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Bem-vindo

A abertura das fronteiras e a pandemia Covid19

2/6/2020

1 Comentário

 
Por Luís Coelho
​
São várias as companhias aéreas que têm anunciado o regresso das suas ligações regulares ao Algarve. Esta é uma notícia há muito aguardada por uma região que depende essencialmente do turismo para gerar riqueza e manter postos de trabalho. Mas… Será que devemos prosseguir esta etapa sem mais?
​SIM, se a tónica for a da economia. Sem hesitação, qualquer qualificação ou reserva pois os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) não deixam margem para dúvidas. Em 2019, o Algarve registou 20.9 milhões de dormidas nos estabelecimentos turísticos classificados. Mais de 76% foram originadas por não nacionais, com o pico da procura a acontecer entre Junho e Setembro (67.7% do total). Nesse período, estas unidades geraram 787.8 milhões de euros de proveitos, o que equivale a 64.2% do total anual. Estes números garantem ao Algarve o lugar cimeiro no panorama nacional do turismo: 18.8% dos hospedes, 30% das dormidas totais, 32% das dormidas de não residentes e 28.7% dos proveitos (valores relativos a 2019).

Como em tudo na vida, não há bela sem senão. De facto, sem estranheza, a nossa economia depende totalmente dos humores do turismo. Em 2017 (último ano para o qual temos dados completos), o Valor Acrescentado Bruto (VAB) Regional ascendeu a 7.9 mil milhões de euros. Deste valor, 23.9% foi gerado pelo sector do Alojamento, restauração e similares: são 1.8 mil milhões de euros. Este não é um facto novo: historicamente (i.e., entre 2012 e 2016), o mesmo sector teve um peso médio no VAB da região na ordem dos 22.1%. Não é pois de estranhar que o volume de emprego seja muito sensível ao que lhe acontece. Os últimos dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (infelizmente) mostram esta realidade em todo o seu esplendor. Em Abril de 2019 este instituto registava 11 782 pessoas à procura de emprego. Um ano volvido, em plena pandemia COVID19, este número saltou para 26 379, o que equivale a uma taxa de crescimento homóloga de 123.9%. Fica pois claro que sem turismo teremos problemas (económicos e sociais) graves no Algarve. De facto, contas simples sugerem que a região já perdeu mais de 200 milhões de euros de facturação em 2020 apenas na área do alojamento. O anúncio da retoma das  ligações aéreas é pois um tónico importante para a nossa economia. Neste contexto, o facto de termos tido poucos problemas sanitários em Portugal (e, muito especialmente, no Algarve) parece ser um factor competitivo relevante, o qual se pode traduzir num interesse reforçado da parte daqueles que pretendem sair do seu país para gozar umas merecidas férias.

Há, no entanto, um pequeno problema. Infelizmente, a pandemia não desapareceu (veja-se os casos da China e da Coreia do Sul, ambos bem mais à frente no tempo da pandemia que Portugal). Bem sei que a mensagem é que temos de “aprender a viver com o vírus”. Percebo isso. No entanto, se a segurança é mesmo um factor importante (e é, para os que nos visitam e para os que cá vivem), então temos muito para debater por este dias. Neste campo, a confusão reina e as incongruências são perigosas. Passo a explicar. Ainda hoje (02/06/2020) Pedro Siza Vieira comentava à imprensa que “em relação às ligações aéreas, estarão provavelmente a ser levantadas as restrições existentes a partir da segunda quinzena de junho“. No mesmo dia Eduardo Cabrita afirmava que “[o espaço aéreo] nunca esteve encerrado na União Europeia, tendo sido apenas limitados os voos para Itália e Espanha. (…) Os restantes destinos dentro da União Europeia nunca estiveram encerrados. Não havia era voos por decisão das companhias aéreas e pelas limitações de circulação.” Confusos? Também eu. Mas já me vou habituando a esta forma de “comunicação” do governo.

