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Dar tempo a projetos que nos (trans)formam

23/3/2017

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Salvador Dalí, A Persistência da Memória, 1931

Por Dália Paulo

Neste nosso sul da vagueza, impressionista e mole ou sonhadora nas palavras do poeta João Lúcio, há um fator que tendemos a menosprezar: o tempo, mais concretamente o de dar tempo aos projetos para que se concretizem, densifiquem e cresçam sustentados. Quando há resiliência e se dá tempo, temos projetos que nos transformam como pessoas (e como coletivo) que nos questionam e que modificam aqueles que por eles são tocados.

Miguel Torga  dizia que o tempo  era a “definição da angústia” e a falta de tempo neste sul deve-se às nossas idiossincrasias regionais, relacionadas com a nossa história de isolamento, afastamento e, a partir dos meados do século XX, deslumbramento, encantamento e (quase) perdição! Chegados ao século XXI, falta-nos tempo porque queremos (agora) um modelo diversificado de desenvolvimento que assente em várias áreas de saber e para isso precisamos de criar projetos duradouros e de futuro. Mas (muitas vezes) não sabemos esperar! E as sementes que se lançam à terra precisam de paciência e saber para se transformarem num bonito jardim. Mas a nossa sede de fazer acontecer, de transformar agora, de ganhar o tempo para ombrear com outras regiões, impede-nos (amiúde) a concretização de projetos mais consistentes.

Todavia há projetos que no seu labor de formiga, de persistência e de crença, conseguem ir criando lastro e transformando este nosso Algarve num lugar melhor. Hoje partilho dois projetos culturais que se deram tempo e que tenho acompanhado, tendo tido a oportunidade de estar esta semana com cada um deles. Dois projetos que em comum têm - para além de serem artísticos - a necessidade e a oportunidade de trazer olhares exteriores para o Algarve criando diálogos e interseções com o outro para, por oposição ou espelho, nos conhecermos melhor e ganharmos uma maior capacidade crítica e de transformação, em suma, da Cultura contribuir para fazer um melhor Algarve hoje e amanhã.

Parceria ACTA, Companhia de Teatro do Algarve e APATRIS 21, Associação para Portadores de Trissomia 21 – um projeto de inclusão pela Arte, eu diria mesmo de integração para pessoas com Trissomia 21, perturbações do espectro do autismo, hiperatividade e défice de atenção que funciona desde 2011 e que em 2015 integrou o projeto europeu “Display your abilities” que contou com 4 parceiros - STRANAIDEA S.C.S. Impresa Sociale Onlus de Torino  (líder do projeto); ACTA- A Companhia de Teatro do Algarve/ APATRIS 21- Associação para Portadores de Trissomia do Algarve, Portugal; ALFA Association, de Espanha e Theaterwerkplaats Tiuri Foundation, da Holanda. Um projeto que liga arte, educação e deficiência, que tem como objetivo capacitar jovens portadores de Trissomia 21 para serem co-formadores, conferindo-lhes competências. Esta semana foi realizado o Encontro Internacional do projeto na Universidade do Algarve, tendo sido importante verificar o processo, as metodologias, os progressos relacionais quer dos portadores de deficiência quer dos outros alunos adolescentes, assim como a possibilidade de trabalhar a acessibilidade, não só ao acesso à fruição cultural mas também à possibilidade de integração como profissionais na área cultural. Sairá no próximo mês o Manual com a metodologia do projeto, que permitirá a disseminação de boas práticas e a possibilidade de contaminar outros projetos. É um caminho que tem de continuar e que rapidamente deve transformar-se numa autoestrada de contaminação para uma sociedade mais humana.

Encontros do Devir 2017, DeVir/ CAPa, Centro de Artes Performativas do Algarve – um projeto (iniciado em 2012) disruptivo, diferenciador, questionador e que deveria  chegar a todos os algarvios (de coração ou nascimento); e porquê? Por diversos motivos mas principalmente porque nos inquieta (da inquietação nasce a luz) e ajuda a conhecer melhor: como nos vemos, como nos vêm e como nos damos a ver. Neste ano, partindo do olhar de criadores nacionais e internacionais sobre as cidades de Faro, Loulé, Quarteira e São Brás de Alportel, com uma programação de março a maio que deve ser vivida, sentida, discutida, conversada e que pode ser consultada em
www.encontrosdodevir.com
No editorial do projeto ele é apresentado como: “só o desenvolvimento territorial equilibrado, atento à realidade, às fragilidades e às potencialidades, permitirá não hipotecar mais o que ainda temos e somos.” Um projeto positivo que a partir do real acredita que é possível (ainda) um futuro promissor para estes territórios.
Deixo aqui um desafio aos organizadores dos Encontros do Devir: que numa próxima edição os diálogos não se façam somente “entre nós” ou seja, aqueles que já estão sensíveis para o questionamento dos territórios, que falam a nossa linguagem; confrontem-se os gestores do território e os criadores; questione-se tudo para que a transformação do pensamento e da ação sobre o território possa ser afetiva e efetiva.

Dois projetos que nos fazem acreditar em nós e que quando na base há pensamento e criação (de conhecimento ou artística) que exige tempo, os outputs têm mais impacto, ganhando a região e os seus cidadãos e visitantes. Dando tempo para ganhar tempo!


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