Por Sara Luz
Portugal tem superado as expetativas nos mais variados rankings internacionais. Para o bem ou para o mal, este discreto país a sul da Europa parece querer deixar de fazer história com lugares a meio da tabela e começar a valer-se da teoria do “tudo ou nada”. A mais recente prova disso é o facto de ter superado a super-potência russa no consumo excessivo de álcool em 2016, com um consumo nacional per capita puro de álcool a partir dos 15 anos de 12,3 l contra 11,7 l na Rússia (a saber, ambos acima da média europeia com 9,8 l). É claro que resumir esta discussão à perspetiva quantitativa é um tanto ou quanto redutora, pois para além dos portugueses privilegiarem em grande medida as bebidas fermentadas às mais destiladas (com claro apreço pelo vinho e cerveja em detrimento da vodka), o consumo excessivo de álcool ocorre maioritariamente em ambientes sociais ao contrário do que parece acontecer nos países do leste. Ainda assim, e graças a Portugal, a Organização Mundial de Saúde (OMS) parece ter feito uma notável descoberta: é que o consumo excessivo de álcool não só se verifica em países mais frios e com menos raios solares (diversos estudos científicos tem testado e comprovado esta associação), mas também nos mais quentes. Afinal, esteja frio ou calor há sempre motivo para beber! Esta conclusão fez, naturalmente, com que a OMS recomendasse a Portugal adotar medidas dissuasoras ao consumo excessivo de álcool, entre elas o aumento da taxação e o estabelecimento de preços mínimos para as bebidas alcoólicas, o que atendendo à política fiscal levada a cabo pelo atual Governo pode dizer-se que essas recomendações são “ouro sobre azul” para justificar uma futura maior taxação sobre os produtos em questão e, por conseguinte, aumentar a receita fiscal. O Algarve pela sua singularidade climatérica e turística face às demais regiões do país poderá dar cartas neste assunto e contribuir uma vez mais para encher os cofres do Estado. Pena é que na hora da retribuição, em melhorar as condições de vida dos algarvios em matérias como a da segurança, acessibilidade e saúde, os sinais sejam sempre tão tímidos! Nesta matéria, valha-nos então o combate às repercussões individuais e sociais associadas ao consumo de álcool em excesso na região (e.g., acidentes rodoviários, comportamentos sexuais de risco, consumo concomitante de outras substâncias, comportamentos violentos, problemas de saúde, entre outros) e à prevenção de padrões de consumo de álcool regulares que por se perpetuarem ao longo da vida são os mais problemáticos.
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Por Gonçalo Duarte Gomes Há dias assim. De plena satisfação, de alegria profunda, de beleza imensa e de partilha fraterna. Dias de Inverno que são, na verdade, Verão. Ontem foi um dia desses neste nosso Lugar. Um Lugar que é, em boa verdade, vosso. Porque este é um Lugar que se cumpre fora de si. Nos olhos que lêem. Nas ideias que fluem. Na reflexão que se gera. Porque é ideia, desdobrada em muitas outras ideias. Diversas, plurais, por vezes contraditórias. Mas concordante na orientação a Sul. Na orientação ao Algarve. É também um Lugar que olha para fora de si. E fora de si encontra outros que ali pertencem também. Outros de excelência. Como é o caso da Personalidade do Ano a Sul 2018, Júlio Resende, que ontem recebeu o prémio, numa cerimónia simples - como são as melhores coisas da vida - mas plena de alegria e emoção. Tentar falar da sua obra seria quase redundante, quando tantos já o fizeram, e com maior propriedade. Além de que a sua obra, ainda que sobejamente conhecida e criticamente aclamada, não chegaria para explicar o porquê da sua eleição. Porque as suas dimensões são múltiplas. Filósofo de formação, poeta de um coração tal que faz dele ortónimo de heterónimos alheios, pensador por vocação. Um pensamento que exprime não só através de música, mas também da palavra escrita. Para melhor o conhecermos, o seu Professor, Paulo Cunha, partilhou um emocionado testemunho. De memória, carinho e profunda amizade. Concluído com a profética certeza de que o melhor Júlio Resende está ainda para vir. Porque o futuro e a grandeza são em si desígnios. Mas Júlio Resende é também, simultaneamente, um misto de Chopin, Debussy e Skriabin, com um swing enérgico, reunidos numa alma profunda, como, entre muitas outras virtudes, o definiu o testemunho de outra amiga, e também antiga professora, Oxana Anikeeva. Ditosos mestres que originam alunos destes. A ambos, obrigado. No final, Júlio Resende, o Júlio, com a simplicidade e a generosidade dos grandes, em discurso directo. De palavra falada. E de música. Uma música que, enchendo o espaço mágico do Teatro Lethes, nos levou na corrente do mitológico rio homónimo e, como as suas místicas águas, apagou de nós quaisquer más lembranças, trocando-as pelo encantamento de cada nota. Notas que, como o próprio Júlio confessou, se fazem de Olhão, de gelados à beira-mar, do sortilégio de uma região que preenche a alma, e que transborda sob a forma de música. Por isso mesmo, quando, daqui por muitos anos, em tempo ou lugar indefinido, perto ou longe, regressarmos a este final de tarde que para sempre viverá em nós, suspenso nas notas que nos suspenderam e que nos embalaram, no limiar da emoção, estaremos a regressar ao Algarve. Ao Algarve de Júlio Resende. Mágico. Único. Belo. Porque nele do Inverno se faz Verão. E da Ria Formosa se faz música. O Lugar ao Sul agradece penhoradamente à ACTA - A Companhia de Teatro do Algarve, na pessoa do seu Director Artístico, Luís Vicente, e ao Município de Faro, na pessoa do Presidente da Câmara Municipal, Rogério Bacalhau, a cedência deste espaço perfeito. Agradece também ao nosso parceiro Sul Informação, pela presença e cobertura atenta. Finalmente, agradecemos a tantos e tantas amigos, amigas, admiradores e admiradoras do Júlio Resende, que com a sua presença e calor tornaram esta partilha ainda melhor. Muito obrigado. Créditos fotográficos/vídeo: Ana Gonçalves | André Botelheiro | Gonçalo Duarte Gomes
