Por Luís Coelho O Algarve abanou quando em Março se percebeu que a pandemia ia forçar o País (e o mundo) a parar. De facto, todos sabemos que sem turismo a região é (quase) economicamente irrelevante. A ironia acabar por ser grande: depois de um 2019 absolutamente extraordinário a todos os níveis (20.9 milhões de dormidas, das quais 76.2% geradas por não residentes; 1.2 mil milhões de proveitos totais captados pelos nossos estabelecimentos de alojamento turístico classificados, valor que que representa um crescimento homólogo face a 2018 de 7.1%) 2020 prometia ser ainda melhor. Infelizmente, tudo mudou muito rapidamente. Atentemos então na Tabela 1 para perceber melhor o que se passou: Como é possível verificar, face ao ano anterior, o Algarve conseguiu crescer em dormidas em Janeiro e Fevereiro de 2020. Estas são boas notícias para uma região historicamente assolada por níveis de sazonalidade elevados, os quais dificultam significativamente a gestão parcimoniosa dos avultados recursos – públicos e privados – dedicados à exploração do nosso fenómeno turístico. Lamentavelmente, a pandemia ditou o colapso do sector turístico na europa (e no mundo) a partir, sensivelmente, do final do primeiro trimestre. Os dados disponibilizados na Tabela 1 mostram a violência do que se abateu sobre nós: quebras de 52% nas dormidas em Março que são até simpáticas quando comparadas com as perdas de quase 100% registadas em Abril e Maio. As más notícias não se ficam por aqui. Os meses de verão, momento alto da economia algarvia, também não correram bem. Em particular, face a 2019, Junho registou uma quebra na procura turística de uns impressionantes 86% e Julho de 65%. Agosto, mês-rei do sol e praia a sul, também não resistiu. Perderam-se 39% das dormidas em termos homólogos. No final e em termos acumulados, os primeiros oito meses de 2020 registaram apenas 5.4 milhões de dormidas, valor que choca quando comparado com os 15 milhões do ano anterior. A quebra na procura sentiu-se tanto no mercado interno como externo embora com intensidades diferentes, facto que fica bem patente nas Tabelas 2 e 3 abaixo: Como é possível verificar, o mercado externo colapsou totalmente a partir de Março. As perdas homólogas de dormidas neste segmento são absolutamente indiscritíveis em Abril, Maio e Junho e extremamente pesadas em Julho em Agosto. Na vertente interna verificam-se também quebras acentuadas entre Março e Junho, havendo alguma "recuperação" em Julho. Valha-nos Agosto que trás consigo uma boa notícia: nesse mês verifica-se um crescimento homólogo de 10% face a 2019, o qual se explica pelo facto de muitos nacionais terem optado por ficar em Portugal em vez de passarem as suas férias no estrangeiro. Ainda assim, em termos globais, a perda no mercado externo é de uns impressionantes 76% (2.7 milhões de dormidas vs. 11.2 milhões em 2019) e de uns muito penalizadores 28% no mercado interno (2.7 milhões de dormidas vs. 3.8 milhões). Estes valores são, naturalmente, muito preocupantes para a região do Algarve e tornam-se agoniantes quando se monetizam, algo que fazemos com o auxílio da Tabela 4: Chamo a atenção do leitor para três aspecto-chave presentes na Tabela 4. O primeiro prende-se com o facto do sector hoteleiro algarvio ter conseguido aumentar os seus proveitos em termos homólogos nos primeiros dois meses de 2020. O segundo resume-se a um número: 537 (mil euros). Foi esta a facturação combinada da totalidade das empresas hoteleiras do algarve em Abril. A variação homóloga registada nesse mês é de 99%, o que volta a registar-se em Maio. As perdas nestes dois meses são, pois, simplesmente catastróficas e exemplificam bem o aperto que a tesouraria deste sector levou por esta altura. Infelizmente, o cenário não se altera significativamente em Junho e Julho. Agosto é já um pouco melhor mas ainda assim fica bem aquém do que seria esperado num ano normal. No final, em termos acumulados, a hotelaria classificada do Algarve perdeu 64% da sua facturação nos primeiros oito meses de 2020 face ao registado em 2019. Como sabemos, o governo decidiu apoiar as empresas nacionais implementando várias medidas de emergência. Permito-me destacar duas que me parecem especialmente importantes para as nossas empresas hoteleiras. A primeira é a do layoff, a qual penalizou fortemente os rendimentos dos trabalhadores mas desafogou a tesouraria das empresas, salvando - potencialmente - muitos postos de trabalho. A segunda diz respeito às moratórias sobre o crédito bancário. Esta é absolutamente vital já que, em face da natureza do seu activo e da sazonalidade do negócio, são muitas as empresas hoteleiras que dependem criticamente do acesso a este tipo de financiamento para poderem investir e sustentar o seu ciclo de exploração. Chamo a atenção para este aspecto por uma única razão: não sendo possível antecipar o cenário de saúde pública em Portugal (e na Europa e no Mundo) em 2021, é crítico que o governo olhe para a região do Algarve com particular atenção. A nossa dependência dos humores da procura turística tornam-nos especialmente frágeis do ponto de vista económico e social. Urge por isso continuar a implementar medidas que ajudem de facto a conservar ao máximo o nosso tecido empresarial, o qual se caracteriza por ser altamente fragmentado, concentrado em torno do fenómeno turístico e assente em microempresas com competências de gestão muito modestas. Qualquer hesitação nesta matéria pode desencadear tensões sociais severas passíveis de ditar a destruição de um dos principais activos turísticos da região: a segurança e o nosso famoso saber-receber.
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