Por Luís Coelho No dia 25 de Junho desafiei os leitores do Lugar ao Sul a responder a um inquérito que visava perceber melhor o que é que os Algarvios (de nascimento ou de adopção) querem para a sua Região. Na altura referi que divulgaria os resultados caso fosse possível obter mais de 50 respostas. O prometido é devido e vai daí o presente apontamento. Desde o dia em que o questionário foi tornado público até ao momento em que escrevo este texto foi possível obter 63 respostas. A maioria dos respondentes é do género masculino (76.2%), com idades compreendidas entre os 31 e os 50 anos (64%). A esmagadora maioria é detentor de habilitação superior (50.8% licenciatura; 34.9% mestrado ou doutoramento), sendo maioritariamente residente nos concelhos de Faro (49.2%), Loulé (15.9%) e Olhão (14.3%). Os respondentes fazem parte da população activa (há apenas quatro respostas de aposentados), trabalhando em empresas privadas (31.7%), na função pública (27%) ou como profissional liberal (19%).
Para além da parte dedicada à “caracterização da amostra” acima descrita, o questionário encerra ainda três componentes adicionais. A primeira convida a pensar sobre a realidade do Algarve. Aqui questionava-se sobre os pontos forte e fracos da região. No que toca aos primeiros a mensagem é clara: a maior virtude do Algarve é a qualidade de vida que a região oferece (90.5% das respostas). No que concerne aos pontos fracos a dispersão é significativamente maior. Em particular, um terço dos inquiridos aponta a concentração da base económica regional; 19% assinala a rede de transportes e 12.7% as condições de trabalho oferecidas no Algarve. A segunda parte do questionário foca-se no futuro da região. A primeira questão dentro desta temática convida a pensar sobre a realização de um único investimento estratégico para o Algarve. Neste capítulo, a larga maioria dos respondentes assinalou a opção “Hospital Central” (52.4%) com os transportes também merecerem destaque: 22.2% das respostas indica a necessidade de reformular o sistema da ferrovia enquanto 12.7% aponta a mesma necessidade mas para a rede viária que serve o Algarve. Verifica-se uma divisão de opiniões quando o tema é a identificação do sector que deve servir como alavanca para o desenvolvimento da região. De facto, 34.9% dos respondentes sugerem que este deve ser a “economia do mar”, enquanto 20.6% preferem reservar este lugar para as tecnologias de informação. Já 19% dos que responderem focam a sua atenção na produção de energia limpa, com 17.5% a indicar a opção “outra”. A análise qualitativa destas resposta sugere que há uma vontade de que o desenvolvimento futuro da região seja assegurado através de uma estratégia que assente cumulativamente em vários sectores de actividade. A terceira e última parte aborda a questão política. É interessante notar que 68.3% dos respondentes dizem-se a favor de que o Algarve pressione no sentido do País ser regionalizado. Em sentido contrário, 31.7% dos inquiridos manifestou-se objectivamente contra tal solução. No que toca aos concelhos do Algarve, observa-se que a maioria dos respondentes é da opinião que devemos manter os 16 que existem: 52.4%. No entanto, 42.9% dos inquiridos manifesta a opinião contrária, i.e., diz preferir que este número seja reduzido. A pergunta final questionava sobre a visão do respondente sobre a classe política regional. O padrão de resposta é claro: 60.7% dos inquiridos é da opinião que é preciso mudar tudo. Ainda assim, 29.5% mostra-se satisfeito com as soluções que encontra ao nível municipal, preferindo alterar apenas a representação da região na Assembleia da República (AR). Em sentido contrário, apenas 4.9% diz estar satisfeito com o trabalho realizado pelos eleitos pela região na AR, pedindo mais na esfera da política municipal. O que podemos aprender com este exercício? É importante reconhecer que o mesmo é desprovido de qualquer validade científica, com a agravante do perfil dos respondentes não corresponder às características sociais do Algarve. Ainda assim, não deixa de ser interessante notar que os que responderam dizem gostar da qualidade de vida que encontram. No entanto, mostram preocupação com a fraca diversificação da base económica e com a situação do SNS e dos transportes na região. No que concerne à questão política, verifica-se que parece haver algum consenso sobre a necessidade de se avançar com a regionalização, sendo que tal não deve necessariamente implicar uma revisão do mapa autárquico que actualmente serve o Algarve. Finalmente, valerá a pena enfatizar que parece haver algum desconforto com o nível de representatividade política actual, sendo o mesmo mais agudo quando o tema é o trabalho dos deputados à AR eleitos pela região do Algarve. Para uma primeira abordagem sobre o tema não me parece mal. Concorda estimado leitor?
1 Comment
Miguel
14/7/2019 12:39:06
Poderia dizer que essencialmente gostaria de um Algarve Funcional, onde o turismo tem lugar mas onde não é alfa e o ómega da região, e onde tudo se descaracteriza em seu nome; onde os serviços públicos dão pelo menos satisfatoriamente, resposta às necessidades da população que paga impostos como nas restantes regiões, e onde a qualidade de vida não é sinónimo de abandono de vastas regiões mas do cuidado das mesmas que podem e devem gerar oportunidades económicas sempre apoiadas nos produtos ou características locais.
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