Por Sara FernandesO “#10yearschallenge” até pode ser mais uma brincadeira viral no mundo virtual. A verdade é que tem dado muito que falar e muito em que pensar. Várias organizações ambientais aproveitaram o momento para chamar à atenção para as duras consequências das alterações climáticas e da nossa acção directa na Natureza. Está presente na Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável o compromisso em proteger o nosso planeta da degradação através, por exemplo, de consumos e produção sustentáveis. Contudo, questiono-me até que ponto se encontra este tema na “agenda” do cidadão comum? Se existe maior consciência do impacto das nossas acções no ambiente, porque é que apenas metade dos portugueses estão predispostos ou realmente alteram o seu comportamento? Como podemos contribuir individualmente para que daqui a 10 anos não se verifique um agravamento do cenário actual? O Governo e algumas entidades estão a dar um “empurrãozinho” aos consumidores, como espelham estes exemplos: - No Mercado Municipal da Póvoa de Varzim instalaram uma máquina que “transforma” resíduos recicláveis em descontos em estabelecimentos do concelho que tenham aderido à iniciativa. O projecto-piloto vai ser alargado a pelo menos mais 7 concelhos do Serviço Intermunicipal de Gestão de Resíduos do Grande Porto; - Em Faro, a Escola Secundária de Pinheiro e Rosa oferece desde o início do ano um sumo de laranja natural e uma sandes a todos aqueles que entram nas suas instalações de bicicleta. No entanto, há sempre quem seja altruísta ao ponto de ver na recolha do lixo uma oportunidade para praticar exercício físico. É o caso da tendência proveniente da Suécia - o Plogging. Aparentemente, os portugueses têm consciência da importância deste tema, mas infelizmente poucos conseguem identificar e optar por alternativas ecológicas no seu dia-a-dia. Logo, o desafio é a alteração de comportamentos, com ou sem incentivos! Há quem diga que são necessários 21 dias para reprogramar o cérebro, isto é, para criar um novo hábito. Pois então, aqui deixo um desafio: ao longo dos próximos 21 dias vamos diariamente adoptar uma atitude mais proactiva em relação a este tema, porque como se diz por aí: “there is #noplanetB”. Desafio aceite? Por Luís Coelho
O Algarve está de parabéns. De facto, dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) no passado dia 13 de Dezembro de 2018 revelam que em 2017 (último ano para o qual há informação disponível) esta região atingiu a pole position do crescimento regional. Vejamos porquê. A sessão vai ter lugar no próximo domingo às 17h00 e é aberta ao público (sujeita ao número de lugares da sala.) Site de opinião Lugar ao Sul distinguiu pelo segundo ano consecutivo uma personalidade marcante do ano. A escolha de 2018 foi Júlio Resende, músico, pianista e compositor Algarvio, que teve um ano de 2018 imparável Uma personalidade ímpar que em 2018 cimentou a sua posição como um dos grandes músicos da nova geração da cena cultural nacional. Em 2018, Júlio Resende conseguiu impor a sua marca nuns pais que ainda vive profundamente centralizado. Além disso entendemos que a sua forma de olhar o mundo vai ao encontro do que temos vindo a defender no Lugar ao Sul: necessitamos de mais e melhor opinião. Sobre essa ideia, Júlio Resende, tem uma frase lapidar: “As pessoas que digam coisas! Mas tentem pensá-las antes de dizer, já não seria mau.” Por Gonçalo Duarte Gomes
Imagine-se um copo meio de água. Há quem olhe, e veja um copo meio-cheio. Outros, olhando para o mesmo copo, vêem-no meio-vazio. No Algarve deita-se fora o copo, e vai-se buscar uma garrafa para a discussão, porque água há em monte! , Diz-se que “água mole em pedra dura, tanto bate até que fura”. Verdade. A pouco e pouco, com a insistência e persistência de algumas pessoas neste nosso Algarve, a Comunidade Tech tem vindo a crescer. No artigo anterior descrevi alguns desses grupos (não todos). Hoje falo das Geek Girls Portugal - Faro e do freeCodeCamp, dois grupos que tenho o privilégio de conhecer e dos quais faço parte. As Geek Girls Portugal (G2PT) nascem em 2010 sob o nome de Portugal Girl Geek Dinners sendo a primeira comunidade portuguesa criada para dar a conhecer e juntar mulheres na área tecnológica, através de encontros regulares. Podia ser só mais uma série de jantares mas a partir de setembro de 2016, adotam a designação Geek Girls Portugal e com uma nova imagem para alargar e melhor representar uma missão mais abrangente. Sob a liderança de Vânia Gonçalves, e com uma nova missão, passa a focar-se o envolvimento e empowerment de mulheres na tecnologia, através da promoção de encontros, workshops e sessões de sensibilização