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Notas de uma quarentena improvável (33)

30/4/2020

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A Europa vista de casa

Por Anabela Afonso

Foi hoje lançado, numa conferência de imprensa online, o projeto #Europeathome, uma plataforma digital que conta com a participação de 14 cidades de 14 países europeus diferentes, que desafiaram artistas a dar a conhecer o que tem sido esta experiência de confinamento, através do texto e da fotografia.

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Homepage do projeto Europe At Home


​Antes de continuar a falar sobre o projeto, tenho que deixar um aparte: agora que já se percebeu que as distâncias deixam de ser um obstáculo, com a proximidade permitida pelos meios digitais, pode ser que os meios de comunicação nacionais já consigam dar mais visibilidade à produção cultural que se faz fora de Lisboa e do Porto. Pelo menos, neste caso em concreto, parece ter dado resultado, já que o público fez notícia do lançamento do projeto, com o artigo Faro entre 14 cidades europeias que integram projeto artístico "Europe at Home".


​Findo o aparte, foi da cidade de Faro que surgiu a ideia, e é a Faro que cabe a coordenação do projeto, enquanto parte do processo de candidatura a Capital Europeia da Cultura, com a estrutura Faro2027.  No caso de Faro, as imagens são da objetiva do fotógrafo Vasco Célio, e as palavras são da autoria de Sandro William Junqueira.


​Fica, assim, à nossa disposição, uma verdadeira galeria de arte virtual, com diferentes olhares e versões do que tem sido esta experiência de confinamento por toda a Europa. Ao que parece, esta galeria pode crescer, dado parecer haver vontade de outras cidades aderirem ao projeto.


​Parabéns à estrutura da candidatura Faro 2027, com mais este passo, que mostra para além de capacidade de reação às condições do momento, capacidade de mobilização à escala europeia, para projetos colaborativos e participados. 


​Boa sorte à candidatura de Faro, e que continue a acreditar que #Vaificartudobem, e que #Ganhar2027 é possível!

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Notas de uma quarentena improvável (32)

29/4/2020

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A dança também vai curar o mundo!

Por Anabela Afonso

Hoje assinala-se o dia mundial da dança. Pessoalmente não tenho grande entusiasmo por estas efemérides que servem para alguns de nós fazerem de conta que se interessam por qualquer temática, à qual se deixa de prestar atenção logo no dia seguinte. Mas reconheço que estas datas têm a vantagem de, nem que seja por um dia, trazer à discussão as mais variadas matérias, e hoje, como disse, é dia de falar de dança.

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Gregory Maqoma


​ Todos os anos, nesta data, o Comité Internacional da Dança (CID) da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO, na sigla em inglês) convidam uma personalidade da área da dança a criar uma mensagem alusiva à efeméride com o objetivo de destacar a importância desta arte universal. Este ano, essa tarefa coube ao coreógrafo Sul Africano Gregory Vuyani Maqoma, e pode ser ouvida neste vídeo entretanto partilhado nas redes sociais, e que brevemente se resume de seguida:

“Vivemos tempos de tragédias inimagináveis, que melhor se podem descrever como uma era pós-humana. Mais do que nunca, precisamos de dança com sentido de missão para lembrar ao mundo que a humanidade ainda existe”. Para Gregory Vuyani Maqoma, “o sentido de propósito e empatia devem prevalecer sobre anos e anos de dor universal que estão para vir, e conquistar essa tristeza da dura realidade de morte, rejeição e pobreza”. “A dança deve, mais do que nunca, dar um forte sinal aos líderes mundiais – e a todos os que garantem a melhoria das condições da vida humana – que somos um furioso exército de pensadores, e o nosso propósito é mudar o mundo passo a passo”, escreve ainda, na mensagem.
​
Tenho que sublinhar na sua mensagem a força do excerto que se segue: 
"Dança é liberdade, e através da nossa liberdade descoberta, precisamos libertar os outros das armadilhas que enfrentam nos vários cantos do mundo. A dança não é política, mas torna-se política porque transporta em si a fibra da conexão humana, e é assim que responde às circunstâncias na sua tentativa de restaurar a dignidade humana”
Remata a sua mensagem falando do enorme poder curativo que os corpos que dançam em conjunto representam e do qual precisamos tão desesperadamente, para concluir que, o que precisamos, então, é dançar, mais e mais!!! 

Curiosamente, a edição deste ano dos Encontros do Devir, integrados na programação da 4.ª edição do 365 Algarve, tinha prevista duas apresentações de uma peça de Gregory Maqoma, nos dias 3 e 4 de março, no Cine-teatro Louletano e no Centro Cultural de Lagos, respetivamente, não fora a suspensão de toda atividade cultural por força da pandemia. Essa peça, um solo intitulado Beautiful Me, é uma reflexão sobre essa condição de ser artista, ser africano, e do que significa essa procura de identidade através da dança e de uma estética, assim como sobre que visão tem o ocidente (e sobretudo os media ocidentais) sobre esse continente tão diverso em cultura, tradições e identidades, como o próprio explica neste vídeo, aquando da sua apresentação em Barcelona em 2011.


​ Deixo a quem possa estar interessado, a mensagem original, em inglês:

«It was during an interview I had recently that I had to think deeply about dance, what does it mean to me? In my response, I had to look into my journey, and I realized that it was all about purpose and each day presents a new challenge that needs to be confronted, and it is through dance that I try to make sense of the world. We are leaving through unimaginable tragedies, in a time that I could best describe as the post-human era. More than ever, we need to dance with purpose, to remind the world that humanity still exists. Purpose and empathy need to prevail over years and years of undeniable virtual landscape of dissolution that has given rise to a catharsis of universal grief conquering the sadness, the hard reality that continues to permeate the living confronted by death, rejection and poverty. Our dance must more than ever give a strong signal to the world leaders and those entrusted with safeguarding and improving human conditions that we are an army of furious thinkers, and our purpose is one that strives to change the world one step at a time. Dance is freedom, and through our found freedom, we must free others from the entrapments they face in different corners of the world. Dance is not political but becomes political because it caries in its fibre a human connection and therefore responds to circumstances in its attempt to restore human dignity. As we dance with our bodies, tumbling in space and tangling together, we become a force of movement weaving hearts, touching souls and providing healing that is so desperately needed. And purpose becomes a single hydra-headed, invincible and indivisible dance. All we need now is to dance some more!!!!»

E para quem quiser "perder" um pouco mais de tempo, para conhecer mais do seu trabalho enquanto coreógrafo, ficam mais dois vídeos, um deles, um pequeno excerto de uma versão do Bolero de Ravel - Requiem of Bolero's Ravel, e outro, uma absolutamente incrível Ted Talk, mais uma vez dedicada a esse paradoxo  que é, por um lado, a forma como se olha para África, como um continente de miséria, guerras e desgraças, e por outro, o mundo de oportunidades que a sua diversidade cultural e o seu enorme potencial criativo representam. Por amor à dança, ou apenas por amor ao mundo, que seja, não deixem de ver este Beyond the euphoria of movement!

Sim, a dança também vai curar o mundo, por isso sei que #Vaificartudobem!

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Notas de uma quarentena improvável (31)

28/4/2020

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Nota para experimentar o futuro

Por Anabela Afonso

Ao que parece, as 24 horas do próximo dia 2 de maio marcarão o fim deste ciclo de estados de emergência a que estivemos sujeitos nas últimas semanas, o que não quererá dizer que está a chegar o fim do confinamento, porque poderá estar em cima da mesa a aplicação do estado de calamidade, que em si não difere muito do que é um estado de emergência.


​Contudo, percebe-se que vamos encetar um período de espaçadas experiências de reabertura da nossa economia, a começar pela reabertura do pequeno comércio, sujeita às devidas adaptações dessas novas práticas que se vieram instalar e que implicam guardarmos distância uns dos outros, utilizarmos máscaras e estarmos preparados para estar em longas filas.

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Se há coisa que não parece falar-se muito, mas que parece certa para este novo tempo que estamos a viver é a alteração que sofrerá a nossa relação com o tempo. Só quem não teve ainda que sair para ir às compras, ou aviar uma receita numa farmácia, é que não percebeu que coisas que antes fazíamos em breves minutos, podem agora demorar algumas horas. Estaremos nós preparados para isso?


Não deixa de ser com alguma ironia que nos damos conta que os centros urbanos, que sempre foram apontados como os locais onde tudo acontece, e onde a vida tem mais ritmo, sobretudo por aqueles que olham para a vida no campo como uma coisa muito parada, são agora os locais onde tudo é muito mais demorado. No campo, nas pequenas aldeias, nesse interior onde se achava que nada acontecia, é, apesar de tudo, onde ainda conseguimos manter alguma normalidade, nas breves idas à pequena mercearia, ou à pequena farmácia. É aí que estão os locais onde sempre houve tempo para fazer as coisas com tempo.


Talvez esta crise possa servir para se olhar para o enorme potencial que o interior do país, e do Algarve em particular, podem representar nesse esforço de reinvenção - mais do que recuperação - a que nos devemos propor, assim que possível.


Talvez seja tempo se de pensar num estilo de vida com um tempo diferente do que tivémos até aqui, aproveitando recursos que temos menosprezado paulatinamente. 


​A ilustrar esta ideia, vale a pena ler este artigo publicado pelo suplemento do Público, Ípsilon, dedicado ao relato da experiência do coreógrafo Rui Horta, desde o momento em que deixou as grandes capitais como Frankfurt, Munique ou Nova Iorque, para se fixar no interior alentejano, em Montemor-o-Novo, com um dos mais estimulantes espaços de residência artística do país, procurado por criadores de todos os pontos da Europa e do mundo. Neste artigo Rui Horta: antes de salvar o corpo o campo salva a alma, o coreógrafo fala do que implica essa opção de deixar as grandes cidades e do impacto que essa mudança teve em si enquanto ser humano e criador. Mas deixa um aviso, que me parece esclarecedor:

«Aos 63 anos acabados de fazer não tem dúvidas de que é hoje um criador diferente por causa do lugar a que escolheu chamar casa, embora agora, por motivos pessoais, se desloque mais vezes a Lisboa do que era hábito. “O campo para mim foi um refúgio, o lugar onde me encontrei comigo. E digo isto porque ele antes de salvar o corpo salva a alma. Traz-nos um tempo de esvaziamento, de vagueza, que é bom para reflectir, para mudar.”
​A quem estiver a pensar trocar a cidade pelo campo em virtude da pandemia (esta e as futuras), deixa o conselho: “Para vir é preciso que se imaginem diferentes do que são hoje. É preciso que pressintam que querem ser outra coisa.”»

É este aviso que Rui Horta deixa, sobre a opção de escolher o campo para viver que me parece encerrar o potencial de mudança que será necessário encarar no mundo pós-COVID que precisamos construir.

Aqui mais perto, falando do extremo oeste do Algarve, o mesmo suplemento do Ípsilon, relata também a experiência da dupla de criadores e programadores Giacomo Scalisi e Madalena Victorino que desde há cerca de 4 anos se estabeleceram de modo mais permanente em Aljezur, a partir de onde têm desenvolvido esse especialíssimo projeto que é o Lavrar o Mar, centrado nos territórios de Aljezur e Monchique.


​Sou, obviamente, suspeita por falar neste último exemplo, dado tratar-se de um dos projetos que integra a programação do 365 Algarve, no qual tenho estado intensamente envolvida nos últimos anos. Mas é também desta experiência intensa, de correr todo o Algarve até aos locais mais afastados das praias e cidades algarvias, para acompanhar uma programação cultural muito diversificada, que tenho vindo a consolidar esta perspetiva sobre as enormes potencialidades que tem esse "outro" Algarve tantas vezes esquecido e descurado. Já tive oportunidade de dar testemunho dessa minha convicção neste Lugar ao Sul, no texto Uma ideia de Europa (e de Algarve) por cumprir, que passado tão pouco tempo, mas com uma tão grande alteração de contexto, me parece fazer ainda mais sentido.

