motivo de alegria para qualquer cinéfilo cujo filme original foi bestial. Ou não. Se o filme for aquele que aqui descrevi e comentei (qual Lauro Dérmio – mas sem jeitinho nenhum) no início deste ano e que intitulei de “O Estranho Caso do Deputado João Vasconcelos” (ler aqui), a existência de uma sequela só pode ser má noticia. Por Luís Coelho.
Retomo os meus escritos neste Lugar ao Sul para explorar um tema que está na ordem do dia e que provavelmente interessa a muitos algarvios. Em particular, gostaria de discorrer um pouco sobre a temática da necessidade ou não de aumentar a regulação do alojamento local (AL) em Portugal. Não sou especialista em direito algo que torna a minha reflexão mais desafiante. Assim, talvez faça sentido começar por elencar alguns pontos fortes e fracos que advêm do fenómeno do AL. Neste sentido e, como economista, sinto-me na necessidade de principiar a minha listagem apontando para o facto do AL ser uma fonte de rendimento interessante para muitas famílias. Em particular, apartamentos que até há pouco tempo estavam fechados ou desaproveitados ganharam nova vida quando foram colocados no mercado para receber turistas. Ao mesmo tempo o, AL incentiva a que exista um esforço de recuperação do imobiliário. Penso que todos concordarão com a ideia de que há anos atrás a tarefa de recuperar património era, em geral, pouco interessante. Tipicamente os custos associados a este tipo de projecto são elevados, o financiamento escasso e/ou caro e a procura relativamente baixa (recuperar uma casa num local onde todas as outras continuam na mesma tende a não funcionar). Ora, o fenómeno do AL muda radicalmente este cenário, tornando a recuperação dos imóveis interessante do ponto de vista económico. Assim, passa a ser viável intervencionar áreas relativamente grandes das nossas cidades - veja-se o caso do Porto ou de Lisboa - dando-lhes vida e gerando um benefício óbvio para todos. Finalmente será também de comentar que o AL deve ser visto como um produto complementar ao que já se fazia (e bem!) em Portugal. De facto, quem procura o AL está interessado em conhecer melhor a forma como vivemos; quer ter a sensação do que é “ser Lusitano”. Parece-me que este perfil de turista é pouco compatível com aquele que tradicionalmente nos visita para ficar em hotéis, resorts e similares. Neste sentido, o AL diversifica a base da oferta e consolida o destino (Portugal) como um todo. Como tudo na vida, nem tudo são rosas e, não fugindo à regra, é possível encontrar vários problemas associados ao AL. Para mim, o mais importante é o seu impacto sobre o mercado residencial normal. Note-se que o AL torna o alojamento de longa-duração pouco interessante: a fiscalidade é mais simpática, o rendimento e a capacidade de cobrar são maiores, os problemas com os inquilinos são potencialmente menores… Isto reduz a oferta de fogos para arredamento de longa-duração, o que tem um efeito nefasto sobre a população residente, a qual se vê paulatinamente empurrada para a franja das cidades. Curiosamente, um potencial sub-produto deste movimento é o aumento do preço do imobiliário, algo que é excelente para quem já é proprietário mas que penaliza imenso quem pretende adquirir a sua casa. Mais uma vez, quem quer entrar no mercado residencial vê-se forçado a optar por soluções menos centrais. O AL tem ainda outros problemas que são eventualmente um pouco mais subtis. Por exemplo, os vizinhos são provavelmente expostos a um maior nível de “stress” quando há AL no seu prédio: há muita gente a entrar e a sair, pode