Por Luís Coelho No passado dia 07 de Abril lancei um pequeno questionário no Lugar ao Sul para perceber o que os Algarvios – nascidos ou de adopção – pensam sobre o futuro económico da nossa região. Responderam ao apelo 337 pessoas de todos os concelhos do Algarve, o que torna o exercício bastante interessante. No entanto, é preciso notar que não foi seguida uma abordagem cientifica rigorosa, razão pela qual os resultados abaixo são meramente indicativos. Ainda assim, a leitura dos dados recolhidos não deixa de ser interessante. Importa começar por dizer que 56% dos respondentes são do gênero masculino, sendo que 37.4% têm entre 41 e 50 anos (14.8% tem mais de 50 anos e 19.6% tem entre 18 e 30 anos). A maior parte reside e trabalha em Faro (33.2%, 37.3%) ou em Loulé (18.4%, 19.8%) e tem formação superior (50.7% licenciatura e 27.9% mestrado ou doutoramento). Os respondentes são maioritariamente pessoas no activo: 37.4% trabalha em empresas privadas, 27.6% são donos da sua própria empresa e 19.9% são funcionários públicos.
O inquérito prossegue abordando o tema “O Algarve económico em 2020”. Infelizmente, as respostas sugerem que o sentimento dominante é claramente negativo. De facto, 85.2% dos inquiridos admite que o Algarve não está bem preparado para lidar com as consequências económicas do surto que estamos a viver e 81.4% afirma que a região está menos preparada do que o resto do país para o fazer. Cumulativamente, 80.8% espera que a riqueza produzida no Algarve vá cair mais de 5% em 2020 face a 2019, com 81.7% a afirmar que o choque económico será mais negativo na região do que no resto do País. Não se estranha por isso que 75.4% dos respondentes afirmem que o desemprego no Algarve vá aumentar substancialmente, com 77.5% a acreditar que este flagelo vai ser mais intenso a sul do que no resto do País. O padrão de resposta parece, no entanto, mudar quando o tema são os salários. Em particular, quando a pergunta é “Em geral, face a 2019 os salários no Algarve...”, 35.8% dos inquiridos respondem “vão reduzir-se substancialmente”, com 29.6% a assinalar a opção “Vão ser ligeiramente menores” enquanto 33.1% escolhem “Vão permanecer mais ou menos iguais”. Por outro lado, há uma clara divisão neste tema quando a comparação é feita com o País: 57.4% acredita que os salários no Algarve vão ter uma variação similar à que vier a acontecer em Portugal sendo que 41.4% dos respondentes está bem mais pessimista já que indica que a redução salarial na região será mais intensa. O inquérito prossegue focando a atenção em alguns sectores particularmente críticos para a dinâmica económica da região. O primeiro, claro está, é o turismo. Infelizmente, o padrão de resposta obtido é revelador de algum desalento nesta matéria. De facto, 97.6% dos inquiridos são da opinião de que teremos menos turistas internacionais em 2020 relativamente a 2019. Ao mesmo tempo, 65.1% acredita que também haverá redução homóloga na procura interna, embora 25.7% expressem exactamente a posição contrária. Infelizmente, no final, 69.8% dos respondentes prevê que o impacto da Covid19 sobre o turismo algarvio será mais expressivo do que no resto do País. Não surpreende por isso que 74.6% anteveja uma queda nos preços da hotelaria e 77.8% vaticine o mesmo para os preços praticados pelo alojamento local. Na mesma linha, respectivamente 80.8%, 76.6% e 77.8% é da opinião que a hotelaria, o alojamento local e a restauração no algarve vão ter muita dificuldade em lidar com as consequências do surto pandémico em curso. O imobiliário é o segundo sector explicitamente considerado no inquérito. O padrão de resposta aqui não é muito claro. De facto, por um lado, 75.7% dos respondentes vaticina uma queda do preço das casas e 87.3% antecipa uma desaceleração deste mercado no que resta de 2020. No entanto, 60.1% não prevê que existam diferenças significativas entre o Algarve e o resto do País no que toca a performance deste sector, com 45.9% a antecipar que o valor das rendas não se vai alterar face a 2019 (ainda assim, 50.6% admite que possa ter de haver alguma renegociação das mesmas em baixa já este ano). A terceira e última parte do instrumento de recolha de dados pergunta sobre 2021. É interessante notar que 43.2% dos inquiridos espera manter o seu rendimento, ao mesmo tempo que 9.5% têm mesmo a expectativa deste aumentar. Em sentido contrário, 29.9% (13.6%) antevê uma redução (significativa) do seu rendimento. Em matéria de finanças públicas as notícias também não são muito positivas. De facto, 59.8% dos inquiridos espera um aumento nos impostos (37% prevê que estes se mantenham) ao mesmo tempo que 77.5% prevê que Portugal venha a ter problemas em financiar a sua despesa pública (curiosamente, 13.3% das respostas são na opção “Não sei”). Particularmente interessante é o padrão de resposta às duas últimas questões. A primeira convidava o respondente a pensar nas actividades que mais gostaria de fazer em 2021. As três opções mais escolhidas foram “Vou poupar mais” (173 cliques), “Vou ficar mais em casa” (163 cliques) e “Vou comer mais em casa” (161 cliques). Em sentido inverso, registam-se apenas 11 cliques na opção “Vou trocar de carro”, 24 cliques em “Vou comprar uma casa” e 27 cliques na alternativa “Pretendo ir mais ao restaurante”. A última questão colocada servia para medir o grau de confiança face a 2021. Atendendo aos dados já aqui apresentados não é de estranhar que, infelizmente, 53.3% dos respondentes manifeste estar muito preocupado com o próximo ano. Também é relevante notar que 17.8% confessa não pensar muito no assunto, enquanto 29% diz-se confiante sobre o que 2021 lhe reserva. Em jeito de balanço, podemos dizer que os inquiridos manifestam claramente um nível de preocupação elevado para com os próximos meses. De facto, as suas respostas sugerem que o Algarve não estava preparado para enfrentar esta crise e que o impacto económico que eventualmente viremos a sentir será mais negativo aqui do que no resto do País. Nesse sentido, os inquiridos sugerem que o nosso motor económico deve preparar-se para um choque violento, o qual não será fácil de acomodar. Como tal, muitos antecipam uma redução no seu rendimento e, também, um aumento de impostos. Ao mesmo tempo, a Covid19 parece estar a convidar a uma alteração do padrão do consumo, nomeadamente através do reforço da procura de produtos nacionais produzidos localmente, ao mesmo tempo que reforça o ímpeto de poupança. Finalmente, genericamente falando, concluí-se que a perspectiva para 2021 é de apreensão. Termino com duas notas breves. A primeira é para agradecer a todos aqueles que responderam ao inquérito e o partilharam activamente com os seus amigos e conhecidos. A segunda é para deixar uma nota de ânimo a todo o universo do Lugar ao Sul. Ao analisar as respostas emocionei-me quando li que um dos nossos respondentes está a pensar ter o seu primeiro filho em 2021. Foi a melhor notícia das últimas semanas a qual permitiu recordar que há mais vida para além do Covid19. Que essa(e) filha(o) venha com muita saúde e que viva uma vida longa e próspera. PS: Quem quiser ter acesso aos dados recolhidos é só pedir através do email info@lugaraosul.
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