em escolas. Por um lado, pretende inspirar jovens mulheres a seguir uma carreira no segmento tech e, por outro, promover mentorias, apoio e progressão profissional na área tecnológica. (cit in http://geekgirlsportugal.pt/) As Geek Girls Portugal chegaram ao Algarve em Abril de 2018, através de Raquel Ponte, que se aliou a Penélope Gonçalves, Patrícia Ribeiro e a mim, numa vontade comum de assinalar, emancipar, fomentar e aumentar a participação feminina em diferentes áreas da tecnologia por Terras Algarvias. As sessões, também abertas a homens, são gratuitas e @s interessad@s podem receber informação através do facebook das Geeks Girls Portugal ou do site oficial, onde os utilizadores podem optar por só receber informação sobre o que está a acontecer a nível nacional, e/ou participar activamente nomeadamente enquanto empresa/entidade demonstrando vontade de receber ou dinamizar estes eventos. Existe também um canal no Slack, este sim de acesso exclusivo a mulheres, onde frequentemente são partilhadas ofertas de trabalho, conhecimento e feitos brainstormings. Aveiro, Braga, Coimbra, Leiria, Lisboa e Porto são as restantes localidades onde embaixadoras desta comunidade dinamizam esta partilha. Embaixadoras GeekGirls Portugal - Faro: Vanessa, Patrícia, Raquel e Penélope O freeCodeCamp como o próprio nome indica, trata-se de uma organização sem fins lucrativos com base num website de e-learning onde se promove o conceito de grupos de estudo locais. Nasce nos Estados Unidos com Quincy Larson, um professor que decidiu abdicar da sua carreira para desenvolver este projecto, assente na paixão pelo ensino e pela programação. E como chega este conceito à nossa terrinha, perguntam vocês? No início de 2017, Eduardo Vedes e João Henrique, que estavam a dar os primeiros passos na programação, decidiram começar a juntar-se semanalmente para se apoiarem mutuamente nos desafios do currículo. Eduardo teve a ideia de partilhar o evento no facebook e assim tem início a formação de uma comunidade local de "jovens" de todas as idades, que aprendem a programar e se juntam semanalmente para esclarecer dúvidas e partilhar experiências. freeCodeCamp: grupo de estudo de Faro O freeCodeCamp Faro foi apadrinhado pela GeekSession desde o início, e graças a isso, teve uma maior afluência de profissionais da área que apareciam para ajudar. Tiago Fernandes era frequentador assíduo e decidiu começar um StudyGroup em Portimão. Pedro Cruz, Lisboeta de férias no Algarve, aproveitou para conhecer outros programadores num dos eventos e levou consigo o conceito para Lisboa, tendo-se propagado para o Porto. A beleza intrínseca desta comunidade prende-se ao facto de não existir uma pessoa responsável, nem tão pouco uma hierarquia instituída. Qualquer pessoa pode organizar um "grupo de estudo" na sua zona. Normalmente funciona em Faro e em Portimão, onde se concentram um maior número de entusiastas da programação e o grupo já chegou a reunir cerca de 20 a 30 pessoas nalgumas destas sessões (estudantes e profissionais). Como é que podemos interagir com esta comunidade? Fácil, através do facebook, nos grupos do freeCodeCamp Faro / freeCodeCamp Portimão e no canal da GeekSessions, no Discord. Não é necessário saber programar para aparecer, até o simples curioso pode participar.
Para todos os que já fazem parte da Comunidade, continuem a aparecer e divulguem! Para os que estão a iniciar projectos, amadores interessados, autodidatas, estudantes, profissionais, independentemente do género ou idade, juntem-se a nós! Se calhar vi demasiada vezes os filmes do Star Wars, onde os Rebeldes lutam e ganham a Guerra contra o grande Império... E quero com isto dizer que o Algarve pode ainda não dispor dos números de Lisboa e do Porto, mas a "força" está connosco. Por Luisa Salazar (3 minutos de leitura)
Com tanto se tem falado da Cristina Ferreira nas última semanas não quero deixar também aqui no Lugar ao Sul de escrever algumas palavras sobre o tema. Para quem desconhece a Mulher a que me refiro, informo que foi uma apresentadora transferida da TVI para a SIC no calor do Verão do ano passado, com condições milionárias. Admito que nunca me interessou e que até nem aprecio o estilo em qualquer das formas, mas não resisti a ler um pouco para tentar entender o seu sucesso. O sucesso deve-se a vários factores e passo a enumerar: - Grande capacidade de comunicação- a capacidade de interagir com pessoas de diferentes, de conseguir manter diálogo e de encontrar pontos em comum com os seus interlocutores; - Foco – muita concentração e definição na sua carreira profissional, saber o que quer atingir e definir uma estratégia e implementar o seu plano de acção; - Equipa – saber escolher a sua equipa e ter ao seu lado bons profissionais que trabalham orquestrados e orientados todos para o mesmo fim; - Maximização da sua imagem – utilização e potenciação da sua imagem através dos mídia estendo o seu protagonismo muito além da TV; - Redes sociais – Acompanhamento diário das redes sociais e uma procura constante para saber o que as pessoas querem e pretendem; - Proximidade – estar próximo do seu público; - Criar laços – manter um relacionamento com quem a segue e gosta do seu trabalho; - Convicção – Convicta das suas palavras e da sua VERDADE; - VERDADE! Por isso reforço que o Algarve, precisa de uma Cristina Ferreira para aumentar