Por Gonçalo Duarte Gomes A questão das alternativas disponíveis para o pessoal do Algarve orientar a vidinha, seja ao nível da mobilidade na região, da economia ou dos cuidados de saúde, têm estado na ordem do dia. O que é óptimo, pois finalmente começa a discutir-se a vida da região para além do seu servilismo veranil. Mas, infelizmente, para além da ordem do dia e dos suspiros sonhadores da malta, as alternativas não se encontram em mais lado nenhum, pois é coisa de que não dispomos. Por outro lado, realidades alternativas ou pós-verdades, como agora se diz, temos para dar e vender… Há quem considere esta altura, em que rebentamos pelas costuras e a falta de investimento estruturante a que a região tem estado votada desde há muito é cruelmente exposta, como inoportuna para estas reflexões. Porque pode melindrar quem nos visita, que está cá é para descansar e não para aturar as nossas questiúnculas existenciais, ou porque a sensação de estar como atum em lata de conserva é má conselheira, ou até porque no Algarve a regra – com chancela ministerial – é comer, calar e… ter paciência. Paciência com uma rua (por muito que se faça, disto não passará) chamada EN125, paciência com prometida mas não cumprida devolução da Via do Infante, paciência com a saturação das infra-estruturas básicas, paciência com a quebra dos serviços elementares, paciência com o desordenamento territorial e subversão da legalidade que nos equipara ao que de pior há no Terceiro Mundo (ou já nem sequer aí), paciência com a volátil monocultura económica porque, como disse Carlos César, o Algarve só serve para folia. Já nem os limites administrativos ou as jurisdições concelhias estão a salvo, sendo tudo subjugado pelos cartões partidários! Vale tudo neste canto, desde que se continue a receber bem. Porque o Algarve se mantém fiel ao atávico comportamento de ceder a cama às visitas, amalhando-se os da casa como der. Se por um lado este autêntico clássico do português suave e até mediterrânico representa uma generosidade e hospitalidade absoluta, não é menos verdade que se trata de uma cortesia moldada pela pobreza meridional de mão estendida, que transforma a enxerga no melhor que há para oferecer. Não que esta forma percursora e mais abnegada de couchsurfing seja má! É só que, ao fim de tantos anos do estatístico milagre económico que é o Algarve, e que só a realidade teima em contrariar, esperava-se melhor para a região, porque o objectivo do “progresso” é um crescente bem-estar das pessoas (residentes e visitantes), e não a sua sistemática saturação. Neste processo, a voz do Algarve emudece cada vez mais, não havendo quem se faça ouvir no País, em defesa e reivindicação da região. Parece não dar jeito lembrar, mas em tempos, e durante cerca de 85 anos, houve uma representação regionalista em Lisboa, a Casa do Algarve. Ali, as gentes algarvias radicadas na capital ou arredores tinham uma associação que as congregava, mantendo vivo o espírito comunitário e a sua ligação às raízes. De caminho, funcionava como força de lobby informal em prol dos assuntos de interesse para o Algarve, directamente onde tudo acontece. Há quase 2 anos surgiu a notícia do seu encerramento, após lenta agonia e abandono. Tirando algumas vozes, como a de Carlos Albino, a coisa passou mais ou menos despercebida e sem contestação. A esta distância, e pensando bem, acaba por ser um acto de misericórdia, pois se de lá alguém, adaptando as palavras de Manuel Alegre, perguntasse ao vento que passa notícias da sua região, o vento calaria a desgraça e o vento nada lhes diria. E antes assim. Porque seria triste dizer-lhes, por exemplo, que embora anunciado como uma região de topo, o Algarve nem toca na borracha no que diz respeito a discussões de crescidos, como a localização da Agência Europeia do Medicamento e tudo o que pode trazer. Seria ainda mais triste dizer-lhes que também que só fica a ver a banda passar mesmo em temas mais lúdicos e turísticos – a vocação inescapável da região, como nos dizem – como o Festival da Eurovisão ou até o da Canção. Caramba, em Lisboa apenas teriam novas do Algarve pela apresentação do Festival F, que teve que ir ao beija-mão na capital do Reino, justamente para ter alguma visibilidade. E este pequeno grande pormenor diz muito sobre o peso específico do Algarve e a consideração que merece. Um Algarve que fica fora de mão para vir cobrir um evento cultural, mas é logo ali ao lado quando, daqui a uns dias, em pleno Agosto, os ditos grandes órgãos da comunicação social nacional se andarem por cá a acotovelar nas sarjetas do “jornalismo”, na ânsia de cobrir o vómito que algum pseudo-VIP deixa na calçada na ressaca de uma bezana estival, ou uma mama incauta que salte de um bikini mais atrevido. Curioso, no mínimo. Citando novamente, e agora sem adulterações, o poeta já referido: Pergunto à gente que passa Em 1974, o mítico grupo musical Aguaviva perguntava "o que vêem os poetas andaluzes de hoje?". É questão que se calhar era interessante colocar nos dias de hoje, mas a todos nós, poetas algarvios, prosaicos ou românticos, pragmáticos ou espirituais. Só estaremos bem quando a nossa resposta for: Mas há sempre uma candeia P.S. – a Liga para a Protecção da Natureza, a mais antiga das Organizações Não Governamentais de Ambiente de Portugal e uma das mais antigas da Europa, comemora hoje o seu 69º aniversário. De resto, foi em sua honra que este dia foi instituído, em 1998, como o Dia Nacional da Conservação da Natureza. Nascida de um apelo do poeta Sebastião da Gama, e fundada pelo Professor Baeta Neves, desde 1948 que tem prestado um enorme serviço ao País, introduzindo as questões da Ecologia no debate público nacional. Num tempo em que o associativismo vive tempos díficeis, mais meritório se torna este bonito número e o esforço de todas as pessoas que o tornam e tornaram possível. Parabéns à LPN e a toda a gente que dela faz parte, ou fez, onde tenho o grato privilégio de me incluir. Venham pelo menos outros tantos.
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