Como também demonstra o relato de Madalena e Giacomo à procura da resposta "mais humana", estar no interior ou nas zonas mais periféricas não quer dizer que não se possa desenvolver um trabalho cosmopolita e não se possam alimentar relações de trabalho internacionais, mas signica, com certeza, fazê-lo com um outro tempo, e um outro olhar: 

«[...]De cada projecto na costa vicentina nascem outros. Neste momento, com o quarto ciclo do Lavrar o Mar (Outubro de 2019 a Maio de 2020) suspenso por causa do coronavírus, estão a trabalhar em candidaturas para outro projecto, com a Islândia (e apoio dos EEA Grants), que aproxima as realidades portuguesa e islandesa num encontro feito de semelhanças e diferenças. Não sabem se os apoios se concretizarão. Os projectos poderão ter que ser redimensionados. Mas não vão deixá-los para trás. As ideias têm vida própria. Neste momento estão apenas a viver mais devagar porque “uma lentidão maior pode ser uma densidade maior”. Como diz Madalena: “Sabemos que temos que esperar, escutar, ser muito sensíveis a tudo o que acontece para podermos responder da forma mais correcta, mais humana, mais certa.”»

Este é um recurso que o Algarve tem. O espaço, a paisagem, e a qualidade no acolhimento que podem favorecer o estabelecimento de projetos direcionados para o setor artístico e criativo. Há muito que defendo que essa deveria ser uma aposta estratégica, sobretudo dos territórios de interior e considerados de baixa densidade da região. Podem não ser projetos que consigam apresentar folhas de excel com taxas de rentabilidade financeira muito apelativas (pelo menos no curto e médio prazo), mas serão com certeza, projetos que garantirão um retorno em termos de transformação e regeneração social, de fixação de jovens, e de qualificação da comunidade, que me parecem bem mais apelativos.

Gostava muito que se experimentasse este futuro, para o Algarve.

#Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (30)

27/4/2020

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Ainda o embrutecimento

Por Anabela Afonso

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Já a chegar à hora em que o dia de hoje vira o dia seguinte, sem tema que me empurrasse para a escrita, e já sem energia para continuar, ainda, em frente a um ecrã, eis que dou pelo final do jornal das 23h00 da SIC Notícias, com a sua elegante pivot, a anunciar, triunfante, que aquela estação televisiva se tinha mantido na liderança das audiências em Portugal com, nada mais, nada menos que, um reality show para ver quem quer namorar com um agricultor.


​Depois disto, ocorre-me que saber que o tempo de muitos dos portugueses que estão em confinamento, é utilizado para dar estes resultados em termos de audiências televisivas, torna mais difícil o meu exercício de otimismo diário do que muitas outras notícias, à primeira vista mais "pessimistas". 


​O combate ao embrutecimento e ao alheamento é um dos mais difíceis. Muito depois de se encontrar a vacina para o COVID'19, ainda andaremos às voltas para tentar perceber como se combate tal mal, e como se vence esse outro inimigo invisível, ainda mais subtil.


​Ainda assim, porque para mim o otimismo é uma atitude pro-ativa, não uma cedência à inércia, vou continuar a acreditar que, apesar das audiências, #Vaificartudobem.

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A importância do Mar na economia do Algarve: um olhar sobre o passado com perspectivas para o futuro

27/4/2020

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Por Andreia Fidalgo

O que queremos nós para o Algarve pós-pandemia?


O surto pandémico que agora enfrentamos serviu para deixar a descoberto a fragilidade da economia portuguesa e, no caso do Algarve, veio revelar o que de há muito já se sabe: que a região padece de uma grande vulnerabilidade económica por se ter alicerçado quase única e exclusivamente no sector turístico.

Passadas algumas semanas do início da pandemia no país, a situação é tudo menos animadora. Os dados divulgados pelo IEFP mostram que na região o número de desempregados inscritos, em Março, subiu 41,4% em relação ao mesmo mês do ano passado. Ademais, a subida do desemprego no Algarve foi 14 vezes maior do que a registada a nível nacional, fixada nos 3%.

Apesar do cenário ser alarmante, não há nele propriamente uma novidade: a região também sofreu há não muito tempo de um grande embate com a crise financeira de 2008, cujos efeitos se fizeram sentir sobretudo nos anos subsequentes. Basta relembrar que nos anos de 2010 e 2011 o Algarve registou as mais elevadas taxas de desemprego do país – de 13,4% e 15,4%, respectivamente –, e no ano seguinte de 2012 partilhava o nefasto pódio com a Área Metropolitana de Lisboa, registando 17,6%. Só de 2013 em diante é que a situação se inverteu progressivamente na região.

Que agora enfrentemos uma nova e acentuada onda de desemprego no país, com especial incidência na região algarvia, não é algo que nos apanhe propriamente de surpresa. Resta saber se, ao contrário do que aconteceu anteriormente com a crise de 2008, é desta que vamos realmente aproveitar a oportunidade para a tão almejada diversificação da economia regional.

Claro que entre a teoria e a prática vai um grande passo. É fácil concluir que uma diversificação da economia do Algarve permitiria diminuir a excessiva dependência do turismo e reduzir o impacto em momentos de maior fragilidade económica. Mais difícil é sedimentar as bases dessa diversificação.

Neste âmbito, não queria deixar de aludir, por me parecerem em tudo pertinentes e promissoras, as propostas de diversificação que o Luís Serra Coelho, também autor aqui no Lugar ao Sul, já referiu noutras ocasiões: as tecnologias de informação, que já encontram, por exemplo, no projecto Algarve Tech Hub alguns passos dados; a produção de energia renovável, aproveitando uma das vantagens naturais do Algarve, isto é, a exposição solar; e o mar, imenso recurso com um potencial tremendo.

As propostas acima enunciadas deixam bem patente que o sol e o mar que fazem do Algarve uma região turística tão apetecível são os mesmos sol e mar que podem potenciar o desenvolvimento de outras actividades económicas na região, no futuro.

No meu breve apontamento histórico de hoje, gostaria de relembrar sobretudo a importância do Mar na economia regional ao longo dos séculos: foi através do mar que a região conheceu períodos áureos de desenvolvimento económico e foi através do mar que a região se soube reinventar ao longo dos tempos, aproveitando os recursos aí contidos e a abertura ao mundo exterior para se tornar mais competitiva.

Já tive oportunidade de sublinhar, num outro artigo, o impacto que o período de Expansão Marítima teve para a região. O Reino do Algarve, historicamente quase sempre muito isolado do restante Reino de Portugal, mas com uma vasta linha costeira que sempre lhe permitiu manter contacto com o exterior, ganha protagonismo ao tornar-se o palco preferencial das expedições marítimas no século XV.
​
O Algarve prosperou e cidades como Lagos e Tavira passaram, então, por um período de grande desenvolvimento económico: a primeira, sob a liderança do Infante D. Henrique, em muito beneficiaria com as lucrativas actividades comerciais estabelecidas pelas novas rotas marítimas do Atlântico; a segunda, sobretudo na primeira metade do século XVI, beneficiaria da sua posição privilegiada para o apoio às praças que os portugueses iam conquistando no Norte de África.
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Mapa da costa do Algarve, c. 1600, pormenor [disponível na BNP Digital]

​A secundarização da região na partida das expedições atlânticas, que depois da morte do Infante D. Henrique se começam a fazer de Lisboa, e a perda progressiva das praças africanas, levaram a que a região entrasse, no século XVII e durante boa parte do século XVIII, num período de estagnação económica e de subaproveitamento crónico dos seus recursos naturais. Ainda assim, mesmo durante este período, foi sempre o mar que serviu de alicerce às principais actividades económicas regionais.

Bastará, para tal, recordar a pesca do atum e da sardinha, as mais rentáveis espécies capturadas na região. O atum era de tal forma lucrativo, que esta pescaria passou a ser um direito senhorial da Coroa Portuguesa desde o reinado de Afonso III, com a conquista definitiva do Algarve e sua integração no Reino de Portugal no meado do século XIII. Era, pois, uma pescaria real ou privilegiada, capturado nas almadravas – designação de origem árabe das armações de pesca desta espécie – que teve uma grande expressão no século XVI e, embora tivesse diminuído nas centúrias seguintes, não deixou de ser uma das principais fontes de rendimento da região.

Quanto à sardinha, a sua exploração aumentou exponencialmente nas primeiras décadas de Setecentos e daí em diante, quando na praia de Monte Gordo se instalou uma comunidade de negociantes catalães que rapidamente conseguiu incrementar a pesca dessa espécie recorrendo à utilização da xávega – método tradicional de pesca de arraste – e implementando uma indústria tradicional de salga e conservação do pescado.

Ademais, convém acrescentar que a par com esta exploração dos recursos piscatórios, o Algarve se manteve sempre ligado a outras parte dos globo por via marítima através de uma actividade comercial sustentada pelos frutos regionais – tais como o figo, a amêndoa, a alfarroba, a laranja da China (doce), aos quais acresce a cortiça –, com rotas que se expandiam a todo o Mediterrâneo e ao Atlântico Norte.

Não é, pois, de estranhar que, quando nas décadas de 60 e 70 do século XVIII o Marquês de Pombal volta as suas atenções para a empobrecida economia algarvia, sejam precisamente as potencialidades económicas das pescarias e a abertura comercial dos portos marítimos algarvios que lhe iriam captar as atenções e ser alvo de um plano de reformas que então se designou de “Restauração do Reino do Algarve”. Este projecto reformista entendia que a economia da região devia ser dinamizada pelo incremento das pescarias, por um lado, mas também da agricultura, que serviria para aumentar o comércio marítimo da região.

As pescas foram, no entanto, o principal alvo estratégico de Pombal. Além das medidas de alívio fiscal que animaram as pescarias algarvias no seu todo, para aumentar a pesca do atum, cujas almadravas haviam ficado muito destruídas pelo terramoto de 1755, o ministro de D. José criaria, por alvará de 16 de Janeiro de 1773, a Companhia Geral das Reais Pescarias do Reino do Algarve, a última das companhias monopolistas pombalinas. Quanto à pesca da sardinha, para a rentabilizar e evitar que os seus lucros escapassem aos cofres do estado, Pombal manda edificar Vila Real de Santo António, uma verdadeira vila-fábrica orientada para a captura e transformação da sardinha.
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Desenho-relatório da construção de VRSA, de autoria de José Sande de Vasconcelos. Outubro de 1774 [Reprodução disponível no Arquivo Histórico de VRSA]

​​Na centúria seguinte e sobretudo já no século XX, o olhar estratégico para o desenvolvimento económico da região passaria novamente pelo mar. O Algarve inseriu-se no quadro mais amplo da industrialização moderna através do desenvolvimento de uma pujante indústria de conservas de peixe. A primeira fábrica instalada na região foi a do italiano Angelo Parodi, em Vila Real de Santo António, em 1879; daí em diante foram surgindo mais fábricas de diferentes dimensões, com particular incidência nas localidades de Vila Real, Olhão, Portimão e Lagos.
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Foto antiga da Fábrica Parodi, em VRSA. As chaminés captadas denunciam a vocação industrial desta vila.

​A indústria das conservas de peixe foi a mais importante alavanca da economia regional na primeira metade do século XX, que em muito beneficiou dos recursos naturais da região, do posicionamento estratégico dos seus portos marítimos para escoamento do produto, e de uma elevada procura por parte do mercado externo, nomeadamente durante os anos da I e da II Guerra Mundial. Porém, esta indústria entraria em declínio na década de 60, incapaz de fazer face à concorrência marroquina, onde o custo da mão-de-obra era baixíssimo, acabando por conquistar os mercados anteriormente ocupados pela produção algarvia.