a nossa voz no país, o nosso protagonismo, para sermos ouvidos por quem teima em nos esquecer e ignorar. Provavelmente, se o Algarve tivesse alguém assim, ou um colectivo assim, muita coisa iria mudar certamente… Por Anabela Afonso ![]() Esta poderá ser a manchete nos jornais regionais do Algarve, num futuro próximo, a continuar o ritmo de encerramento dos postos dos CTT na região. Isto porque qualquer dia, só um herói como o protagonista de The Postman, conseguirá convencer os decisores deste “novo” banco em que se tornou a empresa que deveria ser o serviço de correios nacional, da importância deste serviço de proximidade, tão mais imprescindível quanto mais afastadas estão as populações dos grandes centros urbanos onde tudo existe e tudo acontece. The Postman é um filme passado num cenário pós apocalíptico, dirigido e protagonizado por Kevin Costner, na pele de um herói solitário, que vai sobrevivendo interpretando pequenos excertos de Shakespeare, e involuntariamente devolve a esperança ao mundo (neste caso a uma América consumida pela violência) com o restabelecimento de um rudimentar sistema de entrega de correio que volta a unir as pessoas de bem. Esta memória cinematográfica surge a propósito de uma notícia do final de 2018 que dava conta do encerramento do posto dos CTT da Vila de Alcoutim, sob o veemente protesto daquela população. O problema é que o protesto da população de Alcoutim é pouco visível e sonoro, e portanto, dificilmente se fará ouvir em Lisboa, onde está quem decide. E a razão porque a população de Alcoutim é pouco visível e sonora é porque as pessoas que lá vivem são cada vez menos e cada vez mais velhas, portanto já sem grandes energias para lutas que já nem deveria ser necessário encetarem. E isto porque, ao contrário do que o resto do país parece saber, o Algarve também se debate com o problema da desertificação do interior de forma gritante. Para se ter uma ideia, basta olhar para o gráfico da Pordata, com a evolução do índice de envelhecimento do concelho de Alcoutim, comparativamente ao resto do país: Este índice é representado pela percentagem de idosos por cada 100 jovens, e os únicos concelhos do país que ultrapassam os 500%, para além de Alcoutim, são Pampilhosa da Serra e Penamacor, de acordo com os dados da Pordata. Entretanto, ao encerramento do posto dos CTT no final do ano, veio agora juntar-se o fim do 2.º e 3.º ciclo de ensino naquela Vila, passando as crianças a partir do 5.º ano (10, 11 anos) a ter que deslocar-se até Martim Longo – a 30 km de distância -, para ir à escola, conforme noticiou o Jornal do Baixo Guadiana (valha-nos a imprensa regional para nos lembrar que existimos!). Ou seja, em vez de se criarem mais condições e incentivos às famílias que ainda resistem a viver no interior com crianças pequenas, o que o Estado está a fazer é a dificultar-lhes ainda mais o difícil exercício de contribuir para a preservação de um país sustentável. Ora, num país que assume o combate à desertificação do interior como uma prioridade, não se percebe, como é que uma decisão destas se toma - perceber, até se percebe, pois ninguém realmente acreditava que uma vez privatizados os CTT, os seus responsáveis iam estar realmente preocupados com o serviço de proximidade que os seus balcões faziam no interior do país, pois não? – quando deveria estar a acontecer precisamente o oposto. A desertificação do interior combate-se investindo em serviços de proximidade, sejam eles na área da saúde, da educação, da cultura ou da área social, pois serão esses que tornarão o território atrativo à fixação de empresas e jovens que queiram constituir família. Podem fazer-se todos os discursos deste mundo, que, enquanto no terreno as intenções não se transformarem em prática de nada servirão, a não ser agravar o crescente descrédito das populações naqueles que as representam. E se há territórios no país, a precisar que urgentemente se reverta o processo de envelhecimento da sua população, Alcoutim é seguramente um deles, e isso não acontecerá, com certeza, a encerrar escolas e serviços tão importantes como os que permitem as pessoas estar em contacto com o mundo. Vendo o filme, percebe-se que o melhor é prevenir, já poderá não ser a internet que a garantir-nos essa ligação. Por Sara FernandesÉ certo e sabido que o nosso país está a cavar um fosso cada vez maior no que diz respeito ao acesso à habitação entre faixas etárias e classes sociais. Esta problemática verifica-se tanto nas grandes áreas metropolitanas como em espaço rural. Em conversa com alguns responsáveis pelo poder local no interior do Algarve, ficamos surpreendidos pela procura regular por parte de jovens famílias que desejam mudar de vida ou regressar às suas raízes. Mas infelizmente, não há sequer oferta para a procura existente. Dado o número esmagador de casas devolutas pelas nossas cidades, vilas e aldeias, é caso para dizer: o que se passa afinal? O que é que está a falhar neste processo? Não seria de esperar que quando um serviço ou produto tem muita procura, houvesse um esforço para criar a oferta do mesmo? Afinal de contas, não é assim que o mercado funciona? Poderíamos justificar esta situação através de diversas variáveis como: a dificuldade de identificação e localização dos proprietários; os longos processos de partilhas dos imóveis entre herdeiros; a “sobrevalorização” dos