eventualmente haver um menor cuidado com questões relacionados com o barulho no prédio ou higiene, etc. Cumulativamente, os prédios onde existe AL sofrem provavelmente mais desgaste do que outros que lhe sejam equivalentes mas que não conheçam tal fenómeno (pensemos na utilização dos elevadores, na necessidade de pintar as partes comuns, etc.). Por fim, há também um argumento relacionado com a segurança. Em particular, o AL permite que uma massa humana circule sem grande controlo por parte das autoridades. Bem sei que há requisitos formais de prestação de informação às autoridades quando se recebe estrangeiros no AL. No entanto, depois do registo inicial ter sido feito, o imóvel fica à disposição de quem o arrendou, sendo o controlo efectivo a partir dessa altura provavelmente muito reduzido (os hotéis, ainda assim, têm mais mecanismos de monitorização). Posto isto, devemos ou não ter mais regulação sobre o AL? Confesso que me inclino para pensar que sim. A solução recentemente apresentada pelo PS parece-me, no entanto, um pouco desajustada. Em particular, choca-me pensar que ficaria ao livre-arbítrio de cada condomínio decidir sobre esta matéria. A aleatoriedade das decisões seria total, sendo que há quem defenda que esta solução é inconstitucional na medida em que viola o Direito à Propriedade Privada estabelecido no art.(º) 62(º) da Constituição da República Portuguesa. Neste contexto, inclino-me mais para um regime de quotas para o AL. Em particular, cada município deveria de ser capaz de mapear o seu território de forma a definir dentro de balizas claras a percentagem de fogos que pode ser usada para AL. Esta solução permite que o fenómeno do AL continue a crescer sem colocar em causa o equilíbrio entre o interesse dos que querem promover o turismo e aqueles que procuram uma solução de residência mais permanente. Por outro lado, o instrumento deve ser flexível para permitir que a recuperação da malha urbana não pare por falta de incentivo dos que a estão a levar a cabo. Finalmente parece-me de elementar justiça que os prédios onde exista AL sejam compensados por isso. Uma possível solução passaria pela distinção do valor do condomínio aos proprietários dos AL relativamente às restantes fracções. Tal diferenciação permitiria responsabilizar um pouco mais o AL pela necessidade acrescida de intervenções e/ou manutenções nas zonas comuns. Outra alternativa seria a formação de uma conta-poupança para a recuperação das partes comuns dos imóveis com AL, financiado com uma parte do rendimento proveniente dessa actividade económica. Em suma, admito que o AL tem um papel importante no contexto da diversificação da oferta turística nacional e, por isso, deve ser um tema acarinhado pelo nosso legislador. Ainda assim, estou convicto de que é preciso fazer um pouco mais de forma a garantir que o AL tenha um efeito benéfico para a globalidade dos que cá vivem e não seja mais um instrumento gerador de problemas e assimetrias. Por Pedro Pimpão Realizou-se no passado dia 27 de Maio, em Loulé, inserido na programação da Semana do Município de Loulé 2017, o agradecimento público pela Oferta de cerca de 20 mil Livros dos Professores Aníbal Cavaco Silva (5 mil) e de Guilherme d’ Oliveira Martins (15 mil). Um momento importante, quer por parte do Município pela iniciativa e guardião futuro dos livros, quer por parte dos doadores, pelo gesto sentimental para com as suas raízes familiares, mas também pelo incremento de riqueza cultural e intelectual para as gentes de Loulé e para o restante Algarve.