Pari passu com o declínio da indústria conserveira está o exponencial crescimento do turismo na região algarvia, para o qual o mar, aliado ao excelente clima, foram factores determinantes. Apesar de as reivindicações sobre o potencial turístico algarvio soassem já desde os inícios do século XX, foi a partir da década de 60 que se verificou realmente um surto edificatório que alteraria a fisionomia do litoral algarvio, ao qual se somou a inauguração do aeroporto de Faro, em 1965. O Algarve entra, como sabemos, nos circuitos turísticos internacionais e o turismo passou desde então a constituir a principal base económica da região.

A história económica do Algarve recorda-nos, pois, que a região se soube reinventar e readaptar ao longo dos séculos tendo por base esse imenso recurso que tem ao seu dispor: o mar. Por que não olhar novamente para o mar com outros olhos e redobrada atenção? Parece-me que não devemos descurar, por um lado, a importância das actividades marítimas tradicionais, que possuem um elevado potencial de valorização cultural da região.

Por outro lado, o próprio sector das pescas tem imenso potencial de modernização e pode ser altamente lucrativo. Um bom exemplo é o do atum-rabilho, actualmente explorado na costa algarvia em três armações modernas: duas pertencentes a uma empresa espanhola e outra de capitais japoneses. O atum-rabilho chega mesmo a atingir os mil euros por quilo no mercado de Tóquio, mas a quota portuguesa para pesca desta espécie corresponde a menos de 3% da quota da União Europeia, o que é manifestamente insuficiente e estrangula qualquer hipótese desta actividade lucrativa vir a ganhar mais espaço na região – recorde-se, a este propósito, que nos inícios do século XX o Algarve tinha dezanove armações de atum activas…

Ademais, as energias renováveis marinhas não poderiam constituir um elemento estratégico de desenvolvimento sustentável da região? A este propósito, relembro que a CCDR-Norte anunciou, em Novembro do ano passado, que as energias renováveis marinhas, incluindo a energia eólica offshore, seriam uma aposta futura para o próximo programa operacional regional do Norte.  Não seria de avançar numa estratégia semelhante no que à região do Algarve diz respeito?

Passos nesse sentido já foram dados pela Universidade do Algarve: em Junho de 2017, investigadores desta instituição instalaram, num projecto pioneiro a nível nacional, um dispositivo de extracção de energia das correntes de maré, nas proximidades da barra de Faro-Olhão, com o intuito de estimar a capacidade de produção de energia à escala comercial. Aliás, é de sublinhar o papel decisivo que deve ter a Universidade do Algarve na condução científica de uma linha estratégica e inovadora que tenha em vista promover os vastos recursos que o mar tem para nos oferecer.

Que futuro queremos nós, afinal, para o Algarve no pós-pandemia? Não é uma questão fácil, mas o caminho deverá ser sempre o da diversificação… E o mar poderá ser uma das respostas.
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Notas de uma quarentena improvável (29)

26/4/2020

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Os olhos com que vemos o mundo

Por Anabela Afonso

Por esta altura em vamos ser inundados com previsões, mais ou menos catastrofistas, sobre o que está por vir. Seremos confrontados com toda a série de números, dados, estatísticas, mapas, gráficos e quadros de tudo e mais alguma coisa. Na maior parte dos casos, informação que servirá para justificar porque estaremos a atravessar a maior crise das últimas décadas, e porque seremos todos chamados a fazer sacrifícios, e "apertar o cinto". Não nos iludamos, pode não ser para já, mas não tardará o dia em que mais uma vez retornará em todo o seu esplendor a famosa fórmula do "vamos fazer mais com menos". Mas será mesmo esse o caminho a seguir?

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​A propósito do que nos espera, pode ajudar tentar colocar o nosso contexto em perspectiva. Por mais dolorosa que seja toda esta experiência relacionada com o COVID'19, talvez não seja mau lembrar-nos que temos a sorte de passar por ela num dos locais mais privilegiados do planeta, já que o fazemos na pequena parte de países do mundo que tem condições de saúde, educação, alimentação e segurança, muito acima dos demais. Por mais que gostemos de dizer que não, a verdade é que não nos faltam recursos para fazer frente às mais diversas adversidades. Falta-nos talvez, pensar em novas soluções para os novos problemas que enfrentamos, em vez de os tentar resolver com as mesmas fórmulas de sempre.


A este propósito, vale a pena ver o filme "O menino que prendeu o vento". Baseado na história real de um jovem adolescente, William Kamkwamba, que com o seu engenho, conseguiu, no início dos anos 2000 salvar a sua aldeia da fome, ao encontrar uma solução para regar os campos que alimentavam a sua população. Esta história marca a estreia do ator Chiwetel Ejiofor, mais conhecido pelo seu papel em 12 Anos Escravo, na realização. Este é um filme que, para além de nos colocar em perspectiva o que são verdadeiramente as dificuldades porque possamos estar a atravessar, nos mostra também como por vezes as soluções vêm, precisamente, quando temos a capacidade de cortar com os padrões habituais e abrimos espaço àqueles que propõem novos caminhos, por mais absurdos que nos possam, por vezes, parecer.

.Para isso, também precisamos de ter a capacidade de perceber que a perspetiva que temos do mundo, está muitas vezes enviesada, contaminada até, por uma série de preconceitos e ideias préconcebidas sobre as realidades que estão mais distantes de nós, e sobre aqueles sobre quem tão pouco sabemos. Sobre isso, vale também sempre a pena revisitar a Ted Talk de Chimamanda Ngozi Adichie, "The Danger of a Single Story"

Ao ouvi-la, damos conta do ridículo com que muitas vezes nos colocamos por entendermos que, apesar de nos sabermos seres tão complexos em todas as nossas dimensões, podemos presumir que os "africanos", ou os "refugiados", ou seja, os outros, sejam eles quem forem, são seres a quem podemos retirar essa complexidade.

Entender o mundo, e portanto, entender também que lugar é o nosso, no mundo, também passa por reconhecermos que somos tantas vezes manipulados pela informação que nos chega, que serve ela própria, sempre, interesses que muitas vezes não são desvelados na passagem dessa informação. Vale, por isso, também perceber como os números, dados e estatísticas que tantas vezes nos são fornecidos para "percebermos" em que situação nos encontramos, podem ter tantos níveis de leitura e graus de sistematização que podem, literalmente, servir para dizer coisas complemente diferentes, conforme a fórmula com que nos são revelados. Neste caso, fica como sugestão esta outra Ted Talk com o sugestivo título "Let my dataset change your mindset", do especialista sueco em saúde pública, Hans Rosling (1948-2017), onde demonstra que os dados estatísticos que muitas vezes utilizamos para olhar para o mundo, escondem realidades muito diversas, impedindo-nos assim de ver o que é, verdadeiramente, a realidade com que temos que lidar.

Apurar a nossa capacidade crítica é um passo fundamental para garantirmos que, no final, #Vaificartudobem.

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Notas de uma quarentena improvável (28)

25/4/2020

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A liberdade que está nas pequenas coisas

Por Anabela Afonso

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Hoje não cantei a Grândola à janela, nem tive um cravo à lapela.

​Mas não me esqueci por um segundo, como não me esqueço nunca, do privilégio que é ser uma mulher livre.

Livre, até, de optar por não dizer nada que faça deste dia mais do que ele já é. O dia que me permitiu ser livre de estar aqui, só para dizer que sou livre de não querer dizer mais nada.

#Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (27)

24/4/2020

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Regresso ou recomeço?

Por Anabela Afonso

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​Ao aproximar-se o início do mês de maio, tudo parece apontar para que cheguem, finalmente, por toda a Europa, Portugal incluído, as primeiras medidas de aligeiramento das restrições a que todos fomos sujeitos nas últimas semanas, devido à pandemia do Coronavírus.

No caso de Portugal e se tudo correr como até aqui, podemos entrar nesse novo ciclo, sem nunca termos passado pelas experiências mais dramáticas que tiveram lugar em Itália ou Espanha. Resta-nos agora perceber o que significará esta nova fase.

Não deixa de ser estranho que, em praticamente todos os países, se fale no mês de maio para esta espécie de regresso a alguma normalidade, quando se percebe que a pandemia chegou em momentos diferentes a cada um deles e que, portanto, também nesse caso o levantamento das medidas de restrições deveria replicar esse desfasamento temporal.

Sendo apontado no caso de Portugal, como um dos motivos por termos tido tão boa capacidade de reação ao fenómeno, o facto de termos tido mais tempo para reagir, dado o vírus ter cá chegado com semanas de atraso em relação a outros países da Europa, deveria, este pequeno detalhe, levar a que tivéssemos particular atenção no levantamento dessas medidas. Vamos ver se não deitamos fora o menino com a água do banho, na ânsia de estarmos agora, também, na linha da frente, dos que regressam ao "normal", em particular por isto ir acontecer na altura em que se aproximam os dias de sol e de calor, que tornarão muito difícil resistir às praias, esplanadas, e às noites que convidam a que fiquemos na rua até mais tarde.

Por outro lado, todos sabemos que esta situação não será sustentável por muito mais tempo, e que é preciso devolver às pessoas a possibilidade de voltarem ao trabalho, e de poderem ganhar a sua vida, garantindo que conseguem por comida na mesa, todos os dias. Isto é o mínimo. Mas seria bom não deixar que esta necessidade, que todos reconhecemos ser imperiosa, nos impedisse de perceber que o que é preciso não é regressar à "normalidade", mas sim recomeçar, para que se possa construir qualquer coisa nova.


Muitos empregos se vão perder, e muitas atividades dificilmente conseguirão regressar com a vitalidade que se lhe conhecia. Mas por mais dramático que isso possa parecer no imediato, porque implica sofrimento concreto na vida de muitas pessoas, esperemos que isso represente uma verdadeira mudança de paradigma que venha a ter como resultado, um estilo de vida mais sustentável para todos. Até porque, seguramente, novas atividades e oportunidades surgirão, como sempre acontece com as mudanças, por mais dramáticas que sejam.


Neste caso, o Algarve será um exemplo a ter em conta, na forma como irá ultrapassar os próximos meses e anos. Não há ninguém que não reconheça que a excessiva dependência que a região tem do Turismo, apesar desta ser a atividade que, nas últimas décadas,  tem garantido o sustento para uma enorme fatia da população residente no Algarve, é também a sua principal debilidade, como agora se veio a comprovar com a situação do COVID'19, que nos obrigará a ter que repensar como iremos sobreviver se nos próximos tempos ao ficarmos sem a receita que habitualmente tem origem naqueles que todos os anos nos visitam, dormem nos nossos hotéis, comem nos nossos restaurantes e consomem nos nossos estabelecimentos comerciais.


​Não será fácil é certo, mas pode ser a oportunidade de finalmente se fazer a transformação de que há tantos anos tanta gente fala.

Tem sido muitas vezes referido como, em alguns aspetos, esta pandemia terá efeitos semelhantes aos da devastação das duas grandes guerras, na sociedade europeia. E isto leva-me a um exemplo de mudança, pela qual se vinha a lutar antes desses dois momentos traumáticos, mas cuja evolução acabou por se dar de modo mais acelerado, precisamente por causa desses dois momentos trágicos da história europeia. Falo da presença da mulher no mercado de trabalho, e por consequência, a consolidação da sua trajetória de emancipação.

