125 Azul ou ...highway to hell!!! A banda sonora de uma região...que não são hits de Verão.4/8/2017 Por Joana Cabrita Martins
Os temas musicais não são de agora, nem tão pouco o são, os que aqui vou abordar. O Algarve tem, de extensão longitudinal entre Vila Real e Sagres, aproximadamente 165 km que outrora as gentes desta terra percorriam de quando em vez, quando necessidade havia e vagar também... Mas isso são tempos idos e que não se pretendem vindos. Tempos em que os burros não éramos nós, mas aqueles que nos levavam, e os nossos bens carregavam por essas estradas fora. Hoje esse Algarve não mais existe por mão da evolução, embora esta última, teime por vezes em... tentar abrandar, desacelerar, o que literalmente se reflecte na circulação rodoviária. Objectivamente a sustentabilidade económica, turística e social deste outrora Reino, assenta preponderantemente nas deslocações diárias das suas gentes, sejam estas residentes, trabalhadores locais, comerciantes ou visitantes. Muito por falta de uma boa rede de transportes públicos, estas deslocações inerentes à vida activa da região fazem-se maioritariamente por meios rodoviários particulares/próprios, o que se reflecte numa sobrelotação do espaço público viário e consequente diminuição da rapidez das deslocações, assim como numa taxa de sinistralidade e mortalidade rodoviária acima da média nacional (segundo dados do INE). Fazendo uma analogia com a 125 Azul dos Trovante, a verdade é que a nossa se pinta de vermelho e se veste de negro com mais regularidade do que reflecte o azul do céu Algarvio. Esta é a grande responsável pela elevada taxa de sinistralidade e mortalidade, sendo no entanto a principal via que serve a região, sem custos para o utilizador (salvo seja, pois de acordo com os dados eu diria que os custos são...invariavelmente altos no que respeita a vidas humanas e não só). Com o objectivo de trazer acalmia e melhoria à circulação regional, foi construída a Via do Infante de Sagres que, por razões óbvias ligadas a questões de realeza, hoje se faz pagar a peso de ouro para quem queira deslocar-se por via do tapete de alcatrão real. Ora, para testar a dimensão da paciência de quem por ela se desloca, com a implementação do desconfortável sistema de portagens, sim porque o implícito acto de pagar já é desconfortável per si, este sistema tem a agravante de que, quem não possuir o sistema de pagamento automático, Via Verde, tem ainda que memorizar, para posteriormente se lembrar de se deslocar a um sítio apropriado para pagar. De preferência dentro dos curtos prazos que... sinceramente não memorizei. Obviamente que no caso dos Algarvios, porque pouco ou nada trabalhamos, não nos causará grande moléstia visto que, tempo para tratar deste processo é algo que não nos faltará. Que se roam os invejosos do resto do país que para pagarem as SCUTs têm que roubar uns dias às suas férias. A não esquecer que, no acto de pagar não só se paga o preço da portagem mas, simultaneamente os custos administrativos... caso a memória não nos falhe, porque se falhar (que é, com frequência, o meu caso e ainda só estou nos 30) acresce o pagamento dos juros. E valha-nos o facto do IVA já estar incluído. Ora portagens à parte, porque por muito que queiramos, que protestemos, o Infante de Sagres (ou os Infantes de Lisboa) não deixaram de se fazer pagar por cada vassalo que ouse pisar aquele tapete. Resolveram então, tão nobres senhores, reabilitar a degradada e famosa 125. Eis senão quando, a mesma só contempla meia via. De Faro a Sagres. Porque é certo e sabido que de Espanha nem bons....nem bons! Concluída a reabilitação da Dona Engrácia, digo da 125...meia digo, meia 125. Ora metade de 125, fazendo as contas dá 62,5. Esta é a velocidade máxima que um carro poderá, por ventura atingir de madrugada nos meses de Inverno, quando o tráfego automóvel é bastante mais reduzido que por estes dias, tanto na meia 125 reabilitada como na meia 125 não reabilitada, porque: Na primeira metade, de rotunda e traço contínuo em contínuo, a rotunda e traço contínuo em contínuo é impossível andar a velocidades superiores. Na outra metade, de buraco em buraco...idem. Se optarmos por fazer os percursos durante o período nocturno quando, supostamente, haverá menos transito e talvez tenhamos a sorte de poder realizar os percursos pretendidos em menos tempo...desenganem-se, porque para além de se manterem as referidas condições da estrada, existe a agravante da falta de iluminação da via que para quem a conhece pode revelar-se uma verdadeira Aventura e para quem não a conhece, um desafio digno de um Ayrton Senna. Logo...o melhor mesmo é não experimentar. E para confirmar que a tentativa de requalificar meia 125, e de continuar a não dar outra “alternativa” viável de circulação, segura e económica à região, tem sido criminosa, temos os mais recentes dados da ANSR (Autoridade Nacional Segurança Rodoviária) que no período de 1 Agosto de 2015 a 31 de Julho de 2016 registou no Algarve 27 mortos e 165 feridos graves, e no período homólogo de 2016/2017 registou uma subida para 38 mortos e 179 feridos graves. A EN 125 pode ser apelidada de alternativa por muitos que por cá não andam, a não ser agora em Agosto e de férias com vagar. Só nós, Algarvios residentes, parecemos dar-nos conta do que é isso o ano inteiro. Se a EN 125 é uma alternativa, a ECOVIA do litoral Algarvio certamente também o é. Sim, porque, se a opção for por ir de bicicleta, burro ou cavalo pela Ecovia em vez de de carro pela EN 125 a probabilidade de se chegar primeiro ao destino deve ser ela por ela. Fica a pergunta: O que é que, objectivamente, é necessário para que questões estruturais de uma região sejam resolvidas e decididas por aqueles que a habitam? Fica a sugestão: Só para testar se a paciência de quem nos visita é maior do que a nossa!!! Quiça... uma GREVE GERAL de todos os serviços públicos e privados, da hotelaria à restauração, do turismo à saúde, durante o mês de Agosto, pudesse ver todos os desejos de uma região satisfeitos! Ficam as versões a descrever as situações... ou as soluções: “Foi sem graça nem pensando na desgraça Que eu entrei pelo calor” Trovante, 125 Azul “I'm on the highway to hell No stop signs, speed limit Nobody's gonna slow me down Like a wheel, gonna spin it Nobody's gonna mess me around” AC/DC, Highway to hell Nota: Por opção, a autora não escreve aplicando o acordo ortográfico actualmente em vigor.
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