A Biblioteca Sophia Mello Breyner Andresen em Loulé torna-se assim num “local a sul” privilegiado de visualização, leitura e aluguer de vastas obras literárias, desde ao drama, passando por livros técnicos nas áreas económicas e culturais. Cabe agora à Biblioteca Municipal de Loulé e aos seus responsáveis a disponibilização de mais espaço e prática de boa gestão destes acervos oferecidos, bem como o incentivo a mais leitura e estudo, principalmente aos mais jovens, ajustando-se aos respetivos avanços tecnológicos. Como referiram o ex-Presidente da República Portuguesa e o ex-Presidente do Tribunal de Contas, ainda possuem mais alguns milhares de livros para oferecer como forma de retribuição a Loulé. Por isso, Loulé tem de estar e vai com certeza estar à altura deste desafio. Por Gonçalo Duarte Gomes
Era uma vez um Ministro das Obras Públicas. Certo dia, tão ilustre personalidade, buscando um sítio para instalar um aeroporto, e mirando o Tejo de Norte para Sul, teve uma violenta epifania, ao nível do intestino grosso, que rapidamente fez ligação directa às cordas vocais, levando-o, num incontrolável e irreprimível impulso, a afirmar que para lá do rio, não havia gente, não havia escolas, não havia hospitais, não havia cidades, não havia indústria, não havia comércio, não havia hotéis. No fundo, um deserto. Conclusão óbvia: jámé lá se faria o que fosse. O Ministro descobriu entretanto a sua verdadeira vocação e dedicou-se à Revista à Portuguesa. Mas deixou escola. E o Algarve, para não variar, trama-se. ![]() André Botelheiro junta-se à equipa do Lugar ao Sul e publica hoje o seu primeiro artigo. Semana sim, semana não poderá encontrar os seus artigos à quinta-feira. Quem é André Botelheiro? Nascido a 15 de maio, acabou de entrar para o incrível segmento dos “entas”. Licenciado em Direito pela Universidade Lusíada de Lisboa, passou pela Universitá degli Studi di Firenze (Itália) como estudante ERASMUS. Mais tarde, ingressou na pós-graduação em Direito Penal Económico Europeu na Universidade de Coimbra e, mais recentemente, no Mestrado em Sociologia na Universidade do Algarve. Cumprindo um sonho de criança, em 2001, passa a exercer advocacia mas interessou-se sempre por construir um percurso profissional diversificado: integrou a equipa de voluntários da Expo'98, como assistente de produção no Palco SONY; coordenou equipas de recenseadores nos CENSOS de 2001; inaugurou o gabinete de apoio jurídico para o associativismo juvenil do IPJ-Faro; geriu as equipas de voluntários no Media Center do Estádio Algarve durante o Euro’2004; presidiu à Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência de Faro, sob a alçada do IDT; e assessorou o Reitor da UAlg. É na comunicação que encontra a sua paixão e, atualmente, é coordenador do Gabinete de Comunicação e Protocolo da UAlg e diretor executivo da rádio RUA FM. Farense convicto desde 1977, acredita no poder da cidadania livre e participada. Faz das viagens os seus escapes, da sua moto a sua fiel companheira, da família e dos amigos o seu suporte básico de vida. Interessa-se por tudo o que resulte no debate saudável de ideias, em particular, política, história, música, desporto e, claro está, este tão afamado Lugar ao Sul! ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ Que Educação tem Lugar ao Sul? Por André Botelheiro
O começo não foi fácil e ainda não o está a ser, no momento em que começo este pedaço de texto. Comecei por me surpreender quando, seguramente sob efeito da toma excessiva de amizade, a Dália Paulo me telefonou e em jeito de desafio, de alto risco para a própria, convidou-me para integrar este espaço de encontro que tem o Sul como norte para a prosa. Comecei por procurar razões, objetivas, para, em auto-negação, declinar o amistoso convite. Encontrei imensas e as suficientes. Mas não o fiz... afinal, há sempre “Lugar ao Sul” para mais um. Para começar, havia que escolher. E decidi começar, como não podia deixar de ser, pelo Sul. Mas pelo que julgo ser o alicerce de um qualquer outro ponto cardeal... a Educação. E o que tem a Educação a ver com o Sul? Tudo e Nada. Nada, porque objetivamente havia a necessidade imperiosa de, simplesmente, começar. Nem