Não tivessem sido esses dois momentos em que os homens foram arrastados para as frentes de batalha e terem sido as mulheres a ter que assegurar os postos de trabalho que antes eram quase exclusivamente ocupados por eles, e provavelmente teríamos levado bastante mais tempo a perceber que o lugar das mulheres não era exclusivamente a cozinha e as lides domésticas e familiares.

Este será o momento para, mais do que estarmos preocupados em regressar à normalidade, nos dedicarmos a pensar um novo recomeço, a partir do que percebemos que, afinal, as coisas não estava a funcionar assim tão bem, a não ser para muito poucos. 

Por mais que nos custe a mudança que aí vem, no final #Vaificartudobem.

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O que têm em comum a Covid-19 e o Terramoto de Lisboa de 1755?

24/4/2020

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Por Andreia Fidalgo

Bem sei que me arrisco a que a pergunta que dá mote à minha reflexão de hoje possa, aparentemente, parecer um verdadeiro desconchavo. Afinal de contas, o que podemos nós encontrar em comum entre o vírus que agora nos aflige e o terramoto que destruiu a capital portuguesa e também o Algarve a 1 de Novembro de 1755?


A resposta, porém, afigura-se-me muito evidente: une-os a filosofia!

Quer o surto pandémico que agora enfrentamos, quer o terramoto de 1755 constituem eventos extremos e catastróficos desencadeados pela Natureza que, ao colocarem em causa a aparente ordem natural do mundo, inspiram reflexões mais profundas sobre a fragilidade da condição humana e a sobre a forma de lidar com as adversidades.

A Covid-19 causou uma onda global e popular de optimismo associada ao movimento #VaiFicarTudoBem, que se desenrola nas mais diversas frentes da sociedade. Se por um lado encontramos as crianças a desenhar arco-íris em cartolinas e lençóis para embandeirar as janelas das suas habitações, motivadas pelos pais deliciados com tais proezas infantis, por outro lado assistimos a muita gente reputada na praça pública a embarcar na mesma onda optimista, que não raras vezes tem dado azo a entrevistas, a artigos de opinião e afins que se parecem ter desvinculado totalmente da realidade e são alheios a qualquer reflexão mais crítica e profunda sobre as consequências futuras desta crise.

No reverso da medalha – e numa aparente concepção maniqueísta do mundo – encontram-se aqueles que, sendo críticos do movimento #VaiFicarTudoBem, por contraste se situam exactamente no extremo oposto: além de tecerem críticas à ingenuidade dos eternos optimistas, apresentam cenários de tal modo fatalistas e distópicos que se tornam absolutamente paralisadores e inoperantes.

Esta problemática já tem sido, inclusivamente, abordada por outros autores aqui, no Lugar ao Sul. Recentemente, a Anabela Afonso relembrou que o optimismo não implica ignorar as dificuldades, e que pode inclusivamente constituir uma importante força catalisadora do trabalho que terá de ser empreendido para superarmos a crise.

Por outro lado, também o Gonçalo Duarte Gomes já tem por diversas vezes alertado para o perigo do “psicadelismo do #vaificartudobem e o niilismo do #vaitudocorrermal”, e apelado à necessidade de se encarar a situação actual e o futuro com realismo, sendo que se impõe encontrar um meio termo mais pragmático que pode ser até simultaneamente optimista e pessimista.

Com o devido distanciamento histórico, esta discussão actual faz em tudo lembrar as discussões filosóficas originadas por ocasião do Terramoto de 1 de Novembro de 1755.

Ora, como sabemos, na manhã desse fatídico Dia-de-Todos-os-Santos, a terra tremeu durante vários minutos, deixando um rastro imenso de destruição na cidade de Lisboa. Mas não só! Também o Algarve seria amplamente afectado, quer no sotavento, mas sobretudo no barlavento, uma vez que o epicentro do terramoto se localizou alguns quilómetros ao largo de Sagres. Foi, porém, em Lisboa que a destruição foi mais massiva. O terramoto fez ruir uma parte substancial das edificações da capital portuguesa, causando milhares de mortos. Os que fugiram, aterrorizados, dos edifícios que ruíam para a beira do Tejo, foram depois apanhados no tsunami que se seguiu. Findo o tsunami, vieram os incêndios, que conduziram parte da capital à devastação total. 
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Lisboa em ruínas após o terramoto de 1755 [gravura disponível online na BNP Digital]

Cenário absolutamente tenebroso e catastrófico, que constitui um dos episódios mais marcantes da História de Portugal. Foi o terramoto que deu força política ao Marquês de Pombal e fê-lo ascender como o estadista de força do reinado de D. José. Pombal conseguiu, efectivamente, reerguer a capital dos escombros, elaborando todo um plano de reconstrução da baixa lisboeta pautado pelo racionalismo das “Luzes”.

A catástrofe causada Terramoto de Lisboa de 1755 teve, no entanto, repercussões muitos mais amplas do que a escala nacional. Por toda a Europa circularam relatos, notícias e gravuras da destruição da cidade portuguesa, suscitando várias reflexões filosóficas nos mais ilustrados pensadores da época. As mais célebres encontraram expressão pela pena do filósofo Voltaire: em 1756 publica o Poema sobre o desastre de Lisboa, e em 1759 publica Cândido, ou o Optimismo.

Em ambas as obras, as principais críticas de Voltaire recaíam sobre o optimismo, conceito que requer algum enquadramento à época, na medida em que estava sobretudo vinculado à metafísica de Leibniz e à sua Teodiceia. A teodiceia foi um conceito cunhado em 1710 para tentar conciliar a ideia do “mal” com a ideia de um Deus infinitamente bondoso. Significa, no sentido literal, “justiça de Deus” e procurava, no âmago, responder à seguinte questão: “Se Deus é bom, então por que permite que exista o mal no mundo?”.

Numa visão totalizadora e universal, Leibniz concluiria sendo o mundo criado por Deus e, logo, perfeito e harmonioso, seria possível conciliar nele o máximo de bem e o mínimo de mal. O mundo é, portanto, “o melhor de todos os mundos possíveis”, máxima que resume a filosofia do optimismo de Leibniz, pois neste mundo prevalecia acima de tudo o bem.

Em suma, tudo vai bem, no melhor dos mundos possíveis! Eis o optimismo vigente na primeira metade do Século das Luzes, que em tudo nos faz lembrar os dias que correm.

Voltaire iria opor-se veementemente ao optimismo de Leibniz. Afastando-se da visão universal do filósofo alemão, Voltaire concentra-se em exemplos concretos para mostrar que nem tudo vai bem. O terramoto de Lisboa de 1755 seria precisamente um dos maiores exemplos com o qual Voltaire intentaria desmontar a metafísica de Leibniz, quando escreve o Poema sobre o desastre de Lisboa, onde questiona como é que no mais bem ordenado dos universos possíveis existe uma tão grande desordem e tamanha infelicidade, que arrasta consigo inocentes e culpados? Ainda por cima – e ironicamente –, uma tragédia ocorrida num dia de celebração da fé e de devoção, como o era o Dia-de-Todos-os-Santos.

Mas é sobretudo em Cândido, e ainda sob a influência do terramoto, que a crítica de Voltaire se agudiza. Nesta obra satírica, Voltaire narra a história do personagem homónimo, que é sempre acompanhado e exposto aos ensinamentos do seu mestre, Pangloss, o qual que simboliza a vulgarização do pensamento de Leibniz na máxima acima enunciada de que tudo vai bem, no melhor dos mundos possíveis. Sempre sob essa máxima, ao longo da narrativa Cândido é sujeito às maiores adversidades e dificuldades: é expulso do local onde mora, é preso, torturado, perde a sua amada e os seus amigos, e todas estas situações ocorrem com os maiores requintes de crueldade.

A obra serve, pois, para colocar o optimismo e a ideia de que este mundo era o melhor dos mundos em confronto com a desgraça, que aparece aí hiperbolizada, mas que leva o protagonista a questionar os ensinamentos do seu mestre: talvez o mundo não seja, afinal, o melhor dos mundos!

Mas, à medida que Cândido vai sofrendo uma sucessão picaresca de dissabores, existe uma outra ideia que vai surgindo ao longo da obra e que se exprime na sua última linha: é preciso cultivar o nosso jardim. Isto é, o mundo é uma mistura entre o bem e o mal e pode não ser o melhor possível, mas pode ser tornado melhor. É possível ao homem manter-se no bom caminho se for devidamente esclarecido pelas luzes da razão e se tiver consciência do seu papel no mundo. Fosse Cândido mais consciente da existência do mal e das imperfeições do mundo, e ter-se-ia certamente poupado de passar por tantos desgostos!

Apesar da crítica aguçada, Voltaire não assume uma posição diametralmente oposta ao optimismo, que se espelharia no pessimismo. O que ele critica, acima de tudo, é a ideia de predestinação que aparece associada ao optimismo leibniziano, que isenta o homem de qualquer papel activo na construção de um mundo melhor, pois pressupunha-se que este mundo harmonioso e ordenado era criação divina e já era o melhor dos mundos, ainda que nele também existisse o mal e a tragédia.

Para Voltaire, o optimismo nos moldes em que era desenhado espelhava uma visão pueril, ingénua e meramente contemplativa do mundo que era muito prejudicial à ideia de progresso. E o progresso era uma das principais bandeiras do Iluminismo, sendo que para existir progresso é necessário que haja esclarecimento e pragmatismo.

Ora, quer-me parecer que é possível transportar para a actualidade esta discussão filosófica setecentista. Isto porque, salvo algumas excepções, a onda do #VaiFicarTudoBem quase parece uma adaptação para a actualidade do optimismo leibniziano e da ideia de que os eventos seguem o seu rumo “natural”, não havendo muito que possamos fazer para os contrariar. É uma noção absolutamente inoperante e imobilizadora! Desenharmos arco-íris e repetirmos vezes sem conta que “Vai ficar tudo bem”, enquanto à nossa volta o mundo se desmorona, será mesmo a melhor forma de encarar a situação que temos de enfrentar?

O que mais me deixa perplexa nesta onda actual de optimismo não é o optimismo em si, pois acredito que uma boa dose de optimismo faz mais pela motivação do que o inverso. O que me deixa perplexa é quando esse optimismo se transmuta num recalcamento dos problemas e numa total ausência de espírito crítico relativamente ao futuro difícil que temos de enfrentar. Não quero com isto dizer que seja necessário resvalar para o campo oposto do pessimismo, igualmente pernicioso, mas sim que neste cenário generalizado de optimismo pueril, introduzir uma boa dose de realismo e pragmatismo voltairianos não faz se não bem.
​
Isto é, não creio que devemos aceitar, passivamente, que as coisas são como são e que tudo vai ficar bem no melhor dos mundos possíveis. Ao invés, talvez possamos relembrar que nem sempre tudo fica bem e que o mundo nem sempre é o melhor dos mundos, mas que este mundo pode ser transformado num mundo melhor. E é nesse sentido que temos de trabalhar: conscientes do presente, com um olhar mais amplo voltado para o futuro e contribuindo activamente para transformar o mundo em que vivemos.
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Notas de uma quarentena improvável (26)

23/4/2020

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Os livros que, afinal, não li

Por Anabela Afonso

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Hoje é o dia mundial do livro e são várias as entidades do setor a assinalar a data com as mais diversas medidas, conforme se pode ver neste apanhado que o Público faz, no artigo Para um dia mundial do livro (bem) passado em casa.

Já eu, só consigo pensar em todos os livros que, afinal, não li, durante estes já mais de 30 dias que levo por casa. Afinal, não há assim tanto tempo para leituras, em quarentena. E eu a pensar que ia por as leituras em dia.

Ainda assim, quero deixar como sugestão, um autor que descobri há relativamente pouco tempo (há coisa de 4 ou 5 anos), e que recomendo. Falo de J. Rentes de Carvalho, escritor português há muitos anos radicado em Amsterdão.

