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A Guerra dos Trones (à algarvia, portanto)

9/11/2018

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Por Gonçalo Duarte Gomes

George R. R. Martin, o autor da épica saga literária "Uma Canção de Gelo e Fogo", que foi entretanto adaptada para televisão através da aclamada (e imperdível) série "Guerra dos Tronos", diz ter bebido inspiração em fragmentos da História Universal, com os quais compôs habilmente uma espécie de antologia.

O que não passa de uma grandessíssima treta.

Porque, bem vistas as coisas, o que ele fez foi limitar-se a copiar o conflito que decorre, nada mais nada menos, no Algarve.

É a Guerra dos Trones, ´migues.

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Em Westeros, após anos de negligência da Coroa relativamente às necessidades, expectativas e desejos das populações, em que o único direito era pagar impostos para sustentar mordomias e nada ter em troca, a morte do Rei origina dá azo à libertação de tensões latentes, que evoluem ao ponto dos Sete Reinos avançarem para guerra aberta, disputando o Trono de Ferro. Esta luta acaba por se polarizar em torno de duas grandes Casas: Lannister e Stark, tendo a última sido vítima de maquinações por parte da primeira. Tudo isto à sombra de um mal maior que avança, lenta mas inexoravelmente: os Caminhantes Brancos, criaturas maléficas que pretendem aniquilar o Mundo tal como ele existe.

Esta curta e simplificada sinopse é a que, grosso modo, nos é vendida na série Guerra dos Tronos (nos livros a coisa é bem mais complexa e, já agora, interessante) como sendo uma ideia original.

Ora onde é que já se viu coisa parecida?

No Algarve, após anos de negligência dos sucessivos Governos relativamente às necessidades, expectativas e desejos das populações, e de Orçamentos de Estado contínua e até crescentemente vazios de investimento estrutural na região, sendo o único direito pagar impostos para sustentar mordomias, apoiar o desenvolvimento de outras regiões e nada ter em troca, um processo baptizado de descentralização tenta descartar competências centrais para as Câmaras Municipais, dando azo a que os Dezasseis Municípios entrem numa disputa directa e fratricida por escassos recursos, para fazerem o que outros deveriam fazer. Entretanto, dois grandes Municípios disputam o título de capital: Faro e Loulé, tendo o último obtido substanciais proveitos financeiros de usos territoriais que lesaram ambientalmente, de forma directa e indirecta, o primeiro. Tudo isto à sombra de um mal maior que avança, lenta mas inexoravelmente: o colapso da confiança nas instituições democráticas por culpa dos seus actores e o avanço de populismos e visões políticas assentes na antítese dos valores humanistas que pautaram o progresso da organização mundial no pós II Grande Guerra.

Infelizmente, o George Martin não tem a hombridade de reconhecer isto.

Mais triste ainda, e infinitamente mais ignóbil, é de facto o desinvestimento na região, em termos centrais. Continuamos sem um novo hospital, continuamos com portagens na Via do Infante, temos menos dinheiro para a Cultura, a recuperação de Monchique não teve o mesmo cuidado que a de outras regiões, continuamos sem projecto para a revitalização dos territórios serranos, não há investimentos estruturais em sectores e/ou iniciativas diferenciadoras que permitam à região alargar a sua base económica e reduzir a dependência do turismo, entre outras coisas.

É certo e sabido que o trabalho de desenvolvimento da região compete, primeira e principalmente, às entidades regionais e locais, e a todos nós. Mas, se há uma incapacidade quase atávica de entendimento interno (ok, excepto neste imposto disfarçado de taxa) relativamente a eixos estratégicos para o Algarve, com um contra-peso do tamanho de um Governo – não este em particular, mas todos em geral – convenhamos que não é fácil. Tivesse o Algarve as mesmas benesses que outras regiões (oferecerem-nos um sistema de transportes públicos pago com os impostos de todo o País, por exemplo) e... com as calças do meu pai também eu sou grande homem, já diz o ditado.

Acresce ainda que qualquer esperança de coesão na defesa dos interesses colectivos regionais por parte dos interesses locais é pulverizada pelo tal processo de alienação de responsabilidades por parte da Administração Central. Esta municipalização da região (e do País) é uma forma de neo-feudalismo envenenado – estrangulando recursos e aumentando encargos – que coloca em risco as lógicas de cooperação, pois compartimentando as questões e subtraindo-as a um panorama mais amplo e integrado, mergulham-se os Municípios em lógicas de gestão que convertem vertiginosamente para focos muito estreitos, que dificilmente ultrapassarão as artificiais, e quase sempre curtas, fronteiras administrativas dos Concelhos, mesmo quando os desafios são partilhados.

Dividir para reinar, bem a propósito.

Entretanto, Loulé parece ter, efectiva e definitivamente, lançado no terreno uma candidatura implícita a capital do Algarve, subtraindo um conjunto já assinalável de centros de poder e decisão regional a Faro, de que o Comando Distrital da Guarda Nacional Republicana é o mais recente exemplo.

Esta competição inter-cidades pode ser saudável, e servir de estímulo e toque de despertador de que a capital e também a região necessitam para sair da letargia, acordando para uma discussão em torno do que é uma capital, para que serve, como pode servir uma região e como pode uma região servi-la.

Faro vai reagindo, e depositando grandes esperanças no projecto da Capital Europeia da Cultura 2027. Para essa reflexão já contribuí, questionando se Faro é uma cidade-fermento (ver aqui). Como alguém me dizia há dias, falta saber o que acha o gajo genérico e anónimo que vive atrás do Forum...

Entretanto, e como até Abril do próximo ano estamos a ressacar, aguardando a última temporada da Guerra dos Tronos, vou abastecer de favas fritas (sempre é mais very typical do que pipocas) e aguardar os próximos capítulos deste nosso filme regional, na expectativa de que entretanto as pessoas caiam na real e se apercebam de que S. Brás de Alportel é a Casa Targaryen da coisa, ali mesmo no Centro do Universo...
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