Por Luís Coelho O modelo económico do Algarve assenta, essencialmente, no fenómeno turístico. Esta situação não é nova, tendo começado a desenvolver-se na década de 60 do século passado com a abertura do Aeroporto Internacional de Faro. Década após década, trilhámos um caminho que permitiu transfigurar por completo a região, densificando de forma muito significativa um conjunto de actividades que - directa ou indirectamente – tiram partido de uma procura relativamente regular (e crescente) pelo sol e praia Algarvios. Admito pois que a maior parte dos Algarvios nunca pensou profundamente sobre os eventuais perigos deste perfil de especialização. De facto, genericamente falando, ter um sector turístico robusto é uma vantagem pois assegura algum dinamismo empresarial e a criação de oportunidades de trabalho. O ano de 2020 vem, no entanto, sublinhar as debilidades da nossa sobre-especilização económica. Desde há vários anos a esta parte que a informação produzida pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) revela que mais de 50% da nossa riqueza e 40% do nosso emprego dependem directamente de actividades conexas com o turismo. Infelizmente, desde Março que os fluxos turísticos mundiais pararam de forma abrupta, algo que atingiu fortemente o coração económico do Algarve. A este propósito vale a pena citar o último destaque do INE sobre turismo, o qual dá nota de que entre Janeiro e Setembro a região perdeu 10.6 milhões de dormidas face a 2019 (i.e., 60.8%) e viu esfumar-se 658.9 milhões de euros de proveitos nas suas unidades hoteleiras classificadas (i.e., o equivalente a uma perda homóloga face a 2019 de 61.6%). As consequências deste autêntico murro no estômago são ainda desconhecidas. De facto, os agentes económicos demoram a tomar decisões, especialmente quando a incerteza é grande. No entanto, os sinais que temos são muito preocupantes. Vejamos o que se está passar com o mercado de emprego no Algarve. Infelizmente, o INE não publica a taxa de desemprego regional com muita frequência pelo que o melhor que se consegue fazer é considerar a informação disponibilizada pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional (IEFP). Em particular, este Instituto publica mensalmente dados sobre o número de pessoas que estão inscritas nos seus Centros de Emprego. Atentemos então no gráfico abaixo que replica os dados para 2019 e 2020: Como é possível verificar, 2020 começou de forma igual a 2019. Em particular, em Janeiro, existiam na região cerca de 20 mil pessoas inscritas no IEFP. É curioso notar como a curva evolui em 2019. Com o aproximar da época estival o número de inscritos vai diminuindo, atingindo o seu valor mínimo em Julho: 7 229 pessoas. A partir daí o ciclo do emprego muda e a região começa a reduzir a oferta de postos de trabalho. É importante dizer que a curva vemos em 2019 é bastante típica para o Algarve, algo que mostra bem o efeito da sazonalidade da procura turística no nível de emprego disponível. São vários os efeitos negativos desta situação, tema que fica para um outro texto neste Lugar ao Sul. De facto, o que gostaria de enfatizar é o que tem vindo a ocorrer em 2020. Primeiro, o impacto inicial da pandemia ditou um aumento brusco do número de pessoas inscritas no IEFP, resultado da paragem económica induzida pelo confinamento geral que vivemos a partir do final do primeiro trimestre do ano. Segundo, a retoma e o aproximar dos meses de Verão permitiu absorver parte dos desempregados da região. No entanto, este fenómeno é ténue já que mesmo em Agosto – mês Rei do turismo Algarvio - permaneciam inscritas no IEFP cerca de 20 mil pessoas, sensivelmente o valor máximo registado em 2019 (i.e., no mês de Janeiro). Terceiro, o final da época balnear encerrou o ciclo sazonal do emprego na região, o que levou a um aumento expressivo do número de inscritos no IEFP a partir de Setembro. Em Outubro, último mês para o qual existem dados, são já 24 mil pessoas nesta situação e a tendência é para aumentar. Como comparamos com o País? O gráfico abaixo responde a esta questão: Como seria de esperar, a degradação económica que se fez sentir durante 2020 atingiu duramente o País (aqui representado apenas na sua parte continental). De facto, assistiu-se a um crescimento homólogo do número de inscritos no IEFP em todos os meses a partir de Março. Dito isto, é importante notar que o fenómeno do crescimento do “desemprego” é sempre mais forte no Algarve. A ordem de grandeza é cerca de 2.5 (i.e., a taxa de variação homóloga mensal no Algarve é, genericamente, 2.5 superior à que se verifica no continente). A conclusão só pode ser uma: nesta variável a nossa região está a sofrer bem mais do que o resto de Portugal Continental.
O futuro é incerto. Por um lado existe a esperança que 2021 traga consigo a vacina para a COVID-19. Por outro, é preciso viver até que esta chegue, seja distribuída em larga escala de forma segura e tenha os efeitos desejados. Será que o Algarve pode esperar até lá?
1 Comment
Nelson Mendes
28/11/2020 20:00:22
Infelizmente, terá que esperar, quer se queira quer não. Da forma como as nossas Lideranças quer a nivel nacional quer regional, manobraram o Algarve para um beco-sem-saida económico da Economia assentar exclusivamente no Turismo vai doer. Esperemos que a(s) Vacina(s) efectivas ou não mudem algo para que pelos menos a segunda metade do próximo ano se possa salvar. Saudações
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