que fosse para corresponder ao compromisso assumido. Tudo, porque, sem exageros, acredito que é na Educação que Tudo começa! É o maior valor que uma sociedade pode construir para garantir um futuro, digno desse ideal. A resposta, inquietante, foi confirmada em alguns dados que o mais recente relatório “Estado da Educação 2015”, publicado pelo Conselho Nacional da Educação em 2016 (www.cnedu.pt ), revela sobre este nosso lugar ao Sul de Portugal. Sem pretensões, e por manifesta incompetência para uma análise mais aprofundada, decidi partilhar alguns dados avulsos que, como tal, não respondem a todas as inquietudes que levantam, mas impõem surpresa e uma reflexão conjunta da sociedade que decidiu como sendo seu este lugar ao Sul, vulgo Algarve. Assim, sem mais demoras, observa-se que em 2014/2015: - O Algarve é região do continente com maior taxa de retenção e desistência nos ciclos do ensino básico regular: no 1º ciclo com 6%, 2 pontos percentuais acima da taxa nacional (4%); no 2º ciclo com 11,2%, mais 2,8 pp que a taxa nacional (8,4%) e no 3º ciclo atinge 15,4%, mais 3,4 pp que a taxa nacional (12%). - O Algarve tem o pior registo no continente (23,1%) quanto à taxa de retenção e desistência nos cursos científico-humanísticos do 10º, 11º e 12º ano, são 4,8 pp acima da taxa média nacional (18,3%). - O Algarve, com 87%, apresenta a taxa de conclusão do ensino básico regular (9º ano) mais baixa do continente (-2,3 pp que a taxa média nacional). Os resultados não são melhores quando analisada a taxa de conclusão do 12º ano no ensino secundário regular. Com 62,9%, revela a taxa de conclusão mais baixa no continente, com menos 7,1 pp que a taxa média nacional (70%). Acresce que, no distrito de Faro menos de 80% dos diplomados em cursos científicos-humanísticos do 12º ano (em 2013/14) ingressaram no ensino superior (em 2014/15), sendo o pior resultado do continente em comparação com os mais de 90% registados nos distritos de Coimbra e Bragança. Obviamente, estes dados escondem muito mais do que aquilo que numa primeira análise percepcionamos. Ainda assim, podemos concluir que, em 2014/2015, o Algarve é a região do continente com os indicadores de retenção, de desistência e de conclusão mais negativos em todos os ciclos de estudo do ensino básico e do ensino secundário regular, com a agravante de ser a região em que menos alunos prosseguiram os seus estudos após conclusão do 12º ano. As assimetrias da própria região, a sazonalidade das atividades económicas, o apelo do “emprego fácil na praia”, poderão indicar algumas pistas para eventuais respostas. O cenário futuro ilumina-se quando verificamos que o Algarve tem uma das maiores concentrações de população residente em idade escolar (0-24 anos) do país (112.024 no ano de 2015), deixando para trás distritos como o de Aveiro e de Coimbra. Esta população jovem é cada vez mais multicultural, enriquecida pela mais alta percentagem do número de alunos de nacionalidade estrangeira que frequentam o ensino básico e secundário (10%), muito acima da média nacional (3,7%). No presente ano letivo, a Universidade do Algarve irá atingir o número record de estudantes de nacionalidade estrangeira, já serão 15% dos alunos da academia algarvia. Matéria-prima não nos falta. Mas o assunto é sério demais para ser alvo de descobertas às apalpadelas. Exige mobilização regional de todos os atores, autárquicos, académicos, empresariais e agentes educativos para, em conjunto, se aprofundar a questão: que Educação tem Lugar ao Sul? Por Bruno Inácio Este não é Admirável Mundo Novo. Não é também o mundo dos Campeões da Europa de Futebol, do Ronaldo, do Secretário Geral das Nações Unidas ou do Salvador (falo do da Eurovisão, não d´O Salvador!). Fonte: howmuch.net
Por Sara Luz Com o crescimento económico do país na ordem do dia as estratégias que visem potenciar ainda mais esse crescimento são merecedoras de olhar atento. O turismo de saúde é, precisamente, um desses casos. Uma estratégia de valor acrescentado para a economia portuguesa em virtude da combinação da expansão do setor do turismo com o envelhecimento da população europeia e as tendências de “culto ao corpo”, saúde e bem-estar.