Comecei com Ernestina, primeiro, e depois O Meças. E descobri, através destes livros, um Portugal do norte profundo, dos tempos em que tudo em Portugal era cinzento e a vida doía nos corpos e nas almas. E era sempre mais dura para as mulheres, a vida desse Portugal.

A ver se consigo, ainda, voltar aos livros, nestes dias por casa.

Boas leituras e continuem a acreditar que #Vaificartudobem.

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Dia da Terra é coisa de “drógádos” e o Algarve é um fiel de armazém

23/4/2020

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Por Gonçalo Duarte Gomes

Ontem, dia 22 de Abril, comemorou-se o 50º Dia da Terra.

​Esta efeméride compete com o livro “Primavera Silenciosa”, de Rachel Carson, editado em 1962, pelo título honorário de data de lançamento do movimento ambientalista moderno, e teve o seu início com uma das maiores acções políticas na história dos Estados Unidos da América, com focos por todo o país.
A instituição desta data em 1970 resgatou o despertar de uma consciência ecológica alargada de uma frequente, injusta e redutora associação aos emergentes e muito turbinados movimentos New Age, com os seus arco-íris (a haver na altura uma hashtag, seria talvez #vaificartudopedrado), passando a integrá-la na agenda política “dos crescidos” e da “gente séria”.

Passado meio século, o Mundo inteiro honra e comemora o Dia da Terra com uma redução significativa nos seus vectores de degradação ambiental. Não por opção ou tomada de consciência mas por ter sido obrigado.

E se hoje continuássemos a comemorar o Dia da Terra, mudando algo?
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Notas de uma quarentena improvável (25)

22/4/2020

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O problema do isolamento físico

Por Anabela Afonso

A expressão "isolamento" ou "confinamento social", entrou de vez no nosso vocabulário quotidiano, mas não será, provavelmente, em muitos casos, a expressão mais acertada para descrevermos aquilo que se está a passar com muitos cidadãos por todo o mundo, onde as medidas mais extremas de combate à pandemia, se estão a aplicar.

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Na realidade, a interação social, em muitos casos até poderá estar a aumentar. Com certeza muitos casos haverá em que esta situação levará pessoas a reatar contactos há algum tempo adormecidos, a falar mais regularmente com amigos, vizinhos ou familiares, ou até, a fazer novos contactos, por via das plataformas digitais, por força de interesses comuns que entretanto se descobrem, nestes tempos que, apesar de tudo, acabam por permitir explorar novos caminhos.

Mas não é assim para todos, e mesmo quando esse contacto social à distância se mantém, ou até se intensifica, é o distanciamento físico que acaba por custar mais a suportar. Lá está, nada substitui a sensação de se estender a mão e tocar naqueles de quem gostamos. Por mais horas que passemos ao telefone ou em video chamadas, o calor e o cheiro dos outros não tem ainda substituto à altura. E esta é apenas a desvantagem mais sentimental, ou emocional desta situação.


​O isolamento físico traz consigo desvantagens mais complicadas de gerir, identificar e resolver, que é preciso ter em atenção. E são situações que afetam, sobretudo os mais fragilizados, como os idosos que vivem sozinhos, e ficam sujeitos aos burlões, e aos amigos do alheio que se aproveitam desta situação, sabendo que agora estão mesmo sozinhos em casa; ou como aqueles que enfrentam situações de alguma fragilidade emocional ou mental, como as pessoas com predisposição para as depressões, para as adições, ou com distúrbios mentais, que precisam de uma estabilidade emocional que nestes dias deve ser difícil de manter.


​Porque pode ser difícil aos serviços competentes identificarem todas esta situações e a todas acorrerem, é importante que cada um de nós continue a olhar para a casa do vizinho, mesmo aquele com quem nunca antes falámos, mas que sabemos que vive sozinho na casa do fundo da rua, ou no cimo do monte. Estar atentos, mais do que nunca, aos que provavelmente nunca antes reparámos que estavam ali tão perto.

Fazer a nossa parte, para que continuemos a poder dizer que #Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (24)

21/4/2020

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Um desafio para a quarentena

Por Anabela Afonso

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​Hoje quero aproveitar a oportunidade para fazer chegar, também aos leitores do Lugar ao Sul, o desafio que hoje foi lançado pelo Programa Cultural 365 Algarve, nas suas redes sociais. Falo do #365AlgarveChallenge, que se estreou com este vídeo feito pela equipa do projeto Lavrar o Mar.


​Conforme se explica no texto que enquadra este primeiro vídeo, «Dada a situação de pandemia que atravessamos e que nos afastou do ato social que é nos juntarmos para assistir ao trabalho dos artistas ao vivo, mas não nos impede de perceber como, mesmo confinados aos espaços das nossas casas, a cultura continua a ter uma dimensão fundamental nas nossas vidas. É nessa premissa que assenta o #365AlgarveChallenge, que hoje lançamos, desafiando todos os que direta ou indiretamente têm estado envolvidos nesta edição do #365Algarve, a fazer uma sugestão cultural para estes dias de cofinamento, ou a falar de uma experiência cultural que tenha sido transformadora para alguém, em algum sentido. Os primeiros a responder foram a equipa do Lavrar o Mar, que nos deixa aqui excelentes sugestões de propostas culturais para esta quarentena. Quem quiser aderir a este desafio, é só gravar um pequeno vídeo com uma breve sugestão ou testemunho (com um máximo de 2 minutos), e enviar-nos para o email 365algarve@turismodoalgarve.pt, fazendo referência ao #365AlgarveChallenge. Se quiserem, no final, desafiem alguém que conheçam para fazer o mesmo. Vamos fazer este desafio correr o mundo!»


​Fica, assim, também lançado o desafio aos leitores deste Lugar ao Sul que também acham que a arte é uma imprescindível companheira nos momentos difíceis, para enviarem o seu vídeo para a equipa do 365 Algarve. Para os mais tímidos, um simples comentário na página de Facebook do Lugar ao Sul também serve.

Falem do livro que mais vos comoveu, da música que vos faz recuar no tempo, do espetáculo que jamais esquecerão ou do filme que veem sempre como se fosse a primeira vez, e expliquem-nos porque sem esses momentos, a vossa vida não faria o mesmo sentido.

Vou ficar à espera, sempre a acreditar que #Vaificartudobem

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Nota de uma quarentena improvável (23)

20/4/2020

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Poesia erótica roubada

Por Anabela Afonso

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​Hoje fui de tudo um pouco.
Sobretudo mãe, é certo, mas derramando-me daí para outros eus:
​
Teletrabalhadora e telefonista
Teletrabalhadora e mulher de limpeza
Teletrabalhadora e conselheira
Teletrabalhadora e engomadeira
Teletrabalhadora e amiga
Teletrabalhador e cozinheira
Teletrabalhadora e assistente de estudo da telescola portuguesa
Teletrabalhadora e técnica de apoio às novas plataformas informáticas de ensino
Teletrabalhadora e engomadeira
Teletrabalhadora e mulher

Hoje, fui de tudo um pouco
Só não fui poeta
E amante já agora
que é coisa que fica bem a uma mulher completa.

Por que hoje, a minha casa foi lar, escola, cantina, trabalho, e ainda conseguiu ser o refúgio de sempre
Como consigo?
Como vamos conseguir?
Não sei
Mas sei que só não fui poeta
e amante
E por isso me torno ladra de uma poeta
e amante
que põe em palavras certas
essa outra mulher que somos
mas sobre a qual nunca escrevemos.


IMPREVISTO
Que surpresa
a dos dedos
quando percorrem o corpo

ou espalham os cabelos
pelas costas despidas

Em breve será o ventre
e em seguida

as pernas lentas
mansamente erguidas

O VENTRE
Repositório do corpo
e taça dos seus líquidos
é o ventre o repouso sobre a cama

Mas é também o acto
e o motivo
ternura lenta que a língua planeia

É a chama do corpo 
é o susto   é aquilo
é tudo o que inventar se possa na vontade

Tão depressa mármore
como vidro
tão depressa mar como ansiedade

BEBER-TE
Bebo-te a boca
com o seu manso sabor
a tangerina

​Gulosamente
a comer o mel
no favo da abelha
​

Maria Teresa Horta, In As Palavras do Corpo, Antologia de Poesia Erótica

Que esta minha ousadia sirva para haver mais gente a ler a poesia erótica escrita pelas poetas portuguesas. E ler a poesia erótica de Maria Teresa Horta é um excelente começo.

#Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (22)

19/4/2020

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Notas para a superação quotidiana

Por Anabela Afonso

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​Diz-se que para introduzirmos um qualquer hábito nas nossas rotinas, são necessários 21 dias de prática dessa ação, sem interrupção, para que o cérebro a interiorize como tal. Ontem foi o dia da minha 21.ª nota desta improvável quarentena. Quando me lancei a este desafio, mais a mim própria do que a quem quer que as leia, não fazia ideia se isto seria coisa para durar duas semanas, um mês, ou mais, e sabia que não ia ser fácil confrontar-me diariamente com a procura de assunto que merecesse o ato de partilha, do que me vai pela cabeça, com terceiros.


Pois bem, os 21 dias passaram, e hoje foi tão difícil como ontem e anteontem, encontrar o mote e o tom desta partilha. Não sei, aliás, se o encontrei, apesar de, ainda assim, o estar a fazer e suspeito que a dificuldade não será menor amanhã.

Bastou fazer uma breve pesquisa sobre essa ideia dos 21 dias para construir um hábito, para perceber que é mais um dos muitos mitos em que nos dá jeito acreditar, para nos convencermos a nós mesmos que conseguimos fazer alguma coisa, quando precisamos (ou queremos muito) fazê-la. Este artigo da Forbes explica porque é, afinal, essa ideia, um mito. 


Resumindo, a solução é jogar mãos à obra e fazer, mesmo com todas as dúvidas, mesmo quando nem sempre nos parece fazer sentido, ou mesmo quando o desânimo liberta aquela pequena voz que sempre nos acompanha quando as energias não são as melhores, e que nos segreda ao ouvido: "vá, se não o fizeres hoje, ninguém repara, é só uma vez. Amanhã é outro dia." Esta voz, que muitos de nós conhecemos tão bem, é apresentada no artigo da Forbes como o "monstro do desencorajamento" e é um dos três aspetos que podem conduzir à interrupção de um determinado hábito, mesmo quando ele se possa estar a tornar parte daquilo a que se pode chamar a nossa segunda natureza. Os outros dois aspetos que podem levar-nos a quebrar a prática regular são as disrupções - umas férias, ficar doente, ou uma viagem - e a sedução do sucesso - quando começa a correr tão bem que começamos a pensar que afinal a coisa se faz sem grande esforço da nossa parte, e começamos a baixar a guarda.


​Afinal parece que o único segredo para a criação de um hábito é tão simplesmente a preserverança. Não desistir. Mesmo que no final fiquemos com aquela sensação de que poderíamos ter feito melhor, o que provavelmente será verdade. Mas será verdade, precisamente, porque naquele dia não desistimos e demos, assim, mais um passo, para fazer do dia seguinte, um dia melhor que o anterior.

Bom domingo!
​
https://www.youtube.com/watch?v=9z3jCiCrsx0

https://www.youtube.com/watch?v=dWIs89Pub0w
​

https://www.youtube.com/watch?v=je0lFe0MHjU
#Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (21)

18/4/2020

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O otimismo é preciso, sim!

