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Bem-vindo

As palavras estão gastas e as imagens higienizadas…

22/12/2016

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Por Dália Paulo
A minha reflexão de hoje parte dos acontecimentos desta semana - a morte do embaixador russo na Turquia e o ataque terrorista em Berlim - mas poderia dizer dos últimos meses, mesmo dos últimos anos, que me fizeram voltar ao livro de Susan Sontag Olhando o Sofrimento dos Outros quando afirma “Os cidadãos da modernidade, consumidores da violência como espetáculo, adeptos da proximidade sem riscos, são formados para serem cínicos quanto à possibilidade da sinceridade” e ao poema de Bertolt Brecht Intertexto:

Primeiro levaram os negros
Mas não me importei com isso
Eu não era negro

Em seguida levaram alguns operários
Mas não me importei com isso
Eu também não era operário

Depois prenderam os miseráveis
Mas não me importei com isso
Porque eu não sou miserável

Depois agarraram uns desempregados
Mas como tenho meu emprego
Também não me importei

Agora estão me levando
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo

Imagem
Antoni Muntadas, Centro de Arte Moderna da Fundação Calouste Gulbenkian, 2012

Incomoda-me a banalização do terror nos media e (não querendo ser injusta) a nossa passividade e insensibilidade quando a violência nos é servida à mesa do jantar! Incomoda-me a nossa indignação nas redes sociais quando o terror está mais perto e a nossa maior apatia e desinteresse quando o terror não é “nosso”. Precisamos de falar, precisamos de agir, precisamos de ser resilientes e de contribuir para que não seja tarde quando quisermos contribuir, ou quando nos “levarem” como dizia Brecht. Há palavras que estão gastas mas que temos de resgatá-las para que voltem a fazer sentido; há imagens que de tanto as vermos já nada vemos. Isto é o primeiro passo para aumentar a diferença, a intolerância, o medo, a apatia, temos de contribuir para dizer basta! para voltar ao que Sontag chama sinceridade e eu chamo cidadania.

Neste meu olhar do Sul, considero que temos um papel chave – o Sul (este nosso Sul) – a desempenhar; sendo um território de confluências e abertura milenar, onde atualmente (con)vivem perto de 100 nacionalidades diferentes, temos de agir, de defender, de servir de exemplo ao Mundo. Como? Não tenho a resposta, mas considero que devemos colocar aqui um foco principal nas instituições de educação e de cultura, para que valorizem esta riqueza de culturas (não de forma esporádica e voluntariosa mas de forma consistente e articulada) que aqui confluíram e que hoje são “algarvios de coração” e devem contribuir (contribuem) para construir a nossa Identidade e Memória coletiva. Há projetos a decorrer nas escolas que são verdadeiramente excecionais e que têm de saltar o muro da escola para que a comunidade se aproprie desta multiculturalidade; têm que ter palco para contribuir para inverter este medo do outro que nos começa a moldar os passos e que só a Cultura e a Educação podem travar a deriva para esse perigoso caminho.

Por seu lado, as instituições culturais têm aqui (como as educativas) um duplo papel: o de contribuir para leituras plurais do mundo e o de ser questionadoras - partindo das suas coleções, do seu território, da sua criação ou programação - para que possam introduzir na sua atividade, quer nas exposições temporárias, quer nas permanentes (em confronto ou em diálogo), quer nos espetáculos, quer nos programas educativos ou outros de extensão cultural, abordagens que permitam dar ferramentas para uma literacia visual e questionamento sobre o que nos é mostrado, bem como possibilitem dar a conhecer as diferentes culturas que concorrem hoje para a formação da identidade regional e como elas a estão a alterar e a recriar, possibilitando mostrar o outro para derrubar as barreiras do medo e transformar o terror em tolerância.

No ano em que a Rede de Museus do Algarve vai fazer 10 anos e em que a Rede Azul, rede de teatros do Algarve, completa 1 ano de vida, seria muito interessante vê-las unidas em torno de um projeto comum –
Olhando os outros nos (re)conhecemos, que permitisse a partir deste nosso lugar multicultural contribuir para tornar o Mundo um lugar melhor.
 
P.S.: Quero aqui expressar a minha alegria quando ontem vi o discurso do Presidente da República a ser comunicado em LGP (Língua Gestual Portuguesa), um passo significativo no caminho da inclusão.

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