preços das casas; e a pressão exercida pela proliferação do negócio dos alojamentos locais. Contudo, considero que há mais condicionantes que também densificam esta problemática, tais como: o desinteresse e a desinformação dos proprietários. Talvez haja esperança para a reversão do processo de abandono do interior, através da acção directa dos municípios no território e junto dos proprietários no sentido de os sensibilizar e apoiar na disponibilização das suas habitações para venda ou arrendamento, e por fim o compromisso das jovens famílias numa nova realidade para a sua vida. Felizmente, há bons exemplos liderados por alguns municípios do nosso país, nomeadamente em Beja e Alcoutim. O município de Beja vai criar 16 fogos para jovens casais até aos 40 anos, com contratos com duração de 5 anos e um valor de renda que rondará os 150 e os 250 euros/mês. Por sua vez, a Câmara Municipal de Alcoutim vai construir um edifício multifamiliar na vila com cinco fogos habitacionais nos próximos 2 anos; e vai avançar também com um loteamento na aldeia de Martim Longo. No entanto, o nosso Primeiro-Ministro, António Costa, faz referência também à urgência de “travar a perda demográfica” portuguesa através da criação de uma “nova geração” de políticas e incentivos à habitação e à família para que "os jovens sintam que têm em Portugal a oportunidade de se realizarem plenamente do ponto de vista pessoal e profissional.” Vamos então acreditar que estes incentivos se irão traduzir em acções eficazes a curto prazo que possam proporcionar as condições necessárias e favoráveis ao nascimento de várias histórias de “amor e uma ruína” reabilitada em espaço rural para as nossas jovens famílias. Por Sara Luz
Volvidos 100 anos após a maior pandemia mundial de gripe da história – a gripe espanhola –, sabe-se que as pandemias matam cada vez menos. Isto deve-se, evidentemente, à melhoria das condições de vida, assim como às medidas adotadas para a prevenção da gripe. Em Portugal, devido ao sobejamente conhecido risco de epidemia de gripe na época de inverno, ativam-se anualmente Planos de Contingência pelos Departamentos de Saúde Pública das diferentes Administrações Regionais de Saúde do país entre os meses de novembro e março, que visam a abertura de camas suplementares a nível hospitalar, o alargamento dos horários de atendimento nos cuidados de saúde primários e o reforço das equipas; promovem-se campanhas de vacinação contra a gripe a partir dos meses de outubro (em meados de novembro de 2018 mais de 850 mil portugueses já se encontravam vacinados – https://www.publico.pt/2018/11/22/sociedade/noticia/850-mil-pessoas-ja-vacinaram-virus-gripe-pagarem-1852120); e, implementam-se iniciativas para a melhoria dos níveis de literacia em saúde, como sejam materiais didáticos de divulgação (e.g., http://biblioteca.min-saude.pt/livro/inverno#page/1; https://www.dgs.pt/paginas-de-sistema/saude-de-a-a-z/gripe/materiais-de-divulgacao.aspx; https://www.youtube.com/watch?v=iCsG3pgrjrM). A par disso, incentiva-se a utilização da Linha de Saúde 24 e criam-se novas Unidades de Saúde Familiar, com o respetivo aumento da cobertura de utentes com médico de família. Teoricamente um bom esforço para a prevenção da gripe e combate à mortalidade pela mesma, mas que na prática deixa muito a desejar. Ora, se se implementam medidas como as acima referidas, no sentido de se aumentar a capacidade de resposta dos serviços de saúde e capacitar os cidadãos para acederem e compreenderem a informação sobre a doença em questão, melhor gerirem a sua saúde e navegarem adequadamente nos serviços de saúde, como explicar que durante o período de atividade gripal (algo que acontece todos os anos!) as notícias na comunicação social sejam invariavelmente sobre o caos vivido nos serviços de urgência (SUs) hospitalares?! Relembremos, pois, o caso devidamente ilustrado do Algarve em janeiro de 2018 (https://www.publico.pt/2018/01/07/sociedade/noticia/enfermeiros-denunciam-caos-nas-urgencias-e-risco-para-doentes-1798436); e, já este ano, a sobrelotação dos hospitais pertencentes ao distrito de Setúbal (https://tvi24.iol.pt/sociedade/hospital-do-barreiro/urgencias-no-barreiro-estao-sobrelotadas-com-o-dobro-dos-doentes?fbclid=IwAR2VHA3YK660GoWeqhKXdsLsqpvM40U1iDSMGEdqK2hUklJ_wk936yiR33c). Acontecimentos como os ocorridos nestas “margens mais a Sul” costumam ser justificados pelas entidades competentes (ano após ano!) da seguinte forma: que em condições de exceção (neste caso, a gripe) é expectável que os serviços de saúde possam apresentar dificuldade de resposta ou, como já foi referido pela Direção-Geral da Saúde (DGS) já no início deste ano, que “os recursos hospitalares para responder ao pico da gripe são suficientes e só deixam de o ser quando os doentes se dirigem às urgências para o tratamento de casos que podem ser resolvidos em casa” (https://expresso.sapo.pt/sociedade/2019-01-04-DGS-pede-responsabilidade-a-populacao-com-as-idas-aos-hospitais-por-causa-da-gripe#gs.RMKlfeMW). Aceitar estas justificações sem refletir sobre aspetos, tais como, as medidas adicionais anualmente implementadas para dar resposta ao incremento da procura aos serviços de saúde por síndrome gripal, a realidade do Serviço Nacional de Saúde em períodos não sazonais, tempos de espera aumentados nos SUs previamente a atingir-se o pico da gripe (período