Segundo o estudo apresentado pelo Health Cluster Portugal em 2014, prevê-se que até ao ano de 2020 o turismo de saúde possa contribuir com mais de 400 milhões de euros por ano, receita esta proveniente essencialmente de spas, centros de talassoterapia e termas. Ao nível do turismo médico, apesar da contribuição prevista ser mais modesta (94,6 milhões por ano), este é um subproduto do turismo de saúde com grande potencial de expansão em Portugal. Esta visão é partilhada pelo Governo que recentemente manifestou interesse em dar continuidade ao trabalho que tem vindo a ser desenvolvido nesta área durante os últimos anos, através de investimento público e colaboração entre diversos stakeholders. Por terras algarvias, o crescimento do setor privado tem permitido dar cartas ao nível do turismo médico. Já ao nível do setor público, as respostas para se ultrapassarem os problemas graves de saúde na região têm sido pouco inovadoras e os resultados (que estão à vista!) muito limitados. Deste modo, não será de se aproveitar a boleia do turismo para fazer face às dificuldades de saúde no Algarve? Se pensarmos que para uma unidade hospitalar desenvolver o turismo médico é necessário atender a pressupostos para criar confiança nos mercados alvo (e.g., certificações, acreditações, taxas de mortalidade, complicações e readmissões por procedimento, rácio de enfermeiros por cliente, informações de corpo clínico, afiliações com outros hospitais, tecnologia médica disponível, políticas de privacidade dos clientes, entre outros) esta poderá ser uma oportunidade para se melhorar a qualidade e a segurança dos cuidados, as condições de trabalho dos profissionais de saúde e os resultados em saúde. Deste modo, considera-se que o turismo médico pode ser visto como uma oportunidade para o crescimento do setor da saúde no Algarve. Mas, e porque a complexidade do setor assim o exige, se ao turismo médico não se juntarem outras estratégias dirigidas a montante e a jusante dos hospitais, esta será mais uma ameaça para a região. Por João Fernandes
Por Gonçalo Duarte Gomes
O amor é coisa linda. Mas, dentro dessa lindeza generalizada, nada bate a fase do namoro. Ah, a descoberta, o mimo, o encantamento tamanho... Num modelo tradicional – tão em crise depois do marialva manifesto do Gonçalo da Câmara Pereira – compete ao menino cortejar a menina, levando-a a passear, oferecendo-lhe flores, apaparicando-a. Mariquices, vá. Mas depois há malta mais burgessa, que tenta abordagens um bocadinho mais kamikaze e paleolíticas, do estilo "adoro-te tal como és, mas mudava tudo em ti". E não é que, pasme-se, resulta? Vai um exemplo? Algarve. Região formosa, vive em permanente sobressalto amoroso, envolvida em arrebatadores romances de andaime com inúmeros resorts turísticos que lhe prometem a salvação do encalhado marasmo da sua simplicidade provinciana. Embevecidos com a sua beleza natural e os valores paisagísticos presentes neste Éden terreno, estes pretendentes abeiram-se docemente, para depois lhe sussurrarem melosamente ao ouvido: “vou transformar-te de cabo a rabo”. Ternurento. Ela, bimbalhona, tarda em dar a única resposta adequada a tão tóxicas paixonetas: “Não vai dar. Não sou eu, és mesmo tu”. Por Dália Paulo
Por Bruno Inácio
Tem lugar amanhã e sexta-feira (18 e 19 Maio) o next.mov – smart region summmit no Autódromo Internacional do Algarve em Portimão. Um encontro que conta com expositores e conferências de elevada qualidade na área da mobilidade e da transformação digital. Pela primeira vez o Algarve acolhe um certame desta dimensão dedicado ao pensamento estratégico da implementação de novas tecnologias associadas a áreas como a mobilidade e a gestão das cidades. Adicionalmente o evento contará, em paralelo, com o 1º Encontro Nacional de Autoridades Intermunicipais de Transportes que juntará a mesma mesa um conjunto de players da área desde o Governo, as comunidades intermunicipais passando pelas estruturas do estado com responsabilidades nesta área. Parece-me particularmente relevante a realização desta iniciativa num contexto da tentativa de a região implementar uma estratégia para a mobilidade regional através da sua Associação de Municípios. Esta é também a oportunidade para o Algarve mostrar que tem capacidade de produção de conteúdos – do ponto de vista do pensamento estratégico, mas também da colocação em prática – que possam ser uma referência junto dos municípios e de outras entidades com responsabilidade de gestão territorial. Fica o site com informação do evento: www.smartregion.pt Por Luís Coelho
