Por Luís Coelho O País está tristonho. O Algarve ainda mais. Desde Março que a COVID19 afasta os turistas de solo Luso, o que acaba por atingir muito negativamente o turismo, motor da nossa recuperação económica. As consequências para a nossa região? Nada de bom, infelizmente Todos sabemos que o Algarve depende criticamente do turismo para gerar riqueza e emprego. Dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) revelam que, historicamente, cerca de 50% do nosso valor acrescentado bruto depende directamente de sectores ligados a este fenómeno económico assim como 40% do nosso emprego. Por outro lado, a mesma fonte revela que a operação turística na região é sazonal (50% dos hóspedes que visitam o Algarve fazem-no entre Junho e Setembro; é neste período que a hotelaria classificada da região capta mais de 60% dos seus rendimentos) e fortemente dependente do mercado externo (este representa 75% do total de dormidas). São números avassaladores e que permitem, desde logo, antecipar que o futuro imediato do Algarve não é risonho.
Já há evidência de que a crise se está a instalar a sul. Um primeiro indicador é o número de pessoas inscritas no Centro de Emprego. Dados do Instituto do Emprego e Formação Profissional mostram que em Maio de 2020 havia 26 140 pessoas activamente à procura de emprego na região. Em Maio de 2019 esse número era de apenas 7 879, pelo que a variação homóloga é de uns impressionantes 231.8%. Destaque para Albufeira que, infelizmente, vê o número de pessoas nesta situação passar de 670 em 2019 para 5 243 em 2020. Esta situação é paradigmática já que este concelho é a capital do turismo no Algarve e no País. Assim, a variação homóloga de 682,5% registada no número de pessoas à procura de emprego em Albufeira é uma ilustração cruel dos efeitos da pandemia sobre a capacidade da região para criar e reter emprego. As más notícias não ficam por aqui. Em particular, os dados do INE mostram que, entre Janeiro e Maio, o Algarve perdeu em termos homólogos 67.6% das dormidas face a 2019, o que se traduz numa redução concomitante de 72.2% dos proveitos totais gerados pela hotelaria classificada na região. São 4 milhões de dormidas a menos. São 200 milhões de euros de facturação perdidos. Lamentavelmente os números de Junho e Julho – que ainda não são conhecidos – dificilmente serão melhores o que, a confirmar-se, tornará a situação ainda mais preocupante. Curiosamente, a ironia é grande. De facto, os dados do INE revelam que no início do ano a região estava a captar mais turistas e mais receitas (2.2% de dormidas e 1.2% de proveitos em Janeiro; 14.6% de dormidas e 17.2% de proveitos em Fevereiro). Logo, não fosse o efeito Covid19, 2020 poderia ter sido um dos melhores anos turísticos de sempre no Algarve. As últimas notícias não permitem antecipar uma melhoria significativa do cenário económico a sul. Na semana passada as autoridades da Noruega e da Irlanda excluíram Portugal da lista de países considerados seguros para viagens. Surpreendentemente, o mesmo aconteceu com o Reino Unido que, contra todas as expectativas, voltou a colocar Portugal fora do seu corredor aéreo tendo ainda anunciado que, salvo situações excepcionais, apenas voltará a revisitar formalmente a sua decisão no final do mês de Agosto. Valha-nos pois o tónico do anúncio oficial da Formula 1 vir para Portimão já em Outubro. Não sendo panaceia para todos os nossos males esta conquista representa um factor de motivação importante para a região que assim passa a ser notícia no mundo pelas boas razões. O que fazer? Desde logo estimular o mercado interno capitalizando no facto de Agosto ser o mês de férias por excelência para muitos nacionais. É notória a acção dos agentes públicos e privados neste campo que, através de uma comunicação eficiente nas redes sociais, têm vindo a enfatizar o melhor que a região tem para oferecer a quem nos quiser visitar. Há também o mercado espanhol, o qual é historicamente crítico para viabilizar as unidades turísticas da raia. Seria importante avançar com a suspensão temporária das portagens na via do infante como motivo adicional para uma campanha de marketing dirigida a este importante mercado. Mesmo que tenhamos sucesso em dinamizar a procura turística nas próximas semanas, a verdade é que 2020 promete ser uma enorme desilusão para todos os operadores turísticos do Algarve. Assim, é importante conhecer rapidamente o plano de recuperação que o governo está a preparar para a região. Reside aqui alguma esperança de que os próximos meses possam ser ultrapassados com calma e serenidade. Para já contamos com mais 300 milhões de euros para a coesão, valor anunciado na semana passada por António Costa na ressaca das negociações em Bruxelas. Segundo se sabe, estes fundos somam ao montante que a região terá disponível no próximo quadro comunitário. A confirmar-se, trata-se de uma boa notícia já que, basicamente, duplica as verbas comunitárias à disposição do Algarve (em 2014-2020 o Cresc Algarve teve uma dotação total de 319 milhões). Provavelmente não é suficiente; mas é um bom princípio. Aguardemos então por boas notícias vindas de Lisboa.
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