Por Gonçalo Duarte Gomes
À beira de um fim-de-semana prolongado, e de outros em perspectiva, como não dar continuidade ao debate em torno do turismo no Algarve? É que, a menos que mais alguém se consiga espremer para dentro do já lotado santuário de Fátima (talvez se endereçarem algumas preces à peça da Nossa Senhora da Vista Alegre, que parece ser capaz de milagres nesse capítulo), os efeitos da laica tolerância de ponto atirada à Função Pública para daqui a duas semanas, qual milho a pombos, vai ter efeitos é cá em baixo. E ainda bem que é nessa altura, e não antes. Pois embora o Algarve esteja sempre pronto a receber e a fazer as suas habilidades turísticas, qual elefante no Jardim Zoológico, a troco de alcagoita, tem uma já proverbial fase de dormência, ali mais ou menos entre Outubro e Fevereiro/Março. Salvo as devidas excepções, nesse período tudo encerra e toda a gente é despedida - ou gentilmente cedida ao Instituto do Emprego e da Formação Profissional, depende da perspectiva - para reencarnar profissionalmente meses mais tarde, vezes sem conta, no mesmo ponto da carreira, com um vencimento imutável, o que até revela despojamento relativamente aos bens materiais. No fundo, o emprego no Algarve é budista. Se porventura não voltam, por não serem crentes, toca de formar tudo do zero – a qualificação da mão-de-obra é, bem vistas as coisas, largamente sobrevalorizada, e sempre se paga menos do que o menos que se pagava. E desse soninho, acompanhado de tal algarvian dream, não há príncipe ou princesa capaz de nos arrancar…
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Por Dália Paulo
Por Bruno Inácio Por aqui andamos muito dedicados ao tema da saúde. Depois de na semana passada o Gonçalo Duarte Gomes ter receitado uma vacina ao turismo do Algarve, o João Fernandes, já esta segunda-feira, colocou a coisa em perspectiva e, quanto a mim, deixou claro a importância do sector na região - se é que tal (ainda) fosse necessário – e quanto a mim rematou para golo na baliza que o Luís Coelho havia construído sobre a necessidade de colocar um travão no turismo. Fechada que estava, aparentemente, a discussão, os “habitantes” deste Lugar, receberam ontem uma nova conterrânea que meteu o dedo na ferida e trouxe as chagas da saúde na região para cima da mesa, não fosse ela uma profissional da área. Como tantas vezes acontece com outros colegas deste Lugar, a Sara Luz tece um conjunto de considerandos com os quais não concordo, mas - como também muitas vezes acontece –finaliza o seu artigo com o que todos desejamos aqui: mais e melhor região, mais e melhor qualidade de vida para quem aqui vive e para quem nos visita. Caminhos diferentes que nos levam a lugares comuns. Não é essa também a maravilha da democracia? É pois. Composição VIII Pintura a óleo sobre tela realizada pelo artista russo Wassily Kandinsky
![]() Sara Luz junta-se à equipa do Lugar ao Sul e publica hoje o seu primeiro artigo. Semana sim, semana não poderá encontrar os seus artigos à terça-feira. Quem é a Sara Luz? Sara Luz é gente que cuida de gente na Unidade de Cuidados Intensivos Polivalente do Centro Hospitalar do Algarve, EPE – Hospital de Faro. É licenciada em Enfermagem pela Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve, Mestre em Gestão de Unidades de Saúde pela Faculdade de Economia da Universidade do Algarve e Doutoranda em Enfermagem na Universidade de Lisboa. Além disso, é Assistente Convidada na Escola Superior de Saúde da Universidade do Algarve e Vogal Suplente do Conselho Fiscal da Secção Regional do Sul da Ordem dos Enfermeiros. Entre passagens por Faro, Lisboa e Londres, foi na cidade algarvia de Loulé que encontrou o poiso para desfrutar de uma vida tranquila. Pessoa cheia de vida, organizada e empenhada. Se há coisas que a cativam são gente genuína e de riso fácil (e diga-se com preferência para as sportinguistas). Considera perfeita a combinação de uma taça de vinho e o convívio com família e amigos. É defensora vincada daquilo em que acredita. Ideologicamente valoriza o liberalismo moderno e a luta pelos direitos humanos, especialmente os das mulheres. E talvez porque nasceu no penúltimo dia do ano da década em “em que tudo era possível” crê que quem não sonha não voa, quem não acredita não alcança! ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------ De CHA para CHUA... Por Sara Luz Invejável do ponto de vista geográfico e climatérico, o Algarve é para muitos que o visitam sinónimo de uma experiência única. Não fossem as contrariedades (e em matéria de saúde “xiça” se há contrariedades!), poder-se-ia assemelhar a um verdadeiro oásis a sul do país. Nesta terra de contrastes, o acesso aos cuidados de saúde do Serviço Nacional de Saúde é limitado. Salta à vista a escassez de recursos humanos e a obsolescência dos equipamentos, o que entre várias perdas se traduz em tempos médios de espera aumentados. Em abril de 2016, a percentagem de consultas realizadas dentro do tempo máximo de resposta garantido (TMRG) pela Administração Regional de Saúde (ARS) do Algarve foi de 66%, comparativamente aos 71% da ARS Norte, 72% da ARS Alentejo, 75% da ARS Lisboa e Vale do Tejo e 76% da ARS Centro. Mas é, sobretudo ao nível da atividade cirúrgica que a ARS Algarve fica muito aquém da média nacional, apresentando apenas 68% das cirurgias realizadas dentro do TMRG contra resultados de 93% da ARS Norte, 89% da ARS Centro, 88% da ARS Alentejo e 86% da ARS Lisboa e Vale do Tejo. A realidade dos cuidados de saúde do Algarve é, à boa moda portuguesa, fruto de uma cultura de gestão em que a mudança dos tempos determina a mudança das vontades. Na hora das escolhas há quem ainda subvalorize a complexidade da gestão das organizações de saúde e considere que aspetos como os da cultura organizacional são facilmente ultrapassáveis. Ora veja-se a fusão dos Hospitais de Faro e Portimão em 2013 como um dos casos mais flagrantes no que toca ao estilo próprio de gestão dos hospitais portugueses. Atrelada a uma visão economicista e financeira, esta fusão não só contribuiu para o desmantelamento da saúde no Algarve, como deu abertura para que outros tirassem proveito da situação. O êxodo dos profissionais de saúde do setor público para o privado ou estrangeiro e a constante falta de material ou avaria de equipamentos têm tido sérias implicações ao nível do diagnóstico e intervenção (já para não falar dos custos!). Sabe-se também que, na hora de um aperto de foro ortopédico ou oftalmológico o fator sorte dita as regras de quem é observado a Sul ou tem de rumar à capital. Insólito cenário neste dia de abril! Surge agora uma luz ao fundo do túnel para a resolução deste problema que não parece ter fim. Diz-se que o Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) vem a todo o gás para substituir o Centro Hospitalar do Algarve (CHA), se aprovada a proposta da ARS Algarve ao Ministro da Saúde. Esta proposta visa a integração de quatro pólos, nomeadamente o Hospital de Faro, o Hospital de Portimão, o Centro de Medicina Física e de Reabilitação do Sul (CMRSul) e a Faculdade de Medicina da Universidade do Algarve. Das manifestações públicas, esta parece ser a medida que reúne maior consenso para alterar o atual modelo de gestão hospitalar algarvio e melhorar a resposta às necessidades em saúde da população. Há uma intenção clara em descentralizar a decisão dos organismos centrais com o reforço da gestão intermédia das unidades de saúde, devolver as valências perdidas ao Hospital de Portimão após a fusão com o Hospital de Faro, reabrir o número total de camas do CMRSul encerradas desde que a ARS Algarve assumiu a sua gestão, recuperar as idoneidades formativas do Hospital de Faro, e promover uma relação mais estreita entre as instituições de saúde e a Universidade do Algarve como forma de fortalecer o Curso de Medicina, melhorar a qualidade ao nível da investigação e ajudar a atrair e a fixar profissionais de saúde que anseiam por novos desafios e valorização profissional. Mas, para os que cá andam neste lugar ao sul, será o CHUA uma nova esperança ou mais um gostinho agridoce de que tanto estamos habituados? É que numa altura em que a prioridade deveria ser a dotação das infraestruturas existentes com um número de profissionais adequado e equipamentos e tecnologia de ponta para dar resposta ao novo modelo hospitalar, há quem concentre as suas energias na contínua e inoportuna defesa da construção do novo hospital central do Algarve. Nada contra investimento público, mas o passado recente diz-nos que é sensato ter cautela no que toca a estranhos amores por este tipo de investimentos. Além do mais, nunca pareceu que as paredes, por mais antigas, fossem o core do problema. Ressalvo que, desprendida de vontades, não se trata de um olhar de baixo alcance sobre os benefícios que uma unidade de saúde de ponta e altamente diferenciada poderia trazer para o futuro da região, sobretudo pelo seu elevado potencial ao nível do turismo de saúde, mas não creio que seja passível de se adiar mais o que verdadeiramente é emergente na saúde do Algarve – o tão esquecido direito fundamental à proteção da saúde! por João Fernandes
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