Quinta-feira passada o Negócios brindou os seus leitores com vários apontamentos sobre os desafios actuais da economia Portuguesa. Como seria de esperar, tópicos como o excesso de dívida pública, o desemprego e a falta de competitividade foram longamente apontados como centrais naquela que parece ser uma camisa-de-forças que impede o desenvolvimento económico do nosso País. Mas há mais… Vejamos o caso do peso da dívida privada no Produto Interno Bruto (PIB). Parece-me importante escrever sobre este tema pois tenho a sensação que o mesmo é pouco conhecido do público em geral na medida em que os media preferem centrar o debate no problema da dívida pública. No entanto, segundo o Negócios, no final de 2016, empresas e particulares residentes em solo nacional tinham acumulado um stock de dívida que representava 172% do PIB. Isto é muito ou pouco? Bom, é colossal. Se tivermos em conta que a dívida pública nacional representa “apenas” 130.4% do PIB podemos perceber a dimensão do problema que temos entre mãos. Mais, a Comissão Europeia considera que o peso da dívida privada não pode exceder os 133% do PIB. Nesse sentido, Portugal está na mira de Bruxelas no que toca aos requisitos relativos ao Procedimento dos Desequilíbrios Macroeconómicos. Este mecanismo tem uma filosofia similar ao do Procedimento dos Deficits Excessivos – mais conhecido dos cidadãos por ser citado amiúde nas notícias – mas é mais abrangente pois não se foca apenas no deficit público mas sim num conjunto alargado de indicadores económicos. Macroeconomês à parte, qual é a importância de termos tanta dívida privada? Há pelo duas questões a considerar. Primeiro, empresas endividadas têm menos capacidade para investir. De facto, o endividamento (quando excessivo) garrota a possibilidade das empresas expandirem o seu negócio, inovarem e reagirem de forma rápida a mudanças do mercado. Segundo, dívida (a mais) tem implicações sobre o crédito malparado. A crise que ainda estamos a passar é a prova deste fenómeno. Quando a economia entra em recessão, empresas e particulares têm tendência para deixar de cumprir as suas obrigações para com os seus credores. É isto que origina o malparado, verdadeiro cancro do sistema financeiro. Em particular, quanto maior for o malparado menor será a capacidade dos bancos para emprestarem dinheiro. Logo, as empresas vêem-se impossibilitadas de renovar os seus créditos (o que aumenta o malparado) ou arranjar dinheiro para fazer crescer o negócio (o que agrava a recessão). Por outro lado, os particulares deixam de aceder ao crédito o que agrava ainda mais a falta de dinamismo económico pois a procura por bens e serviços só pode cair. Se há menos procura as empresas produzem menos. Despendem mais. Pagam menos impostos. Estão a ver o filme: se nada for feito, podemos assistir ao colapso absoluto de toda uma economia. Para piorar o cenário, resolver a questão não é fácil. De todo. Do ponto de vista empresarial, o remédio passa por substituir crédito por capital próprio. Em português: os accionistas têm de colocar dinheiro do seu bolso nas empresas e com isso pagar o crédito acumulado. Alternativamente, o negócio é tal ordem rentável que permite por ele próprio consolidar uma estrutura de capital menos assente em dívida. Já no caso dos particulares a solução passa por alterar os hábitos de poupança. Em particular, se se aumentar a poupança (o que implica consumir menos ou gerar maior rendimento) reduz-se a necessidade de pedir emprestado. Claro, maior poupança também significa uma maior capacidade para pagar a dívida já contraída. Parece difícil, certo? O governo avançou com algumas medidas para tentar atalhar parte do problema que descrevo acima. Por um lado, tem vindo a implementar uma política de reposição de rendimentos que, em tese, deveria ajudar a aliviar os problemas com a dívida dos particulares. Por outro lado, dentro do seu plano nacional de reformas, avançou com o programa capitalizar e prepara-se para apresentar uma versão melhorada do processo judicial que visa regular a insolvência empresarial. Resultará? Cá estaremos para ver. Por Pedro Pimpão