Por Anabela Afonso

Começa a circular a partilha de textos de pessoas indignadas com aqueles que estão a fazer o exercício de passar por tudo isto com um espírito otimista, fazendo o esforço para, entre as dificuldades por que todos passamos, conseguir encontrar alguma beleza e esperança nas pequenas coisas que nos vai trazendo o quotidiano. Quem tem seguido estas minhas notas da deve já ter percebido que sou das que faz parte desse grupo de "otimistas irritantes".

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O Espanto (a)Anabela Afonso


​Argumentam esses críticos do otimismo que a situação é tão grave que não há como sair bem de tudo isto, e que não devemos romantizar a pandemia, porque ela só traz tragédia, e a tragédia não deixa lugar à beleza.  Que é um absurdo andar por aí a dizer aos sete ventos que vai ficar tudo bem.

Vou ter que discordar. O otimismo é um ato de coragem, e é sempre preciso, mesmo quando a tragédia nos bate à porta. E é preciso não esquecer, que a tragédia e a morte não tiram dias de folga. Há até lugares no mundo onde elas batem à porta mais vezes, e às vezes insistem em bater na mesma porta com alguma insistência (e sei que já devo ter dito algo parecido numa outra nota qualquer). 

Basta-nos andar para trás 3 ou 4 meses e provavelmente muitos destes críticos do otimismo eram, eles próprios, pessoas cheias de esperança no mundo que se avizinhava. Portugal estava na moda, os números da economia não andavam mal, e aguardávamos todos mais um verão cheio de atividade a quebrar contínuos recordes de turismo e consumo.  Mas mesmo nessa altura sem pandemia, tragédias e morte não faltavam noutros pontos do mundo, Não faltavam sequer em Portugal e, no entanto, Portugal era um país cheio de gente otimista.


​Significa isto que o otimismo implica ignorar as dificuldades ou virar a cara aos problemas? Não, muito pelo contrário, essa energia positiva será um aliado importantíssimo para esse trabalho, sobretudo quando começarmos a reerguer-nos de tudo isto.


Esta semana assisti a um dos debates online que a Acesso Cultura está a promover dedicados ao tema "Em que pensas? Reflexões sobre o futuro da participação cultural." Neste caso, era o jovem maestro Martim Sousa Tavares a partilhar a sua visão sobre o tema, e a dada altura referia precisamente esta questão. Referia ele, que também era dos que acreditava na máxima do Vai ficar tudo bem, e que isso não era o mesmo que dizer que íamos todos ficar bem. É óbvio que não, como é óbvio que uns serão mais afetados que outros, e que uns terão mais condições (das mais variadas ordens) para conseguir recuperar, do que outros. Mas o otimismo será fundamental, tal como fundamental será a capacidade dos mais afortunados saberem olhar para o lado, e estender a mão, sempre que necessário, àqueles a quem a tragédia lhes calhe a bater à porta.


​O otimismo será, com certeza, uma melhor forma de trazer a luz suficiente aos muitos problemas que temos pela frente, evitando que andemos demasiado tempo a tropeçar na escuridão das muitas tragédias que vamos viver.


​Por estes dias, tenho andado a ler o livro de José Tolentido Mendonça, Uma beleza que nos pertence, do qual já ontem aqui deixei um pequeno registo, e ao qual hoje vou regressar com um novo apontamento, desta vez dedicada à Perda:

«Temos de aprender a cuidar da dor e a minorá-la, mas não só com comprimidos: também com o coração, com a presença, com os gestos silenciosos, o respeito, com uma expectativa de coragem. Os doentes não estão à procura de indulgência.
[...]
Bem-aventurados aqueles que vivem uma história e a podem contar. Bem-aventurados os que colocam as flores na jarra e depois param extasiados. O pior que nos podia acontecer é ter uma vida em que vamos fazendo coisas, que até são boas e necessárias, mas onde se perdeu a capacidade do espanto, da contemplação, da delícia.»


​E insisto, é preciso ter coragem para continuar a acreditar que #Vaificartudobem

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Nem COVID-19, nem políticas, nem missais. Alterações Climáticas no Algarve tratam-se com festivais.

17/4/2020

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Por Gonçalo Duarte Gomes

Os vírus são uma bicheza estranha. Em boa verdade, não são sequer uma bicheza. Uma coisa, vá.

A estranheza vai ao ponto de os transformar nos verdadeiros gatos de Schrödinger, alegremente vogando num limbo entre aquilo que convencionamos como vida e morte (peçam a alguém capacitado para o explicar, afinal de contas isto é só um escrito que provavelmente apareceu numa rede social!). E é curioso pensar que esta capacidade quase esotérica é alcançada com um genoma muito simples, linear.

Nestes tempos de pandemia, não deixa portanto de ser interessante ver como parte da humanidade, do alto da complexidade helicoidal, pensante (alegadamente até racional) e tecnologicamente poderosa do seu ADN, deposita tantas esperanças de mudança do Mundo precisamente no cagagésimo que é um vírus.

Não tenho ideia que do quadro sintomático da COVID-19 e das suas sequelas constem as artes mágicas. Assim sendo, não vislumbro que apenas por pensamento positivo consigamos, no pós-pandemia, confrontados com todos os restantes problemas – novos e velhos – com que teremos que lidar, fazer com que sejam os ursinhos carinhosos e os unicórnios a dominar, pastando placidamente num global campo de felicidade e humanismo.

Fiem-se no vírus e não corram...

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Revista Time - capa da edição de Junho de 2019, com António Guterres

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Notas de uma quarentena improvável (20)

17/4/2020

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Mais uma despedida

Por Anabela Afonso

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A Espera. (c) Anabela Afonso

Hoje, o dia é marcado por mais uma despedida no mundo das artes, desta vez mais próxima de nós. Filipe Duarte, um dos mais talentosos atores portugueses da sua geração, parte aos 46 anos, após um enfarte de miocárdio. Tornou-se conhecido do grande público enquanto Dr. Valença na grande produção Equador, inspirada no livro com o mesmo nome, de Miguel Sousa Tavares. Mais recentemente, participou no filme Variações. 


​Esta sequência de despedidas faz-nos perceber como é fugaz esta nossa presença, e como nos prendemos, tantas vezes, a coisas que não merecem a nossa atenção. 

«Não temos tempo a perder. E, contudo, precisaríamos talvez de dizer a nós próprios e uns aos outros que esperar não é necessariamente uma perda de tempo. Muitas vezes é o contrário.
José Tolentino Mendonça, In Uma beleza que nos pertence.
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Notas de uma quarentena improvável (19)

16/4/2020

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Um escritor nunca morre

Por Anabela Afonso

Hoje o dia acordou para a notícia da morte do escritor Luís Sepúlveda que, por coincidência, terá tido a sua última participação num ato público precisamente em Portugal, na edição deste ano do Festival Correntes d'Escrita.
Por isso, hoje, este espaço, dará lugar à sua escrita, partilhando um texto publicado no livro Uma História Suja (2004), que resultou de uma seleção dos muitos textos que regularmente escrevia nos seus cadernos. O texto que escolhi é o que tem por título Acerca da Luz.

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Por AmonSûl - Dal vivo, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=656737


​Acerca da Luz

Nas ruínas da cidade maia de Chichén-Itzá erguem-se várias pirâmides orientadas de acordo com a deslocação solar, e todas elas têm esculpida uma serpente que desce da cúspide até à base da construção. Pelo lombo da serpente deslizou a Luz durante centenas de anos, e quando esta tocava no solo os Maias davam então por iniciado o dia. Todo o seu labor estava determinado pelo momento exacto em que a Luz e a terra se uniam fugazmente. Esse minúsculo momento de união entre o indiscutível, o inacessível, o incorpóreo, a Luz, e o mundo, era para eles a única eternidade possível, e assim o afirma o Popol-Vuh, o livro sagrado dos Maias: «A Luz desce pelas costas da serpente, deixa para trás o feito, já em sombras, e ao incendiar-lhe as fauces indica-nos o que faremos. Assim será até ao fim do tempo, que é o fim da Luz.»
Na Austrália, parei um dia para contemplar as estranhas figuras estáticas de dois aborígenes. Era a hora do crepúsculo e eles olhavam o horizonte mas o sol punha-se por detrás deles. Os corpos imóveis, uma perna levantada, com a planta do pé apoiada no joelho da outra, a que sustinha todo o corpo e os unia à terra argilosa. A cabeça altiva parecia ser o centro do equilíbrio, as mãos agarradas à longa lança e os olhos fixos num ponto indefinível do horizonte. De repente vi-os mergulhar num profundo sono, um primeiro, depois o outro, sem mudar de posição e sem mover um músculo. Dias mais tarde soube que no fim do dia cada aborígene escolhe um ponto incerto do horizonte e espera que a luz solar projecte a sua sombra até ele. Por essa razão param de costas para o poente, ignoram a singular beleza do ocaso australiano e esperam que sua longa sombra toque o pormenor da paisagem sobre o qual centram a sua atenção. Quando isso acontece, quando a sombra o cobre, é porque escureceu o universo, a Luz se cansou de nomear tudo o que existe, porque, garantem os aborígenes, a Luz convida a dar um nome ao que se vê e a soma dos nomes é a canção da Luz.
O Inverno passado, em Turim, assisti como convidado a um espectáculo de Luz e luminotecnia. Vários artistas italianos e de outras nacionalidades tinham iluminado as belas praças turinenses com os mais imaginativos jogos de luz e sombra. Junto do presidente da câmara, esperava pelo momento em que, da central de comandos, accionariam o prodígio, a força eléctrica correria pelas veias de arame e, como nos evangelhos, «far-se-ia Luz». Chegou o momento. Numa praça, a Luz desenhava arabescos sobre o empedrado, noutra, a Luz escrevia versos de Dante, Leopardi e outros grandes poetas, noutra ainda, a Luz criava realidades hologrâmicas, fontes, cascatas, blocos de gelo navegando num mar de ar. As pessoas aplaudiam, manifestavam a sua admiração e agrado, mas de repente algumas crianças irromperam sob os focos e reflectores para brincar com a Luz e, aí sim, o espectáculo teve por fim a esperada magnificência. Essas crianças, que abriam os braços e com os olhos fechados se banhavam de arabescos, versos e água virtual, outorgavam à arte luminotécnica a ingenuidade natural da Luz, porque a Luz é lúdica e ingénua. Não há espaço para o Mal sob o seu império.
No Japão conheci alguns idosos sobreviventes de Hiroshima. Eram todos cegos e quis saber se se lembravam do instante exacto em que rebentou a bomba, quando se consumou um massacre desnecessário para castigar a população civil de um país vencido. Um deles recitou qualquer coisa e mais tarde soube que eram uns versos de Kenzaburo Oe: «Alguns dizem que vimos uma grande Luz / Mas é mentira / Vimos a morte da Luz.»
No deserto de Atacama, muito perto do Valle de la Luna, erguem-se uns promontórios que de longe parecem menires, mas não são construções fruto do génio humano. Trata-se de restos tão antigos como o mundo, de vestígios erguidos como dedos indicadores que pedem a palavra para dizer algo de enorme transcendência. Pela manhã são pretos, quando o sol está no zénite adquirem um tom acobreado e, ao entardecer, com o sol, o velho deus Inti mergulhando no Pacífico, espalham uma luminosidade multicor, palpitante e violenta a princípio e que depois se vai mitigando até à total obscuridade.
 É o discurso da Terra, dos milhares de diferentes minerais que se foram formando no decurso de milhões de anos, e lembra-nos que a vida é efémera, frágil, e que este planeta é de todos e não dos donos do dinheiro. Ouvi esse discurso e fi-lo meu, graças à Luz, que é a cor da Vida.


​Os escritores nunca morrem. Vivem nos muitos mundos que as suas palavras nos ajudaram a descobrir e nos tantos outros que ainda temos por desvendar. Tantos quantos todos os livros que nos faltam ler.

