Notas de uma quarentena improvável (4)

Sugestões tardias para dias longos

Por Anabela Afonso

Sei que são horas tardias, mas hoje não tive muito tempo para escrever, nem para pensar sobre o que poderia dizer de novo. De facto, trabalhar a partir de casa, com filhos, a ter que fazer almoço, jantar, arrumar, e tentar não cair no erro de ficar horas seguidas sentada em frente a um computador, é um verdadeiro desafio.
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Sorte a minha, que vou tendo pessoas à minha volta que me fazem chegar coisas sobre as quais vale a pena perder um bocado de tempo para partilhar. E por isso, hoje, escrevo sobre o que se pode fazer quando se está tanto tempo em casa, e não se está a trabalhar, ou se trabalha tanto que, por vezes, é preciso encontrar um escape, para ajudar os dias a correrem de modo mais suave.

Do que me chegou deixo duas sugestões.
A primeira, nada óbvia para mim, que sou totalmente inapta em tudo o que tenha a ver com desenhar, pintar, ou fazer qualquer outra coisa ligada ao mundo das artes visuais, veio de uma partilha de quem está, por estes dias, a aproveitar as coisas do quotidiano, descobrindo o que uma pessoa a precisar de distrair-se pode fazer com uma caixa de ovos e mais qualquer coisa que tenha à mão. O resultado, é este que vos deixo aqui, e a autora é a Elsa Newton. Obrigada Elsa, por me ter ajudado a encontrar matéria para a minha nota de hoje!

Colagens e recortes a partir de caixas de ovos, por Elsa Newton

A segunda sugestão já é área onde me sinto mais à vontade, e surgiu de um pedido de uma amiga, que queria sugestões de livros para a ajudarem a passar estes dias de quarentena. De preferência histórias bonitas.

Precisei de algum tempo, para ver o que poderia ter de sugestões nesta área. Percebi-me com este exercício, que nas minhas opções de leitura não abundam as histórias bonitas, mas ao fim de um bocado, cheguei a duas opções que correspondem inteiramente ao critério das histórias bonitas.

A primeira, O Livro de Emma Reys, que é a compilação de um conjunto de 23 cartas que, entre 1969 e 1997, a pintora Emma Reyes mandou ao seu amigo Germán Arciniegas, onde revela as duras circunstâncias da sua infância. Apesar dessas duras circunstâncias relatadas, é notável o tom em que a autora escreve, sem um vestígio de amargura, e com uma qualidade literária e narrativa impressionante, para quem só aprendeu a ler e a escrever já bastante tarde. O livro de Emma Reyes é uma excelente proposta de leitura para aprender como as dificuldades não têm que tornar-nos pessoas amargas. Podem encontrá-lo aqui, e em muitos outros sites que vendam online. 
A segunda sugestão é para aproveitar estes dias de reclusão para descobrir Machado de Assis, e se a vossa experiência de descoberta for idêntica à minha, começam com o Dom Casmurro, e seguem logo de seguida para As memórias Póstumas de Brás Cubas, sem hesitar, porque a sua escrita é de tal maneira luminosa e vibrante que nos dá vontade de não deixar de o ler mais.

Por sorte, a sua obra já entrou em domínio público e já se conseguem descarregar alguns dos seus livros na internet, gratuitamente. Experimentem, e depois digam-me se não valeu a pena.

​E acreditem que, no final, #Vaificartudobem