esse em que é previsível um maior afluxo de pessoas aos SUs e que em 2019, por exemplo, a DGS prevê que aconteça apenas no início da próxima semana) ou, ainda, sobre o facto de que apenas 3 em cada 10 portugueses com gripe recorrem aos serviços de saúde (estudo recente realizado pelo Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge sobre o comportamento de procura de cuidados de saúde pelos portugueses em situação de gripe - http://repositorio.insa.pt/bitstream/10400.18/5670/1/Boletim_Epidemiologico_Observacoes_N23_2018_artigo3.pdf) é, a meu ver, insuficiente. Ao esmiuçar os aspetos referidos é possível depreender que o argumento não é nada mais, nada menos que falacioso. Ou seja, há uma tentativa em justificar o mau funcionamento dos SUs através da (falsa) ideia de que a procura é desmedida e, na maior parte dos casos, inadequada – as chamadas “falsas urgências” – (pois essa é uma situação conhecida que acomete os SUs em qualquer altura do ano, logo, um facto dificilmente questionável), mas o que acontece na prática é que a “gripe” por si só não motiva esse mau funcionamento; o que a “gripe” faz é pôr a descoberto o mau funcionamento pré-existente dos SUs (e, por inerência, do SNS) e sobre isso, claro está, não importa de todo falar! Uma sociedade moderna deve, e bem, responsabilizar os seus cidadãos pelas escolhas individuais relacionadas com a saúde, mas não sem antes responsabilizar os seus decisores pelas decisões tomadas em matéria de saúde! Por Patrícia de Jesus Palma A Universidade do Algarve e todos os que a sonharam, a defenderam, nela trabalharam e trabalham diariamente em prol da excelência e do desenvolvimento estão de parabéns! A UALG tem sido uma das forças motrizes da transformação da sociedade algarvia nas últimas décadas, mas o seu contributo para a sociedade do conhecimento extravasa e amplia largamente as fronteiras da região, como é desejável, e o seu símbolo, gizado pelo genial Tóssan, tão bem ilustra. Símbolo original da Universidade do Algarve, da autoria de Tóssan. Foto gentilmente cedida por Salomé Horta, a quem agradeço. ![]() Nesta data, é o porvir da instituição o que mais preocupa e, de forma geral, o do ensino superior, como se pode acompanhar pela Convenção do Ensino Superior, que hoje tem início no ISCTE para estabelecer uma «agenda para a década, que dê ao ensino superior uma ideia delineada de futuro». Ainda assim, não queremos deixar de assinalar que as mudanças ocorrem na espessura do tempo e que esse tempo nem é tão curto nem tão vácuo, como tantas vezes supomos. Neste meu primeiro texto de Janeiro, mês presidido pelo deus Jano – o que contempla vigilante o passado e o futuro –, pareceu-me oportuno trazer à colação não apenas os 40 anos da UALG, mas os 228 anos de ensino superior no Algarve, na esperança de que possamos compreender, de forma mais justa, o lugar do Algarve na história da produção e difusão do Saber. Em 1787 foi criada, na cidade de Tavira, a Aula de Artelharia, Geometria, Fortificação e Desenho, com a autorização do governador e capitão-general do Algarve, 6.º conde de Val de Reis e direcção do Eng.º José de Sande Vasconcelos. A Aula foi oficializada por Estatutos próprios em 13 de Setembro de 1796, considerando-se então como «Curso de Estudos Militares» e incluiu no curriculum as ciências matemáticas, fortificação de campanha, castrametação, defesa de praças, análise inferior ou álgebra e desenho, ministradas pelo referido Eng.º Sande de Vasconcelos e pelo capitão Baltazar de Azevedo Coutinho. O documento estatutário brilha como o mais completo e complexo que se conhece deste período e como testemunho do processo de escolarização nacional sob iniciativa militar, mormente na área da matemática, prevendo-se a possibilidade de frequentar ainda mecânica, secções cónicas e artilharia, esfera, geografia, trigonometria esférica e astronomia. Na época, apenas a recente Faculdade de Matemática da Universidade de Coimbra (1772), a Academia Real da Marinha (1779) e a Academia Real de Fortificação e Desenho (1790) ofereciam formação superior em matemática. O plano de estudos, desenhado e posto em prática por Sande Vasconcelos para o «Curso de Estudos Militares», estava em plena consonância com o das Academias Reais. Não estranhemos. O Curso, e demais aulas regimentais similares, foi reconhecido pelo Alvará de 13 de Agosto de 1790 como equivalente ao ministrado pela Academia Real da Marinha, alcançando assim o estatuto de Ensino Superior. Com métodos, modos e bibliografia actualizados, o Curso funcionou continuamente entre 1787 e 1808 e consolidou-se como pólo de formação científica em matemática aplicada à prática militar, mas com influência muito para além do círculo restrito do exército. No final da vida, José de Sande Vasconcelos pôde afirmar: «tendo ensinado com tanto desvelo, que os seos discipulos são os melhores desenhadores de Portugal, tendo desempenhado a obrigação dos seos postos em Rosilhom, sahindo da sua Aula officiaes benemeritos p.ª todos os Corpos do Exercito, e athé p.ª Capitaes Generaes.» Que a Universidade do Algarve possa continuar a corresponder aos anseios dos que a procuram, não descurando o legado da região (para quando a reabertura do mestrado em História do Algarve?) e a sua própria história, e que possa continuar a formar os melhores de Portugal e do mundo são os meus votos sinceros!