​Boa viagem e que a Luz te acompanhe.

#Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (18)

15/4/2020

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A overdose digital

Por Anabela Afonso

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O mundo visto da árvore


​Hoje, se pudesse, escrevia-vos uma carta. Regressaria ao exercício de deixar as palavras saírem do ondular do pulso sobre a caneta que, enquanto dançava, as deixaria ficar no papel, ganhando um significado outro, que não este, que sai hoje dos dedos que teclam nos botões.


​São muitas horas frente a um ecrã com os problemas na ponta dos dedos. São muitos dias em que os outros só nos chegam digitalmente.


​Hoje, se pudesse, escrevia-vos uma carta, porque hoje só anseio pelo dia em que o digital volte a ser apenas uma alternativa possível, não o modo único de nos encontrarmos.


​Até lá, tenho a sorte de, pelo menos, abraçar os meus filhos, e as árvores do meu bonito "quintal". O que já é muito!


​Há-de chegar o dia em que vamos, finalmente, poder fazer a desintoxicação desta verdadeira overdose digital. Até lá, é continuar a acreditar que #Vaificartudobem

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Notas de uma quarentena improvável (17)

14/4/2020

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Os novos velhos vizinhos

Por Anabela Afonso

Um exercício interessante que estes tempos nos vão permitir, é perceber a capacidade de previsão que especialistas, curiosos, ou adivinhos profissionais, vão ter para perceber que mundo nos espera, depois da pandemia. Não têm faltado teses e textos sobre o futuro, uns mais interessantes que outros, e também, uns mais otimistas que outros. Eu prefiro, como não podia deixar de ser, os otimistas, desde que, com a mínima colagem à realidade.
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​Um dos mais interessantes que li, é o que o historiador e investigador Yuval Noah Harari, autor dos best sellers Sapiens e Homo Deus, publicou no Financial Times, a 20 de março, com o título The world after coronavirus. De salientar, nesta sua análise, o alerta para as opções que teremos pela frente, em termos de cedências a fazer ao nível da salvaguarda da nossa privacidade e proteção da vida pessoal, face à tentação que os estados terão de, sob pretexto de nos proteger contra a propagação da doença, introduzirem níveis cada vez mais subtis e poderosos de vigilância dos seus cidadãos. Um "pormenor" ao qual convém estarmos muito atentos.


Ao nível da reflexão produzida pelos nossos académicos, o artigo que saiu ontem no Público, Pedimos desculpa pela interrupção: as (novas) cidades voltam dentro de momentos, levanta várias questões que merecem atenção, mas há uma em particular que me parece ser já bastante evidente: a forma como nos relacionamos com os nossos vizinhos. Ficarmos reduzidos ao nosso lar enquanto espaço único para o desempenho das várias dimensões das nossas vidas, leva-nos, inevitavelmente, a ter que lidar mais de perto (ainda que mantendo a distância social imposta) com os que vivem na porta ao lado. Citando o artigo:
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«O presente, sublinha Virgílio Borges Pereira, decorre já com uma maior “vinculação ao espaço de residência”, uma realidade que ia esmorecendo, apesar de, já antes da pandemia, alguns movimentos colocarem em causa os actuais modelos de progresso, pedindo novas cidades e outras formas de vivência. “Ao confinar as pessoas ao espaço doméstico, esta crise está a obrigar à descoberta de quem vive ao nosso lado”, afirma o sociólogo. E esse “aguçar do engenho” perante o desconhecido, capaz de estreitar relações entre quem vivia próximo mas não se olhava, manter-se-á? “A minha expectativa é que possa ficar e não seja apenas um fenómeno passageiro”, deseja o sociólogo.»


​Esta é uma mudança que, quer queiramos quer não, irá alterar o modo como experienciamos a nossa vida coletiva, e poderá, findas as medidas de afastamento, trazer novas e vibrantes dinâmicas de relacionamento aos nossos bairros e às nossas cidades. Mais um sinal que me faz acreditar que, no final, #Vaificartudobem.

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A percepção dos Algarvios sobre o futuro económico da nossa região

14/4/2020

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Por Luís Coelho
No passado dia 07 de Abril lancei um pequeno questionário no Lugar ao Sul para perceber o que os Algarvios – nascidos ou de adopção – pensam sobre o futuro económico da nossa região. Responderam ao apelo 337 pessoas de todos os concelhos do Algarve, o que torna o exercício bastante interessante. No entanto, é preciso notar que não foi seguida uma abordagem cientifica rigorosa, razão pela qual os resultados abaixo são meramente indicativos. Ainda assim, a leitura dos dados recolhidos não deixa de ser interessante.

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Notas de uma quarentena improvável (16)

13/4/2020

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As indispensáveis coisas inúteis

Por Anabela Afonso

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Qual a utilidade de um beijo?

Que produtividade tem o abraço que nos aquece?

E o olhar, do qual não conseguimos desviar-nos, vale quanto?

Quanto mede a beleza do tranquilo sono dos nossos filhos?

Para que serve o arrepio provocado pela música que nos entra pela pele?

O livro que nos faz esquecer que o tempo existe, tem preço?

​A peça de teatro que nos faz o coração querer saltar pela boca, é uma despesa?

A lua que faz a noite parecer dia, é rentável?

Quem faz estas contas? Quem dá estas respostas? Quem decide o valor do que não é mensurável?

Não sei. Mas sei que algumas destas coisas me ajudam a respirar todos os dias!
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Sugestão de leitura a propósito do tema:
A utilidade do inútil, Manifesto, de Nuccio Ordine
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Curiosamente, este livro foi uma oferta de uma enfermeira especial, que por esta altura está, como muitos outros, no olho do furacão. Também ela precisa de algumas coisas "inúteis" para continuar a enorme tarefa que tem pela frente. Um obrigado muito especial à Ana!

Às coisas inúteis que nos ajudam a acreditar que #Vaificartudobem

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Um Hospital das “Luzes” para o Algarve: saúde e assistência em Faro nos finais do século XVIII

13/4/2020

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Por Andreia Fidalgo

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No passado ano de 2019, o Hospital de Faro celebrou os seus 40 anos de existência. Inaugurado em Dezembro de 1979, a então recém-nascida unidade hospitalar destinava-se a suprir as carências da população algarvia no acesso aos cuidados de saúde e, simultaneamente, a dar uma resposta mais condigna às necessidades daquela que já então era a região de maior valor turístico do país.

Pouco mais de quarenta anos volvidos após essa inauguração, é seguro dizer que o Algarve mantém actualmente os mesmos problemas que naquela época se pretendiam resolvidos: face ao crescimento populacional e ao desenvolvimento do sector turístico, a região precisa hoje, urgentemente, de um novo hospital que dê resposta às suas necessidades.

Esta reivindicação está longe de ser nova e encerra em si mesma uma longa história, com potencial para nos deixar a todos nós, cidadãos, angustiados e bastante preocupados com a inércia dos decisores políticos e com a aparente incapacidade de priorização das necessidades da região nas agendas governativas.

Esta história, relativamente recente, remonta a 2002, quando por Despacho do então Ministro da Saúde, Luís Filipe Pereira, foram criados os Grupos de Coordenação Interdepartamental para o lançamento das parcerias público-privadas, no qual se incluía o Grupo Interdepartamental para o lançamento de uma nova unidade hospitalar no Algarve, a desenvolver no Parque das Cidades Faro-Loulé. Depois de avanços e recuos, esta história atingiria o seu “auge” em 2008, ano em que o então primeiro-ministro José Sócrates lançaria mesmo a primeira pedra do novo Hospital, que estaria pronto em 2013.

Só que não. E a história virou estória…

Volvidas quase duas décadas, o que nos resta é uma mão cheia de nada e outra de coisa nenhuma, com a diferença de que os problemas estruturais não só não desapareceram, como se adensaram. Esta reflexão é tanto ou mais pertinente no actual contexto em que enfrentamos uma grave pandemia. Não obstante o esforço absolutamente meritório de todos os profissionais de saúde, há que relembrar quão melhor e mais eficiente poderia ser resposta dos serviços de saúde se não se tivessem negligenciado, durante anos, as necessidades da região…

Porém, o que me traz aqui hoje não é um exercício de história contrafactual, por muito interessante que este possa ser. O que me traz aqui hoje é mais um breve apontamento histórico que relembra o Algarve no Século das Luzes e o esforço empreendido nos finais dessa centúria para a construção de uma unidade hospitalar, em Faro, mais adequada às necessidades da época: o Hospital da Misericórdia de Faro.

Antes de mais, convém atentar ao significado mais específico da palavra hospital. Se actualmente o identificamos imediatamente como o local destinado ao atendimento de doentes a fim de proporcionar diagnóstico e tratamento necessário, esta definição não é assim tão linear para períodos anteriores. No Vocabulario Portuguez e Latino de autoria de Raphael Bluteau – considerado o primeiro dicionário da língua portuguesa, publicado entre 1712 e 1728 –, hospital define-se como um “lugar público, em que se curam os doentes pobres” e “em que se agasalham e sustentam os pobres”.

Esta definição relembra-nos que para períodos anteriores, nomeadamente durante a Idade Média e a Idade Moderna, a definição de hospital se encontra intimamente associada à religião cristã: os hospitais eram, antes de mais, locais de caridade que cumpriam importantes funções de acolhimento e assistência aos pobres e desvalidos; destinavam-se, também, ao tratamento de enfermidades, mas de doentes pobres, uma vez que para os grupos sociais mais favorecidos os problemas de saúde eram tratados em casa. Por isso mesmo, os hospitais estavam quase sempre associados a organizações de caridade, como as confrarias e as irmandades.

No caso de Faro, há notícia de um hospital primitivo datado dos inícios do século XVI, anexo à Igreja do Espírito Santo, cuja edificação teria resultado da doação de um benemérito, de nome João Dias. Em 1583, no local da igreja manuelina do Espírito Santo iniciou-se a edificação, por ordem do Bispo D. Afonso de Castelo Branco, da Igreja da Misericórdia, que manteve e integrou o hospital anexo.
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Este hospital da Misericórdia teria servido a cidade de Faro nas duas centúrias seguintes. Mas já no final de Setecentos este cenário alterar-se-ia, pois teria lugar um acontecimento determinante para toda a região algarvia e, em particular, para a cidade de Faro: a nomeação de D. Francisco Gomes de Avelar como Bispo do Algarve, em 1789, cargo que ocupou até ao ano da sua morte, em 1816.
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​D. Francisco Gomes de Avelar, Bispo do Algarve entre 1789 e 1816

D. Francisco Gomes de Avelar (1739-1816) destacou-se de forma notável na sua acção pastoral e incorporou verdadeiramente o espírito do Iluminismo Católico. O Iluminismo foi o movimento intelectual que marcou o Século das Luzes e que se define pelo apelo às luzes da razão – ou seja, da inteligência – a fim de dissipar a ignorância, o erro, o atraso, os preconceitos e todas as injustiças que desses males resultam. Há um apelo e confiança na razão humana esclarecida, através da qual era possível um progresso tanto material, como moral, obtido por intermédio de reformas das instituições e dos comportamentos. O ideário das luzes foi progressivamente penetrando na consciência dos monarcas e seus conselheiros, ministros e outros agentes, traduzindo-se no desenvolvimento de sistemáticas reformas económicas e administrativas que irradiaram em vários estados europeus, tal como aconteceu em Portugal, com o Marquês de Pombal.

