Por Gonçalo Duarte Gomes Foi ontem publicado pelo Instituto Nacional de Estatística o Índice Sintético de Desenvolvimento Regional ao nível das NUTS III, referente ao ano de 2018 (disponível aqui), um referencial que leva em conta três índices parciais, nomeadamente competitividade, coesão e qualidade ambiental). Lembrando que hoje se assinala o Dia Mundial do Ambiente, o Algarve tem razões para se orgulhar: é a região portuguesa com pior desempenho no indicador de qualidade ambiental! Felizmente, tão honrosa distinção não surge à toa. É que o Algarve surge em 17º lugar (de 25 possíveis) no tal índice sintético de desenvolvimento regional, provando que vale a pena o sacrifício. Já na consideração do índice compósito de desenvolvimento regional e dos índices parciais em relação à média nacional, o Algarve inclui-se no grupo 6, que é como quem diz, a Liga dos Últimos, e com desempenhos abaixo da média nacional em todos os indicadores. O chamado show de bola, e que só prova que tudo está impecável, ou pelo menos estava em 2018. Considerando que, de lá para cá, não houve alterações estruturais significativas no Algarve, podemos, ainda que com reservas até que sejam publicados os índices de 2019, assumir que tudo se mantenha inalterado.
Já se sabe que estes índices são como a arbitragem dos jogos (ainda que aqui os critérios sejam mais objectivos): quando favorecem a nossa fé clubística, não lhes vemos mácula, quando sucede o contrário... bom, aí claramente foi o anti-cristo quem controlou o apito. Não será portanto este cenário que vai estragar o cândido optimismo da fantasia regional do milagre económico do Algarve, em que, comprando uns prémios de turismo e uns artigos numas revistas de referência, "tudo vai pelo melhor no melhor dos mundos possíveis". Por outro lado, estes índices, ainda que envergonhem o Algarve, não são também um fim em si mesmo. Servem de aviso à navegação. Mas só se quem vai ao leme da região quiser prestar atenção. Bem a propósito, hoje discute-se a Economia Circular na região, tema que tem merecido o empenho da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Algarve, e o labor empenhado de muitas pessoas. O que será sempre um esforço inglório, enquanto não alterarmos o facto de, no Algarve, as bolas económicas serem quadradas, tema que já foi abordado (aqui). Continuamos sem saber – e sem querer saber – do ponto da Curva de Hubbert (que representa a extracção acumulada de um recurso não renovável ao longo do tempo) em que nos encontramos relativamente aos recursos do Algarve. O nosso modelo de turismo continua a perseguir uma rota autofágica, com a sua pornográfica promiscuidade com a construção civil e a especulação imobiliária, recusando-se a reconhecer ou respeitar quaisquer limites ou capacidade de carga – há sempre mais um hotel para construir, uma zona para artificializar para o postal, um troço de costa selvagem para “domesticar”, prostituindo. Os objectivos, mesmo nos alegados esforços de diversificação económica, continuam a ser o crescimento contínuo e desmesurado, deixando atrás de si pouco mais que terra queimada, através de desordenamento e assimetrias territoriais, maior vulnerabilidade e exposição aos fenómenos extremos potenciados pelo quadro de alterações climáticas – ou, como agora vemos, pandemias – bem como à exaustão dos recursos, por consumo directo ou desequilíbrio e descaracterização da sua matriz. Se lhe juntarmos questões como a pegada ecológica do transporte dos turistas (maioritariamente por via aérea) ou dos consumos de energia e recursos hídricos, entre muitos outros, corremos mesmo o risco de concluir que o Turismo é uma "indústria" linear por definição e impossível de arredondar, por defeito crónico de design. Por isso mesmo, a menos que quebre o seu paradigma de crescimento até ao infinito e mais além, o melhor a que a região pode aspirar em termos de arredondamento económico será a optimização cosmética de comportamentos individuais. O que não é Economia Circular. Assim, a aplicação do conceito de economia circular ao modelo territorial do Algarve continua a estar distante. Este índice espelha isso mesmo.
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