Viva a UALG! Por Gonçalo Duarte Gomes
Sendo certo que o tempo é de Ano Novo, e de resoluções pessoais com uma fiabilidade ao nível das promessas eleitorais - e se este ano vamos levar com elas - de um político, parece-me importante voltar a 2018 e olhar para uma prenda natalícia deixada no sapatinho do Algarve. Rezam as notícias (aqui) que um grupo de investidores franco-portugueses vêem com bons olhos a possibilidade de investir na região, concretamente num empreendimento na área do lazer, mais especificamente num parque de diversões, ao estilo da Disneyland. Altruísta como sou, apresento desde já um conceito para a coisa: que tal um parque que recriasse uma região de um país da Europa meridional, com um modelo territorial equilibrado, respeitador das suas características climáticas e biofísicas, consciente e preparada para os desafios das alterações climáticas numa zona de confluência de diversas influências, dotada de serviços de saúde, transportes públicos, promotora de uma economia diversificada, de valorização cultural, de investigação tecnológica, e em que os residentes fossem pelo menos tão valorizados como os visitantes? Falo, obviamente, da Algarveland! Por André Botelheiro Quis o mês de dezembro lacrar o ano de 2018 com uma emotiva e justa homenagem a um dos maiores intérpretes deste lugar ao sul. Porém, não avisou, porque de nada serve avisar, para uma partida que é sempre prematura, sobretudo para quem ainda assim pensava, escrevia e dizia. O doutoramento Honoris Causa do Professor Joaquim Romero Magalhães, atribuído pela Universidade do Algarve, no passado dia 12.12.2018, foi o encore a uma vida plena, na academia, na política, na família, na amizade. No eloquente elogio que apadrinhou a distinção, proferido pela discípula ao seu mestre, colega e amigo, Maria Leonor Freire Costa, docente da Universidade de Lisboa, pugnou que: «a Joaquim Romero Magalhães, a região deve uma insubstituível história económica atenta». «Como mostrou nos milhares de páginas que sobre o tema escreveu, o Algarve revela-se efetivamente um espaço económico, separado do Alentejo e do resto do país por forças em parte ditadas pela geografia, sendo em 1700 mais rural que em 1500. Estão ainda por fazer monografias histórico-económicas semelhantes sobre outras regiões do país». Nesta derradeira cerimónia, Joaquim Romero Magalhães dedicou grande parte do seu discurso ao Algarve, a este lugar ao sul: «Sou algarvio por nascimento e por uma continuada vivência. Porém, nem regionalista, nem exclusivista. Tenho procurado instalar-me numa neutralidade que me permita ser justo e avaliar, com equilíbrio, aquilo com que me depreendo. Nem tudo no Algarve é bom, nem tudo aquilo que nos rodeia em Portugal deve ser desprezado». Este desprendimento, que só quem muito ama sabe e pode ter, nunca o deixou afastar-se da sua permanente inquietude pela busca incessante das melhores respostas às melhores perguntas: «Será o Algarve definível? Concentrado em meia dúzia de palavras, cristalizado nuns tantos conceitos e difundido em não menos preconceitos? A que metáforas há que recolher? O Algarve é uma história. Uma literatura. Uma paisagem. Uma tonalidade luminosa: é um viver e saber viver e é um conjunto daquilo que, afinal, nos rodeia e conforta. É tudo isso. O que se vê e o que não se vê. O que é material e o que paira acima dessa realidade. É um todo, não pode ser fragmentado. É algo que ainda hoje me desperta os sentidos». Para o sempre, ficamos com a lúcida e douta última lição do Professor Joaquim Romero Magalhães, na terra que escolheu como sua, e na universidade que ajudou a erguer. (Ver discurso a partir dos 37:20) Sobre Joaquim Romero Magalhães (1942 – 2018):
Nasceu em Loulé a 18 de abril de 1942. Fez a Escola Normal e o Liceu em Faro. Na cerimónia da sua jubilação, em 2012, referiu-se a esse seu percurso na cidade de Faro como tendo sido determinante na sua formação, designadamente pelo convívio que aí teve com as classes mais desfavorecidas da cidade. Licenciou-se em História na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em 1967. Obteve o grau de Doutor, em 1984, na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e integrou o corpo docente dessa Faculdade. Foi nomeado em 1994 professor catedrático daquela Universidade. Durante o seu percurso de docente universitário foi professor convidado da École des Hautes Études en Sciences Sociales, de Paris (1989 e 1999), da Universidade de São Paulo (1991 e 1997) e da Yale University (2003). Coordenou o volume “Alvorecer da Modernidade”, vol. III da História de Portugal dirigida por José Mattoso (1993). Publicou recentemente “Vem aí a República! 1906-1910” (2009). Na Imprensa da Universidade está a reunir obra dispersa com o título genérico de Miunças, três volumes (2011-2012). Presidente do Teatro dos Estudantes da Universidade de Coimbra (1963), Presidente da Associação Académica de Coimbra (1964); Deputado à Assembleia Constituinte da República Portuguesa (1975-1976); Secretário de Estado da Orientação Pedagógica dos governos presididos por Mário Soares (1976-1978); Presidente do Conselho Diretivo da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra (1985-1989 e 1991-1993); Comissário-Geral da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1999-2002), e diretor da revista Oceanos (1999-2001). Membro da Comissão Consultiva das Comemorações do Centenário da República (2009-2011). Dirigia a revista “Anais do Município de Faro” A 18 de abril de 2012 jubilou-se, tendo proferido a “última lição” na Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Joaquim Romero Magalhães colaborou com a Universidade do Algarve desde os seus primórdios, defendendo esta instituição num dos momentos mais difíceis da sua instalação. Nos Seminários organizados em 1982 e 1983, subordinados à temática “Portugal Mediterrâneo, o Algarve no contexto português” e destinados à melhor integração dos emigrantes portugueses em férias no Algarve, Joaquim Romero Magalhães foi uma das personalidades que proferiram lições no âmbito dos Programas dessas realizações. A sua colaboração estendeu-se posteriormente a algumas edições do Mestrado em “História do Algarve”, assegurando blocos temáticos da componente escolar desse grau. Participou em diversos júris de doutoramento que conduziram à qualificação do corpo docente da UAlg. Pode referir-se os casos do António Rosa Mendes ou do José Carlos Vilhena Mesquita, criando com o primeiro uma relação de enorme proximidade que foi bruscamente cortada com a morte deste professor da Universidade do Algarve. Na sessão de homenagem que a Universidade do Algarve dedicou a António Rosa Mendes, Joaquim Romero Magalhães foi um dos oradores. Promoveu, juntamente com Manuel Viegas Guerreiro, a publicação de duas descrições do Algarve do século XVI: Corografia do Reino do Algarve (1577), de Frei João de S. José, e História do Reino do Algarve (circa 1600), de Henrique Fernandes Sarrão. Dois textos fundamentais para compreender a história do Algarve. A sua bibliografia inclui inúmeros trabalhos sobre o Algarve Económico, centrando-se especificamente nos séculos XVI, XVII E XVIII. Faleceu em casa, na cidade de Coimbra, na madrugada do dia 24 de dezembro de 2018. Por Luís Coelho
Tenho o privilégio de ser o primeiro escriba do Lugar ao Sul em 2019. Seria pois simpático deixar no ar votos de um feliz ano novo, repleto de sucessos pessoais e profissionais. Em vez disso, gostaria de recordar que 2019 é um ano particularmente importante para a nossa vida colectiva. Créditos Fotográficos: Tomás Monteiro Site de opinião Lugar ao Sul distingue pelo segundo ano consecutivo uma personalidade marcante do ano.
