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2019 - O ano que acaba tal como começou: a sangrar

30/12/2019

1 Comentário

 

Por Anabela Afonso

Gostava de fazer um daqueles textos de final de ano, cheio de bons desejos e mensagens de paz e amor para todos quantos nos leem, mas com as últimas notícias é difícil, para não dizer impossível.

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​Se recuarem ao histórico do blog e pesquisarem o que se publicou por aqui durante o mês de fevereiro deste ano, encontrarão, por puro exercício de ironia do acaso, - já que fevereiro é o mês do Amor - vários textos dos autores do Lugar ao Sul sobre a questão da violência doméstica e do número de mulheres assassinadas que, logo no início de 2019, já fazia antever a carnificina que estava por vir.

De acordo com esta notícia da SICN, este ano (que ainda não acabou e, como bem sabemos, num dia muito sangue pode ainda correr) já foram assassinadas em contexto de violência doméstica 35 pessoas. As mulheres continuam a liderar esta contagem, totalizando 27 das vítimas, mas há ainda 7 homens e uma criança, assassinados em 2019.

A violência doméstica continua a ser, para mim, o maior flagelo social dos nossos dias. A violência doméstica deixa marcas profundas a todos os que direta ou indiretamente com ela convivem. São dezenas de crianças que todos os anos ficam órfãos de mãe e/ou de pai, de um modo que dificilmente os deixará, alguma vez na vida, sarar a 100%, ainda que vivessem num país que lhes assegurasse o devido acompanhamento psicológico e social enquanto vítimas e sobreviventes que são de um crime atroz, o que todos sabemos não acontecer. 

Segundo o psicólogo António Castanho, e a análise que fez a 14 anos da base de dados da Secretaria-geral do Ministério da Administração Interna, nesse período, mais de mil crianças ficaram órfãs por causa de violência doméstica. De acordo com as suas declarações ao Jornal Público, “as crianças expostas à violência doméstica têm um aumento do risco de problemas psicológicos, sociais, emocionais e comportamentais, incluindo perturbações do humor e ansiedade, PSPT, abuso de substâncias e problemas académicos”. Além disso, as investigações apontam para uma transmissão intergeracional da violência com impactos psicológicos, de saúde, comportamentais e socioeconómicos, acrescentou. 

Este estudo demonstra também, como já é sabido, que a esmagadora maioria das vítimas mortais de violência doméstica são as mulheres, estando registadas, entre 2004 e 2018, 503 mulheres assassinadas. Mas o certo é que elas não são as únicas vítimas e 2019 trouxe esse aspeto à luz do dia, da pior forma possível, por contabilizar entre as vítimas deste ano também um criança de 3 anos e 7 homens. 

No relatório sobre homens vítimas de violência doméstica, entre 2013 e 2018, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), fica claro como, também sobre os homens, está a aumentar o registo de queixas, tendo passado de 395 em 2013, para 527 em 2018. Este aumento pode estar simplesmente associado a uma maior visibilidade do fenómeno, e ao facto de, tratando-se de um crime público, a queixa poder ser feita por terceiros, o que ajuda a ultrapassar a vergonha em assumir que se é vítima de violência doméstica, levando muitos homens a esconder a situação.

Enquanto 2019 não termina, fica como sugestão de leitura para o novo ano, o relatório anual da APAV, de 2018, com as várias leituras dos números da violência do ano passado.

Informação não nos falta, e todos sabemos que se não se fizer alguma coisa, rapidamente, muitos lares portugueses continuarão a ser, no próxima década, para muitas famílias, uma coisa mais próxima de uma zona de guerra, em vez do porto seguro para onde todos - mulheres e homens, crianças e idosos  - deveríamos ter o direito de regressar, ao final do dia.

Gostaria de me despedir com um Feliz 2020 a todos, mas hoje ainda não consigo, talvez amanhã...

1 Comentário
Miguel
2/1/2020 20:18:41

Sem duvida uma mancha de vergonha neste país, que merece aprofundados estudos de diversa ordem, pela via judicial, não creio que a situação mude radicalmente uma vez que o cerne está na vertente socio-cultural, nas atitudes perante os papéis extremamente (patologicamente?) hierarquizados existentes na sociedade portuguesa. Sou um "millennial" como se convenciona apelidar à minha geração, e constato com tristeza que a mesma vai repetindo ainda muitos dos enraizados comportamentos estereotipados de género, tento fugir a essa norma, ciente que nem sempre o consigo de forma exemplar; sinto um enorme fascínio pelas variáveis politica, social, económica, geográfica, ambiental que molda os povos e o nosso em particular.
Este rectângulo à beira mar plantado, tão afastado das convulsões europeias e das ideias e fluxos de pensamento, que criou uma identidade tão própria e tão identificável no espectro geográfico do mediterrâneo europeu e não só, que está próximo, quantos factores contribuirão e continuarão a alimentar aquela visão paternalista, tantas vezes invejosa "manda quem pode obedece quem deve" de quantas décadas, séculos vem isto e quantos temos/precisamos para a enterrar? Um bom ano novo, com mais justiça e humanidade, e um bem haja por manter este salutar espaço de pensamento livre e diverso, neste lugar, ao sul.

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