Por Gonçalo Duarte Gomes Nos últimos tempos, muita tem sido a polémica devido ao arrasar da clássica paisagem algarvia de sequeiro, mediterrânica, em detrimento da instalação de explorações frutícolas, onde a cultura do abacate tem ganho destaque, concorrendo com as estufas de frutos vermelhos. Eu próprio - mea culpa, poenitentiam agite - tenho contribuído amiúde para essa discussão picuinhas em torno da modernidade agrária na ponta do balde de uma retroescavadora, como se o património cultural, técnico e genético que os sistemas agrícolas de antanho encerram fosse alguma coisa de importante. Mas... e se afinal, depois de tanto estardalhaço, o abacate e o Algarve fossem uma e a mesma coisa? Uma recente epifania levou-me à brilhante (pelo menos até prova em contrário) conclusão de que o abacate é afinal o fruto que melhor materializa os valores deste Algarve contemporâneo. Não, não tenho excesso de tempo livre em mãos, nem preciso de meter mais tabaco na cena. Aliás, já a pensar no atávico e possidónio cepticismo que cai, qual bando de aves de rapina, sobre todo o pensamento inovador, e porque há fortes laivos de ciência nesta reflexão, precavi-me, presenteando a comunidade com nada mais nada menos do que uma bonita tabela para sistematizar as afinidades:
Face a tão arrasadoras e irrefutáveis provas, não me parecem credíveis quaisquer dúvidas que possam subsistir relativamente ao abacate como desígnio regional e alter ego do Algarve.
Não resta sequer alternativa honrada que não passe pela humilde prostração, em reverente pedido de perdão por haver algum dia duvidado dos portentos deste admirável Algarve novo, louvando o renovado ímpeto dessa religião que é o fartar, vilanagem, seja em terra ou no mar. Deixei para o fim um pequeníssimo senão. Dados paleoecológicos parecem indicar que o abacate terá sido parte importante da dieta dos mamutes na América do Sul. E vejam o que lhes aconteceu: extinguiram-se. Agora pensem...
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