Mas não só! Também a Igreja Católica se reformou e o clero protagonizou diversas reformas inspiradas pelo ideário das “Luzes”. O Iluminismo Católico tem por base a ideia de que houve um movimento de reforma eclesiástica no século XVIII, no qual se reafirmaram os dogmas essenciais da Igreja Católica, explicando a sua racionalidade de acordo com a terminologia moderna, e que se repercutiu numa reconciliação do Catolicismo com a cultura da época – nomeadamente através da aceitação das novas teorias económicas, científicas, etc –, visando contribuir para o progresso e reforma geral da sociedade.

A acção de D. Francisco Gomes de Avelar deve ser, pois, entendida neste contexto mais amplo do Iluminismo Católico. Oratoriano esclarecido, todos os seus biógrafos são unânimes em salientar que na sua formação foi crucial a estadia de quatro anos em Roma, onde foi apresentado ao Papa Pio VI e o seu leque de relações e amizades foi ampliado, travando conhecimentos que perduraram toda a sua vida. Aí teve também oportunidade de se sensibilizar para as artes, visitando os monumentos e obras artísticas de Roma, e contactando com artistas que à época aí se encontravam e que granjeavam de uma imensa reputação.

Nomeado Bispo do Algarve em 1789, o cenário com que se deparou quando chegou à região não era, de todo, o mais favorável: um território empobrecido e economicamente deprimido, com grande parte das igrejas em mau estado ainda devido aos efeitos do terramoto de 1755, com falta de estradas e caminhos que servissem a população local e um subaproveitamento crónico dos recursos agrícolas.

Não caberia aqui analisar toda a obra reformista empreendida por este bispo na região, que foi bastante vasta. Porém, no que à cidade de Faro diz respeito, foi pela por iniciativa deste bispo que se reconstruiu o Paço Episcopal, se edificou o Seminário, o Arco da Vila e, também, o novo Hospital da Misericórdia. Para levar a cabo tais obras, D. Francisco Gomes de Avelar chamou a Portugal o arquitecto italiano Francisco Xavier Fabri, que teria conhecido na sua estadia em Roma, e que acabou por ser o principal divulgador do estilo neoclássico no país, quando, depois da sua passagem pelo Algarve, foi incumbido de dirigir, em 1802 e em conjunto com o arquitecto José da Costa e Silva, as obras do Palácio Real da Ajuda.
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No que ao Hospital da Misericórdia diz respeito, o Bispo ter-se-ia deparado com um espaço exíguo, com duas estreitas enfermarias muito abafadas, que mais serviam para propagar doenças do que para as curar. Condições pouco condignas a que o Bispo sentiu urgente necessidade em acudir.  O novo hospital, projectado pelo arquitecto Fabri, começa a edificar-se em 1795, na lateral norte da Igreja da Misericórdia. Com um espaço bastante amplo, a planta desenvolvia-se em torno de dois pátios interiores, acomodando no piso térreo as áreas de carácter administrativo e no piso superior o internamento e os cuidados de saúde.
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O novo hospital foi desenhado de acordo com os preceitos da época e enquadrado no discurso do progresso das “luzes”. Tinha, portanto, espaços amplos onde a circulação seria facilitada, com janelas rasgadas para permitir uma boa iluminação e ventilação. Uma das soluções dignas de nota foi a utilização de tectos de reixa, no 2º andar, precisamente para permitir a ventilação do espaço. Solução esta que, além do seu carácter funcional, em última instância reflecte o respeito e a integração de materiais e técnicas regionais no novo edifício neoclássico do hospital.
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Também a fachada do edifício foi concebida para criar um conjunto harmonioso, obedecendo aos critérios de racionalidade das Luzes. Foi, por isso, perfeitamente alinhada com a fachada da Igreja da Misericórdia, ajudando a definir o enquadramento urbanístico da outrora designada Praça da Rainha, actualmente Jardim Manuel Bivar. Nesta fachada, o piso inferior desenvolve-se ao longo de uma ampla galeria composta por nove arcos de volta perfeita de grande unidade rítmica, através da qual se fazia o acesso ao interior do hospital.
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Praça da Rainha na década de 50 do séc. XX. Merece particular destaque para o conjunto formado pela Igreja e Hospital da Misericórdia.

A fachada deste edifício é, de resto, o elemento que ainda permanece mais fiel à traça original, dado que todo o espaço interior se foi descaracterizando com a utilização permanente do espaço e as necessárias adaptações que os novos tempos foram exigindo. Ainda assim, este hospital perdurou até ao século XX sem necessitar de grandes obras de fundo; já nessa centúria, seriam realizadas obras gerais na década de 20 e posteriormente seria remodelada toda a ala Norte, na década de 50. Estas obras permitiram adaptar o edifício e mantê-lo em funcionamento até à abertura do Hospital de Faro, em Dezembro de 1979, altura em que o antigo foi então desactivado.

O Hospital das “Luzes” permitiu que em Faro existisse uma unidade hospitalar moderna, que funcionou durante mais de centúria e meia, ininterruptamente. A sua edificação resultou da iniciativa de um homem esclarecido, o Bispo D. Francisco Gomes de Avelar, que desenvolveu toda a sua acção pastoral imbuído dos mais altos valores do Catolicismo e inspirado pelo ideário de progresso do Iluminismo, com o intuito de acudir aos interesses e necessidades do rebanho que tinha a função de apascentar. E o Hospital da Misericórdia foi apenas uma de muitas obras que este bispo deixou como legado à região algarvia.
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A edificação do Hospital da Misericórdia de Faro, assim como a edificação e inauguração do Hospital de Faro foram marcos históricos importantes. Mas as necessidades de saúde não só não páram, como se complexificam e exigem respostas cada vez mais adequadas e soluções cada vez mais eficazes. Esperemos que a estes marcos históricos se some a edificação da prometida e tão almejada nova unidade hospitalar. Só não sabemos bem quando… Será que temos de esperar mais 20 anos?
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Notas de uma quarentena improvável (15)

12/4/2020

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A guerra mais difícil de travar não vai ser contra o vírus.

Por Anabela Afonso

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Vandana Shiva. Física, doutorada em Filosofia e ativista ambiental


​A minha nota de hoje nasce da informação que é partilhada no Facebook, rede social que os mais novos não utilizam, por ser a rede social dos cotas, mas que continua a ser, para mim, a que permite uma maior interação com as pessoas de quem gostamos, e onde consigo, também, obter informação, seguindo as páginas noticiosas, ou as mais especializadas dedicadas a temáticas sobre as quais me interessa estar atualizada. 


​Tal como qualquer outra rede social (assim como na vida), o que ela nos dá diariamente, depende daquilo que procuramos, e também daquilo que nós próprios lá colocamos. É pelo menos esta a minha experiência. E tal como em muitas outras situações na vida, de lá podemos retirar coisas muito positivas, mas também podemos, por vezes, ver-nos confrontados com o lado mais sombrio do que representa uma rede social (seja ela virtual ou real).


​Porque quero guardar a parte positiva desta nota para o fim, começo pelo lado sombrio do que hoje significou aceder ao Facebook. Começou cedo a aparecer um post de uma senhora muito indignada com os algarvios, pelas reações oficiais, e não só, relativas à vinda de pessoas de outros locais do país, para as suas casas de férias no Algarve, durante o fim de semana da Páscoa. Os termos com que a senhora se dirigia a nós, algarvios, não eram simpáticos, e eu própria comentei, em tom de brincadeira, num post partilhado por uma amiga. 


​​Umas horas passadas o que parecia uma brincadeira, tornou-se uma partilha viral, acrescentada de comentários violentíssimos sobre a senhora, incluindo partilha da morada da casa de férias no Algarve, e inúmeras ameaças. A agravar tudo, até na página de um jornal local se dava destaque a este acicatar viral que inundava as redes sociais, publicando os posts da senhora e vários posts que mostravam a casa em questão (portanto a preservação da privacidade aqui é coisa que não conta para nada, e divulgar ao mundo a morada de uma pessoa contra quem inúmeras vozes se estavam a levantar, também é, pelos vistos, um pormenor sem importância). Não consigo entender como há jornais que acham que as redes sociais são "fontes" de notícias, e pior, que este tipo de coisas devem ser amplificadas para causar ainda mais estragos do que os que já causam sem essa "preciosa" ajuda dos órgãos de comunicação social. E, infelizmente, não faltam no mundo, exemplos trágicos de como este tipo de situação pode facilmente descambar.


​Algumas das coisas que li sobre este caso, seja de algarvios, seja dos que, vindos de fora, acharam que por serem proprietários de casa na região tinham todo o direito a vir (questão que, para mim, não está aqui em discussão), são de uma violência verbal incrível. Nada disto é novo. Ocorre-me, a propósito, a série documental de Steven Spielberg, Why we Hate, que ao longo de seis episódios explica, entre outras coisas, como a manipulação da informação e a exploração de medos primários conduz, tão facilmente, ao exercício da violência sobre o "outro". Outro que até há pouco tempo poderia ser o nosso vizinho, o nosso colega de trabalho, ou até, às vezes, um pai, uma mãe, ou um irmão.


​Coincidência irónica (ou talvez não), é isto ocorrer no domingo de Páscoa, talvez a data mais importante no calendário religioso dos católicos. Surpreende-me sempre, enquanto agnóstica num país maioritariamente católico, e que por isso deveria defender (e sobretudo praticar!) o perdão - que se bem me recordo deve ser praticado mesmo para quem "nos tem ofendido" - , a forma como, quando a ofensa nos toca mais pessoalmente, mandamos o "amor ao próximo" às urtigas. Onde fica o princípio de oferecer a outra face, nisto tudo? 

​Para compensar, como disse no início, hoje também tive a oportunidade, devido a uma partilha muito positiva, de ver um pequeno vídeo onde Vandana Shiva refere que a principal guerra que travamos é a guerra contra a estupidez. Acho que a ideia não poderia vir mais a propósito. Apesar do vídeo ser datado de Agosto de 2018, ele tem hoje uma atualidade assustadora. Para quem não conhece o trabalho de Vandana Shiva, ela é uma ativista ambiental, formada em física e doutorada em filosofia e é possível encontrar no Youtube e no Google inúmeras intervenções dela sobre a nossa relação com o planeta, que valem bem a pena acompanhar.

Além do vídeo que já disponibilizei acima, recomendo também uma sua entrevista para uma excelente série que passou no canal 2 da RTP em 2012, com o título O Tempo e o Modo. Aproveito para dizer que todos os episódios valem a pena.
Neste caso em concreto, no site da RTP onde se encontra o episódio sobre Vandana Shiva, pode ler-se o seguinte texto:
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"Vandana Shiva alia a física quântica ao ativismo social para resistir pacificamente a um sistema que considera ter colonizado a terra, a vida e o espírito. Conta-nos como começou a defender a floresta, as sementes e os modos de vida e produção locais contra o controlo e o registo de patentes feitos pelas multinacionais.
A análise de Shiva vai mais além: remete-nos para as profundas implicações que o sistema capitalista patriarcal tem na construção de um mundo desigual, com consequências dramáticas, como a fome ou as alterações climáticas, que, para Shiva, são sintomas de implosão de uma civilização que falha material e espiritualmente. A nossa civilização, para sobreviver, terá de rever o seu modelo de compreensão e de interação com o mundo, tendo como exemplo o conhecimento holístico das civilizações chinesa e indiana, que, para Shiva, sobreviveram à História essencialmente porque diferem do Ocidente na relação que estabeleceram com a natureza."


​Aqui podem encontrar essa entrevista, que tem apenas uns breves 30 minutos, e que vos garanto, valem todo o tempo que lhe possamos dispensar.

De facto, quando a ouvimos, percebemos que a principal guerra que travamos, não é a guerra contra o vírus, mas sim aquela que todos os dias somos convocados a travar contra a ignorância, origem de toda a estupidez humana.
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É preciso não desistir, para garantir que #Vaificartudobem.

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