Ao longo dos últimos anos, tenho assistido a uma crescente centralização da tomada de decisão por parte da banca portuguesa, seja devido à crise e por isso maior controlo na decisão das operações de crédito, seja simplesmente devido aos avanços tecnológicos. Não sendo assim a descentralização somente uma matéria exclusivamente da Administração Pública. Esta situação provocou o fecho de balcões que continuará nos próximos anos e consequente fuga de quadros da área financeira para as capitais, muitos deles graduados nas respetivas Instituições de Ensino Superior sediadas da Região. Além do próprio emprego destruído em termos imediatos, as pequenas e médias empresas a nível local e regional ressentiram-se das “apertadas” análises de risco, por vezes “cegas” nas concessões de crédito. Bem sei que tal deve ter subjacente uma rigorosa análise ao financiamento por parte das Instituições de Crédito de forma a prevenir eventuais valores elevados de imparidades. Mas também perceciono que tal análise, também de âmbito qualitativo, tem como base o risco local de enquadramento, muitas vezes menosprezado por políticas meramente centralizadoras de controlo, não tendo em conta a componente de empreendorismo e inovação necessariamente incutida. No caso do Algarve existe atualmente uma Instituição de Crédito – a Caixa de Crédito Agrícola Mútuo (CCAM) (não querendo fazer publicidade gratuita) que poderá aproximar-se deste meu apelo à descentralização na análise de risco e respetiva tomada de decisão na concessão de crédito. Mas é pouco. A Região enfrenta, nos dias de hoje, um “boom” de turismo, já muito debatido neste “Lugar ao Sul”, mas não existem há alguns anos até ao momento, mecanismos suficientes à disposição de pessoas e empresas, como resposta a um ambiente “amigo” de investimento local e regional para esta atividade – turismo – e para as de “arraste direto”, tais como a agricultura e o mar, entre outras. Os fundos comunitários à disposição da Região ajudam, mas não são suficientes. Por esta razão, deve ser “redesenhado” o Banco de Fomento do Algarve em parceria com o CCAM e outras se possível, como uma Instituição capaz de financiar desde os micro projetos às denominadas PME’s locais e regionais. Seguindo os princípios orientadores de rigor e transparência das regras bancárias em vigor, esta nova Instituição, outrora criada em 18 de Março de 1932, teria de ser capaz de fomentar e incentivar a economia exportadora da Região, financiar projetos empreendedores em colaboração com os fundos estruturais e com as Autarquias e por fim, capaz de ser um canal de intermediação e de lançamento de projetos com o Banco Europeu de Investimento e diversos programas de investimento europeu. Fica a ideia e proposta para reflexão futura dos nossos decisores políticos locais e regionais, bem como empresários e população em geral. Por Gonçalo Duarte Gomes
A regionalização está para as aspirações algarvias mais ou menos como aqueles chanatos milagrosos e joelheiras elásticas das televendas estão para os coxos e marrecos: no fundo, no fundo, sabe-se que não serve para nada, mas o desespero é tão grande, que já se está disposto a tentar de tudo. Isto porque, tal como sabemos que calçar umas pantufas – ainda que estilosas e caras para burro, quase parecendo que foram desenvolvidas pela NASA, ali taco a taco com as viagens a Marte – não nos mete a correr a maratona, também sabemos que a regionalização não vai mudar a realidade do Algarve ou resgatar a política, que é, nas palavras do Frei Fernando Ventura, “o exercício mais nobre da cidadania”, do labirinto da partidarite profissional. Mas nem por isso se deixa de sacrificar todos os cordeiros em honra a esse Sétimo Céu administrativo, numa espécie de messiânico Sebastianismo institucional. Hoje até nem é mau dia para crendices, já que é dia santo, de acordo com o calendário laico... E depois, pensando bem, num País que acreditou até em mamografias por satélite – em tempos bem mais divertidos do que estes, note-se – provavelmente estou a ser picuinhas. Por Dália Paulo
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