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A prodigiosa libido dos elefantes brancos

9/6/2017

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Por Gonçalo Duarte Gomes

Se esse conhecido atleta olímpico do desempenho reprodutivo, que é o coelho, tivesse uma noite escaldante com uma central de betonagem, e ao fruto desse caliente one-night stand fosse acrescentada a libido do Zézé Camarinha nos seus tempos de mocidade, ainda assim estaríamos aquém do portento hormonal que são os elefantes brancos do Algarve.

Houve um tempo em que tal bicheza andou meio esmorecida, frouxa, mole mesmo. No entanto, o actual e optimizado optimismo português (que vem provar o poder dos trios, pois após o efeito demolidor de uma troika saída de Sodoma, temos uma tríade partidária a deter o poder parlamentar, que por sua vez é dinamizadora de uma trindade milagrosa, assente em Futebol, Fátima e Festival) parece funcionar para os pálidos paquidermes como um cocktail de Viagra com Prozac, tudo bem batido – devia ser mixado, eu sei, até para evitar trocadilhos, mas sou um rústico – em Red Bull, com muita canela.

Embale-se tanta pujança no ritmo festivaleiro e trauliteiro de um ano eleitoral, e as luzes começam a baixar, o Barry White começa a soar em sedutor fundo e sabemos, até porque já vimos isto antes, que está prestes a acontecer o amor, à bruta e sem consentimento, com os bolsos dos contribuintes.
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Sabemos de fonte segura, concretamente pelo estado miserável do País e por uma ou outra bancarrota lá pelo meio (e muitos dos que hoje governam participaram, directa e activamente, na última, há bem pouco tempo), o efeito das loucuras eleitoralistas, seja de iniciativa pública, seja privada, mas publicamente apadrinhada. Desenhadas para encher o olho do votante papalvo, enchem na verdade o bolso do especulador amigo, os cofres da banca também amiga (que entretanto se esvaziam misteriosa e inexplicavelmente, altura em que o epíteto de papalvo se passa a aplicar a todos nós, que bancamos os “resgates”) e, há quem diga – as pessoas são terríveis –, que ainda sobram uns trocos para uns donativos altruístas e desinteressados a um ou mais partidos.

Afinal, aos amigos não se nega nada.

Neste momento, e ainda a procissão vai no adro, há já de tudo um pouco, do grande ao pequeno. O último a ingressar no cardápio foi o FarFormosa, para o Porto Comercial de Faro, juntando-se assim a banalíssimos resorts, eco ou não, de Vale do Freixo, Lagoa dos Salgados, [inserir o nome de qualquer localidade, que é igual] ou o bem mais extravagante e disneylândico Algarve Cluster Multiusos de Loulé, sem esquecer o atentado à mão vermelha da zona antiga de Lagoa.

Parte desta intenção farense tem um potencial tremendo, apesar do início com o pé esquerdo marketeiro – FarFormosa, a sério? Pode servir de alavanca para limpar e descontaminar – como deve ser, e não na base do entulhar dos problemas – uma zona degradada, incluindo algumas áreas de sapal limítrofes, que ainda há poucos anos eram assim uma coisa de bradar aos céus, e para requalificar, dignificar e aproveitar um interface marítimo-terrestre privilegiado (relativamente ao qual pelos vistos se atira ao chão a toalha do uso comercial marítimo, para sempre abandonado), direccionando-o para dois sectores estratégicos no Algarve, as ciências do mar e a náutica (centro náutico, marina e estaleiro naval), de forma pensada e adequadamente infra-estruturada.

Mas a partir daí, partilha com tudo o resto aquela ligeireza displicente de quem joga ao Monopólio com uma região inteira, que referi no texto da semana passada.