Depois há ainda o que está a ser planeado (ou não) para o curto-prazo. O Governo Regional da Madeira anunciou que a partir de 01 de Julho serão dispensados da quarentena obrigatória todos aqueles que tenham um teste negativo à COVID19 e que tenha sido realizado nas últimas 72 horas; os restantes visitantes do arquipélago terão de ser submetidos a um teste à chegada. A Região Autónoma dos Açores alinha pelas mesma bitola, permitindo ainda que os visitantes substituam os testes por um período de quarentena. E no continente? Que eu tenha conhecimento não há qualquer orientação escrita sobre o tema. A diversidade de soluções dentro do mesmo país preocupa-me pois passa uma imagem de amadorismo que não se compagina com um mercado brutalmente competitivo como é o do turismo.

É de frisar que este é um pormaior importante para o Algarve. Poder-se-á afirmar que o silêncio nos posiciona melhor para os meses que se aproximam. De facto, parece que os turistas não gostam de medidas que tentam mitigar a propagação do vírus. Logo, deixar entrar toda a gente sem mais pode ser uma estratégia ganhadora face às ilhas e a outros países europeus que anunciaram medidas bem mais restritivas ao turismo (veja-se o caso Grego, por exemplo). Sem discutir o mérito desta posição, penso que é pouco interessante anunciar ao mundo que somos uma região que está livre do vírus para depois corrermos riscos desnecessários de o ter entre nós e em força em plena época alta. Note-se que se este cenário se materializar, podemos vir a desbaratar muito rapidamente o precioso capital de confiança que aparentemente conseguimos granjear lá fora com consequências potencialmente importantes no médio e longo-prazos.

Deixo três notas sobre este tema. Primeira, em Agosto de 2019 o Algarve registou 777 744 hóspedes na sua hotelaria classificada. Mesmo admitindo uma quebra homóloga de 50% na procura é bem possível que consigamos dobrar o número de pessoas no Algarve no pico do Verão. Em termos epidemiológicos, a tradução é simples: um aumento de 100% da densidade populacional na região nessas quatro semanas que aumenta o risco de transmissão. O risco é ainda mais relevante se pensarmos que a procura não se divide equitativamente pelo território, tendendo a concentrar-se em zonas como Albufeira, Portimão e Vilamoura. A segunda nota prende-se com um dos principais mercados emissores de turismo para o Algarve. Pelo que se sabe, o governo está a negociar um corredor preferencial que permite viajar de e para o Reino Unido sem necessidade de quarentena. Este é um importante factor competitivo caso se venha a materializar E se os nossos concorrentes não copiarem a ideia. No entanto, o Reino Unido está ainda a lidar com um importante surto de Covid19 (1613 novos casos e 324 óbitos em 02/06/2020), pelo que a chegada sem mais dos seus nacionais a solo Português pode constituir um risco sanitário elevado. A nota final vai para a fragilidade do nosso Serviço Nacional de Saúde (SNS). É absolutamente verdade que o SNS resistiu sem falha ou mácula de maior ao desafio que a COVID19 lançou sobre o País. Neste particular, o Algarve passou com distinção e tal deve ser motivo de orgulho para todos os que cá vivem e trabalham. No entanto, as dificuldades do SNS são crónicas, especialmente no Verão e provavelmente agravadas neste momento em que temos de recuperar a produção perdida nos últimos meses. Lamentavelmente desconheço qualquer informação oficial sobre o que foi feito para capacitar o SNS Algarvio nos últimos meses (falha minha, certamente). Será que este – espera-se - super SNS a Sul terá músculo para lidar com a sua procura normal (ainda que mitigada pela previsível falta de turistas) e um surto simultâneo de COVID19? Fica a questão.
1 Comentário
Miguel
3/6/2020 17:55:28

Caro Luís, concordando e partilhando a génese da sua análise discordo totalmente quando refere que o SNS resistiu sem falha; para fazer frente à pandemia o SNS congelou quase toda a actividade não Covid deixando milhares de pessoas doentes, em tratamento, apeadas e sem resposta.
Se nos referirmos ao péssimo exemplo que este mesmo SNS é no Algarve então ai estaremos a falar de uma situação de catástrofe cujos efeitos serão de longo prazo, essa palavra tão incomoda cá pelo burgo.
Há que começar a trabalhar nesta aparente quimera que é a diversificação económica regional, sempre a mesma coisa turismo para aqui, turismo para acolá, tantas oportunidades desperdiçadas, tanto tempo perdido, os ganhos de competitividade ou de esperteza saloia como se preferir, poderemos vir a paga-los bem caro, literalmente em vidas, espero estar enganado.

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