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Deve a estética sobrepor-se à ética e à dignidade humana?

2/3/2017

2 Comentários

 
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Richard Long

Por Dália Paulo
No dia 8 comemora-se o dia da Mulher. Dia que recorda um longínquo 8 de março de 1857 quando as operárias fabris de Nova Iorque se revoltaram para lutar pelos seus direitos laborais. Foi neste dia que, em 1910, numa conferência internacional de mulheres realizada na Dinamarca, foi declarado como o Dia Internacional da Mulher e que, em 1975, foi adotado oficialmente pelas Nações Unidas. Contudo, hoje, mais do que o género, interessa que se fale da pessoa e da sua igualdade de acesso e de tratamento. Mas o que motiva este apontamento a Sul é o óscar de Melhor Actor com que Hollywood distinguiu Casey Affleck - pelo seu trabalho no filme Manchester by the Sea -  quando está acusado de um crime de abuso sexual (ainda sem ter sido condenado é certo). Não é o primeiro desta indústria e, infelizmente, não será o último caso em que o sucesso é proporcionalmente oposto ao respeito pelo outro, neste caso as mulheres.

Nestas breves notas e porque muito se tem escrito sobre o assunto, pretende levantar-se algumas questões para reflexão: deve a estética sobrepor-se à ética, aos valores e à dignidade humana? Pode dissociar-se o homem da sua arte ou vice-versa? Estas são questões que amiúde são discutidas, normalmente quando temos obras que estão a serviço de regimes ditatoriais (e todos se lembraram de Leni Riefenstahl e o seu Triunfo da Vontade de 1935, que foi apelidada de “uma obra eticamente falha por expressar atitudes eticamente repreensíveis”). No caso em análise não se trata da obra de arte mas do seu intérprete que, de acordo com a Academia de Holllywood, é brilhante; mas será correto fazer esta distinção quando há um comportamento que pode ser repreensível? Ou será que a ética é irrelevante perante a estética? Que consequências terá esta distinção na sua atuação como ser humano, como pessoa? São perguntas de difícil resposta e a mesma não se baliza apenas neste caso mas no modelo de sociedade que temos, que desenvolvemos e que, quer queiramos ou não, estamos a desenvolver.

Numa sociedade do espetáculo, do efémero, do imediato, em que a voracidade das imagens e dos acontecimentos se sobrepõem ao pensamento, ao tempo para refletir estas questões podem parecer de somenos importância. Contudo são, em nosso entender, o esteio para a construção de uma sociedade mais saudável, mais humana e norteada por valores. Sim, precisa de se discutir, de se voltar à ética em detrimento da estética sem valores e sem densidade; precisa de se voltar ao respeito pelo outro como fator chave onde se alicerçam os valores da sociedade contemporânea. E a arte e a cultura têm aqui um papel de charneira ao serem disruptivas, ao inquietarem, ao poderem colocar o dedo onde sangra para espiar males e renascer o belo que é simultaneamente ético e estético.

O que podemos nós fazedores e/ou consumidores de cultura fazer? Muito (ou alguma coisa) se nos unirmos; em primeiro lugar deixando as salas de cinema vazias se formos espetadores ou não incluir este filme na programação do espaço cultural que programamos. Ou a incluí-lo liga-lo a um ciclo de debate sobre os valores da sociedade ocidental ou a sua ilusão, sobre a dignidade da pessoa ou sobre abuso de poder. Por outro lado, o filme não é só o Afleck, tem outros magníficos atores e atrizes. Vamos penalizá-los por isso? Aceitaram trabalhar com ele…são tão culpados como ele? Deviam ter-se recusado a contracenar com ele? A temática do filme passa essas questões e levanta muitas outras…enfim temas a analisar, refletir e que certamente não têm respostas únicas, lineares ou fáceis. Pode não ser muito mas é com pequenos ritos mudos que se pode construir do local para o global uma sociedade mais digna, menos egoísta e mais feliz.

Como este é o último apontamento antes do Dia da Mulher, desejo que todas as Mulheres utilizem este dia para fazer ouvir a sua voz e termino com o poema “O mar dos meus olhos” de Sophia de Mello Breyner Andresen, que dedico a todas as mulheres que lutam para que a questão de género não seja discriminatória.
Há mulheres que trazem o mar nos olhos/Não pela cor/ Mas pela vastidão da alma/E trazem a poesia nos dedos e nos sorrisos/ Ficam para além do tempo/ Como se a maré nunca as levasse/Da praia onde foram felizes/ Há mulheres que trazem o mar nos olhos/pela grandeza da imensidão da alma/ pelo infinito modo como abarcam as coisas e os homens.../ Há mulheres que são maré em noites de tardes/e calma


2 Comentários
IFB
2/3/2017 19:59:24

excelente reflexão.
durante algum tempo perguntava-me SE devia programar num museu de ciencia por ocasião do DIM. afinal, a ciencia, a tecnologia não têm género... ou será que têm?! veja-se o ultimo processo contra a Uber; a assistente não creditada de Watson&Crick... ou seja, perdi o medo de não criar conteúdos 'relevantes'.

por isso, no DIM, no Farol Museu de Santa Marta, haverá um encontro com a primeira faroleira portuguesa...

Responder
Dália paulo
2/3/2017 22:14:05

Muito obrigada Inês pela tua partilha. Acho mesmo que é nosso dever, trabalhadores de instituições culturais, criar conteúdos relevantes (veja-se a excelente partilha de Nina Simon no seu livro - The Art of Relevance)
Excelente iniciativa no DIM

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