Uma personalidade ímpar que em 2018 cimentou a sua posição como um dos grandes músicos da nova geração da cena cultural nacional. Júlio Resende, pianista e compositor Algarvio, teve um ano de 2018 imparável e recebe agora a distinção de “Personalidade do Ano a Sul 2018” atribuída pelo segundo ano consecutivo pelo site de opinião “Lugar ao Sul”. Participou no Festival da Canção como compositor da música que Emmy Curl interpretou e teve a oportunidade de actuar, com Salvador Sobral, para uma audiência de milhões de pessoas em todo o mundo ao lado de um dos seus ídolos, Caetano Veloso, na final do Festival Eurovisão da canção em Lisboa. O palco tem chamado insistentemente por ele. Seja a solo, seja em dueto com Salvador Sobra, seja através do projecto comum de ambos, a banda Alexander Search, foram muitos os concertos que o apresentaram definitivamente ao país em 2018. Ainda em 2018 Júlio Resende volta a editar um novo álbum, "Cinderella Cyborg". O Jornal Público escreve que este “é um nome em que o pianista pretende reflectir não um choque, mas um encontro entre aquilo que há de mais inocente e poético – na vida e na música –, e o lado mais maquinal e frio associado à tecnologia.” Este seu novo álbum foi nomeado como melhor álbum português de 2018 pela plataforma Altamont e ficou ainda considerado entre os melhores discos pela equipa do Observador (jornal on-line). Os últimos anos tem sido intensos para Júlio Resende. Em 2007 grava o seu primeiro álbum – “Da Alma” - através de prestigiada editora de Jazz, Clean Feed, tornando-se o mais jovem músico português a editar um disco para esta editora, enquanto líder. Segue-se, em 2009, “Assim Falava Jazzatustra”, álbum que viria a ser considerado um dos melhores discos do ano pela crítica especializada. Em 2011 surge “You Taste Like a Song”, um disco em Trio, com a participação de grandes músicos tendi sido classificado com 5***** Estrelas pela Revista TimeOut. Em Outubro de 2013 lança Amália por Júlio Resende. O seu primeiro disco a solo, onde revisita algumas canções do repertório de Amália Rodrigues, iluminado pela memória e pela Voz da Diva, num dueto (im)possível no tema “Medo”. Este trabalho mereceu a melhor atenção por parte da crítica nacional e internacional. Da prestigiada Clássica francesa onde recebeu CHOC DISC***** à célebre Monocle, o consenso foi claro: este é um disco que marca e “está ao nível do que de melhor se faz pelo vasto Mundo”. Seguem-se “Fado & Further” e “Amália por Júlio Resende”. Pelo caminho ainda cria “Poesia Homónima” com o psiquiatra Júlio Machado Vaz onde apresentam poemas de Eugénio de Andrade e Gonçalo M. Tavares. De relevância assinalável é igualmente o cuidado que tem na escolha das vozes que acompanha ao piano, onde se destacam, a titulo de exemplo, para além de Salvador Sobral, Elisa Rodrigues e Sílvia Perez Cruz, com quem também já gravou. Mas Júlio Resende não se esgota na música. Assina uma coluna de opinião na Revista Visão onde aborda temas tão diversos. O também licenciado em Filosofia é pois alguém que reflete regularmente sobre si e sobre os outros. Quando questionado recentemente pela revista Blitz sobre a forma como a Filosofia o acompanha, afirmou que o “obriga a pensar em conceitos interessantes. E a trabalhá-los bem. E tento trazer essas reflexões para o mundo musical, ainda que a música seja outra coisa, que vem depois da reflexão. A reflexão faz-se para trás, a vida faz-se para a frente, como se costuma dizer em Filosofia. E a música também.” Júlio Resende é um profissional inspirador e os autores do site Lugar ao Sul entenderam distingui-lo, depois de em 2017 ter sido distinguido O Prof. Dr. João Guerreiro, ex-reitor da Universidade do Algarve, que foi o presidente da Comissão Técnica Independente responsável pelo apuramento das causas das tragédias dos incêndios de 2017. Em 2018, Júlio Resende conseguiu impor a sua marca num pais que ainda vive profundamente centralizado. Além disso entendemos que a sua forma de olhar o mundo vai ao encontro do que temos vindo a defender no Lugar ao Sul: necessitamos de mais e melhor opinião. Sobre essa ideia, Júlio Resende, tem uma frase lapidar: “As pessoas que digam coisas! Mas tentem pensá-las antes de dizer, já não seria mau.” A data e local da cerimónia pública de atribuição desta distinção será anunciada em breve. |
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