Desde logo, é surpreendente ser a Universidade do Algarve, que em tempos não muito distantes, não tinha dinheiro nem para o papel higiénico, a mentora do projecto, apesar de ser a mente lógica para o encabeçar. Mesmo obtendo autorização da Administração do Porto de Sines (ou será que entretanto entra em cena a Portos do Algarve, anunciada no final de 2016?), arranjando 75% de financiamento privado, no tal modelo que não sabem como vai ser, junto daqueles investidores que não fazem ideia onde andam, restam ainda 25% que têm que ir buscar ao porquinho mealheiro, para construir. E, pior ainda, depois manter. Eventualmente, enquanto estava tudo de olhos postos em Aljezur, o petróleo foi afinal descoberto nas Gambelas…

Isto sem considerar outras trivialidades que são responsabilidade também da esfera pública, como por exemplo, sei lá, as dragagens de manutenção. Esperemos que a viabilidade económica se revele solidamente ancorada, ficando eu muito feliz pelo erro da dúvida levantada.

Há depois a componente Disneylândia, que, num intrincado Tetris, vai tentar acomodar, não se percebe bem onde, uma amálgama, por vezes incoerente e até antagónica, de atracções, desde espaços comerciais e de restauração a residências assistidas (sinal de que os velhinhos-alvo são abastados, senão eram lares de terceira idade), passando por hotéis, incubadoras de empresas, aquários e centro de congressos.

Neste último ponto, está mesmo a tentar, com as suas 1.500 cadeiras, pisar os calos ao mais veterano e efabulado Algarve Cluster Multiusos, que, nas mais recentes novas (aqui) promete investimentos astronómicos e lucros instantâneos (que na notícia são confundidos com rentabilidade, que é uma percentagem – economistas, corrijam-me se estiver errado!), obviamente com milhares de postos de trabalho à mistura, de tal forma que vamos ter que trazer mais gente para cá para trabalhar, pois não tarda muito, não chegamos para as encomendas. Às costas desse paquiderme de 60 ha, para além de um nome bem mais tchã, que até nuns cereais de pequeno-almoço metia respeito, vêm logo 3.500 lugares para sentar congressistas, que num intervalo ou durante uma comunicação mais chata podem ainda aproveitar para ir ao parque temático ali ao lado fazer uma perninha no ski aquático ou teleski, em plena campina. Modernices.

Não sei como anda o mercado dos congressos no Algarve, mas pelos vistos o pessoal andava a palestrar debaixo de alfarrobeiras, ou em garagens, estilo igreja evangélica, tal não é a escassez de espaços para o efeito na região...

É certo que no papel cabe tudo, até mesmo delírios, e que concretizá-los é outra loiça. Não menos certo é que, nestas autênticas jogadas, o que mais interessa são as mais-valias das operações imobiliárias ou a constituição de direitos que, mesmo que impossíveis de realizar, fiquem adquiridos, para depois, mais tarde, se pedirem indemnizações ou negociarem contrapartidas – regra geral, tanto mais altas quanto mais disparatadas forem as projecções iniciais dos projectos.

Ora, perante tais devaneios, parece-me haver aqui duas formas de encarar a questão.

Primeiro, a abordagem dramática.

Porque é um drama, com as más experiências que temos de megaprojectos que dão em nada e nos deixam um tremendo ónus financeiro (alguém disse Grupo Espírito Santo?) e paisagístico, continuar a apostar na matéria de que se fazem as bancarrotas.

É também um drama, num Algarve onde tanto de sério há para fazer, com obras da EN125 que não acabam (e ainda têm o descaramento de nos pedir “paciência”), onde as carências ao nível da saúde são tremendas, onde a aposta em sectores económicos geradores de riqueza reprodutora é uma miragem, onde não há dinheiro para nada, ver tanto entusiasmo e empenho, de tantas entidades, direccionado para estes autênticos fait divers, destinados a perpetuar um modelo integralmente dependente de factores externos.

Em alternativa, temos a abordagem cómica, em que nos lembramos de que estamos em ano de autárquicas, e prestes a entrar nessa tempestade perfeita que é período de campanha em plena silly season, e toda a boçalidade e fogo-de-artifício, mesmo com pólvora seca, ressurge nesta altura, porque há que alimentar a fogueira eleitoral.

Com isso presente, é só relaxar e rir um bocado face à loucura de tudo isto, um pouco como quem vê macacos a atirarem excrementos uns aos outros: temos consciência de que é uma brincadeira suja e algo tonta, mas não conseguimos evitar uma gargalhada.

Mesmo sabendo que não vamos ser os últimos a rir.
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